O jornal católico Catholic Herald repercutiu nesta semana uma nota do Vaticano divulgada no último sábado (3), condenando a satirização da pintura da Santa Ceia, de Leonardo Da Vinci, realizada na abertura dos Jogos Olímpicos em Paris.
Fato curioso é que a condenação papal não surgiu de modo espontâneo, mas sob a influência do presidente turco Erdogan, que sequer é católico, mas muçulmano.
Por oito dias, o papa Francisco manteve absoluto silêncio sobre as cenas protagonizadas na cerimônia de abertura, e mesmo tendo diversas oportunidades de se manifestar sobre o ocorrido, não o fez.
No dia 30 de julho, Erdogan comunicou aos membros do seu partido que ligaria para o papa Francisco para instigá-lo a se manifestar sobre as cenas da abertura das Olimpíadas, as quais ele classificou como "repugnantes".
No dia 1º deste mês, o gabinete do presidente turco publicou declarações em suas redes sociais indicando que este contato já havia ocorrido.
O posicionamento do papa, segundo o Catholic Herald, pode ser uma postura política para não afetar reivindicações diplomáticas do Vaticano junto ao governo francês, como, por exemplo, em relação a questões referentes ao aborto. No entanto, o sumo pontífice pode ter optado por não ter sua imagem associada a figuras contrárias à Igreja, como o excomungado arcebispo italiano Carlo Maria Viganò.
No entanto, isso gerou descontentamento não apenas em cristãos de todas as vertentes, mas também em muçulmanos, que consideram Jesus um profeta, e, portanto, uma figura sagrada.
Após oito dias, a condenação finalmente veio, e em um horário que chamou a atenção dos católicos que se atentam aos comunicados papais: 19h47.
Geralmente, o Vaticano não emite declarações tão tarde, exceto em situações de emergência.
Apesar da demora, o caso foi tratado pela Igreja com diligência após o contato de Francisco com Erdogan.
Desde o início do papado, o sumo pontífice demonstra preocupação com o papel da Igreja a nível global, e busca estabelecer diálogo com autoridades políticas e religiosas do mundo islâmico, sendo Erdogan uma figura proeminente.
A mensagem do Vaticano afirmou que: "Em um evento de prestígio, onde o mundo inteiro se une em torno de valores comuns, não deve haver alusões ridicularizando as crenças religiosas de muitas pessoas”.
A declaração ainda pondera que “A liberdade de expressão que, obviamente, não deve ser questionada, encontra seu limite no respeito ao próximo”.
Em declaração ao site TheWrap no domingo, os produtores da cerimônia de abertura dos Jogos de Paris afirmaram que o designer artístico Thomas Jolly se inspirou na pintura de Leonardo Da Vinci, mas que esta é uma referência comum na cultura popular.
"Para o segmento 'Festividades', Thomas Jolly se inspirou na famosa pintura de Leonardo da Vinci para criar o cenário", disseram os produtores na declaração.
“Claramente, nunca houve a intenção de mostrar desrespeito a qualquer grupo religioso ou crença... [Jolly] não é o primeiro artista a fazer referência ao que é uma obra de arte mundialmente famosa. De Andy Warhol a 'Os Simpsons', muitos fizeram isso antes dele.”
Mas, um dia depois, Thomas Jolly negou esta declaração, afirmando que a cerimônia, na verdade, quis representar uma celebração pagã dos deuses do Olimpo.
Além do Vaticano e Erdogan, outra grande autoridade também se manifestou a respeito do assunto.
A prestigiosa universidade de Al-Azhar, no Egito, que é uma das principais instituições de ensino religioso do mundo islâmico, também condenou o escárnio da cerimônia, que colocou um drag queen ocupando o lugar de Jesus na representação da Santa Ceia, ao lado de LGBTs nos lugares ocupados pelos apóstolos.
Em comunicado, a Al-Azhar condenou as cenas, as quais foram julgadas como "insultuosas".
Além disso, a universidade também afirmou que “retratam Jesus Cristo de maneira ofensiva, desrespeitando sua pessoa honrada e o alto status da profecia de uma forma bárbara e imprudente que não respeita os sentimentos dos crentes nas religiões e na alta moral e valores humanos”.
Em resposta, o Comitê Olímpico Internacional (COI) disse que: "Claramente, nunca houve intenção de mostrar desrespeito a nenhum grupo religioso. Pelo contrário, pretendíamos mostrar tolerância e comunidade. Se as pessoas se ofenderam, então pedimos desculpas".
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