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Quem São os Sunitas e em que Acreditam?

O Sunismo é a maior vertente do Islam, baseando-se no Alcorão, na Sunnah do Profeta Muhammad e nos ensinamentos das primeiras gerações. Veja mais.
  • O sunismo se constitui como tradição a partir do reconhecimento dos quatro califas bem guiados e do papel dos predecessores justos na conservação da tradição.
  • Os sunitas seguem o Alcorão e as tradições (Sunnah) do Profeta Muhammad, servindo como a principal fonte de orientação religiosa e lei.
  • Também aderem aos cinco pilares do Islam - declaração de fé, oração, caridade, jejum durante o Ramadan e peregrinação a Meca.
  • Eles reconhecem quatro escolas de pensamento jurídico que oferecem diversas interpretações da Sharia, permitindo certa flexibilidade nas práticas religiosas.

O Islam Sunita é a maior ramificação do Islam, compreendendo cerca de 85% a 90% dos muçulmanos em todo o mundo. 

A palavra "sunita" vem do termo "Ahl as-Sunnah", que significa "povo da Sunnah", referindo-se àqueles que enfatizam a importância dos ensinamentos e práticas do Profeta Muhammad e de seus companheiros mais próximos.

Os sunitas acreditam que os califas, começando por Abu Bakr, foram os legítimos sucessores do Profeta, escolhidos com base em consenso e tradição. 

A comunidade sunita é diversificada, abrangendo muitas culturas e nacionalidades em todo o mundo, desde a Ásia, África, partes da Europa, e até mesmo das Américas. 

Neste texto, iremos explorar as raízes históricas, enfatizando a controvérsia sucessória que deu origem à divisão entre sunitas e xiitas, além de discutir as crenças, práticas, e a importância dos familiares e companheiros do Profeta Muhammad

A Origem do Sunismo

Os califas bem guiados

A origem dos sunitas remonta à questão da sucessão após a morte do Profeta Muhammad em 632 d.C. 

Este evento desencadeou um debate significativo entre os primeiros muçulmanos sobre quem deveria liderar a comunidade muçulmana (Umma).

Antes de morrer, o Profeta ordenou que Abu Bakr liderasse as orações, e com isso compreendeu-se que as funções que pertenciam ao Profeta agora seriam de Abu Bakr, pois liderar o salat era guiar a função mais nobre da sociedade.

Além disso, este companheiro foi várias vezes exaltado por ser o melhor amigo do Profeta e a pessoa que o Mensageiro de Allah considerava a mais especial. Ele também foi elogiado por Allah no Alcorão na surata 9:40.

Quando houve uma consulta pública (shura), foi decidido entre os que estavam presente que Abu Bakr era o legítimo sucessor do Profeta, e os muçulmanos aceitaram esta decisão em peso.

Até mesmo Ali, que é uma das figuras centrais do Islam xiita aceitou que Abu Bakr era o legítimo califa e jurou lealdade a ele.

Os sunitas, portanto, são aqueles que aceitam a decisão que predominou entre os companheiros, e consideraram Abu Bakr as-Siddiq o primeiro sucessor do Profeta.

E não apenas isso, mas eles também aceitam que após Abu Bakr, sucederam-lhe Omar, Uthman e Ali

Esses quatro governantes são reconhecidos pelo sunitas como "os califas bem guiados", e foram elementares para a difusão e conservação do Islam.

Os predecessores justos e a preservação da tradição

Na tradição sunita, as primeiras gerações de muçulmanos, conhecidas como as "Salaf as-Salih" (predecessores justos), detêm uma importância excepcional e são consideradas modelos exemplares de fé, prática e comportamento. 

Essas gerações incluem os Sahaba (companheiros do Profeta Muhammad), os Tabiun (aqueles que seguiram os companheiros) e os Tabi al-Tabi in (aqueles que seguiram os Tabiun). A reverência a essas gerações reflete vários aspectos fundamentais na tradição sunita:

Os Sahaba tiveram a oportunidade única de interagir diretamente com o Profeta Muhammad, receber sua orientação e observar seu exemplo de vida. 

Essa proximidade com a fonte da revelação é vista como uma garantia da pureza de sua compreensão e prática do Islam. 

Os sunitas consideram os relatos e tradições transmitidos por esses primeiros muçulmanos como os mais autênticos e confiáveis.

As primeiras gerações são vistas como exemplos ideais de como viver de acordo com os ensinamentos do Islam.

Sua devoção, coragem, justiça, humildade e compromisso com a comunidade muçulmana são vistos como padrões a serem emulados pelos muçulmanos de todas as épocas. 

