Assistindo a série O Grande Guerreiro Otomano, também conhecida como Ertugrul, muitas pessoas ficaram fascinadas com a história da tribo Kayi, que protagoniza a narrativa marcante e imponente sobre o início da civilização turca. Como muitos sabem, vários detalhes da obra são inspirados em fatos reais, inclusive a trajetória do clã principal da saga.
A tribo Kayi foi uma das mais importantes para a formação das civilizações turcas, em especial do Império Otomano. No entanto, o que provavelmente poucas pessoas conhecem é que a formação deste clã remonta a uma história que trata de fatos, mas que também possui algumas características mitológicas.
Além disso, os seljúcidas, que formavam o Sultanato de Rum, que também é mostrado na série, possuem uma história que se mistura com a da tribo Kayi, e ajuda a explicar como a pequena tribo de Ertugrul se tornou um grande império pouco tempo após a morte deste líder e guerreiro.
Apesar da história reconhecer o importante papel de Ertugrul como o precursor da dinastia otomana, sabe-se que o personagem-chave por trás do nascimento deste império foi o seu filho, Osman I.
Os Kayi eram um povo que pertencia ao grupo de turcos oguzes. Este nome remonta à linhagem de um guerreiro lendário chamado Oguz Khan. Não há informações sobre a data de seu nascimento, apenas se sabe que ele foi um importante personagem que nasceu na região central da Ásia, onde hoje é o Turcomenistão.
Suas histórias são contadas por diversas tradições folclóricas asiáticas. Algumas delas narram que Oguz seria descendente de Esaú, filho do Profeta Isaque. Outras lendas dizem que ele teria sido um contemporâneo do Profeta Abraão, e que teria se casado com uma filha de Isaque.
Embora a história de Oguz Khan seja cercada de mitos e mistérios, é dito que ele era um guerreiro monoteísta, que lutou em diversas batalhas e conquistou terras na Ásia central, Índia, Síria, Egito e Pérsia, atual Irã. Ele teve seis filhos e 24 netos.
Independente de ser mito ou fato, a história deste guerreiro certamente é uma alegoria para falar sobre as seis regiões pelas quais se espalharam o povo turco, e também sobre as 24 tribos que surgiram após esta divisão.
Os registros mais antigos sobre os Kayi são do século XII, quando a tribo era liderada por Suleyman Shah, que dominava uma pequena terra em Mahan, na região nordeste do Irã. Eles viveram neste local até serem obrigados a fugir por causa da invasão dos mongóis, no início do século XIII.
A tribo dos Kayi teve de migrar para a região norte da Anatólia mas, durante a travessia do Rio Eufrates, muitas coisas aconteceram. Acredita-se que Suleyman Shah tenha se afogado durante a travessia, e isto fez com que a sua família se dividisse.
Após sua morte, dois filhos de Suleyman teriam voltado para as terras de Horasan, junto com vários outros membros da família. Eles se renderam aos mongóis, que dominavam aquele território, e desde então, não houve mais nenhuma notícia a respeito deles.
Ao contrário de seus irmãos, o guerreiro Ertugrul continuou indo para o oeste, rumo à região norte da Anatólia. Ao chegar em seu destino, ele e outros 400 soldados Kayi se juntaram aos turcos Seljúcidas na luta contra os bizantinos e os mongóis.
Embora esta versão seja a mais conhecida sobre a chegada de Ertugrul e seus companheiros ao Império Seljúcida, outras fontes históricas indicam que os guerreiros Kayi se estabeleceram no norte da Anatólia após lutarem contra os bizantinos na Batalha de Manziquerta, no ano de 1071.
Os seljúcidas eram um ramo dos Knik, uma das 24 tribos descendentes de Oguz Khan. Adeptos do Islam, eles viviam em uma região próxima de onde atualmente é o Cazaquistão, e em seguida migraram para a Pérsia, onde assimilaram o idioma nativo, e se integraram à cultura local.
