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Medina: Análise da Cidade do Profeta Muhammad

Medina é o segundo local mais sagrado do mundo para os muçulmanos. A cidade abrigou o Profeta Muhammad e seus companheiros após a Hégira.
  • Medina é a segunda cidade mais importante para o Islam. 
  • Os relatos do Profeta Muhammad e as revelações que ele recebeu ali fazem com que os muçulmanos reconheçam Medina como um local sagrado.
  • Durante algum tempo, Medina teve grande importância política e foi motivo de disputa entre diversos impérios.
  • No século XX, boa parte das construções históricas da cidade foram destruídas desconsiderando o valor religioso das mesmas, dando lugar a uma nova infraestrutura urbana.

A cidade de Medina é um dos locais sagrados do Islam. Ela guarda uma história muito importante para a fé dos muçulmanos. Foi lá que o Profeta Muhammad se refugiou após a Hégira e então, pela primeira vez, a religião islâmica conseguiu se estabelecer em um local para poder prosperar.

Este evento foi muito importante para o Islam e, por isso, é considerado como o marco de início do primeiro ano do calendário islâmico. Aliás, Medina ganhou este nome após a Hégira, advindo de “Medinat un-Nabi’’ ou “A cidade do Profeta’’. Antes dessa migração, a cidade se chamava Yathrib. 

Durante a maior parte do Califado Rashidun, a cidade teve um importante status político e, desde a época do Profeta Muhammad, o local mantém sua importância religiosa para os muçulmanos.

Durante a era Yathrib

Antes de ser uma cidade importante para o Islam, Medina era um lugar cuja população era majoritariamente judaica, no entanto, também havia tribos de árabes vindos do Iêmen. Entre os povos que ali viviam estavam, os Banu-Nadir, Banu Qurayza, Banu Qaynuqa, Banu Aus e Banu Khazraj. 

Essas comunidades começaram a chegar àquele território ainda no primeiro século da era comum, vindas da região de Jerusalém. A população de Yathrib cresceu ainda mais a partir do século IV, com a chegada dos árabes iemenitas, como é o caso dos Banu Aus e Banu Khazraj.

Um fato bastante conhecido pelos historiadores indica que, embora tenham vivido períodos pacíficos, essas tribos nunca foram unidas e sempre tiveram rixas entre si. Antes da Hégira, os povos que ali viviam, travaram quatro guerras, batalhando uns contra os outros na disputa pelo controle daquela região.

Quando o Profeta Muhammad chegou em Yathrib, um conflito havia se instalado ali há cerca de 120 anos, o que fez a economia da cidade se estagnar. 

No conflito de Yathrib, os Banu-Nadir e os Banu Qurayẓa eram aliados dos Banu Aus, enquanto os Banu Qaynuqa faziam aliança com os Banu Khazraj. A última batalha que essas tribos enfrentaram foi a de Buath, que havia dado trégua poucos anos antes da chegada do Profeta Muhammad naquela região.

Aliás, este impasse entre as tribos foi um dos principais fatores que contribuíram para que a população de Yathrib aceitasse conviver com os muçulmanos, pois acreditavam que a mediação do Profeta Muhammad seria capaz de colocar um fim em suas rixas internas.

A chegada do Islam

Homem no Deserto na Arábia Saudita

A chegada dos muçulmanos em Yathrib, no ano de 622, marca o primeiro ano do calendário islâmico. Apesar de ter nascido em Meca, a religião floresceu em Medina e se tornou uma comunidade sólida e fiel aos ensinamentos de Deus, que foram transmitidos pelo Profeta Muhammad.

Quando os muçulmanos de Meca chegaram em Yathrib, alguns habitantes daquela cidade já tinham se convertido ao Islam. Essas pessoas haviam tido contato com a doutrina islâmica quando visitaram Meca e enxergaram na mensagem do Profeta uma solução para resolver os conflitos locais.  

Os muçulmanos de Yathrib ficaram conhecidos como os “Ajudantes” (Ansar). Eles eram responsáveis por receber os “Emigrantes” (Muharijun), ou seja, os muçulmanos que vieram de Meca. O Profeta foi um dos últimos a chegar e, quando ele finalmente concluiu a emigração, estabeleceu que cada Ajudante formasse um par com um Emigrante e compartilhasse seus lares e suas riquezas com seus irmãos de fé. 

Ao final da emigração (Hégira), o Profeta Muhammad construiu sua casa e a mesquita de Quba para que os muçulmanos pudessem fazer suas orações. 