Os sunitas buscam inspiração em suas histórias e lições de vida para orientar seu próprio comportamento e decisões.

Os Sahaba e as gerações subsequentes foram fundamentais na preservação e transmissão do Alcorão e da Sunnah. 

Eles desempenharam um papel crucial na compilação do Alcorão e na coleta, avaliação e disseminação dos hadiths. 

Portanto, a tradição sunita valoriza profundamente suas contribuições como guardiãs da autenticidade dos ensinamentos islâmicos.

Os sunitas respeitam várias figuras importantes para os xiitas que são consideradas predecessores justos, como é o caso de Ali ibn Abu Talin, Hassan ibn Ali, Hussein ibn Ali, Fátima Zahra, Jaffar al-Tayyar, Abbas ibn Ali, Hamza ibn Abdul Muttalib, entre outros.

No entanto, os xiitas não necessariamente respeitam figuras que são centrais para a tradição sunita.

Em Que os Sunitas Acreditam?

Os sunitas têm crenças e práticas fundamentadas nos pilares do Islam e nas tradições (Sunnah) do profeta Muhammad. Suas crenças são estruturadas em torno dos seguintes princípios centrais:

Os Seis Artigos de Fé

  • Crença em Allah: A crença na unicidade de Deus, que não tem parceiros, filhos, ou divisões. Allah é o único digno de adoração, o criador de tudo.
  • Crença nos Anjos: A crença nos anjos, que são seres criados de luz, encarregados de várias tarefas, incluindo a revelação dos textos sagrados, a gravação das ações das pessoas, e a adoração a Deus.
  • Crença nos Livros Sagrados: A crença nos livros revelados por Deus a seus mensageiros, incluindo o Torá, os Salmos, o Evangelho, e o Alcorão, sendo este último a revelação final e a palavra inalterada de Deus.
  • Crença nos Profetas: A crença nos profetas que foram enviados por Deus para guiar a humanidade. Muhammad é o último dos profetas, e sua vida e ensinamentos são um modelo para os muçulmanos.
  • Crença no Dia do Juízo Final: A crença de que haverá um dia em que todas as almas serão ressuscitadas para serem julgadas por suas crenças e ações. Os justos serão recompensados com o paraíso, enquanto os injustos serão punidos no inferno.
  • Crença no Destino Divino (Qadar): A crença de que tudo o que acontece é por vontade de Deus, mesmo que as ações humanas sejam fruto do livre-arbítrio.

Os Cinco Pilares do Islam

  • Shahada (declaração de fé): A afirmação de que não há deus exceto Allah e que Muhammad é o Mensageiro de Deus.
  • Salat (oração): A realização de cinco orações diárias obrigatórias que são realizadas em momentos específicos do dia.
  • Zakat (caridade): A obrigação de doar uma porcentagem da riqueza anual para ajudar os necessitados, que purifica a riqueza do doador e beneficia a comunidade.
  • Sawm (jejum durante o Ramadan): O jejum do nascer ao pôr do sol durante o mês sagrado do Ramadan, um tempo de reflexão, adoração e auto-disciplina.
  • Hajj (peregrinação a Meca): A peregrinação que todo muçulmano deve fazer a Meca pelo menos uma vez na vida, se tiver condições físicas e financeiras para fazê-lo.

Interpretações Jurídicas

Os sunitas seguem várias escolas de pensamento jurídico (madhahib) - Hanafi, Maliki, Shafi, e Hanbali - que interpretam a lei islâmica (Sharia) com base no Alcorão e na Sunnah. 

Essas escolas oferecem diferentes perspectivas sobre questões de prática religiosa e lei, mas compartilham os mesmos princípios fundamentais do Islam.

Quais Fontes os Sunitas Utilizam

As fontes do direito e da prática islâmica no sunismo baseiam-se principalmente em duas fontes principais, complementadas por duas secundárias. Juntas, elas formam a base da lei islâmica (Sharia) e da orientação ética e religiosa para os muçulmanos sunitas. As fontes são:

Fontes Principais

  • Alcorão: O Alcorão é a palavra de Deus revelada ao Profeta Muhammad ao longo de 23 anos. É a principal fonte de toda a lei e prática islâmica, contendo diretrizes para a crença, adoração, moralidade, justiça, e a organização da sociedade. O Alcorão é considerado inalterado e a autoridade final em todos os assuntos.
  • Sunnah: A Sunnah compreende os ditos, ações e aprovações tácitas do Profeta Muhammad. Ela serve como uma explicação prática e um complemento aos ensinamentos do Alcorão, oferecendo um guia para a vida diária, rituais de adoração, e questões legais. A Sunnah é registrada em coleções de hadiths, que são relatos transmitidos por aqueles que testemunharam a vida do profeta.

