O Alcorão começou a ser revelado no ano 610 na cidade de Meca. A princípio, o Profeta Muhammad não convocou as pessoas publicamente ao Islam e seu trabalho era feito de maneira discreta, pois confrontar a tradição pagã da Arábia pré-islâmica era um risco à vida dos primeiros muçulmanos. No entanto, o conflito não poderia ser evitado eternamente.
À medida que o Islam crescia, a tribo pagã dos Coraixitas começou a retaliar os poucos adeptos da nova religião. Eles perseguiram muçulmanos desprotegidos até que alguns deles fossem mortos, hostilizaram constantemente os novos convertidos, impuseram boicotes comerciais e matrimoniais e, por fim, roubaram suas propriedades. Mesmo com toda a violência, as revelações do Alcorão não permitiram que as agressões fossem combatidas por 12 anos.
Em 622, o Profeta Muhammad recebeu um convite para se mudar para a cidade de Medina (que, na época, era chamada de Yathrib). Nesta ocasião, ocorreu uma grande migração conhecida como hégira. Após a chegada em seu novo lar, os muçulmanos criaram seu primeiro estado, elaboram sua primeira constituição e, somente quando se estruturaram como nação, Allah deu a eles o direito de travar batalhas.
Após tomarem os bens de vários muçulmanos, os Coraixitas levavam esses itens para serem vendidos na Síria. Com o dinheiro arrecadado, os pagãos lançariam uma campanha militar contra Medina. A primeira resposta à violência dos idólatras foi em um ataque às caravanas comerciais.
Os espólios desses ataques ajudaram os muçulmanos a se manterem nos primeiros anos em Medina, período em que eles ainda estavam se estruturando e não tinham um exército forte o bastante para confrontar Meca.
Em 624, uma caravana dos Coraixitas com mais de 1000 camelos, protegida por 70 cavaleiros, iria da Síria para Meca. Esta era uma caravana excepcional, em que os pagãos haviam investido muito dinheiro e que traria muito lucro para eles. Um ataque a ela significaria guerra entre os dois povos.
Mesmo com o perigo iminente, o Profeta Muhammad decidiu liderar um ataque. O exército islâmico percorreu estradas mais desconhecidas para não despertar suspeitas dos inimigos. No entanto, Abu Sufiyan, o líder Coraixita que acompanhava a caravana, percebeu a movimentação e ordenou que a rota fosse desviada.
Percebendo que a guerra se aproximava, os Coraixitas mobilizaram um exército com mais de 1000 homens e marcharam para o norte na cidade de Badr, onde estavam os muçulmanos. A batalha começou com duelos entre três campeões aliados do Profeta e três dos pagãos, nos quais o exército islâmico saiu vencedor. Este evento foi seguido por uma troca de flechas e, depois, pelo combate entre todos os guerreiros.
Nesta batalha, os inimigos do Profeta descreveram eventos milagrosos em que milhares de anjos desciam dos céus e atacavam o pescoço dos pagãos. Mesmo estando em número superior, os Coraixitas sofreram mais baixas do que os muçulmanos, sendo 14 contra cerca de 70 mortes, e acabaram perdendo a batalha após a queda do líder idólatra Abu Jahl.
Também no ano de 624, os muçulmanos viveram uma situação tensa com a tribo judaica dos Banu Qaynuqas, que vivia em Medina.
No mercado da cidade, um comerciante judeu envergonhou uma mulher muçulmana ao rasgar as vestes dela. Um homem muçulmano que testemunhou aquilo se indignou e iniciou uma briga que terminou com a morte do vendedor e, por sua vez, um grupo de judeus se reuniu para vingá-lo e acabaram matando aquele seguidor do Profeta Muhammad.
Este evento iniciou a rixa entre os muçulmanos e os Banu Qaynuqa, o que levou o Profeta Muhammad a sitiar a fortaleza da tribo judaica e exigir que eles se retirassem da cidade por quebrar o tratado de paz entre ambas as partes. O cerco durou cerca de duas semanas e os judeus concordaram em deixar Medina.
