O Espírito Santo é uma peça chave para entender as diferenças teológicas entre a Trindade cristã e a Unicidade Divina (tawhid) do Islam.
Pode-se dizer que esse conceito está presente nas duas doutrinas, mas a compreensão sobre o Espírito e a teologia construída em volta dos fenômenos que o cercam são muito distintas.
O Espírito Santo no Islam é um nome pelo qual é chamado o arcanjo Gabriel, que transmite a mensagem de Deus aos Profetas.
Em árabe, ele é mencionado pelos nomes "Ar-ruh" (que significa "o Espírito"), "Ruhhil-Qudus" (Espírito Santo), "Ruuhanaa" (Nosso Espírito) e "Ruuhul-Amiin" (o Espírito Honesto).
Ele é responsável por apoiar os profetas e levar a salvação para toda a humanidade por meio da revelação divina, para que os humanos não pereçam no Dia do Juízo.
O anjo Gabriel é destacado desta forma porque foi criado a partir do Espírito de Deus. Ele também é o espírito que dá vida ao corpo, o que pode ser melhor compreendido no nascimento miraculoso do Profeta Jesus.
O anjo Gabriel aparece diante de Maria e sopra o verbo de Deus em seu ventre. Ou seja, se Deus diz algo, isso se manifesta pela Sua vontade, ainda que seja algo aparentemente impossível, como uma mulher virgem engravidar.
O nome Espírito é algo que geralmente distingue Gabriel dos demais anjos, justamente pelas funções que Allah atribui a ele:
Os anjos não possuem livre arbítrio e cumprem integralmente o que Allah determina, mas são criaturas interdependentes e todo o poder que emanam é proveniente de Allah. Tudo o que fazem é com a autorização de seu Senhor.
O conceito da Trindade cristã afirma que o Espírito Santo compartilha a mesma essência de Deus e, do mesmo modo, isso ocorre com Jesus. Ou seja, Deus seria Um em três.
Além disso, nas doutrinas cristãs, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, ainda que a concepção de Jesus tenha sido dada através do Espírito Santo.
Jesus claramente se distingue do Espírito Santo quando ele diz:
Isto é, a ofensa contra Jesus é perdoável, mas contra o Espírito Santo, não. Se houvesse de fato alguma consubstanciação, a ofensa ao Filho deveria ser igual ao Espírito Santo, afinal, presume-se através desta doutrina que ambos são Deus.
Nenhum profeta diz, seja na Bíblia ou Alcorão, que o Espírito Santo é o terceiro de Um.
Utilizando o método dedutivo da teologia islâmica da escola Ashari, podemos também facilmente chegar à conclusão de que Allah não pode ter consubstancia em absolutamente nada, pois tudo o que se insere no tempo-espaço não pode ser o Criador, e sim uma criação.
Tudo que está inserido na criação está em algum lugar e tudo que está em algum lugar possui um volume, e tudo que possui volume também tem um limite e é parte da criação, ou seja, não é Allah.
Tanto o Espírito Santo quanto Jesus foram gerados em algum momento e, portanto, conhecem a finitude, ao contrário de Allah, que nunca foi gerado.
Aquilo que foi gerado necessariamente depende de algo que resultou na sua existência. Portanto, o Espírito Santo e Jesus dependem de Allah para existir, ao contrário d'Ele, que não depende de nada.
Se o Espírito Santo e Jesus não possuem todos os atributos de Allah, então não dividem poderio ou senhorio com Ele. Se eles realizaram milagres e entregaram as revelações sagradas para a humanidade, isso é graças ao Senhor do qual todas as criaturas dependem, que é quem de fato permite que toda criação seja o que é.
Por observar que a Trindade é incompatível com os atributos de Allah, o Islam atribui o papel do Espírito Santo embasado no conceito da Unicidade Divina, ou seja, como uma criatura santa, mas que não é consubstancial ao Criador.
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