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Profeta José: Sua História de Acordo com o Alcorão

A história do Profeta José no Islam relatada na excepcional sura Yusuf, uma das histórias mais bem detalhadas do Alcorão. Veja mais.
  • Vendido como escravo por seus irmãos invejosos, José supera a adversidade no Egito, mantendo sua fé em Deus.
  • Resistindo às tentações e injustiças, incluindo a prisão, a habilidade de José em interpretar sonhos o leva a uma posição de alto poder no Egito.
  • Após se revelar aos irmãos que o traíram, José os perdoa, demonstrando uma profunda compaixão e misericórdia.
  • A história de José culmina na realização de seu sonho juvenil, com sua família reunida e prostrando-se diante dele no Egito, destacando a predestinação divina.

No Islam, José é mencionado como Yusuf e é um dos profetas mais destacados nas tradições islâmicas. 

Sua história é amplamente narrada no Alcorão, especialmente na Surata Yusuf, que é única por ser uma das únicas suratas a contar a história de um único profeta de início ao fim.

José é o filho de Jacó (Yaqub em árabe), que também é um profeta. Além disso, ele é destacado pela sua capacidade excepcional em interpretar sonhos.

O ciúme dos irmãos, de fato, leva-os a conspirar contra Yusuf, mas este evento possui muitas reviravoltas. 

Sua habilidade de interpretar sonhos chama a atenção do rei do Egito, o que eventualmente leva à sua libertação e ascensão a uma posição de poder, onde ele pode, por fim, ajudar sua família durante uma época de fome.

Apesar da semelhança com a narrativa bíblica, a história de José possui narrativas específicas do Alcorão, que revelam a importância deste profeta para a tradição islâmica.

O Início da História de José

A história de José é relatada com detalhes na Surata Yusuf (Capítulo 12) do Alcorão, uma narrativa que se destaca pela sua coerência e pela forma como é inteiramente dedicada a um único profeta. 

A história começa com Yusuf compartilhando um sonho com seu pai, Jacó, onde ele vê onze estrelas, o sol e a lua se prostrando diante dele. 

Jacó, reconhecendo o significado profético do sonho, adverte Yusuf para não contar aos seus irmãos, prevendo que eles poderiam agir por ciúmes.

Os irmãos de José percebem a afeição especial que seu pai tem por ele, sentindo-se negligenciados e dominados pela inveja. 

Eles articulam um plano sob a falsa premissa de querer levar José para brincar e desfrutar do ar livre, pedindo permissão ao pai para levar José consigo. 

Jacó, temendo por seu filho, expressa sua preocupação de que algo ruim possa acontecer a José na sua ausência. No entanto, os irmãos asseguram a Jacó que seriam protetores de seu irmão.

Uma vez longe dos olhares do pai, os irmãos executam seu plano cruel. Eles removem José de sua companhia e o lançam a um poço deserto, planejando deixá-lo lá abandonado. 

Para encobrir seu ato, os irmãos mancham a camisa de José com sangue falso e retornam ao pai, alegando que um lobo devorou José. Eles apresentam a camisa manchada como "prova" de sua narrativa.

Yusuf é mais tarde retirado do poço por uma caravana que passava.Os membros da caravana, ao procurarem água, ficam surpresos ao descobrir um menino no fundo do poço. 

Eles o veem como uma mercadoria valiosa, decidindo levá-lo consigo ao Egito.

José é então vendido no mercado egípcio como escravo. 

José se Torna um Escravo

A providência divina continua a desempenhar um papel crucial na história de José, pois ele é comprado por Al-Aziz, um homem de alta posição e influência no Egito, identificado como o superintendente do armazém real ou um alto funcionário da corte do Faraó. 

Al-Aziz percebe algo especial em José e decide tratá-lo com bondade, adotando-o quase como um membro de sua própria família.

A honestidade de José, sua capacidade de lidar com as responsabilidades com eficácia e sua conduta moral exemplar impressionam Aziz, levando-o a confiar em José mais do que em qualquer outro servo ou escravo.

Al-Aziz, percebendo as qualidades excepcionais de José, lhe dá uma posição de alta responsabilidade. 

Ele é colocado a cargo da casa de Al-Aziz, encarregado de gerenciar os seus assuntos domésticos e as propriedades. 

Este papel não é apenas indicativo da confiança e do respeito que José comanda, mas também é uma posição de grande poder e influência dentro da estrutura de sua casa.

