Viajar é uma forma de lazer explorada por muitos muçulmanos. Allah abençoou o mundo com muitas maravilhas e, em termos de paisagem e construções, o mundo islâmico é sem dúvidas um dos mais ricos e diversos.
Mesmo quando nosso destino é um pouco mais modesto, seja ele para dentro do próprio país, é possível tirar muitas lições (e razões para continuar a viajar). Por isso, listamos aqui neste artigo essas razões. E claro, podemos levar cada experiência para nossas vidas pessoais. Confira!
Viajar integra muitos aspectos “espirituais” do Islam. Os mais notáveis são as peregrinações do Hajj ou Umrah, que requerem que os muçulmanos viajem para Meca, uma jornada que sempre foi vista como uma experiência transformadora – algo que grandes viajantes muçulmanos como Ibn Batutta e o explorador vitoriano Richard Burton registraram em suas memórias.
Além disso, o Hajj e Umrah envolvem diversos rituais de movimentos e viagens, como os tawafs (iniciais e de despedida) ao redor da Caaba, a caminhada entre Safaa e Marwah e as jornadas para Mina (apenas no Hajj), Monte Arafat e Muzdalifah. Cada uma demanda que o peregrino medite e reflita enquanto se move.
Viajar foi algo abertamente defendido pelo Profeta Muhammad ﷺ, que enxergava o ato como uma maneira essencial de buscar conhecimento. Narrações do Profeta ﷺ preservadas, que são frequentemente citadas, como “Procurem o conhecimento até mesmo na China”, apoiam esta ideia. Houve ainda a maior experiência espiritual do Profeta ﷺ, a Jornada Noturna ou Meraj, em que ele ascendeu através dos sete céus, encontrou os profetas anteriores e recebeu as instruções de Deus sobre as orações diárias.
Esta jornada pretendia fortalecer sua determinação e crença interior sobre sua própria vida profética. Finalmente, o Profeta ﷺ passou muitos dos seus anos de formação viajando com sua caravana de negócios através de todo o Oriente Médio. Essas viagens tiveram um impacto profundo em sua habilidade de respeitar as diferenças e ter empatia com culturas diferentes.
Muçulmanos vêm de uma longa linhagem de viajantes que foram transformados por suas experiências de maneira irreversível. Isto inclui o homem que mais viajou no mundo, Ibn Battuta, que nasceu em Tangier, Marrocos. Quando tinha apenas 21 anos, depois de ir para o Hajj em 1325, ele viajou por 30 anos.
Estudiosos muçulmanos também consideram importante viajar e, muitas vezes, eles percorreram grandes distâncias para adquirir conhecimento, como Muhammad al-Bukhari. Por fim, há muitos profetas que embarcaram em jornadas espirituais monumentais, que transformaram o seu caráter e fortaleceram o seu interior. A mais famosa foi a jornada de Musa (Moisés) ao lado de al-Khidr, relatada no Alcorão.
“Esteja neste mundo como um estrangeiro ou um viajante ao longo do caminho” é um hadith popular sobre apego ao mundo material e, logo, não é surpresa que toda tradição espiritual no Islam (e na maioria das outras religiões) incorpore o “caminhar” ou “viajar” como parte do treinamento da alma.
A sabedoria por trás disso é encorajar o desapego da dunya (mundo material), ou seja, torná-lo “estranho” para o espírito e, assim, desenvolver uma maior apreciação daquilo que virá depois. Após sua crise espiritual, o grande teólogo medieval Abu Hamed Muhammad ibn Muhammad al-Ghazali – muitas vezes chamado de ‘Prova do Islam’ – embarcou nessa jornada.
Através das viagens, conhecemos melhor a Deus. Simples assim. Viajar transforma tudo o que conhecemos em algo desconhecido para nós e, assim, passamos a apreciar melhor a criação de Deus. Ao longo dos versículos do Alcorão, pediu-se ao homem que reflita sobre o que foi criado na terra e nos céus – umas das melhores maneira de se fazer isso é durante uma viagem!