A princípio, o Profeta Muhammad não queria deixar que os judeus levassem seus pertences. Os Qaynuqas tinham muitas riquezas e poderiam muito bem patrocinar uma guerra contra os muçulmanos. No entanto, o Mensageiro de Allah cedeu a um pedido de Abdullah ibn Ubayy, um dos homens mais importantes de Medina, que implorou para que os muçulmanos deixassem seus inimigos simplesmente irem embora.
A tribo partiu, mas não se contentou em deixar a cidade de forma digna, como quem aceita humildemente a derrota. Eles exibiram todas suas joias e metais preciosos na intenção de humilhar os muçulmanos por não terem tirado-lhes sua riqueza, mostrando que ainda continuavam poderosos.
A tribo judaica dos Banu Nadir não foi hostil aos muçulmanos desde o início. Sua reação começou após os eventos da Batalha de Badr e a expulsão dos Banu Qaynuqas. Muitos de seus membros instigaram os Coraixitas a combater o Profeta Muhammad, o principal deles foi o poeta Kab ibn Ashraf, em um período em que a poesia era uma poderosa ferramenta de persuasão e propaganda.
Os Banu Nadir começaram a criar muitos problemas, a ponto de planejarem matar o Profeta Muhammad. O Mensageiro de Allah os alertou sobre suas violações e disse que deveriam honrar o acordo, mas eles ignoraram. O estopim veio quando Amr ibn Umayya, um dos companheiros do Profeta, veio pedir ajuda à tribo judaica para pagar o dinheiro de sangue por dois homens mortos por engano da tribo dos Banu Amr ibn Sasa.
De acordo com o pacto, os judeus ajudariam a pagar o dinheiro de sangue, caso fosse necessário. O Profeta Muhammad foi até os Banu Nadir junto com seus nobres companheiros Abu Bakr, Omar e Ali e, chegando lá, percebeu que os judeus estavam tentando lhe matar arremessando uma pedra do alto de um telhado. Imediatamente ele deixou a fortaleza da tribo e deu um ultimato para que deixassem Medina. A princípio, eles concordaram, mas Abdallah ibn Ubayy os persuadiu a resistir.
Diante da resistência, os muçulmanos cercaram a fortaleza dos Banu Nadir e quiseram propor um acordo. De início, os judeus ofereceram resistência e chegaram a atirar flechas e pedras nos muçulmanos. Como resposta, o exército do Profeta queimou as tamareiras que eles mantinham para se esconder. Após um cerco de 15 dias, a tribo concordou em deixar Medina, partindo em direção a Khaybar com uma comitiva de 600 camelos.
Naquele mesmo ano, Abu Sufiyan decidiu que Meca revidaria a derrota contra os muçulmanos e mobilizou um exército de aproximadamente 3 mil homens para marchar contra Medina. O Profeta Muhammad soube do ataque e organizou um conselho de guerra para decidir se a batalha seria dentro ou fora das muralhas da cidade. Os companheiros do Mensageiro de Allah optaram por lutar fora da cidade, então mobilizaram um exército de mil homens que marchou em direção às montanhas de Uhud.
Esta foi a primeira batalha defensiva de que o Profeta Muhammad participou. Os muçulmanos desempenharam uma boa conduta em campo e chegaram bem perto de vencer o combate. No entanto, o panorama do duelo mudou quando 40 dos 50 arqueiros que protegiam os muçulmanos abandonaram seus postos para recolher o espólio de guerra, contrariando uma ordem do Mensageiro de Allah de não saírem de sua posição de maneira alguma.
Uma vez desprotegidos, o líder do exército Coraixita, Khalid ibn Walid, notou a vulnerabilidade e partiu para cima do exército islâmico, cercando os seus soldados e dando início a um massacre. O próprio Profeta precisou entrar em batalha para proteger suas tropas, mas acabou sendo ferido no ombro e na boca, quebrando alguns dentes. Este evento é considerado uma vitória dos pagãos de Meca, uma vez que alcançaram seu objetivo tático.