Medina se torna um importante centro Político e Militar

Nos primeiros anos após a emigração, Medina se tornou um importante ponto de articulação política e militar para os muçulmanos. Logo no primeiro ano, o Profeta Muhammad estabeleceu um pacto com as tribos locais que ficou conhecido como a Constituição de Medina. Este tratado formal concedia direitos e deveres aos muçulmanos, judeus e pagãos que viviam em Medina, e estabeleceu paz entre as tribos locais. 

Se, por um lado, os povos de Medina conviviam sem conflitos, por outro, a situação entre os muçulmanos e a tribo dos Coraixitas, os pagãos que dominavam Meca, era extremamente violenta. Nos dez anos seguintes à Hégira, três batalhas marcaram os confrontos entre estes e os seguidores do Islam: Badr, Uhud, e a das Trincheiras.

As guerras contra Meca afetaram profundamente a convivência em Medina. A tribo dos Banu Quarayza estabeleceu aliança com os Coraixitas, violando o acordo que fizeram com o Profeta. Mas a traição foi descoberta e os muçulmanos conseguiram vencer a batalha contra os opressores de Meca. Por fim, os traidores de Medina foram julgados conforme as leis da Torá, da qual eram seguidores e que sentenciava à morte os judeus que praticassem tal infração.

Após este confronto, o exército islâmico saiu suficientemente fortalecido para enfrentar as tropas dos Coraixitas. No entanto, a vitória contra os pagãos foi alcançada sem derramamento de sangue, através da conquista pacífica de Meca. Nesta ocasião, os muçulmanos marcharam em grande número sobre Meca e conseguiriam com facilidade dominar a tribo dos Coraixitas, mas o Profeta os perdoou, dizendo-lhes um nobre verso do Alcorão: 

“Hoje não sereis recriminados.” (Alcorão 12:92)

Medina após a conquista de Meca

No período entre o fim da Hégira até antes da morte do Mensageiro de Deus, ocorreram várias batalhas e Allah revelou ao Profeta muitos versos do Alcorão que foram fundamentais para a fé islâmica, e também para que todos aqueles muçulmanos conseguissem vencer seus desafios.

Depois desta fase, as batalhas cessaram e os muçulmanos puderam se estabelecer em Meca.  No entanto, o Profeta Muhammad e muitos de seus companheiros viveram em Medina até seus últimos dias de vida.

O próprio Profeta está enterrado em Medina, na Mesquita do Profeta (al-Masjid an-Nabawi), também conhecida como “A Cúpula Verde”.

Medina nunca perdeu sua relevância e, até hoje, ela é considerada a segunda cidade mais importante para o Islam, atrás apenas de Meca.

Durante algum tempo, após a morte do Profeta Muhammad, a cidade se tornou a capital política do Califado Rashidun. Naquele período, o Islam se expandiu para pontos importantes, como Damasco, Jerusalém e Mesopotâmia. Quando o terceiro califa Uthman foi assassinado por um grupo político insatisfeito com seu reinado, seu sucessor Ali Ibn Abu Talib decidiu mudar a sede de seu governo para Kufa, no Iraque.

Domínios ao longo dos anos

Cidade de Medina Historicamente

A região do Hijaz, onde estão localizadas as cidades de Meca e Medina, já esteve sob domínio dos principais impérios da história islâmica. Tanto os califados Omíada, Abássida e Otomano, quanto os Fatimidas e o Sultanato Mameluco já controlaram a segunda principal cidade do Islam. Isso mostra que, mesmo Medina não sendo a sede política do islamismo, todos os impérios tentavam legitimar seu poder através do controle dos locais sagrados. 

Já durante a era moderna, Medina sofreu com mudança de poder em duas ocasiões. A primeira aconteceu durante o ano de 1916, quando a cidade ainda era governada pelo Império Otomano. Naquela época, o califado estava ao lado das potências centrais na Primeira Guerra Mundial e, durante um momento crítico daquele conflito, os xarifes de Meca, responsáveis pela segurança da peregrinação, tomaram o controle de toda a região do Hijaz.

O regime dos xarifes durou apenas oito anos, até o ano de 1924, quando os sauditas assumiram o poder do Hijaz e destituíram o xarifado. Esta foi a última vez que o poder foi tomado na cidade de Medina. 

