O Alcorão é a última Revelação de Deus (Allah). Ou seja, é a mensagem definitiva do Criador para humanidade. É um livro que foi entregue ao Profeta Muhammad (Maomé) por intermédio do anjo Gabriel. As palavras contidas nele são sagradas para os muçulmanos, sendo as principais orientações relacionadas à moral e à fé da religião islâmica.
A palavra “Alcorão” vem do árabe Al-Qur’an (القرآن) que, em português, significa “a recitação”. Os primeiros versos do livro começaram a ser revelados ao Profeta Muhammad no ano de 609 da Era Cristã e terminaram em 632, com a morte do Mensageiro de Deus.
O Alcorão possui 114 capítulos (surahs), cada um com um nome diferente. Eles são estruturados em pequenos versículos, de forma semelhante, por exemplo, à Bíblia. No entanto, as escrituras islâmicas não são ordenadas de forma cronológica, pois seguem a ordem dos maiores versos até os menores, com exceção do primeiro (Al-Fatiha).
Ao contrário de religiões que afirmam que os livros sagrados foram escritos por homens sob a influência de Deus, no Islam se acredita que o Alcorão é a Revelação dada diretamente pelo Criador ao Profeta Muhammad, através do anjo Gabriel. Não há nenhum comentário ou palavra que esteja escrito nele que não tenha sido dita senão por Deus.
Seus versos permanecem inalterados até os dias atuais. No entanto, considera-se que o Livro Sagrado é somente o que está escrito no idioma em que ele foi revelado – o árabe -, pois as traduções, muitas vezes, alteram o sentido original das palavras e acabam se tornando uma interpretação individual de cada tradutor.
O Profeta Muhammad, assim como muitas pessoas de seu tempo, era iletrado. Por isso, não seria capaz de redigir nenhum versículo do Alcorão. A Revelação sagrada era recitada, memorizada e, por fim, foi transcrita por alguns dos companheiros do Profeta posteriormente.
Após a morte de Muhammad, os manuscritos do Alcorão foram compilados pelo sucessor político do Profeta, o califa Abu Bakr, entre os anos de 632 e 634. Mais tarde, no período entre 644 e 656, o Livro foi recopiado e distribuído pelo califa Uthman, que o entregou para cada um dos domínios islâmicos de sua época.
Quando estava com 40 anos de idade, o Profeta Muhammad tinha o hábito de se retirar da cidade de Meca, onde vivia, para ir até uma gruta localizada no Jabal al-Nur, ou “Montanha da Luz’’. Lá, ele costumava permanecer durante horas, meditando a respeito de assuntos sobre espiritualidade.
Certa vez, durante uma noite no mês do Ramadan, o Profeta foi surpreendido pela presença do anjo Gabriel, que o abraçou e ordenou: “Leia!” Mas o Mensageiro de Deus achava que não seria capaz e respondeu: “Eu não sei ler.” A criatura celestial repetiu o comando duas vezes e, cada vez que Muhammad dava a mesma resposta, ele era agarrado com mais força, até que, por fim, ele foi solto e o primeiro verso do Alcorão foi revelado:
“Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra (coágulo). Lê, que o teu Senhor é o mais Generoso, Que ensinou através da pena, Ensinou ao homem o que este não sabia.” (Alcorão 96:1-5)
O Alcorão foi revelado em partes, ao longo de 23 anos. A mensagem de Deus chegava aos muçulmanos de acordo com os dilemas que o Profeta e a comunidade enfrentavam. Os versos eram em formato de prosa e poesia e o modo inigualável como eram organizados continua envolvendo o coração de muçulmanos e não-muçulmanos até os dias atuais.
A forma como o anjo Gabriel entregava as mensagens de Deus ao Profeta variava bastante, de acordo com cada situação. Muhammad descreveu situações em que o anjo surgia visível ou invisivelmente, jorrando a mensagem em seu coração. Houve situações em que a criatura celestial assumia uma forma humana e falava diretamente com ele.
No entanto, outras revelações eram especialmente penosas para o Profeta. Ele chegou a descrever momentos em que a mensagem chegava através do toque de um sino, e a sensação era como se um peso fosse jogado em cima dele. Então, ele memorizava tudo o que era dito. Nessas ocasiões, há relatos de que Muhammad suava bastante, inclusive nos dias mais frios.
