Recentemente o canal humorístico “Porta dos Fundos” lançou, na plataforma Netflix, um “especial de Natal”, no qual satiriza a figura de Jesus Cristo e o retrata como homossexual, possuindo inclusive um parceiro.
Naturalmente, o vídeo chocou e provocou reações de repúdio em lideranças das diversas denominações cristãs; no entanto, houve também muçulmanos e entidades islâmicas demonstrando seu descontentamento com o tal vídeo. Se o profeta que trouxe o Islam é Muhammad, por que então os muçulmanos se incomodaram com a satirização da liderança de uma outra religião?
Em primeiro lugar, mesmo se Jesus fosse um total estranho à tradição islâmica (e ele está bem longe disso), o Islam já não veria com bons olhos tal satirização, pois um muçulmano é obrigado a respeitar todas as religiões e seus símbolos sagrados, mesmo não concordando com eles. O Alcorão é muito claro quando diz: “e não insultem (aquilo) o que (os não muçulmanos) invocam além de Allah, exceto se eles insultarem Allah.” [6:108]. Assim sendo, o insulto a qualquer outra religião a priori vai diretamente contra as ordens do Alcorão.
Além disso, ao contrário do que muitos pensam, Jesus é uma das figuras centrais do Islam, amado e respeitado por todos os que se dizem muçulmanos. Na visão muçulmana, ele é um profeta e mensageiro, alguém que foi enviado por Allah para trazer uma Mensagem Divina, uma revelação, e é citado diversas vezes no Alcorão e pelo Profeta Muhammad. Sobre os mensageiros, o Alcorão diz: “Todos os fiéis creem em Allah, em seus Anjos, seus Livros e em seus Mensageiros. Não fazemos distinção entre seus Mensageiros”. [2:285]. Isso significa que todos são amados igualmente, e são consideradas pessoas sagradas pelos muçulmanos. Toda vez que o nome de um dos mensageiros é dito, é da etiqueta islâmica dizer “aleihi salam”, que a paz esteja com ele, pelo respeito que lhes temos.
O Alcorão fala extensamente sobre Jesus, narrando vários episódios da vida dele; alguns que estão no evangelho e outros que não estão. Os muçulmanos acreditam na pureza da Virgem Maria, no nascimento miraculoso de Jesus e nos milagres que lhe são atribuídos. Portanto, qualquer ofensa à sua figura é um delito grave na religião islâmica, tão grave quanto uma ofensa ao Profeta Muhammad, e passível de total repúdio.
Reputar um profeta como homossexual é, além de uma imprecisão histórica (não existe o menor indício dessa conduta por parte de nenhum deles), um pecado muito grave. A prática homoafetiva é considerada uma falta nas religiões abraâmicas, e, por princípio, na visão islâmica, os profetas são incorruptíveis, eles são incapazes de pecar. Qualquer muçulmano que ache que Jesus tenha sido homossexual, está fora da religião.
Por fim, o Iqara Islam se junta ao coro daqueles que repudiam o vídeo do “Porta dos Fundos”. Entendemos que estar num país laico não significa liberdade para satirizar figuras consideradas sagradas por uma grande parte da população, e por bilhões de pessoas no mundo inteiro. Quem reclama de intolerância e falta de respeito às minorias deveriam ser os primeiros a respeitar e exercer tolerância, pois, de outra forma, tudo se resume a um discurso vazio e hipócrita.
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