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Islamismo no Iêmen: Onde o passado e presente vivem juntos

O Iêmen tem 99% da sua população formada por seguidores do Islamismo. Seu território abriga algumas das mais antigas construções do mundo muçulmano.
  • O Islam é a religião oficial do Iêmen, praticado por 99% da população.
  • Os muçulmanos do país estão, majoritariamente, divididos entre sunitas e xiitas.
  • O país abriga algumas das construções mais antigas do mundo islâmico.
  • Sua capital, Sanaa, é conhecida por ser habitada há mais de 2.500 anos.

Diz-se que o nome do país deriva do lendário ancestral Yaman, filho de Qahtan, ou da raiz árabe ymn (“à direita”), pois o Iêmen está localizado à direita do santuário de Meca. Já em relação ao seu território, os geógrafos medievais árabes pensavam que o Iêmen cobria toda a faixa sul da Península Arábica, desde o seu sudoeste montanhoso, incluindo Najran e Asir, até Hadramaute e Omã, localizados no leste. 

Hoje, no entanto, a área do país inclui as regiões que compõem a República do Iêmen, formada em 1990, quando unificaram a República Árabe do Iêmen (ou Iêmen do Norte), com sua capital em Sanaa, e a República Democrática Popular do Iêmen (ou Iêmen do Sul), com capital em Áden. 

A capital do país, portanto, é Sanaa, mas Áden é comumente referida como a capital econômica do Iêmen. O tamanho aproximado da nação, uma vez que algumas de suas fronteiras não são demarcadas, é de 187.000 milhas quadradas.

Outro aspecto de destaque no Iêmen diz respeito à sua população majoritariamente muçulmana. Etnicamente, o povo iemenita é árabe e está dividido entre muçulmanos sunitas, da escola Shafi, e muçulmanos xiitas, da escola Zaydi. Existem ainda pequenos grupos de judeus, hindus e cristãos.

Falando em números, as estimativas apontam para 99,1% de muçulmanos no país, enquanto os outros 0,9% incluem judeus, hindus e cristãos. Muitos destes que estão no grupo minoritário são refugiados ou residentes estrangeiros temporários.

Em se tratando da língua praticada, os iemenitas falam árabe. Esta é a língua do Islam e do Alcorão, sendo usada em ocasiões formais. Mas há também dialetos. Eles são mais usados na vida cotidiana da população. Alguns grupos mantiveram suas antigas línguas orais no sul, por exemplo. Além disso, a língua estrangeira mais usada é o inglês, e o russo ainda pode ser entendido em Sanaã e em Áden.

Já em termos de história, um dos marcos mais importantes do país é a sua divisão em norte e sul. Isso porque foi durante o Califado Omíada, que perdurou entre 661 e 750, que o Iêmen foi dividido em duas regiões: o norte, centralizado em torno da cidade de Sanaa, e o sul, em torno da cidade de Al Janad. Mas, depois disso, o Iêmen se mostrou difícil de controlar, já sob o Califado Abássida, por causa de seu isolamento e também pelo seu caráter tribal. 

Nas terras altas do sul, ao longo da costa do Mar Vermelho e ao longo do Golfo de Áden, evoluíram dinastias locais que eram frequentemente sujeitas a invasões estrangeiras. Por exemplo, os Ayubids invadiram o Iêmen, a partir do Egito, no final do século XII. Seguiu-se a esse acontecimento o domínio da Dinastia Rasulida (1229-1454) na região, até meados do século XV, e a primeira ocupação turca otomana em meados do século XVI. 

De 1839 a 1967, a Grã-Bretanha controlou o principal porto marítimo do sul de Áden. Neste período, a maior parte do Iêmen permaneceu dividida, com a escola Zaydi Shia, dominante no norte, e a escola Shafi Sunita, que é mais comum no sul e ao longo da costa. 

Além disso, a região de Hadramaute, localizada ao longo do Golfo de Áden, manteve sua independência durante a maior parte da história do Iêmen e estabeleceu fortes laços com a Índia e a Indonésia, principalmente por meio da emigração. Após a unificação do Iêmen do Norte e do Sul, em 1990, houve uma perspectiva cada vez mais islâmica, promovida em parte pela influência Wahhabi da Arábia Saudita

Religião, rituais e lugares sagrados no Iêmen

Interior da mesquita de Ibb (Foto: Flickr/ Rob Waddington)

No Iêmen, a legislação está firmemente fundada na Sharia. A constituição do país permite a liberdade de culto, o que faz com que outras religiões, além do Islamismo, não precisem ser registradas. Mas essas outras religiões têm a obrigação de obter permissão para construir seus locais de culto. Vale lembrar também que o Islamismo é ensinado nas escolas públicas, embora o governo do Iêmen monitore a educação islâmica para coibir que escolas não registradas possam promover o extremismo. 

