O nome de Saladino é um dos mais conhecidos da história da humanidade. Sua vitória em Jerusalém contra os cruzados fez com que ele entrasse para a história como um dos maiores estrategistas militares de todos os tempos. Embora este tenha sido o auge de sua carreira, sua ascensão ao poder também é algo notável e digno de reconhecimento.
Saladino era sultão da dinastia Aiúbida e foi fundamental para estabelecer a hegemonia do Islam sunita no Oriente Médio ao colocar fim ao califado xiita dos Fatímidas e reprimir todas as rebeliões que sucederam depois da queda do império. No auge do seu poder, ele chegou a dominar territórios no Egito, Síria, Alta Mesopotâmia, Iêmen, Oeste da Arábia, Norte da África e na Núbia.
O sultão não entrou para a história somente por suas conquistas, mas também por sua nobreza ao lidar com seus súditos e inimigos. Saladino é reconhecido em toda a história por ser um homem muito justo e, para os muçulmanos, foi um propagador da fé que era bastante conectado aos princípios mais altos da ortodoxia sunita.
Nascido no ano de 1137 em Tikrit, no atual Iraque, seu nome original é Yusuf ibn Ayyub. Saladino é um aportuguesamento do título árabe Salah ad-Din, que significa “o justo da religião”. Suas origens são curdas e sua família veio do vilarejo de Ajdanakan, na Armênia.
Seu pai se tornou um servo na fortaleza do oficial turco Imad ad-Din Zengi depois de ajudar as suas tropas a fugirem de Mosul após serem derrotadas em uma batalha. Após sua morte, Zengi foi sucedido pelo seu filho Nur ad-Din e a família de Saladino seguiu na servidão do novo líder militar.
Saladino foi educado e tinha um profundo conhecimento sobre direito, aritmética, história, cavalos e ciências da religião. Sabe-se que ele era um seguidor da jurisprudência do Imam Shafi e foi particularmente influenciado pelo mestre sufi Abdul Qadir al-Gilani, um dos maiores místicos da história islâmica.
A carreira militar de Saladino começou sob a tutela de seu tio Asad al-Din Shirkuh, que era comandante de Nur ad-Din. Em 1163, o califa al-Adid do império Fatímida chamou Shirkuh para ajudar a lutar contra a facção rival dos Dirgham, no Egito, que haviam deposto o vizir xiita Shawar.
Depois de ajudar o vizir a retomar o seu posto, Saladino foi para a cidade de Bilbais para coletar espólios. Ali, o vizir Shawar somou forrças com os cristãos cruzados e decidiu enfrentar Shirkuh na batalha em al-Babein, traindo seus antigos aliados. Shirkuh atacou os inimigos pelo centro, enquanto seu sobrinho atacou pela direita e uma ala curda foi pela esquerda, e os Zengidas foram vitoriosos.
Mais tarde, Saladino foi com seu tio para Alexandria. Eles combateram o exército cruzado através de uma aliança egípcia, na qual Saladino foi o responsável por proteger a cidade. Em 1169, Shawar morre e é sucedido por Saladino que, após assumir o poder como vizir, começa a minar o poder da dinastia e, percebendo uma brecha que se abria na sucessão do reino xiita após a morte do califa al-Adid, Saladino dissolve o califado de uma vez por todas e assume o poder.
Saladino estabeleceu a hegemonia sunita no Oriente Médio e se aliou ao Califado Abássida de Bagdá. Após a morte de Nur ad-Din em 1174, começou a conquistar diversos territórios pela Síria, incluindo uma conquista pacífica em Damasco a pedido do governador local. Em 1175, ele conquista Hama e Homs e, naquele mesmo ano, foi proclamado como “sultão do Egito e da Síria” pelo califa abássida al-Mustadi.
Após a conquista de seu nobre título, Saladino ainda conquistaria territórios no norte da Síria, em Jazira, e em 1182 ele prevaleceria sobre toda Síria ao dominar Aleppo.
Em 1182, Saladino atravessou o rio Jordão para atacar a cidade de Baisan, mas não encontraram ninguém, então a cidade foi incendiada e eles seguiram adiante. Eles interceptaram reforços dos cristãos cruzados que estavam a caminho de Jerusalém. Enquanto isso, o líder francês Guido de Lusignan conduzia o exército principal para a cidade de al-Fula.
Saladino tentou enfrentar os cruzados em combates menores, mas após uma batalha de uma semana, seus soldados ficaram sem suprimentos e precisaram sair em retirada. Depois disso, aconteceram outros ataques, desta vez liderados por Reinaldo de Châtillon, que impediu rotas comerciais de grande importância para o sultão egípcio que iam em direção ao Mar Vermelho.
Os muçulmanos revidaram atacando Beirute, mas Reinaldo respondeu prometendo invadir as cidades sagradas de Meca e Medina. Diante disso, Saladino cercou a fortaleza dos cruzados em Kerak duas vezes, uma em 1183 e outra em 1184, mas sem sucesso.