A esposa de Al-Aziz, atraída pela beleza e pela presença de José, tenta seduzi-lo. José, contudo, recusa suas investidas, mantendo sua integridade e lealdade a Al-Aziz. 

A narrativa corânica sobre este incidente é apresentada nos seguintes versículos:

"Ela, na casa onde residia, tentou seduzi-lo. E fechou firmemente as portas, e disse: 'Vem até mim.' Ele disse: 'Deus me proteja. Ele é meu senhor, e me tratou com honra. Os injustos não prosperarão.'" (Alcorão 12:23)

A tentativa de sedução culmina num momento de prova, tanto para José quanto para a esposa de Al-Aziz, quando ele corre para a porta na tentativa de escapar das intenções dela. 

A mulher rasga a parte de trás da camisa de José, e eles são surpreendidos por Al-Aziz no momento exato em que chegam à porta. 

Para se defender, a esposa de Al-Aziz acusa José de tentar assediá-la, colocando José numa posição vulnerável.

"Então, quando eles viram o marido dela na porta, ela disse: 'O que deve ser a punição de quem quis mal à tua família, senão a prisão ou um castigo doloroso?'" (Alcorão 12:25)

A história prossegue com um membro da família sugerindo uma maneira de descobrir a verdade do incidente, observando a camisa rasgada de José. 

Se estivesse rasgada pela frente, isso indicaria que José era o agressor; se estivesse rasgada por trás, isso provaria sua inocência. A camisa rasgada por trás demonstra a inocência de José.

Apesar da evidência da inocência de José, para evitar o escândalo e proteger a reputação de sua esposa, Al-Aziz decide manter o assunto em segredo e aconselha José a também esquecer o incidente. 

Após a tentativa frustrada de seduzir José e a subsequente acusação contra ele, a esposa de Al-Aziz enfrenta críticas e fofocas entre as mulheres da cidade por causa de sua atração por José. 

Para confrontar as críticas e demonstrar a irresistível beleza de José, que justificaria sua tentação, ela organiza um encontro com essas mulheres.

Durante este encontro, ela fornece a cada mulher uma faca e, enquanto estão distraídas cortando frutas, ela chama José para entrar na sala. 

A beleza de José é tão impressionante que, ao vê-lo, as mulheres se distraem e cortam acidentalmente suas mãos, exclamando sobre a sua beleza sobrenatural.

Após o evento, a esposa de Al-Aziz se vê ainda mais pressionada pela sociedade e pelas fofocas que circulam a respeito de sua obsessão por José. 

A sua tentativa de demonstrar a irresistível beleza de José e justificar sua própria tentação, paradoxalmente, só aumenta a atenção sobre a situação. 

Em resposta às crescentes pressões sociais e ao desejo de proteger sua posição e reputação, bem como a de seu marido, a esposa de Al-Aziz decide tomar medidas mais drásticas.

José, por sua vez, pede a Deus para salvá-lo das maquinações delas, preferindo a prisão a ceder à tentação:

"Ele disse: 'Meu Senhor, a prisão é mais querida para mim do que aquilo a que elas me convidam. E se Tu não afastas de mim o seu ardil, inclinar-me-ei para elas e serei dos ignorantes.'" (Alcorão 12:33)

Assim, ele é colocado na prisão, onde enfrentará a próxima fase de suas provações. 

A Prisão de José

Enquanto está na prisão, José encontra dois outros prisioneiros, cada um dos quais teve um sonho peculiar e busca a interpretação de José. Um dos prisioneiros sonha que está espremendo uvas para fazer vinho, enquanto o outro vê-se carregando pão na cabeça, do qual os pássaros comem. 

José, dotado de habilidade divina para interpretar sonhos, prevê que o primeiro prisioneiro será libertado e servirá vinho ao faraó, enquanto o segundo será executado:

"Ó meus dois companheiros de prisão! Quanto a um de vós, servirá vinho ao seu senhor [o Faraó]; e quanto ao outro, será crucificado, e os pássaros comerão de sua cabeça. O assunto sobre o qual vos questionastes está decidido." (Alcorão 12:41)

José pede ao prisioneiro que acredita que será libertado para mencionar seu caso ao faraó, na esperança de ser libertado devido à injustiça de sua prisão. 