O Alcorão é um livro que fala sobre diversos temas, como fé, ética, comportamento, comércio, casamento e alimentação, e orienta as pessoas a agirem sempre da maneira mais correta possível. Muitos de seus ensinamentos também estão presentes na Torá dos judeus e no Evangelho dos cristãos, como a importância da caridade, da modéstia, do respeito, do perdão, da humildade e, principalmente, da submissão a Deus.
Nas escrituras islâmicas, é possível encontrar as histórias de profetas como Adão, Abraão, Noé, Moisés e Jesus, entre outros, além de profecias já cumpridas e outras que ainda estão predestinadas a acontecer. Também é descrito o papel dos anjos, dos livros sagrados revelados anteriormente (Torá, Salmos e Evangelho) e como será o Dia do Juízo Final.
No entanto, a Revelação mais importante trata sobre a unicidade divina (Tawhid). O Alcorão diz que a mensagem do Criador foi enviada para a humanidade desde o seu surgimento. Porém, com o passar do tempo, ela foi deturpada e, por isso, muitas pessoas começaram a atribuir parceiros, associados e filhos a Deus. Portanto, a doutrina do Islam veio para corrigir esses erros e dizer que Ele não divide Seu poder com nenhuma criatura.
O Alcorão afirma que os cristãos são um dos Povos do Livro, que receberam a mensagem de Deus através do Profeta Jesus (Isa, em árabe). A Escritura Sagrada descreve que Jesus é o Messias e filho da Virgem Maria. Ele trouxe a mensagem do Evangelho, curou os enfermos, ressuscitou os mortos, e não foi crucificado, mas sim arrebatado de corpo e alma aos céus. Jesus voltará antes do Dia do Juízo final, e estabelecerá um governo de paz na terra.
Alguns discípulos e seguidores do Messias lhe atribuíram divindade, dizendo que ele era o filho de Deus. O Alcorão corrige esta afirmação e diz que o Criador do universo não tem pai ou filhos, pois não é homem. Portanto, o Islam diz que Jesus foi um profeta obediente, que operou diversos milagres, mas somente porque Deus permitiu que ele o fizesse.
Mesmo com as diferenças religiosas, o Alcorão não impede a convivência pacífica com os cristãos, nem com nenhuma outra religião.
“Constatarás que aqueles que estão mais próximos do afeto dos fiéis são os que dizem: ”Somos cristãos!”, porque dentre eles há sacerdotes e monges, que não ensoberbecem de coisa alguma.” (Alcorão 5:82)
“Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro. Quem renegar o sedutor e crer em Deus, Ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo, porque Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo.” (Alcorão 2:256)
“Porém, se teu Senhor tivesse querido, aqueles que estão na terra teriam acreditado unanimemente. Poderias (ó Muhammad) compelir os humanos a que fossem fiéis?” (Alcorão 10:99)
“Dize-lhes: A verdade emana do vosso Senhor; assim, pois, que creia quem desejar, e descreia quem quiser.” (Alcorão 18:29)
”Diga: “Ó descrentes, Eu não adoro o que você adora. Nem são adoradores do que adoro. Nem eu vou ser um adorador do que você adora. Também não serão adoradores do que adoro. Para você é a sua religião, e para mim é minha religião “. (Alcorão 109:1-6)
As escrituras também dão ao homem muçulmano o direito de se casar com uma mulher cristã ou judia, garantindo a elas o direito de ter sua fé preservada. “Está-vos permitido casardes com as castas, dentre as crentes, e com as castas dentre aquelas que receberam o Livro antes de vós.” (Alcorão 5:5)
A violência é um tema abordado pelo Alcorão, já que muitas revelações ocorreram em uma época em que os muçulmanos eram perseguidos e oprimidos pelos idólatras da Arábia. Quando os seguidores do Profeta conseguiram juntar forças para se defender, Deus permitiu que eles pudessem lutar para se proteger dos inimigos e dos traidores que se aliaram secretamente aos pagãos.
No entanto, o Alcorão considera um grande pecado cometer qualquer tipo de violência contra alguém que está em paz ou que se rendeu em um combate. Portanto, aqueles que desobedecem a Palavra de Deus tomando estas atitudes não estão cumprindo os mandamentos do Islam.