A demolição da história do Islam

Desde 1924, a cidade de Medina, assim como Meca, perdeu muito de sua herança histórica. O domínio saudita destruiu uma série de construções e espaços milenares de grande importância para a tradição islâmica

Sob o domínio dos wahabitas, a cidade de Medina sofreu perdas como a de Janat al-Baqi, o primeiro cemitério islâmico do mundo, onde vários familiares do Profeta haviam sido enterrados, como seus filhos Ibrahim, Zainab, Umm Kulthum, Roqayyah e Fatimah, seu tio Al-Abbas ibn Abd al-Muttalib e todas suas esposas, com exceção de Maymunah bint al-Harith (enterrada em Sarif) e de Khadija (que foi enterrada em Meca e também teve seu mausoléu destruído pelos sauditas).

Janat al Baqi
Janat al Baqi antes de ser completamente destruído

Além dos cemitérios, os sauditas também destruíram os túmulos dos companheiros mortos na batalha de Uhud. Três mesquitas dedicadas aos companheiros do Profeta Muhammad também não escaparam da demolição: Abu Rasheed, Salman al-Farsi e Rajat ash Shams.

Em Medina, até a casa onde viveu o Profeta Muhammad foi destruída pelo regime salafi, que sempre argumentou que essas construções históricas eram pontos onde se cometia idolatria. Os críticos do governo chamavam essas demolições de “vandalismo saudita”.

Atualmente, estima-se que sobraram apenas 40 locais históricos, que registraram cada instante do surgimento do Islam e que também abrigaram o Profeta Muhammad em muitos momentos importantes de sua vida.

Medina atualmente

A Cidade do Profeta ainda guarda algumas estruturas de grande importância histórica para o Islam. Além da famosa mesquita al-Masjid al-Nabawi, a cidade também possui dois dos templos mais antigos do Islam: a mesquita de Quba e a Mesquita al-Qiblatayn, ambas construídas na época do Profeta Muhammad.

Além dessas construções, o Monte Uhud, onde ocorreu a batalha entre os muçulmanos e os coraixitas, é uma das paisagens naturais que também possui um significado histórico de grande importância para a religião.

Devido aos locais sagrados que abriga, Medina ainda é muito procurada por peregrinos que participam da Umrah, a peregrinação menor.

Desde que assumiram o poder, os sauditas se preocuparam em não manter a economia das cidades sagradas focadas exclusivamente na peregrinação.

Medina é uma cidade grande onde vivem mais de um milhão de habitantes. O local possui um grande complexo urbano, com centro comercial, grandes avenidas e uma área em seu subúrbio onde há pequenas casas. Além disso, tem boa infraestrutura, com escolas, universidades, aeroporto, grande extensão de asfaltamento e transporte público.

Conclusão

A cidade de Yathrib tinha uma população majoritariamente judaica antes da chegada do Islam. Após a migração dos muçulmanos vindos de Meca, a antiga cidade mudou seu nome para  “al-Madinah al-Munawwarah” (ou simplesmente Medina) que, em português, significa “A Cidade do Profeta”.

Medina foi palco de várias batalhas entre os muçulmanos e os pagãos de Meca. Quando os adeptos do Islam venceram esses conflitos, muitos deles continuaram morando naquela cidade, inclusive o próprio Profeta Muhammad, que viveu ali até seus últimos dias.

Entre o período da imigração e a morte do Profeta Muhammad, Allah revelou vários versos do Alcorão. Todos esses acontecimentos fizeram com que Medina fosse reconhecida pelos muçulmanos como a segunda cidade mais importante para o Islam, atrás somente de Meca.

Além de sua importância religiosa, Medina também foi, durante algum tempo, a capital política do Islam. Isso mudou quando o califa Ali ibn Abu Talib decidiu transferir a sede de seu governo para a cidade de Kufa, no Iraque.

Mesmo com a mudança, Medina continuou sendo objeto de disputa entre vários impérios, que buscavam legitimar seu poder através da dominação daquela região. Os últimos a dominarem Medina foram os sauditas, que governam a cidade desde 1924.

Devido aos ideais salafistas, os sauditas consideraram a peregrinação a túmulos e a mesquitas dedicadas aos companheiros do Profeta como “shirk” (quando se atribui parceiros a Allah) e, por isso, destruíram vários locais de importância histórica inestimável. Nem mesmo a casa onde vivia o Mensageiro de Deus foi poupada da destruição.

Desde o início de seu reinado, os sauditas se preocuparam em transformar as cidades sagradas em locais que não dependessem financeiramente apenas das peregrinações. Por causa disto, Medina foi reestruturada e se transformou em uma cidade moderna, com uma boa infraestrutura urbana.

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