No entanto, uma vez libertado, o prisioneiro esquece-se de José, deixando-o na prisão por alguns anos mais:

"E ele disse ao que pensava que seria salvo dentre eles: 'Menciona-me junto ao teu senhor.' Mas Satanás fez com que ele se esquecesse de mencioná-lo ao seu senhor, de modo que [José] permaneceu na prisão alguns anos." (Alcorão 12:42)

A Libertação e Ascensão de José

O faraó tem um sonho perturbador que ninguém consegue interpretar: sete vacas magras devorando sete vacas gordas e sete espigas verdes junto com outras secas. 

O ex-prisioneiro menciona José ao Faraó, que então envia mensageiros para trazê-lo. 

José é trazido perante o Faraó e interpreta o sonho, prevendo sete anos de abundância seguidos por sete anos de seca e aconselhando o armazenamento de grãos durante os anos de abundância:

"José disse: 'Vós plantareis durante sete anos, diligentemente; então o que colherdes, deixai-o nas espigas, exceto um pouco, do qual comereis. Então, virão após eles sete anos difíceis, que consumirão o que tiverdes providenciado para eles, exceto um pouco do que tiverdes armazenado. Então, virá após isso um ano em que as pessoas serão ajudadas [com chuva] e, nele, prensarão [uvas e azeitonas].'" (Alcorão 12:47-49)

Impressionado com a interpretação e a sabedoria de José, o Faraó o liberta da prisão e imediatamente reconhece seu valor para o Egito, especialmente diante da crise iminente. 

José é então elevado a uma posição de alta autoridade, encarregado do planejamento e da execução do armazenamento de grãos durante os anos de abundância, para preparar o país para os anos de fome que se seguiriam:

"E o rei disse: 'Trazei-mo. Eu o reservarei para mim.' E, quando falou com ele, disse: 'Tu estás hoje conosco estabelecido e seguro.' Disse [José]: 'Coloca-me sobre os armazéns da terra. Eu sou um guardião conhecedor.'" (Alcorão 12:54-55)

Conforme José havia previsto, após sete anos de abundância em que o Egito armazenou grandes quantidades de grãos, seguem-se sete anos de fome severa. 

Esta fome não afeta apenas o Egito, mas também as terras circunvizinhas, incluindo a terra natal de José.

O Reencontro de José com sua Família

Os irmãos de José, não reconhecendo-o, vêm ao Egito para comprar grãos devido à fome em sua própria terra. José os reconhece imediatamente, mas mantém sua identidade em segredo. 

José deseja revelar sua identidade e reunir toda a sua família no Egito, especialmente seu irmão mais novo, Benjamim, que não estava entre os irmãos na primeira visita. 

Para garantir que seus irmãos retornem com Benjamim, José arquiteta um plano ao ordenar a seus servos que coloquem a taça real de prata — utilizada para as medidas de grãos — na bagagem de Benjamim.

Após os irmãos terem carregado seus grãos e partido, eles são rapidamente alcançados por mensageiros de José, que os acusam de roubo:

"Ele disse: 'O que vocês perderão se forem descobertos como ladrões?' Eles disseram: 'Sua penalidade [se for descoberto como ladrão] é que ele [o ladrão], em cujo saco [a taça] for encontrada, ele [mesmo] será [retido] como penalidade. Assim recompensamos os injustos.'" (Alcorão 12:75)

Quando a taça é "encontrada" na bagagem de Benjamim, os irmãos protestam sua inocência e lembram a José (ainda não reconhecido por eles) de seu compromisso com o pai de proteger o irmão mais novo. 

José então responde, destacando a seriedade do crime e insinuando que a penalidade será a retenção do suposto ladrão, que neste caso é Benjamim.

O desfecho da trama com a taça é complexo. Inicialmente, os irmãos tentam negociar a libertação de Benjamim, oferecendo-se para ficar no lugar dele. 

No entanto, José recusa, mantendo a justiça de acordo com a lei egípcia que apenas o culpado deve ser retido. 

Os irmãos de José se veem numa situação desesperadora, e eles começam a refletir sobre suas ações passadas, especialmente sobre o tratamento cruel que dispensaram a José anos antes. 

Eles veem a situação com Benjamim como um castigo divino por seus pecados passados:

"Eles disseram: 'Se ele rouba, um irmão dele roubou antes.' Mas José a si mesmo o escondeu e não o revelou a eles. Ele disse: 'Vós estais em pior situação, e Deus sabe melhor o que descreveis.'" (Alcorão 12:77)

Quando fica claro que Benjamim seria retido no Egito, os irmãos retornam ao seu pai, Jacó, e relatam os acontecimentos. 

