No Islam, o Profeta Salomão, conhecido como Sulaiman em árabe, é reverenciado como um dos maiores reis e profetas.
Salomão é filho do Profeta Davi (Dawud) e sucedeu seu pai como rei de Israel, governando com justiça e sabedoria.
O Alcorão narra várias histórias sobre Salomão, enfatizando sua profunda compreensão e seu julgamento sábio.
Ele é lembrado não apenas como um governante poderoso, mas também como um profeta dotado de conhecimentos e habilidades extraordinárias.
De acordo com o Alcorão, Salomão sucede o reinado do Profeta Davi (Dawud), que estabelece a continuidade da profecia e da sabedoria divina através das gerações.
Ou seja, não é apenas uma transição política, mas também profética, visto que Salomão herda muita das características de Davi, principalmente relacionadas à piedade e sabedoria.
Davi foi um rei e profeta cujo reinado foi caracterizado por justiça, fé profunda e louvor a Deus, com Salomão herdando essas responsabilidades e ampliando-as através de sua própria jornada profética.
A sabedoria de Salomão e sua capacidade de governar justamente são reconhecidas desde o início.
O Alcorão menciona especificamente a concessão de sabedoria a Salomão, uma bênção que ele reconhece e pela qual expressa profunda gratidão a Deus.
O Alcorão destaca que Allah deu a Salomão algumas habilidades extraordinárias, como controlar os ventos e subjugar os jinn (gênios).
O dom de controlar os ventos não apenas serviu como um meio de transporte, mas também como um símbolo de seu poder e da aprovação e assistência de Deus em seu reinado.
O controle de Salomão sobre os jinn é outro aspecto fascinante de sua história, revelando seu poder e autoridade sobre o reino invisível.
Os jinn, seres criados a partir de fogo, são frequentemente descritos no Islam como possuindo livre arbítrio, podendo ser obedientes ou rebeldes a Deus.
No caso de Salomão, os jinn foram subjugados a servi-lo, realizando tarefas extraordinárias.
No Surata Saba, o Alcorão detalha esse milagre:
"E sujeitamos a Salomão o vento, cuja manhã equivalia a um mês de caminho e cuja tarde equivalia a um mês de caminho. E fizemos jorrar para ele a fonte de cobre. E, entre os gênios, havia alguns que trabalhavam diante dele, pela permissão de seu Senhor. E aqueles dentre eles que se desviavam de Nossa ordem, fazíamos com que provassem o castigo da chama ardente." (Alcorão 34:12)
Além desses dons, a comunicação de Salomão com os animais é explicitamente mencionada no Alcorão, onde se afirma que ele foi ensinado a linguagem dos pássaros e tinha conhecimento dos discursos dos animais.
A história mais emblemática que ilustra a habilidade de Salomão de se comunicar com os animais é o encontro com as formigas, narrado no Surata An-Naml.
Quando Salomão e seu exército se aproximaram do vale das formigas, uma formiga, percebendo a iminente ameaça que o poderoso exército representava, advertiu suas companheiras:
"Quando chegaram ao vale das formigas, uma formiga disse: 'Ó formigas, entrai em vossas moradas, para que Salomão e seus soldados não vos esmaguem, sem perceber.'" (Alcorão 27:18)
Salomão, ao ouvir a preocupação da formiga e sua conversa, foi tomado por uma reação de entendimento, compaixão e admiração. O Alcorão descreve sua reação:
"Então ele sorriu, divertido com sua fala, e disse: 'Meu Senhor, inspira-me para que seja grato por Tua graça, que me concedeste e a meus pais, e para que pratique a retidão, que Te agrade. E admite-me, pela Tua misericórdia, entre os Teus servos justos.'" (Alcorão 27:19)
Certo dia, Salomão observou a ausência de uma poupa durante a inspeção de suas aves. Ele declara que punirá severamente a ave pela sua ausência sem uma boa razão ou a matará, a menos que ela apresente uma justificativa satisfatória para tal ausência.
Quando a poupa retorna, ela traz notícias intrigantes sobre o reino de Sabá, onde o sol é adorado em vez de Allah.
A ave relata ter visto a Rainha de Sabá e descreve seu trono esplêndido, destacando a riqueza e o poder deste reino, mas também a desorientação espiritual de seu povo.
A resposta de Salomão a estas notícias é estratégica e reflete sua sabedoria e compromisso com a disseminação da verdadeira fé.
Ele opta por enviar uma carta à Rainha de Sabá, convidando-a a se submeter ao único Deus verdadeiro, evitando qualquer confronto direto e preferindo o caminho da diplomacia e da persuasão.
Salomão encarrega a poupa de entregar a carta, que se torna um meio de abrir um diálogo entre os dois líderes.
A rainha, impressionada com o conteúdo da carta e a maneira misteriosa com que foi entregue, consulta seus conselheiros, refletindo sobre a melhor forma de responder.
Eventualmente, ela decide visitar Salomão, levando presentes em uma tentativa de testar sua sabedoria e intenções.
Ao chegar ao reino de Salomão, a Rainha de Sabá é submetida a testes que revelam não apenas a magnificência do reino de Salomão, mas também a superioridade da sabedoria e fé que ele representa.
Salomão pede a seus servos, incluindo os jinn sob seu comando, que lhe tragam o trono da Rainha de Sabá antes de sua chegada.