“Allah nada vos proíbe quanto àqueles que não vos combateram pela causa da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que lideis com eles com gentileza e equidade, porque Allah aprecia os equitativos.” (Alcorão 60:8)
“…quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade; quem a salvar, será reputado como se tivesse salvado toda a humanidade.” (Alcorão 5:32)
O Livro Sagrado do Islam revela que o Profeta Muhammad é o último mensageiro de Deus. Depois dele, a humanidade só voltará a ver um profeta quando Jesus retornar antes do Dia do Juízo Final, porém na qualidade de Messias.
Embora a Torá, os Salmos e o Evangelho sejam reconhecidos como livros sagrados para os muçulmanos, a mensagem desses livros foi modificada pelos homens. O Alcorão, por sua vez, não sofreu nenhuma alteração, e traz em seus versos a essência de todas as Revelações anteriores.
Os versos estão divididos em duas categorias. A primeira são as Revelações feitas antes da imigração (hijrah) de Meca para Medina, e dizem respeito a alguns aspectos da crença islâmica, como: comportamento ético e moral, a história dos profetas, a ressurreição e o Dia do Juízo Final.
A segunda fase são versos após o período da imigração, quando os muçulmanos estabeleceram um novo governo. Nesta parte, Deus manifesta Suas normas e trata de questões como: leis criminais, casamento e divórcio, regras de comércio, tratados de paz, conduta dos guerreiros durante uma batalha e a vida comunitária de modo geral.
O fato de existirem diferentes vertentes dentro do Islam faz com que o Alcorão possua mais de uma forma de ser analisado. No entanto, nas correntes tradicionais da religião, é considerado proibido que alguém interprete o Livro Sagrado, a fim de derivar conhecimento, sem ter permissão de um sábio para fazê-lo.
Somente um sábio autorizado, que possua grande entendimento do Alcorão e dos relatos da vida do Profeta Muhammad pode dizer o que é permitido e o que é proibido dentro da religião. No entanto, os grupos extremistas não aceitam a prática tradicional do Islam e defendem que qualquer um pode interpretar as leis sagradas, mesmo que não tenha o preparo adequado para fazer isso.
Qualquer um pode ler o Alcorão, lembrando que ele está em árabe. Em outras línguas existem apenas as traduções dos sentidos. De qualquer forma, para tirar conclusões sobre os seus ensinamentos, praticar ou ensinar a mensagem das escrituras, é obrigatório que a pessoa tenha a instrução de um sábio que possua grande conhecimento histórico, seja capaz de explicar o contexto das revelações e saiba bastante sobre os relatos de vida do Profeta Muhammad e como ele vivia os mandamentos de Deus, pois ele quem possuía o melhor entendimento dos versos sagrados.
Assim como em qualquer outra religião, no Islam é preciso ter um entendimento correto sobre as escrituras para praticá-las de uma forma que agrada a Deus. Para isso, é preciso ter um mestre que oriente o fiel da maneira certa.
O Alcorão é a Palavra definitiva do Criador para a humanidade. Nenhuma parte do texto sagrado foi elaborada por um homem; todas são obras Divinas. Os versos foram entregues pelo anjo Gabriel ao Profeta Muhammad (Maomé), aos poucos, durante um período de 23 anos.
Embora o Profeta Muhammad não soubesse escrever, seus companheiros transcreveram todas as Revelações que ele recitava e, após a sua morte, as Escrituras puderam ser compiladas e copiadas para vários livros. Graças ao esforço desses homens, a mensagem de Deus chegou aos dias atuais sem nenhum tipo de alteração.
O Livro Sagrado é a maior orientação de moral e fé para os muçulmanos. Além disso, trata sobre diferentes tipos de assunto e apresenta as ações que mais agradam a Deus. O Alcorão também incentiva a boa convivência com fiéis de outras religiões e proíbe qualquer ato de violência contra uma pessoa que não tenha cometido nenhum tipo de agressão.
O Alcorão é um livro envolvente que pode ser lido por todos, mas só pode ser interpretado pelos sábios, que conhecem o contexto de cada Revelação. Ele pode ser encontrado em vários idiomas, mas somente sua versão em árabe é considerada sagrada, pois as traduções, inevitavelmente, são interpretações dos tradutores.
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