Por Khalid Williams, do Mafahim de Sayyid ibn Alawi al Maliki al Makki
Muitas pessoas hesitam em sua compreensão sobre a realidade dos intermediários e se precipitam julgando que a existência de qualquer intermediário é Shirk e que aquele que toma um intermediário, seja de qualquer forma, tem parceiros associados a Allah e, neste caso, seu estado é o dos politeístas, que disseram “nós não os adoramos, exceto para que eles possam nos trazer para perto de Allah” (Alcorão 69:3). Esta afirmação está incorreta e a tentativa de usar este Ayah como uma evidência está equivocada. Isso ocorre porque este nobre versículo é claro em sua severa condenação aos politeístas por sua adoração de ídolos como deuses além de Allah, o Exaltado, e à associação deles com Ele, alegando que sua adoração a esses ídolos nada mais é do que um meio de aproximar-se de Allah. O kufr e o shirk de suas ações derivam de sua adoração a esses ídolos e de sua crença de que são senhores além de Allah.
Algo de grande importância que deve ser enfatizado aqui é que esta Ayah confirma que os politeístas não eram sinceros em sua tentativa de justificar sua adoração a ídolos, alegando que os usavam para se aproximar de Allah. Pois, se tivessem sido verdadeiros nesta afirmação, Allah teria sido maior para eles do que seus ídolos, e eles não teriam adorado outro, senão Ele. No entanto, Allah proibiu os muçulmanos de insultar os ídolos dos politeístas com Suas palavras: “Não injurieis o que invocam, em vez de Allah, a menos que eles, em sua ignorância, injuriem iniquamente a Allah. Assim, abrilhantamos as ações de cada povo; logo, seu retorno será a seu Senhor, que os inteirará de tudo quanto tiverem feito.” (Alcorão 6:108).
É narrado de Abd al Razzaq, Abd ibn Hamid, ibn Jarir, ibn al Mundhir, ibn Abi Hatim e Abu al Sheikh, de Qutada (que Allah esteja satisfeito com ele), que disseram: “Os muçulmanos costumavam amaldiçoar e insultar os ídolos dos descrentes e, assim, os descrentes insultavam e amaldiçoavam Allah, o Poderoso, o Magnífico. Então, Allah revelou “Não amaldiçoem aqueles a quem eles invocam além de Allah, para que não amaldiçoem e injuriem Allah por ignorância”. Este é o motivo da revelação (sabab nuzul) do Ayah, que proíbe fortemente os crentes de proferirem insultos contra os ídolos que os politeístas costumavam adorar em Meca porque tais insultos iriam, inevitavelmente, enfurecer aqueles que acreditavam em seus corações que aquelas estátuas e os ídolos eram deuses com a capacidade de beneficiar e de prejudicar. Essa raiva os levaria a encontrar os crentes com insultos semelhantes contra Aquele a quem eles adoravam, o Senhor dos Mundos, e assim eles atribuíam a Ele defeitos, embora Ele esteja totalmente livre de todos os defeitos. Novamente, se fossem realmente sinceros em sua afirmação de que sua adoração a ídolos era apenas um meio de se aproximar de Allah, não teriam ousado insultá-Lo para vingar seus ídolos quando eles foram insultados.
Isso também fica aparente nas palavras de Allah “E se você perguntasse quem criou os céus e a terra, eles certamente diriam ‘Allah!’ ”'(Alcorão 29:61). Se os politeístas tivessem realmente acreditado que Allah é o único Criador e que seus ídolos não haviam criado nada, eles teriam adorado Allah em vez de seus ídolos ou, pelo menos, sua reverência a Allah teria sido maior do que a reverência em direção a suas pedras e estátuas. Isso é consistente com sua vilificação total de Allah por causa da vigilância de seus próprios ídolos contra Ele? É perfeitamente claro que não é nem um pouco consistente. Além disso, o Ayah que estamos considerando não é a única evidência de que Allah era inferior na estima dos politeístas; em vez disso, há muitas contrapartes. Sobre eles é a declaração de Allah: “Eles atribuem a Allah uma parte das colheitas e do gado que Ele criou e dizem ‘isto é para Allah’, em sua imaginação, ‘e isto para (Seus) parceiros em relação a nós’. Assim, aquilo que eles distribuem por Seus parceiros neles não alcança Allah, e aquilo que eles distribuem por Allah vai para seus parceiros. O mal é a sua ordenança” (Alcorão 6:137.) Se eles não tivessem Allah em menos estima do que seus ídolos, não teriam pesado esta incllinação contra Ele, o que, conforme relatado na Ayah, fez-lhes merecer o julgamento de Allah: “O mal é a sua ordenança”.
Outra evidência é o chamado de Abu Sufyan, antes de entrar no Islam, “Hubal, seja exaltado!”, como foi relatado por Bukhari, em que invocava o ídolo chamado “Hubal” a fim de que ele pudesse, naquele momento de conflito [1], subjugar o Senhor dos Céus e da Terra e Seu exército de Crentes, que desejavam subjugar seus ídolos. Esta é uma medida clara do estado dos politeístas e de como eles viam seus ídolos em relação a Allah, o Senhor dos Mundos.