No século XI, quando derrotaram o Império Gaznévida, os seljúcidas passaram a ocupar boa parte do território onde hoje é o Irã, além de grande parte da Ásia central e também do Oriente Médio.
Até o final do século XI, eles se expandiram pela Anatólia e por uma parte no sul do golfo pérsico, onde hoje estão os Emirados Árabes e Omã. Sob uma comissão do Império Abássida, também chegaram a tomar Bagdá da dinastia xiita dos Buídas.
Após conseguirem dominar tantas terras, no ano de 1037 eles estabeleceram o Grande Império Seljúcida. Durante o seu auge, nos anos 1070, chegaram a dominar terras que iam da China, na fronteira leste, até o Império Bizantino, na parte oeste.
Entre outros feitos notáveis dos seljúcidas, está a conquista da cidade de Jerusalém, que foi dominada após uma grande batalha contra o Califado Fatimíada, no ano de 1071. Anos mais tarde, este ataque motivaria o início da Primeira Cruzada.
Em 1092, os quatro herdeiros do Império Seljúcida não chegaram a um consenso sobre o controle do território e, por isso, ele foi dividido em quatro partes. Desta divisão surgiu o Sultanato de Rum, que ficava localizado na parte central da Anatólia.
No século XII, a civilização seljúcida entrou em declínio e, nos anos 1260, restava ainda apenas o Sultanato de Rum como domínio do antigo império. Esses territórios atualmente são parte da Turquia.
Nas fronteiras ao norte, oeste e uma pequena parte do sudoeste do Sultanato, haviam territórios que pertenciam ao Império Bizantino. Desde o século XI, os dois reinos se confrontavam, competindo para exercer o poder na região.
No ano de 1258, nasceu Osman I, filho de Ertugrul, na cidade de Sogut, que era parte das terras onde os seljúcidas permitiram que os Kayi permanecessem. Embora a série turca Ertugrul retrate Halime Hatun como sua mãe, não há comprovação histórica para esta informação.
Quando Ertugrul morreu, no ano de 1280, Osman I herdou suas terras e a liderança da tribo. Nos primeiros 20 anos de reinado, sua principal preocupação foi consolidar o seu reino através da ocupação de territórios áridos, dominando pequenos feudos, estabelecendo principados e fazendo alianças de batalha.
Em 1300, os Seljúcidas entraram em colapso, o que deu a oportunidade para o reino de Osman I e outros beyliks turcomanos de se expandirem de maneira significativa através das terras do antigo império. A partir desta época, ele conseguiu domínios importantes, incluindo a cidade de Yenisehir, que se tornou a capital de seu reino.
À medida em que Osman I foi expandindo seus domínios, outros clãs se uniam a ele. Esses povos eram formados principalmente por famílias turcomanas, nômades que viviam na Anatolia e também por um pequeno grupo de cristãos que havia se convertido ao Islam.
Quanto mais o pequeno reino ia se desenvolvendo, mais imponente ele se tornava. Aos poucos, o sistema tribal dos Kayi se tornou um estado e, por fim, um império, cujo sistema jurídico era elaborado de acordo com as leis islâmicas, e também mediado por juristas muçulmanos.
A expansão do império de Osman I foi tamanha que, em um determinado momento, o único contato dos bizantinos com Constantinopla era realizado por vias marítimas, já que ele havia dominado todas as passagens por terra.
No entanto, os bizantinos não eram o único desafio para Osman I. Ao leste, os turcomanos estavam sofrendo há anos com a invasão dos ilcanatos, que eram descendentes dos mongóis. Para se verem livres de ataques, os oprimidos eram obrigados a pagar-lhes tributos.
Osman I decidiu se sujeitar aos ilcanatos, o que possibilitou que ele continuasse expandindo seus domínios em todas as direções e, por fim, ele também conseguiu isolar os bizantinos no território de Bursa, deixando-os vulneráveis.
As ofensivas de Osman I duraram até o ano de 1324, quando ele morre e é sucedido por seu filho Orhan I.
