No Islam sunita, o conceito de Tawhid representa a essência da fé, sendo a afirmação da unicidade absoluta de Allah.
Essa doutrina fundamental não apenas confirma que Deus é único, mas também estabelece que Ele é indivisível em Seus atributos e ações, transcendendo qualquer comparação ou semelhança com Suas criaturas.
Diferente de algumas abordagens mais literais, o entendimento ortodoxo sunita do Tawhid abrange uma profundidade metafísica, sustentada por uma tradição rica de eruditos que discutem o significado de Sua unidade e o modo como ela se manifesta tanto na criação quanto na adoração.
Dessa forma, Tawhid serve como a pedra angular da teologia islâmica, guiando a compreensão dos muçulmanos sobre a existência divina, o propósito de adoração e a relação entre o Criador e Suas criaturas.
No Islam sunita, Tawhid é a crença fundamental que afirma a unicidade absoluta e indivisível de Allah, e essa verdade central está presente em diversos versículos do Alcorão.
Mais do que uma aceitação da singularidade de Deus, Tawhid representa uma compreensão profunda de que Allah é único em Sua essência, atributos e ações, sendo transcendente e distinto de toda a criação.
O Alcorão reitera a unicidade de Allah como o princípio mais importante da fé islâmica. No versículo central da Surat al-Ikhlas, Allah declara:
“Dize: Ele é Allah, o Único! Allah, O Absoluto! Jamais gerou ou foi gerado! E ninguém é comparável a Ele!” (Alcorão 112),
Esse conceito de Tawhid vai além da negação de outros deuses; é a afirmação de que nada, exceto Allah, é digno de adoração.
A Shahada, o testemunho de fé que todo muçulmano pronuncia, expressa essa crença ao declarar: “Não há divindade além de Allah”.
A transcendência de Allah é outro elemento essencial de Tawhid. Ele não é semelhante a nada que possamos imaginar ou compreender.
Seus atributos, como Sua misericórdia e poder, são perfeitos e inigualáveis, sendo expressos de maneira que não se aplicam a qualquer ser criado.
Além disso, o Alcorão enfatiza a independência de Allah em relação à criação, indicando que Ele é autossuficiente, não dependendo de nada, enquanto todas as coisas dependem Dele para existir.
O conceito de Tawhid não é apenas teológico, mas também prático, moldando a vida diária dos muçulmanos.
A crença de que “Seu é o domínio dos céus e da terra” (Alcorão 57:2) convida o muçulmano a viver com uma percepção constante de que tudo pertence a Allah e que todas as ações devem ser direcionadas a Ele.
No Islam, shirk é o termo utilizado para descrever o ato de associar qualquer parceiro ou igual a Allah, comprometendo assim a crença central do Tawhid, a unicidade de Deus.
Esse conceito é considerado o pecado mais grave e imperdoável se não houver arrependimento antes da morte, como afirma o Alcorão:
“Em verdade, Allah não perdoa que Lhe associem coisa alguma, mas perdoa a quem Lhe apraz o que for além disso” (Alcorão 4:48).
O shirk é visto como uma distorção fundamental da fé, pois desafia a singularidade e a soberania exclusivas de Allah.
O shirk pode ser compreendido em duas formas principais: o shirk maior (shirk akbar) e o shirk menor (shirk asghar).
Essas categorias ajudam a identificar diferentes níveis de associação a Allah, que, embora variem em gravidade, são consideradas violações do princípio do Tawhid.
O shirk tem consequências graves para a alma e para a sociedade islâmica. No âmbito espiritual, o shirk impede o crente de alcançar uma verdadeira conexão com Allah, pois coloca outros elementos no centro da adoração, diminuindo o compromisso com a unicidade divina.
O Alcorão adverte sobre o impacto devastador do shirk: “Porém, aqueles que não creem dizem: Ele fez dos gênios parceiros de Allah” (Alcorão 6:100), alertando contra atribuir poderes a forças que não são divinas.
No nível social, o shirk pode levar à distorção dos valores islâmicos, promovendo comportamentos que desviam do caminho ético e monoteísta do Islam.
Quando outros elementos tomam o lugar da devoção exclusiva a Allah, a orientação moral e a justiça podem se tornar comprometidas, pois o foco deixa de ser o serviço sincero ao Criador.
Evitar o shirk exige uma prática constante de autoconsciência e intenção pura. O Alcorão aconselha a buscar a proteção de Allah contra qualquer forma de desvio:
“E invocai somente a Allah, devotando-Lhe sinceramente a religião” (Alcorão 7:29).
Isso implica realizar todas as ações com a intenção de agradar a Allah e reconhecer que tudo no universo ocorre pela vontade e permissão divina.
A vigilância espiritual, portanto, é fundamental para que o crente mantenha a devoção e o temor a Allah em cada aspecto de sua vida, evitando qualquer forma de associação, direta ou indireta.
O conceito de Tawhid, ou a unicidade de Allah, foi a mensagem central dos ensinamentos do Profeta Muhammad desde o início de sua missão.
O Profeta enfatizou a importância de adorar a Allah exclusivamente e rejeitar toda forma de idolatria e associação (shirk), orientando seus seguidores a manter uma devoção pura.