No ano de 627, os Coraixitas mobilizaram uma nova coalizão contra os muçulmanos a fim de derrotá-los de uma vez por todas. Eles reuniram um exército de 10 mil homens que também contava com membros dos Banu Kinanah, Ghatafan e a tribo judaica que havia traído o Profeta Muhammad, os Banu Nadir.
Como reação, o Profeta conseguiu mobilizar um exército de 3 mil homens. Ele reuniu um conselho de guerra para se preparar para o combate e decidiu adotar a tática de Salman, O Persa, que sugeriu que fossem construídas trincheiras em volta da cidade de Medina - uma estratégia que até então nunca havia sido usada na Arábia.
O cerco dos Coraixitas durou 20 noites, mas eles não estavam preparados para lidar com as trincheiras dos muçulmanos. O período prolongado do combate começou a afetar os suprimentos dos pagãos, que também tiveram que lidar com um frio rigoroso que se abateu sobre o vale de Medina ao longo da batalha. Durante a madrugada da vigésima noite, Abu Sufiyan ordenou a retirada dos idólatras e o exército do Profeta saiu vencedor.
A última das três tribos judaicas a se levantarem contra o Profeta Muhammad em Medina foi a dos Banu Qurayza. No passado, eles também haviam selado uma aliança com os muçulmanos e juraram que lutariam ao lado do Profeta, caso fosse necessário, mas acabaram sendo os grandes responsáveis por instigar os Coraixitas a atacarem Medina na Batalha das Trincheiras, pois juraram-lhes lealdade e prometeram que facilitariam sua entrada na cidade.
Após a traição, o Profeta Muhammad recebeu uma revelação do Anjo Gabriel dizendo que ele deveria fazer a oração na terra dos Banu Qurayza, e encaminhou suas tropas até a fortaleza que eles habitavam. O Mensageiro de Allah deu a eles a chance de se converterem ao Islam e de se renderem, mas ambas as propostas foram recusadas, então se iniciou um cerco que durou 25 dias.
Os soldados do Islam enfrentaram uma poderosa barreira de flechas, mas resistiram ao ataque inimigo. Após perceberem que não conseguiriam vencer, os judeus se renderam e tentaram negociar para que pudessem deixar Medina com os seus pertences. No entanto, a tribo dos Banu Nadir, que havia sido libertada anteriormente pelos muçulmanos, se mostrou desleal ao participar do complô com os Coraixitas e com os Banu Qurayza para atacar o Profeta Muhammad.
Enquanto eles tivessem poder, seriam capazes de levantar guerra contra os muçulmanos, portanto, o Profeta Muhammad não permitiu que deixassem Medina. Os Banu Qurayza então imploraram pela arbitragem de Sad ibn Muadh, um antigo aliado da tribo, que determinou com base nas leis da Torá que todos os judeus que haviam participado da conspiração deveriam ser mortos.
Neste ponto, é importante destacar que a derrota dos pagãos na Batalha das Trincheiras foi um grande revés para os Coraixitas que abalou a moral da tribo frente aos outros povos. Isso era importante principalmente pelo fato de que eles eram os guardiães da Caaba em Meca e garantiam que os viajantes estariam protegidos para fazer a peregrinação ao templo sagrado.
Em 628, durante os meses sagrados em que a guerra era suspensa entre os povos da Arábia, o Profeta se juntou aos seus homens e foi em direção a Meca para fazer a peregrinação menor da Umrah. Os pagãos, temendo outro combate, enviaram tropas armadas para alcançar os muçulmanos em seu caminho até a cidade sagrada. O Mensageiro de Allah, então, ordenou aos seus companheiros que seguissem por uma rota alternativa e, ao chegarem próximos de seu destino, acamparam em um lugar chamado Hudaybiyyah.
Uma vez próximos de Meca, os muçulmanos tentaram negociar a entrada na cidade com os pagãos. Em um determinado momento, um dos mais nobres companheiros do Profeta, Uthman bin Affan, foi enviado para a cidade para fazer um acordo com os Coraixitas, mas foi detido pelos idólatras. Quando perceberam que ele estava demorando a voltar, os muçulmanos pensaram que havia sido morto e fizeram um juramento de que lutariam se fosse necessário.