Por sua vez, Orhan I foi responsável por expandir ainda mais os domínios do império e conseguiu solucionar conflitos antigos da época de seu pai. Ele finalmente se livrou da opressão dos ilcanatos e conquistou a independência de seu território.
Já o conflito com os bizantinos se estendeu até o ano de 1453, quando finalmente os otomanos conseguiram dominar Constantinopla e derrotar o império inimigo.
A Casa de Osman foi uma das linhagens reais mais bem sucedidas da história. Por onze vezes, o sultanato do Império Otomano ficou aos encargos de um de seus descendentes. Isto se deve ao fato de sua dinastia ter imposto respeito aos seus súditos e medo aos seus inimigos.
Nesses onze reinados, em apenas duas ocasiões houveram rebeliões contra o sultão e em ambas as vezes o plano fracassou. A postura dos membros da Casa de Osman, durante muito tempo, deu ao povo turco a sensação de estabilidade e segurança.
Nenhuma dinastia foi tão bem sucedida dentro da história islâmica e, no geral, somente a Casa dos Habsburgo, na Europa, conseguiu estabelecer uma dinastia tão duradoura quanto a otomana.
Além da fundação do império, os sucessores da tribo Kayi foram responsáveis por expandir as fronteiras para limites nunca antes vistos por nenhum outro califado islâmico. Durante o seu auge, entre os séculos XVI e XVII, os otomanos possuíam domínios no sudoeste da Europa, no norte da África e em boa parte do Oriente Médio.
Após este período, iniciou-se o seu declínio, que durou até o ano de 1922, quando foi dissolvido.
A série O Grande Guerreiro Otomano, também conhecida como Ertugrul, mostra uma narrativa inspirada na história real da tribo Kayi, que pertence à etnia dos turcos oguzes.
Os turcos oguzes, por sua vez, são um povo que descende de um guerreiro lendário chamado Oguz Khan, que é o ancestral das 24 tribos que formam o povo turco. Entre elas estão os Kayi, da qual fazia parte o guerreiro Ertugrul, e os knik, que mais tarde originaram os seljúcidas.
Embora os registros históricos não contenham uma conclusão sobre como os Kayi chegaram ao norte da Anatólia, as fontes mais confiáveis apontam que eles surgiram no nordeste do Irã e se estabeleceram nas terras do Grande Império Seljúcida após fazerem uma aliança militar.
Foi na cidade de Sogut que Ertugrul teve o seu filho Osman I, que anos mais tarde seria responsável por expandir o reino de seu pai e transformar sua pequena tribo em um grande império.
Esta expansão aconteceu após o declínio do Grande Império Seljúcida e o Sultanato de Rum. Os Kayi, sob o comando de Osman I, puderam herdar várias terras, e, através de alianças e domínios de pequenos feudos, eles puderam se articular militarmente.
À medida em que adquiriu força, o exército de Osman I pôde enfrentar os bizantinos em batalha e isolar algumas das principais cidades inimigas. Com essas estratégias de guerra, eles conquistaram diversos territórios, o que historicamente marcou o início do Império Otomano.
Embora Osman I tenha morrido em 1324, o legado de sua dinastia perdurou por mais de seis séculos, e foi de extrema importância para o povo turco. Durante 11 vezes, o sultanato do Império Otomano esteve nas mãos de algum descendente de seu fundador.
Isso mostra que esta dinastia teve um papel importante para gerar estabilidade nos domínios do império, e também para gerar temor em seus inimigos.
Os Otomanos foram responsáveis por criar o maior império já visto até hoje pela história islâmica, e conseguiu dominar diversos países no Oriente Médio, África e Europa.
Apesar de haver fatos que os historiadores não conseguiram esclarecer, certamente a tribo Kayi e a dinastia de Osman tiveram um papel fundamental para o desenvolvimento da história da Turquia, que contribuiu não só para a cultura daquele país, mas para o Islam de uma forma geral.
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