No Brasil, Junho é um mês especial pelas festas católicas juninas, ou “São João”. Estas festividades surgiram originalmente para comemorar uma figura bíblica famosa, João Batista, um profeta ou pregador itinerante que previu o advento de Jesus, o Messias.
Contudo, João Batista, ou através da forma arábica de seu nome, Yahya, é um dos grandes profetas mencionados no livro sagrado islâmico, o Alcorão, onde aparece pelo menos cinco vezes, e é uma das muitas figuras ambivalentes entre o cristianismo e o Islam.
Muçulmanos honram João Batista através de sermões nas mesquitas e nomeando seus filhos em sua homenagem – por isso, Yahya é um nome muito comum entre muçulmanos. Até mesmo o local final de descanso desta grande figura bíblico-corânica se encontra em um templo atualmente islâmico.
No Alcorão, a história de João Batista começa com as intensas súplicas de seu pai, o Profeta Zakariya, para que tivesse um herdeiro.
A preocupação de Zakariya não era infundada, afinal, em idade avançada, ele e sua esposa já não tinham esperanças de conceber.
Então, Allah atendeu-lhe a súplica, dando-lhe a notícia milagrosa de que sua esposa conceberia um filho, cujo nome seria escolhido por Allah: “Yahya”, ou “aquele que vivifica”, devido ao seu nascimento de uma mulher que todos julgavam estéril.
“Ouça minha súplica como atendestes a súplica de Teu servo Zakariya” é uma oração comum entre muçulmanos até hoje.
O jovem João Batista era uma criança única, profundamente tocada pelo dom divino. Enquanto alguns profetas receberam a revelação, ou até mesmo a consciência da Profecia na fase adulta, desde criança ele já sabia porque e para que foi criado. Allah diz no Alcorão:
“Ó Yahya (João Batista), observa fervorosamente o Livro!” E o agraciamos, na infância, com a sabedoria, assim como com as Nossas clemência e pureza, e foi devoto. E piedoso para com seus pais, e jamais foi arrogante ou rebelde. A paz esteve com ele desde o dia em que nasceu, no dia em que morreu e estará no dia em que for ressuscitado.” (19:12-15)
Nos ditos do Profeta Muhammad, é dito que todo filho de Adão terá alguma falta pela qual será julgado por Deus, exceto João Batista, filho de Zakariya.
Nas fontes sagradas islâmicas, são relatadas algumas outras passagens e diálogos entre Jesus e seu primo João Batista, que tiveram juntos um período de vida cheio de lições.
Ele costumava pregar no Monte do Templo e tinha uma vida de ascetismo tão pura que é dito que se alimentava de folhas e por vezes gafanhotos, e permaneceu solteiro pelo resto de sua vida.
Os mandamentos de João Batista para os israelitas foram cinco: o monoteísmo, a adoração, o jejum, a caridade e a recordação constante de Allah e seus favores, e dentre seu povo ele era bastante popular.
Contudo, um conflito entre ele e as autoridades da Judeia teve início. O tirano Herodes Antipas estava apaixonado por Salomé, filha de seu irmão. Ele estava planejando se casar com sua linda sobrinha.
O casamento foi incentivado por sua mãe e por alguns dos homens instruídos de Sião, por medo ou para ganhar favores com o governante. Porém, ao ouvir o plano do governante, João declarou que esse casamento seria incestuoso. Ele não o aprovaria sob nenhuma circunstância, pois era contra a Lei da Torá.
O pronunciamento de João Batista se espalhou como fogo e colocou a opinião pública contra o rei. Salomé estava em fúria, pois era sua ambição governar o reino com seu tio.
Ela conspirou para alcançar seu objetivo. Vestindo-se de forma atraente, ela cantou e dançou diante do tio, despertando a luxúria de Herodes. Abraçando-a, ele se ofereceu para cumprir qualquer coisa que ela desejasse.
Então, imediatamente, ela lhe disse: “Adoraria ter a cabeça de João Batista, pois ele manchou sua honra e a minha por toda a terra. Se você me conceder esse desejo, ficarei muito feliz e me entregarei a ti”.
Enfeitiçado por seu charme, ele se submeteu a seu pedido monstruoso. João foi executado e sua cabeça foi levada à Salomé. A mulher cruel exultou de alegria. Mas a morte do amado profeta de Allah foi vingada. Não apenas ela, mas seus apoiadores e povo foram severamente punidos por exércitos invasores que destruíram o reino.
O local de descanso final de João Batista, em Damasco, na Síria, até hoje é um grande centro que recebe visitas de pessoas de todo o mundo.
Primeiro, começou como uma Igreja, a Basílica de São João Batista, que anteriormente havia sido um templo romano pagão, até que a cidade de Damasco foi tomada do Império Bizantino pelas forças do Califado Rashidun sob o general Khalid ibn Walid em 634, muitos séculos após a morte de João.
Nesta altura da conquista islâmica, o templo tornou-se uma “igreja-mesquita”, com muçulmanos compartilhando o local com cristãos nos serviços religiosos. Até 649, um bispo cristão nestoriano escreveu:
“Esses árabes não lutam contra a nossa religião cristã, e sim defendem nossa fé, respeitam nossos sacerdotes e santos e trazem presentes às nossas igrejas e mosteiros”.
Contudo, décadas mais tarde, no reinado do califa omíada al Walid I (705–715), este último tomou a decisão de organizar as orações islâmicas da cidade no local da Basílica, que seria consagrada como Mesquita, e assim o fez, dando outras igrejas em compensação aos cristãos da cidade.
Daí em diante, o mausoléu do Profeta João Batista tornou-se um local bastante popular de visitação islâmica, e assim é até hoje, atraindo centenas de muçulmanos devotos que vêm prestar respeito e saudações a este grande personagem de ambas as religiões.
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