É essencial que isso seja entendido com verdadeira compreensão, pois muitas pessoas constroem seus argumentos sobre isso sem qualquer entendimento.
Você não vê que, quando Allah ordenou aos muçulmanos que se virassem para a Caaba em suas orações, eles se voltaram para ela durante a adoração e a tomaram como uma direção de oração (Qiblah)? A adoração não foi dirigida à Caaba, e nem o beijo da Pedra Negra é outra coisa senão a adoração a Allah e a imitação do Profeta. Se qualquer um dos muçulmanos pretendesse adorar a algum deles, seria um politeísta, como aqueles que adoram ídolos.
Adorar a Allah por meio de intermediários é essencial e não pode ser chamado de shirk, e não se pode dizer que todo fiel que tem um intermediário entre ele e seu Senhor é um mushrik; do contrário, todo ser humano seria politeísta, pois todos os nossos negócios exigem intermediários. O Profeta recebeu o Alcorão por intermédio de Gabriel e, então, Gabriel é o intermediário do Profeta, que foi o maior intermediário para os companheiros, pois corriam a ele em tempos de crise e reclamavam suas necessidades para ele, buscando sua intercessão e súplicas. Nestes tempos, o Profeta nunca disse a eles “vocês cometeram shirk e kufr! Não é permitido reclamar comigo, nem pedir nada de mim; pelo contrário, devem suplicar e pedir a Deus por si próprios pois, na verdade, Deus está mais perto de vocês do que eu!” Em vez disso, ele se levantava e suplicava por eles, embora soubessem muito bem que o Doador, na realidade, é Allah, e que o Preventor, o Expendedor e o Provedor é somente Allah, e sabiam também que o Profeta não lhes valeria de nada, exceto com a permissão de Allah e através de Sua Recompensa. O próprio Profeta disse “Eu não sou nada além de um repartidor; Allah é aquele que dá.” [2]
Portanto, torna-se evidente que é permissível e correto descrever qualquer pessoa comum como alguém que livra do sofrimento e satisfaz necessidades, isto é, que é um intermediário para eles, então o que dizer do Nobre Mestre e Eminente Profeta, o Mais Ilustre da Humanidade e Jinn, o Indiscutível Melhor da Criação? O Profeta não disse “aquele que livra um muçulmano da angústia, Allah o liberta da angústia do Dia da Ressurreição” [3]? Portanto, o crente é um libertador da angústia e da crise.
Ele não disse “aquele que preenche a necessidade de seu irmão, eu estarei em seu equilíbrio (no Dia do Juízo), e se (suas boas ações) não superarem (as ruins), vou interceder por ele” ?[4] Portanto, o crente é quem preenche as necessidades.
Ele não disse “aquele que abriga um muçulmano, Allah o abrigará no Dia da Ressurreição” [5]?
Ele não disse “em verdade, Allah tem em Sua criação aqueles que são procurados em tempos de necessidade” [6]?
Será que ele não disse “Allah está empenhado em ajudar seu servo enquanto o servo estiver empenhado em ajudar seu irmão” [7]?
Ele não disse “aquele que vem em auxílio de alguém em necessidade, Allah escreve para ele noventa e três boas ações” [8]?
Assim, o crente alivia as adversidades, ajuda, protege, atende às necessidades e é procurado em tempos de provação, embora na realidade seja Deus quem ajuda, cumpre e protege. Porém, como o crente é o intermediário em tudo isso, atribuir as ações a ele é inteiramente apropriado.
Muitos Hadiths relatados pelo Profeta ilustram que Allah alivia a punição de todos os que habitam na Terra por meio dos que buscam o Seu perdão e daqueles que mantêm as Suas mesquitas e que, por seus meios, Ele fornece às massas sustento e apoio e as protege de provações e perigos.
Tabrani relatou em al Mujam al Kabeer e Bayhaqi em al Sunan de Mani al Daylmi que o Profeta disse “Se não fosse por certos servos de Allah que Ele faz curvarem-se a Ele, certas crianças que Ele faz amamentar e certos animais que Ele faz pastar, Ele desencadearia Seu castigo sobre todos vocês e os destruiria totalmente”.
Bukhari relatou de Saad ibn Abi Waqqas que o Profeta disse “você recebe vitória e sustento exceto por meio daqueles de vocês que são fracos?”
Tirmidhi relatou de Anas que o Profeta disse “pode ser que você receba sustento por meio dele.” [9] Al Hakim declarou este Hadith como Sahih.
Abdullah ibn Omar narrou que o Profeta disse: “Na verdade, Allah tem homens que criou para as necessidades do povo, que correm para eles em tempos de crise. Eles são aqueles que estão a salvo do castigo de Allah, o Exaltado” [10].