Eles transmitem a notícia da acusação contra Benjamim e a decisão de José de retê-lo. 

Jacó, profundamente entristecido pela perda de outro filho, lembra-se da dor da perda anterior de José e expressa sua tristeza:

"E ele se desviou deles e disse: 'Ai, minha tristeza por José!' E seus olhos ficaram brancos de tristeza, e ele estava oprimido." (Alcorão 12:84)

Jacó então aconselha seus filhos a não desistirem e a voltarem ao Egito para buscar tanto José quanto Benjamim:

"Ó meus filhos, ide e procurai por José e seu irmão e não desespereis da misericórdia de Deus. Na verdade, ninguém desespera da misericórdia de Deus, exceto o povo descrente." (Alcorão 12:87)

Encorajados pelo pai, os irmãos retornam ao Egito e se apresentam novamente a José. 

Desta vez, revelam sua angústia e desespero, o que finalmente leva José a revelar sua verdadeira identidade. Essa revelação é um momento emocionante tanto para José quanto para seus irmãos, marcando o início do processo de reconciliação:

"Ele disse: 'Eu sou José, e este é meu irmão. Deus nos favoreceu. De fato, quem teme a Deus e é paciente, então Deus não faz com que a recompensa dos benfeitores se perca.'" (Alcorão 12:90)

Após revelar sua identidade aos irmãos e assegurar-lhes seu perdão, José os instrui a retornarem a seu pai, dando a eles uma camisa sua.

Antes mesmo de os irmãos chegarem com a camisa de José, Jacó sente a proximidade de seu filho e anuncia aos presentes sua crença de que José ainda está vivo, apesar da descrença de sua família.

Quando os irmãos retornam e jogam a camisa de José sobre o rosto de Jacó, sua visão é milagrosamente restaurada.

Após a restauração de sua visão, Jacó prepara-se para viajar para o Egito com toda a sua família, movido pela notícia da sobrevivência de José e pelo convite para se reunirem com ele. 

O reencontro com sua família leva à realização do sonho que José teve na juventude, onde onze estrelas, o sol e a lua (simbolizando seus irmãos e pais) se prostram diante dele. 

Este momento não só valida os planos e a sabedoria divina através das provações de José, mas também serve como um poderoso lembrete da misericórdia, do perdão e da soberania de Deus:

"E ele elevou seus pais ao trono, e eles caíram para ele em prostração. E ele disse: 'Ó meu pai, este é o cumprimento do meu sonho anterior. Meu Senhor o tornou realidade. E Ele foi bom para mim quando me libertou da prisão e trouxe vocês do deserto depois que Satanás havia incitado discórdia entre mim e meus irmãos. Meu Senhor é Sutil no que Ele quer. Verdadeiramente, Ele é o Conhecedor, o Sábio.'" (Alcorão 12:100)

Conclusão

A história de José, conforme narrada na Surata Yusuf do Alcorão, é uma das mais belas e profundas histórias do texto sagrado islâmico. 

A narrativa começa com o jovem José compartilhando um sonho profético com seu pai Jacó, prenunciando sua futura grandeza, mas também provocando a inveja de seus irmãos. 

Em um ato de ciúme, os irmãos de José o traem, atirando-o no poço, fazendo com que ele fosse encontrado por uma caravana que o vende escravo para o Egito, onde sua jornada de provações e triunfos começa.

No Egito, José enfrenta tentações e injustiças, incluindo a falsa acusação de assédio pela esposa de Al-Aziz, levando à sua prisão. 

No entanto, é na prisão que o dom de José para interpretar sonhos se revela divinamente benéfico, culminando em sua libertação e ascensão a uma posição de poder, após interpretar corretamente os sonhos perturbadores do Faraó sobre os sete anos de abundância seguidos por sete anos de fome.

José administra sabiamente os recursos do Egito durante os anos de fome, salvando não apenas o Egito, mas também as regiões vizinhas, incluindo sua própria família, que vem ao Egito em busca de alimento. 

A trama da taça, a revelação de sua identidade aos irmãos, e o perdão que ele lhes oferece são momentos chave que demonstram sua grandeza de caráter e a misericórdia divina. 

A história alcança seu clímax na emocionante reunião de José com seu pai Jacó e o restante de sua família no Egito, cumprindo o sonho profético de José e destacando os temas de redenção e a realização dos desígnios divinos.

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