Fontes Secundárias

  • Ijma (consenso): O Ijma é o consenso dos eruditos muçulmanos (ulema) sobre uma questão religiosa ou legal que não foi explicitamente tratada no Alcorão ou na Sunnah. O Ijma é baseado na crença de que a ummah (comunidade muçulmana) não concordaria em erro, especialmente quando os eruditos se unem em entendimento. O Ijma ajuda a adaptar a lei islâmica a novas circunstâncias e a garantir a continuidade e a estabilidade da prática religiosa.
  • Qiyas (analogia): O Qiyas é um processo de dedução lógica pelo qual a lei islâmica é aplicada a situações que não são explicitamente mencionadas no Alcorão ou na Sunnah, mas que podem ser comparadas a outras situações que são. Através do Qiyas, os eruditos estendem a legislação existente a novos casos, assegurando que a lei islâmica permaneça relevante e aplicável em um mundo em mudança.

Além dessas quatro fontes principais, outras formas de raciocínio jurídico, como o istihsan (preferência jurídica) e o maslaha (consideração do bem-estar público), também podem ser utilizadas para lidar com questões que exigem flexibilidade e adaptação às circunstâncias locais ou mudanças sociais.

Outras Perguntas

Qual a Diferença Entre Sunitas e Xiitas

Os sunitas respeitam a decisão dos primeiros muçulmanos, que elegeram Abu Bakr como primeiro governante, enquanto os xiitas acreditam que a nomeação do líder deveria ser apenas de familiares do Profeta Muhammad através de sua filha Fátima Zahra, e o marido dela Ali ibn Abu Talib.

Sunitas ou xiitas: Quem é mais radical

Ser sunita ou xiita não tem a ver com o quanto a pessoa segue a religião. 

Ambos os ramos do Islam compartilham a maior parte das crenças fundamentais, a diferença está nas fontes e metodologia para interpretar as questões religiosas.
Há muçulmanos radicais e moderados tanto no xiismo quanto no sunismo, e não existe nenhuma questão fundamental que torne alguma das correntes essencialmente extremista.

Países sunitas

Os sunitas são predominantes em quase todos os lugares onde há presença islâmica, exceto no Irã, Iraque, Azerbaijão e Bahrein, onde a maioria é xiita, além do Omã, onde a maioria é ibadita.

Em alguns lugares há uma divisão bastante proporcional entre sunitas e xiitas, como Líbano, Iêmen e Kuwait. Também há uma grande presença de sunitas no Omã.

No restante dos lugares, os sunitas formam a ampla maioria da população, como é o caso do Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Nigéria, Sudão, Somália, Turquia, Bósnia, Albânia, Arábia Saudita, Qatar, Síria, Jordânia, Palestina, Paquistão, Afeganistão, Indonésia, Malásia, entre outros.

Conclusão

O sunismo se distingue por ser o ramo islâmico que aceitou a decisão dos primeiros muçulmanos (que eram discípulos do Profeta Muhammad) de que Abu Bakr, Omar, Uthman e Ali foram os primeiros governantes da comunidade.

As primeiras gerações de muçulmanos possuem um status enfatizado no sunismo devido ao seu papel de destaque na preservação da tradição islâmica e na transmissão dos ensinamentos proféticos.

O sunismo, como a maior denominação do Islam, desempenha um papel fundamental na definição das crenças e práticas da vasta maioria dos muçulmanos em todo o mundo. Caracterizado pela diversidade e adaptabilidade, ele abriga tradições e interpretações jurídicas unidas por uma fé comum nos ensinamentos do Alcorão e na Sunnah do Profeta Muhammad. 

Os sunitas seguem os seis artigos de fé e os cinco pilares do Islam, que formam a espinha dorsal de sua vida espiritual e prática religiosa, guiando-os em seu caminho para alcançar a proximidade com Deus.

As quatro principais escolas de pensamento jurídico (Hanafi, Maliki, Shafi e Hanbali) refletem a diversidade de interpretações dentro do Sunismo, permitindo uma flexibilidade que é vital para acomodar as variadas circunstâncias de vida dos muçulmanos em diferentes contextos sociais e culturais.

Essas escolas, embora distintas em suas metodologias jurídicas, compartilham um compromisso comum com os princípios do Alcorão e da Sunnah, trabalhando juntas para formar uma compreensão coesa da lei e da ética islâmicas.

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