No cotidiano, os iemenitas seguem os Cinco Pilares do Islamismo, incluindo as cinco orações por dia e um jejum diurno durante o mês do Ramadan. Para o povo do Iêmen, o dia de descanso semanal é a sexta-feira. Além disso, em meados do Rajab, geralmente, são realizadas peregrinações aos túmulos dos santos locais.

Outro ponto interessante diz respeito aos rituais fúnebres iemenitas. Quando alguém morre no país, o corpo do falecido é lavado, perfumado e envolto em uma mortalha branca sem costura. O corpo deve ser enterrado antes do pôr do sol, no dia em que a pessoa morreu. As mulheres não acompanham o corpo até o túmulo, pois devem ficar fora do cemitério. Ainda durante os três primeiros dias de luto, o Alcorão é lido e parentes e amigos visitam a família da pessoa falecida. Normalmente, as sessões de lembrança são realizadas no sétimo e no quadragésimo dias após a morte.

Os encantos das construções antigas do Iêmen

A arquitetura islâmica no Iêmen é conservadora. O povo iemenita se orgulha de sua história, cultura e edifícios e não vê descontinuidade entre o passado pré-islâmico e o islâmico. Sua capital, Sanaa, é considerada um dos mais antigos centros urbanos habitados do mundo. Ela está situada em um vale a 2.200 metros de altitude e é habitada há mais de 2.500 anos. Além disso, continua a desempenhar um importante papel como a capital administrativa do Iêmen, que foi unificado há poucas décadas (em 22 de maio de 1990). 

Atualmente, Sanaa é a cidade mais populosa do sul da Arábia. Mas sua fama vem de outros tempos. Nos séculos VII e VIII, a cidade se tornou um grande centro de propagação do Islam. Essa herança religiosa e política pode ser vista nas 103 mesquitas, 14 hammams e mais de 6.000 casas, todas construídas antes do século XI. As casas-torre de vários andares de Sanaa, que foram construídas em terra batida, contribuem para a beleza do local.

Essas construções são incrivelmente decoradas com padrões geométricos de tijolos queimados e gesso branco. O material dos edifícios se mistura com a cor terrosa das montanhas próximas. Dentro da cidade, minaretes perfuram o horizonte e espaçosos jardins verdes estão espalhados entre as casas compactas, as mesquitas e os prédios.

Como um exemplo do conjunto arquitetônico homogêneo que reflete as características dos primeiros anos do Islam na região, seus prédios de vários andares representam uma resposta às necessidades defensivas de outros tempos. Eles oferecem espaços amplos, que tinham como intenção abrigar o maior número de moradores possível, dentro das muralhas ​​da cidade. 

Prédios com a tradicional arquitetura de Sanaa (Foto: Wikipedia)

Os edifícios demonstram ainda uma habilidade excepcional no uso de materiais e técnicas locais. Pode-se dizer, então, que as casas e prédios públicos de Sanaa possuem design e detalhes que traduzem uma organização do espaço característica dos primeiros séculos do Islam, que foi respeitada ao longo do tempo.

Descrita por historiadores, geógrafos e estudiosos das primeiras épocas islâmica e medieval, Sanaa está associada às civilizações da Bíblia e do Alcorão. A Grande Mesquita de Sanaa, por exemplo, é conhecida como a primeira mesquita construída fora dos arredores de Meca e Medina

A construção da mesquita data do século VII e foi, em parte, feita a partir dos materiais do Palácio Ghumdan. Esse palácio também era uma fortaleza e foi destruído pelo Califa Uthman porque ele temia que o lugar pudesse ser usado como reduto para uma rebelião.

No entanto, há uma lenda local para a mesquita, e ela se refere ao período de Muhammad. Segundo a lenda, o Profeta Muhammad foi associado ao planejamento e também à construção da mesquita, por volta de 630 AD (6 AH), embora não haja evidências para apoiar isso. 

De todo modo, Sanaa é reconhecida como cidade central na propagação da religião islâmica no período pós-Hégira, quando a maioria das estruturas pré-islâmicas foram destruídas. Muitos dos achados arqueológicos descobertos na Grande Mesquita de Sanaa, por exemplo, reforçam a teoria de sua construção na época em que o Profeta estava vivo. Isso ocorre porque a história tradicional de sua vida o coloca no período em que o Palácio Ghumdan e a catedral foram demolidos (considerando que o material recuperado deles foi usado para construir a mesquita).