Ao longo de sua vida, toda sua mensagem consistia em dizer que Allah é único em essência, atributos e ações, e que nenhum ser ou objeto deve ser associado a Ele.
Esses ensinamentos estão documentados em inúmeros hadiths e ações do Profeta, que sempre reafirmou o Tawhid como a base inegociável da fé islâmica.
O Profeta Muhammad ensinou que a crença em Tawhid era a chave para a salvação.
Ele frequentemente dizia que quem morresse com a fé pura em Allah, sem associar a Ele nenhum parceiro, teria garantido o perdão e a entrada no Paraíso. Em um hadith autêntico, ele afirmou:
“Quem disser ‘Não há divindade além de Allah’ com sinceridade de coração, entrará no Paraíso” (Sahih Bukhari, 128).
O Profeta também alertou sobre o shirk oculto, que é adorar Allah com intenções impuras, como buscar elogios ou aprovação das pessoas.
Ele explicou que essa forma de shirk ameaça a sinceridade e a pureza do Tawhid. Em um hadith, ele advertiu:
“O que eu mais temo para vocês é o shirk oculto” (Musnad Ahmad, 5:428).
Outro aspecto dos ensinamentos do Profeta sobre Tawhid é a ênfase na confiança e dependência exclusiva em Allah.
Ele ensinava que todas as necessidades dos crentes devem ser dirigidas a Allah, e que qualquer ato de buscar auxílio deve ser acompanhado pela certeza de que apenas Allah é capaz de atender às súplicas.
Em um conhecido hadith, ele disse: “Se você pedir ajuda, peça a Allah” (Sunan at-Tirmidhi, 2516).
Alguns muçulmanos introduziram uma categorização do Tawhid em três partes:
Não há problema em usar essas distinções para tratar dos diversos aspectos da Unicidade Divina, mas deve-se tomar cuidado, pois ela é bastante usada de forma equivocada para dizer que alguns muçulmanos não acreditam de fato no Tawhid, e isso é uma afirmação grave que pode levar quem acusa à apostasia.
Alguns defensores dessa divisão argumentam que os pagãos de Meca acreditavam no Tawhid al-Rubbubiyyah — reconhecendo Allah como o Criador e Sustentador — mas que isso não os colocava no Islam, pois não seguiam Tawhid al-Uluhiyyah ao adorar outros deuses.
Eles citam que os pagãos aceitavam Allah como Criador, mas buscavam intercessores e outros deuses para obter benefícios específicos, o que, segundo eles, explicaria a necessidade dessa divisão.
Entretanto, essa afirmação ignora que, na perspectiva do Alcorão, os pagãos não reconheciam verdadeiramente Allah como o único Senhor, pois atribuíam atos de criação, sustento e poder de intercessão a outros seres:
"E a maioria deles não crê em Allah senão enquanto idólatras." (Alcorão 12:106)
Ou seja, quem afirma que os idólatras adoravam a Allah estão tomando a palavra de um politeísta por fonte ao invés do Alcorão.
No Alcorão, Allah expõe que os idólatras acreditavam que suas divindades tinham atributos divinos, incluindo poder sobre a criação, o que os tornava “senhores” aos olhos deles.
“Apresenta-vos, ainda, um exemplo tirado de vós mesmos. Porventura, faríeis, daqueles que as vossas mãos direitas possuem, compartilhadores naquilo que vos temos agraciado, e lhes concederíeis partes iguais às vossas? Temei-os, acaso, do mesmo modo que temeis uns aos outros? Assim elucidamos os Nossos versículos aos sensatos.” (Alcorão, 30:28)
Ou seja, Allah está dizendo que os idólatras tratam escravos ("aqueles que as vossas mãos direitas possuem") como senhores.
Sabendo que este versículo se trata de uma parábola para se referir aos deuses deles, vemos que os idólatras o reconheciam como senhores, ou seja, eles não tinham tawhid rububiyyah.
Assim, a ideia de que os idólatras apenas dedicavam adoração (uluhiyyah) a outros deuses, mas reconheciam o senhorio (rububiyyah) de Allah, é contradita pela própria Revelação.
Se você quer ver uma refutação mais aprofundada a este argumento clique aqui e veja o porque esta distinção pode levar a um grave erro anti-islâmico.
O conceito de Tawhid é o fundamento central da fé islâmica, estabelecendo a unicidade absoluta e incomparável de Allah em todos os aspectos de Sua existência, atributos e ações.
Esta doutrina não apenas reafirma que Allah é o único digno de adoração, mas também orienta a vida espiritual e prática dos muçulmanos, cultivando uma consciência profunda da transcendência e soberania divina.
A compreensão clara e precisa do Tawhid é essencial para evitar desvios que possam comprometer a pureza da fé, destacando a importância de evitar o shirk, que é considerado a violação mais grave dessa unicidade.
Portanto, Tawhid não só constitui o núcleo da teologia islâmica, mas também é um princípio que molda a moral e a espiritualidade, orientando o crente a viver de forma alinhada com a devoção exclusiva a Allah.
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