Nada extingue a ignorância tão bem como as experiências da vida real. Em um mundo cada vez mais global, saturado pela mídia, é fácil sentar em um lado do mundo e julgar quem está no outro. Usando vídeos, artigos de notícias e fotos, fica fácil acreditar arrogantemente que conhecemos um povo ou um lugar apenas pela forma como a mídia os representou.
No entanto, o próprio significado de ‘mídia’ é que ela está no meio de uma realidade e é uma mera representação dela. A mídia não é a realidade. Viajar para lugares que julgamos ou pensávamos que conhecíamos é a melhor maneira de perceber isso, porque nos ensina o quanto podemos estar errados e aborda a nossa ignorância. Viajar nos faz ver que, na verdade, sabemos muito pouco.
Converse com qualquer pessoa que tenha “viajado”, especialmente um viajante solitário, e você ficará impressionado com a autoconfiança, a mente aberta e o quão bem eles parecem se conhecer. Viajar cria uma versão melhor de você porque te leva a sair de sua zona de conforto e se forçar a fazer perguntas sobre quem você é, por que é e o que é.
Como muçulmanos, acreditamos que chegará um momento em que teremos que ficar sozinhos em frente de nosso Criador e seremos julgados. Viajar permite que você se examine sem as expectativas da sociedade, cultura, religião e família. Quem já fez isso lhe dirá que nada é mais libertador do que ter apenas as suas próprias expectativas. Mas lembre-se de que isso pode ser bastante assustador na primeira vez porque, de repente, você pode perceber que na verdade não tem tantas expectativas sobre si mesmo.
O mundo é um lugar incrível, cheio de experiências incríveis esperando para serem vividas. Não desfrutar de nenhuma delas enquanto você está aqui parece um desperdício. Em uma época em que as viagens estão se tornando cada vez mais baratas e os métodos de ter renda “na estrada” para financiá-las estão cada vez mais flexíveis, restam poucas desculpas para não sair e tentar ver o mundo pelo menos uma vez.
Aqueles que não o fizerem não experimentar ver o nascer do sol sobre uma antiga obra-prima criada pelo homem como Machu Picchu, ou talvez nunca ouvirão o silêncio de uma maravilha natural como o deserto do Saara, nem provarão a doçura de uma carambola recém-sacudida de sua árvore pelas crianças de um vilarejo de Bangladesh e, certamente, não sentirão delicioso aroma de mil especiarias ao passear por um verdadeiro bazar árabe.
Sempre deixamos de dar o devido valor aos nossos pais, irmãos, irmãs e lares. Mas passe alguns meses na estrada e depois saboreie a comida caseira da sua mãe ou ouça as histórias do passado de seu pai. Volte depois de um mês andando de trem pela Europa e veja se sua irmã é realmente tão irritante quanto você pensou, ou se seu irmão mais velho é tão arrogante quanto ele parecia. “Ausência faz o coração gostar” é um ditado, mas o que isso realmente significa é que você finalmente percebe com o que Deus te abençoou.
As viagens podem recuperar a fé na humanidade, caso ela esteja abalada. Ser ajudado por um estranho, receber sorrisos de pessoas que você nunca conheceu e que sequer falam sua língua. Isso é realmente libertador e reconfortante.
Allah nos criou diferentes que para nos testasse e viajar é se expor a justamente isso. Poder ver como as pessoas realmente agem quando lidam com o diferente e quebrar preconceitos, nada melhor que isso para nos tornarmos pessoas cada vez melhores.
Poder conhecer de perto locais importantes da história islâmica é algo impressionante. Poder passear por locais como Portugal e Espanha e saber que ali existiu um poderoso reinado islâmico, que influenciou todo o mundo até os dias de hoje.
Viajar é viver o que os livros relatam e o que eles não relatam. É poder ouvir de guias e moradores locais sobre as histórias passadas de geração em geração. Certamente algo para entender como o Islam chegou até nós e continua vivo nos quatro cantos do mundo até o dia de hoje.
Artigo inspirado por este artigo.
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