Em seguida, foi revelado que Uthman estava vivo e, por fim, os pagãos disseram que desejavam fazer uma trégua. No acordo, ficou previsto que haveria um período de paz que duraria dez anos, com a condição que os muçulmanos voltariam somente no ano seguinte para realizar a peregrinação.
O Tratado de Hudaybiyyah foi consolidado não só entre os muçulmanos e Coraixitas, mas também entre clãs aliados de ambos os lados. A trégua acabou menos de dois anos depois de sua assinatura, quando os membros da tribo Banu Bakr, ligados aos pagãos, assassinaram membros dos Banu Khuzah, que eram vinculados ao Profeta Muhammad.
O Mensageiro de Allah intimou que os Coraixitas pagassem o dinheiro de sangue, mas eles se recusaram. O Profeta articulou uma força com mais de 10 mil homens junto com as tribos aliadas e acampou nos arredores de Meca. Então, negociou com Abu Sufiyan que ninguém da cidade seria ferido, caso se rendessem pacificamente.
Ao entrar na cidade, apenas um pequeno grupo de homens decidiu usar força bruta para resistir, mas no todo, a população de Meca não ofereceu nenhuma resistência, mesmo após anos de batalha contra Medina. Os muçulmanos cumpriram o acordo e pouparam até mesmo aqueles que foram inimigos ferrenhos durante toda a guerra.
Naquele dia, muitas pessoas se converteram ao Islam pela piedade demonstrada pelos conquistadores e, finalmente, a Caaba, o templo erguido pelos profetas Abraão e Ismael, voltou a ser um local de adoração ao Deus único.
Depois que se exilaram na região de Khaybar, os Banu Nadir não desistiram de continuar enfrentando os muçulmanos e, durante a Batalha das Trincheiras, eles se aliaram aos Coraixitas para combater os muçulmanos. Depois de suas últimas tentativas de destruir os muçulmanos, os judeus esperavam por um contra-ataque e articularam alianças com outros judeus da região do vale de Fadak e com a tribo dos Banu Ghatafan.
No entanto, quando a ofensiva islâmica de fato ocorreu, no ano de 628, os judeus foram surpreendidos. Embora os muçulmanos estivessem em menor número, eles chegaram a Khaybar de forma veloz, possibilitando um ataque surpresa e dificultando a defesa dos Banu Nadir de se articular para o combate.
A batalha não aconteceu em campo aberto, mas sim dentro das fortificações judaicas, que foram dominadas uma por uma. O confronto terminou após Ali ibn Abu Talib invadir a fortaleza al Qumus, a última restante, onde matou o grande guerreiro dos Banu Nadir, Marhab. De acordo com a narração contida no livro Sahih Muslim, o herói muçulmano teria derrotado seu oponente com um golpe na cabeça.
Após o cerco que durou mais de 13 dias, os judeus se renderam e tiveram pressa para negociar com o Profeta. Ficou decidido que eles poderiam permanecer em Khaybar e que ficariam sobre a proteção dos muçulmanos, porém, deveriam pagar um imposto com parte das safras colhidas.
Em seus últimos anos de vida, o Profeta Muhammad viu os cristãos gassânidas se levantarem contra os muçulmanos em Tabuk. O Mensageiro de Allah também provocou a ira do imperador Kisra, da Pérsia, após uma tentativa fracassada de fazê-lo abraçar o Islam. Kisra começou a se articular com seu governador vassalo do Iêmen, o que fez com que Muhammad se preparasse para combatê-los.
Essas guerras, no entanto, só seriam concluídas vários anos após a morte do Mensageiro de Allah. Ele previu a derrota desses inimigos, que eram os dois impérios mais poderosos do Oriente Médio e, após séculos de avanço islâmico, a luz do Mensageiro de Allah finalmente prevaleceu nas terras onde antes os corações doentes eram sendentos para destruí-lo, e os bizantinos e persas sucumbiram e abraçaram o Islam.
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