Um dos jinn, dotado de conhecimento e poder extraordinários, consegue trazer o trono rapidamente, antes mesmo que a Rainha de Sabá partisse de seu reino. Salomão, então, ordena que o trono seja alterado de forma sutil, para testar se a rainha seria capaz de reconhecê-lo.
Quando a Rainha de Sabá chega ao palácio de Salomão, ele lhe pergunta se o trono que está diante dela é semelhante ao seu. A rainha, observando o trono modificado, responde que parece ser o seu,
Além disso, Salomão apresenta a ela um piso de vidro que parece ser água, testando sua humildade e entendimento.
Quando a Rainha de Sabá é conduzida ao salão, ela se depara com o que parece ser água à sua frente e, preparando-se para atravessar, levanta as saias de seu vestido para não molhá-las.
Ao perceber que seus pés não encontram água, mas sim uma superfície sólida e transparente, ela fica surpresa e reconhece a habilidade e a engenhosidade de Salomão.
Após esses eventos e testemunhar a sabedoria, justiça e devoção de Salomão a Deus, a Rainha de Sabá alcança um momento de clareza espiritual.
Ela reconhece que seu poder e o culto ao sol palecem diante do poder supremo do Criador do universo.
"Ela disse: 'Meu Senhor! Eu me injustiçava, e me submeto, com Salomão, a Allah, Senhor do Universo.'" (Alcorão 27:44)
Essa história é encontrada na Surata An-Naml (27:38-40) durante os desafios que Salomão iria propor à rainha Sabá.
Quando Salomão apresenta um desafio aos presentes em sua corte, pedindo-lhes que lhe tragam o trono da Rainha de Sabá antes que ela chegue ao seu palácio.
Entre os presentes, um Ifrit, um dos jinn, se apresenta e diz:
"Um Ifrit dos jinn disse: 'Eu te trarei antes de te levantares de teu lugar. E em verdade, sou forte e confiável para isso.'"
Este Ifrit se vangloria de sua força e habilidade para cumprir a tarefa rapidamente, no entanto, a história toma um rumo ainda mais impressionante com a intervenção de um indivíduo que tinha conhecimento do Livro.
Logo após a oferta do Ifrit, uma pessoa que tinha conhecimento do Livro, frequentemente interpretado pelos comentaristas islâmicos como alguém dotado de sabedoria e conhecimento divinos especiais, oferece-se para trazer o trono ainda mais rapidamente:
"Aquele que tinha conhecimento do Livro disse: 'Eu te trarei antes que tua vista volte a ti.' E quando [Salomão] viu o trono colocado firmemente diante dele, ele disse: 'Isto é pela graça de meu Senhor, para testar-me se sou grato ou ingrato. E quem é grato, certamente sua gratidão é para seu próprio benefício; e quem é ingrato, então meu Senhor é rico e generoso.'"
A lição dessa história pode ser entendida de formas simples, pois a piedade é superior a qualquer outra habilidade, dom e até mesmo aos poderes ocultos.
A morte do Profeta Salomão é encontrada no Surata Saba, e relata que Salomão morreu enquanto estava apoiado em seu cetro, de pé, observando os trabalhadores (jinn) que construíam para ele.
O aspecto milagroso e notável desta narrativa é que os jinn continuaram a trabalhar, não percebendo que Salomão havia falecido, até que uma criatura da terra (uma formiga ou um cupim, conforme diferentes interpretações) roeu o cetro, fazendo com que seu corpo caísse.
O versículo diz:
"E quando decretamos a morte dele [Salomão], nada indicou a eles [os jinn] a sua morte, exceto a criatura da terra, que roeu o seu cetro. E quando ele caiu, os jinn perceberam claramente que, se tivessem conhecido o oculto, não teriam permanecido na humilhante punição [de seu trabalho forçado]." (Alcorão 34:14)
Este acontecimento serve para ilustrar várias lições importantes, entre elas, a limitação do conhecimento dos jinn (e, por extensão, de todas as criaturas), que, apesar de sua força e capacidades sobrenaturais, não tinham consciência do invisível.
A história do Profeta Salomão (Sulaiman) no Islam é uma rica tapeçaria de sabedoria divina, poder milagroso e justiça exemplar.
Herdeiro da profecia de seu pai, o Profeta Davi (Dawud), Salomão é retratado como um monarca cujo reinado é marcado pela paz, prosperidade e uma profunda harmonia entre os seres humanos, os animais e os jinn.
Sua capacidade de falar com os animais e controlar os jinn, bem como seu domínio sobre os ventos, ilustram os dons únicos concedidos por Deus, sublinhando sua excepcional proximidade com o Criador.
A narrativa de Salomão no Alcorão destaca diversos episódios que refletem sua sabedoria e fé.
A interação com a Rainha de Sabá, em particular, revela a habilidade de Salomão de promover a fé monoteísta através de diplomacia e sabedoria, culminando na conversão da rainha à adoração do único Deus verdadeiro.
O episódio de sua morte, onde Salomão permanece de pé, apoiado em seu cetro até que uma criatura da terra revela seu falecimento aos jinn, ressalta a limitação do conhecimento criado em contraste com a onisciência divina.
Essa passagem sublinha a mensagem de que, independentemente do poder e do conhecimento que um indivíduo possa possuir, todos estão sujeitos à vontade e ao tempo determinados por Deus.
Sua vida exemplifica como a verdadeira liderança é fundamentada na justiça, na compaixão e na devoção a Deus, oferecendo lições valiosas sobre a natureza do poder, da responsabilidade e da fé.
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