Outra mesquita que faz parte da história do Iêmen é a de Al Saleh. Ela é considerada a maior e mais moderna mesquita de Sanaa. A Mesquita de Al Saleh fica localizada na periferia sul da cidade. 

Inaugurada em novembro de 2008 pelo presidente iemenita Ali Abdullah Saleh, a mesquita foi nomeada em sua homenagem, tendo a construção do edifício custado quase 60 milhões dólares. Para os que vão visitar o local, é importante saber que a mesquita é aberta a não-muçulmanos, sendo frequentada por turistas.

Outros marcos da arquitetura do Iêmen

Localizada no vale Hadramaute, a antiga cidade de Tarim é amplamente reconhecida como um centro de religião, cultura e ciência do Iêmen. Em particular, a cidade é um importante centro de estudos teológicos e jurídicos. 

Na cidade histórica, é a Mesquita Al Muhdhar que chama a atenção dos seus visitantes. Mais especificamente, é o seu minarete que enche os olhos de quem conhece a cidade. O proeminente minarete branco da mesquita – a torre estreita e pontiaguda a partir da qual o azan é feito e os muçulmanos são chamados à oração – chega a uma altura de mais de 50 metros. Isso faz com que a torre seja a mais alta de Tarim e, de fato, o minarete seja o mais alto de todo o Iêmen.

O vale Hadramaute com a mesquita Al Muhdhar (Foto: Atlas Obscura)

Tarim também é um lugar onde diferentes estilos arquitetônicos se combinam para criar uma nova estética, e o minarete da Mesquita Al Muhdhar não é exceção. O minarete tem uma base quadrada e uma escada interna, que leva até o topo da estrutura. O gesso de cal que cobre o exterior do minarete é o que lhe confere a cor branca brilhante, que se destaca da montanha rochosa ao fundo.

O minarete exclusivo foi projetado por Abu Bakr bin Shihab e Alawi Al Mashhur, dois escritores nativos, e sua construção foi concluída em 1914. A mesquita recebeu o nome de Omar Al Muhdar, um proeminente líder de Tarim do século XV. 

Para os que vão visitar o local, é necessário ter uma permissão especial, tanto para visitar Hadramaute, quanto Tarim (que exige uma escolta militar para passeios em seu território).

Já Zabid é uma das cidades costeiras na área de Tehama, a oeste do Iêmen. O núcleo da cidade está localizado em torno de sua primeira mesquita, chamada Asair. Essa Grande Mesquita fica a oeste da cidade. Vale lembrar também que Zabid tem uma grande concentração de mesquitas no Iêmen, com cerca de 86 no total. De forma geral, essas mesquitas são, principalmente, estruturas simples de tijolos, mas há algumas com decoração elaborada de tijolos esculpidos. 

Uma série de ruas estreitas se espalha pela cidade e seus edifícios vernaculares, típicos da península arábica do sul, conferem à cidade qualidades visuais impressionantes. As casas, construídas com tijolos queimados, exibem planos semelhantes aos de uma sala de recepção, que se abre para um pátio fechado. As casas maiores se estendem por dois ou três andares e têm interiores finos e elaborados, com paredes de tijolo, nichos e tetos esculpidos com habilidade.

A cidade, com suas ruas estreitas e fechadas, casas tradicionais e minaretes, também é um excelente exemplo de um conjunto arquitetônico homogêneo que reflete as características dos primeiros anos do Islam. 

Zabid ainda é conhecida por ter desempenhado um papel importante na disseminação do Islamismo, devido à sua universidade islâmica. Além disso, Zabid desperta um grande interesse arqueológico e histórico, por sua arquitetura doméstica e militar. Ela é a única cidade do Iêmen a ser construída harmonizando o layout da típica cidade islâmica com a mesquita e os souqs centrais, juntamente com as residências. Por isso, sua arquitetura influenciou profundamente as construções da planície costeira do Iêmen.

Conclusões

O Iêmen é muito relevante para o Islamismo. Atualmente, essa é a religião oficial do país, com 99% da população de seguidores – tendo apenas uma pequena parte de judeus, hindus e cristãos. Cerca de 65% dos muçulmanos do país pertencem à escola Shafi. Já o restante dos muçulmanos do Iêmen pertencem à escola Zaydi. 

A arquitetura do país é bem marcada pelo estilo islâmico e apresenta algumas das mais belas e antigas construções. Alguns dos destaques podem ser encontrados na capital do país, Sanaa, que é habitada há mais de 2.500 anos. Outros marcos arquitetônicos e culturais do Iêmen estão na cidade de Tarim e de Zabid. 

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