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Cresce o interesse dos brasileiros pelo idioma Árabe

A internet possibilitou que muitas pessoas tenham contato com o idioma, no entanto, muçulmanos não estão entre os mais interessados.
  • A internet possibilitou a muitas pessoas ter um contato maior com a língua árabe e também ampliou o acesso às aulas do idioma.
  • A maioria dos alunos são pessoas que se interessam pela cultura e história dos países árabes.
  • No entanto, muçulmanos e pessoas de ancestralidade árabe não são o grupo de alunos que mais buscam pelo idioma.

O árabe começou a ser amplamente falado no Brasil no período da imigração, entre o final do século XIX e o início do século XX, graças aos imigrantes vindos principalmente da Síria e do Líbano. No entanto, por mais que a comunidade estrangeira tenha sido expressiva no país, o idioma acabou sendo deixado de lado por muitas famílias que se estabeleceram por aqui. Hoje, um século após a imigração, muitas pessoas continuam a querer aprender a falar esta língua.

No entanto, grande parte dos que buscam aprender o idioma não são descendentes de imigrantes ou seguidores do Islam, mas pessoas que simplesmente se interessam em aprender uma nova língua. “São pessoas que amam a cultura, a história, e muitas pessoas que são professores universitários que trabalham na área de teologia comparada”, afirma o professor de árabe Ammar Sayed, que é egípcio e mora no Brasil há 9 anos.

Um idioma acessível aos brasileiros

Desde que chegou no Brasil, Ammar dá aulas em Recife, Pernambuco. Seu método de ensino atraiu pessoas de todo o país e hoje ele coordena, junto com sua esposa, sua própria escola de idiomas, e dá aula para pessoas de várias partes do Brasil. No início, a procura era bem modesta, mas hoje ele já possui alunos em cerca de 10 países.

Ammar diz que, a princípio, o árabe causa um pouco de estranheza nos alunos, mas quando eles começam a ter uma maior familiaridade com o idioma, ficam encantados. Pensando em quebrar paradigmas acerca desta língua, o professor criou o perfil Portal Árabe no Instagram, dedicado a apresentar o idioma de forma mais descontraída. “As pessoas têm medo da língua árabe”, constatou o professor, “pensamos: vamos tentar facilitar da melhor forma. E atraímos pessoas mostrando que o árabe é uma língua linda”, concluiu.

Através de memes, vídeos divertidos e conteúdo educativo, ele consegue explicar o idioma de uma forma mais leve para um grande público e mostrar que a língua árabe não é tão inacessível como parece. Este tipo de conteúdo atraiu bastante a atenção do público, e a procura pelo trabalho dele tem aumentado diariamente. Ele já fala em aumentar o quadro de professores da escola: “A equipe tem que aumentar porque a demanda está aumentando”, revela.

Indícios para uma fluência mais rápida

O idioma possui pontos fáceis e difíceis de serem aprendidos, assim como qualquer outro. Natália de Franco Trigo estuda árabe há quase quatro anos e também é professora de idiomas. De acordo com ela, o alfabeto é a parte mais difícil, mas a ortografia, em muitos casos, é mais simples do que a de outras línguas ocidentais. “Para quem está acostumado a lidar com os desafios de aprender um idioma, a gramática do Árabe é menos complicada do que você esperaria”, comentou.

Durante a infância, Natália viveu na Líbia e ela conta que ter contato com o idioma facilitou o seu aprendizado. Ela diz que o contato constante é uma forma eficiente de evoluir na aquisição do conhecimento. “Acredito que o processo fica muito mais difícil se aquele idioma ou cultura não faz parte do seu dia de nenhuma forma, se você não lê nada naquele idioma, não ouve, não assiste pelo menos um pouquinho todos os dias”, afirma. 

Flora Leite Freire é mestre em comunicação social e, há 10 anos, participa de um grupo de dança e folclore árabe. Além disso, há dois anos ela começou a estudar o idioma. Embora ainda esteja no nível básico, Flora já consegue usar o idioma em algumas situações práticas do cotidiano. De acordo com ela, o rápido desenvolvimento no árabe depende da dedicação da pessoa e, através do comprometimento, muitas das barreiras podem ser derrubadas.

“Estudar sozinho não é a mesma coisa. Ter um grupo, saber como se pronuncia e ter a orientação de um professor é fundamental”, afirma Flora. “No curso de idiomas, a gente potencializa um interesse que já existe”, concluiu. 

Não há jeito mais fácil

Desde que chegou ao Brasil, Ammar nota que muitos professores tendem a adaptar o idioma a fim de torná-lo fácil para o aluno. Ele, no entanto, prefere optar por outra abordagem: “A gente não adapta o idioma para quem quer aprender, eles que devem buscar como se aprende a língua”, afirma o professor.

O método de adaptar a forma de ensino pode dar ao aluno a sensação de que sua fluência se desenvolve mais rapidamente mas, na verdade, pode atrapalhar no aprendizado. “A pessoa tem que aprender o alfabeto da língua para poder ler e escrever; em seguida, tem que aprender o vocabulário para aprender as frases e, em seguida, vai formular frases para se comunicar”.

De acordo com Ammar, seu método de ensinar árabe conta é um pouco diferente dos métodos de ensino de outros idiomas. Em geral, os alunos não conhecem nenhuma palavra árabe e nem o alfabeto, diferentemente de línguas que têm palavras já conhecidas pelos brasileiros. Mas, nos demais aspectos, o árabe deve ser aprendido como outro idioma qualquer. “Se o aluno estuda muito, dentro de seis meses ele consegue ler e escrever, e também consegue se comunicar comigo na sala de aula.”

Os alunos garantem que o esforço compensa. Natália quer viajar pelos países árabes e usar o idioma também para valorizar seu currículo de trabalho. E acrescenta: “Pessoalmente, quero conseguir ler as obras dos autores que amo (Nagib Mahfouz, Nawal el Saadawi e muitos outros) inteiramente no original.”

Flora também quer usar o idioma para o lazer e para a carreira profissional, e já celebra o fato de conseguir conversar com uma amiga egípcia em árabe. “Já faz uns dois anos que a gente se fala quase todo fim de semana pela internet. Foi bem legal porque é uma coisa bem difícil que realmente requer praticar o idioma e estudar, ainda mais pela internet.”

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