Jabir ibn Abdullah narrou que o Profeta disse: “Verdadeiramente, Allah confere justiça sobre o filho de um muçulmano, e seu neto, e sua família, e as famílias de seus vizinhos, por meio da piedade e retidão daquele muçulmano, e eles estão sob a proteção de Allah enquanto ele estiver entre eles.” [11]
Ibn Omar narrou que o Profeta disse: “Na verdade, Allah, por meio de um muçulmano piedoso, protege cem de seus vizinhos de adversidades e contendas”.
Ibn Omar, então, recitou o Ayah “E se Allah não tivesse repelido algumas pessoas por meio de outras, a Terra teria sido corrompida” (Alcorão 2:251). [12] Um Hadith é relatado de Thawban [13], que afirma “Haverá entre vocês sete homens por quem você receberá vitória, chuva e sustento até que o Evento de Allah chegue (o Dia do Julgamento).”
Ubada ibn al Samit narrou que o Profeta disse “O Adbal [14] da minha comunidade tem trinta anos, por meio dele, todos vocês recebem sustento, chuva e vitória”. Ubada disse “Espero que al Hasan [15] seja um deles [16].”
Os quatro Hadiths anteriores foram mencionados por al Hafidh ibn Katheer em seu Tafseer do Ayah do Alcorão “E se Allah não tivesse repelido algumas pessoas …” e são apropriados para serem usados como provas. De fato, por seu corpo, o conteúdo torna-se Sahih (autenticado com rigor).
Anas bin Malik narrou que o Profeta disse: “A Terra nunca será privada de quarenta homens como o amigo íntimo (khalil) de Allah, [17] por meio deles você recebe água e socorro. Cada vez que um deles morre, Allah substitui outro em seu lugar [18].”
No Dia da Ressurreição, no Dia de Tawhid, no Dia de Iman, no Dia em que o Trono aparecerá, o benefício do maior intermediário virá à luz: o do possuidor da Estação Louvável (al Maqam al Mahmoud), aquele cuja intercessão nunca é rejeitada e cuja garantia nunca é dissipada por Aquele que prometeu nunca desapontá-lo, rebaixá-lo, desanimá-lo ou entristecê-lo por causa de sua comunidade, quando toda a criação o buscasse e implorasse por sua intercessão, e ele se colocará diante de seu Senhor e não retornará exceto com a altura de nobreza e honra revelada a nós pelas palavras de Allah a ele: “Ó Muhammad! Levante a cabeça e interceda, sua intercessão será atendida; e peça, você receberá!”
Que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele e com sua família, companheiros e todos aqueles que o seguem até o Dia do Juízo.
Traduzido do livro “Noções que devem ser corrigidas [19]” pelo Eminente e Nobre Profético Descendente e Imam do Povo de Hijaz, o falecido Sheikh Sayyid Muhammad ibn al Alawi al Maliki al Hassani. Que Allah o perdoe e fique satisfeito com ele e o recompense com Sua infinita generosidade; e que Ele nos beneficie com suas obras para que possamos servir melhor à Sua Religião e à comunidade de Seu Nobre Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam com ele. Amin.
[1] Na Batalha de Uhud.
[2] Relacionado por Bukhari de Mu’awiyah (que Allah esteja satisfeito com ele)
[3] Relacionado por Bukhari e Muslim de ibn Umar (que Allah esteja satisfeito com os dois)
[4] Relacionado por Abu Na’eem de ibn Umar (que Allah esteja satisfeito com os dois)
[5] Relacionado por Bukhari e Muslim de ibn Umar (que Allah esteja satisfeito com os dois)
[6] Veja abaixo a referência para este Hadith
[7] Relacionado por Muslim e Abu Dawud e outros de Abu Huraira (que Allah esteja satisfeito com ele)
[8] Relacionado por Abu Ya’la e al-Bazar e Bayhaqi
[9] Texto completo do Hadith: ‘Havia dois irmãos no tempo do Profeta (que Allah o abençoe e dê-lhe paz), dos quais um viria ao Profeta (que Allah o abençoe e dê-lhe paz) para buscar conhecimento, e o outro trabalharia para prover para ambos. O trabalhador sentiu que a situação era injusta e queixou-se de seu irmão ao Profeta (que Allah o abençoe e lhe dê paz), que respondeu: ‘pode ser que você tenha o sustento por meio dele.’
[10] Relacionado por Tabrani e Abu Na’eem e al’Qada’i com uma boa corrente (hasan)
[11] Relacionado por ibn Jareer e por Tabari em seu Tafseer
[12] Relacionado por Tabrani
[13] Um servo do Profeta (que Allah o abençoe e lhe dê paz)
[14] Os substitutos. A explicação de seu status pode ser encontrada no Hadith abaixo, relatado por Anas ibn Malik, Insha Allah.
[15] Al-Hasan al-Basri, um dos Tabi’een.
[16] Relacionado por Tabrani
[17] O Profeta Ibrahim (que a paz esteja com ele)
[18] Relacionado por Tabrani. Estes são os Abdal (substitutos).
[19] Mafaheem Yajib an Tusahhah
Fonte: http://masud.co.uk/the-intermediary-of-shirk/
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