Depois dos fracassos, Saladino voltou suas conquistas para Mossul para lutar nos territórios que pertenciam a Izz ad-Din que, por sua vez, acabou se aliando aos governadores do Azerbaijão e do Jibal para conter a ofensiva. Em 1186, Saladino ficou doente e decidiu assinar um tratado de paz. Seus inimigos concordaram com a trégua, pois sabiam que poderiam haver reforços para ajudá-lo.
No ano seguinte, Reinaldo quebrou o acordo de paz ao saquear uma caravana dos muçulmanos, o que atiçou a ira de Saladino. O sultão enviou seu filho al-Afdal ibn Salah ad-Din para atacar as terras dos cruzados ao redor da cidade de Acre. Al-Afdal teria ajuda do emir e do general Gokbori na luta contra os templários, e juntos eles derrotaram as tropas cristãs em um confronto que ficou conhecido como a Batalha de Cresson.
Naquele mesmo período, Saladino impôs um cerco em Tiberias, onde estava a esposa do conde de Triplo, Raimundo III. Mesmo sabendo da ação de seu oponente, o nobre templário não quis partir para o confronto direto e orientou seu cavaleiro Guido a não provocá-lo, conselho que foi reforçado pelos Cavaleiros Hospitalários.
Entretanto, Gerard de Reidefort, grão-mestre dos templários, orientou que Guido atacasse e eles acabaram decidindo pela ofensiva. Os cruzados marcharam para Tiberias, mas estavam sem suprimento de água o suficiente para o abastecimento, então optaram no meio do caminho em seguir para Kafr Hattin, a 10 km de distância do objetivo final.
Os soldados do sultão surpreenderam seus inimigos e se posicionaram entre os templários e as reservas de água. Os cruzados foram obrigados a acampar próximo da vila de Meskenah e, à medida que o tempo passava, a sede aumentava. Os muçulmanos passaram a usar isso ao seu favor e começaram a queimar a grama seca que havia ali enquanto faziam batuques, cantavam e oravam, tendo amplo acesso às águas do Mar da Galileia.
Os cruzados ficaram desmoralizados e precisavam achar uma saída, portanto, buscaram uma saída para as fontes de Hattin, mas foram alcançados pelas tropas de Saladino. Raimundo conseguiu escapar, mas suas tropas foram capturadas e levadas à tenda do sultão. Guido foi poupado, mas Reinaldo acabaria sendo executado.
Os empreendimentos bem sucedidos abriram os caminhos de Saladino rumo à conquista de Jerusalém. Saladino ainda teve a oportunidade de dominar a cidade de Tiro, no Líbano, que junto com a cidade sagrada era o último território cruzado no Levante. No entanto, o sultão preferiu ir diretamente para Jerusalém pela importância do local.
A prisão dos líderes cruzados na Batalha de Hattin foi desestabilizadora para Jerusalém, que testemunhou o avanço de Saladino com fogo grego, flechas e rajadas de catapultas, até que a muralha da cidade foi finalmente derrubada e a investida islâmica não pôde mais ser evitada.
Após a vitória, Saladino negociou com Balião de Ibelin, líder de Jerusalém, para que o sultão deixasse os cidadãos partirem em paz mediante o pagamento de uma quantia em resgate, e este acordo acabou ficando estabelecido. Os cruzados então puderam ir embora sem nenhum derramamento de sangue ou retaliação.
Saladino autorizou o judeus a se estabelecerem na cidade e permitiu que os cristãos georgianos, ao contrário das demais igrejas, fizessem peregrinação aos locais sagrados carregando seus estandartes.
A conquista de Jerusalém desencadeou a terceira cruzada, financiada na Inglaterra e em partes da França através de uma taxa especial. A expedição fez o cerco de Guido na cidade de Acre sob a liderança de Ricardo Coração de Leão. Durante a investida, este teria matado cerca de 3 mil prisioneiros muçulmanos por uma razão completamente desconhecida.
Baha ad-Din, um membro da corte de Saladino, registrou: “Os motivos para esse massacre são contados de maneira diferente: para alguns, os prisioneiros foram mortos em represália pela morte dos cristãos que haviam sido mortos pelos muçulmanos; para outros, se dá pelo fato de que o rei da Inglaterra, decidido em conquistar Ascalon, pensou que não seria inteligente deixar para trás tantos prisioneiros após sua partida. Apenas Deus sabe qual foi o real motivo.”
Em 1191, Saladino e Ricardo se encontraram em batalha, mas o confronto se encerrou com a retirada do sultão. Os cruzados então ocuparam a cidade de Jaffa e dali se preparariam para tomar Jerusalém. Enquanto isso, Saladino foi para o sul para destruir Ascalon, um ponto estratégico que não poderia ficar sob o controle inimigo.
Em 1192, Ricardo fica ainda mais próximo de conquistar Jerusalém após dominar a vila de Beit Nuba, próximo à cidade sagrada. Em seguida, o rei foi para Ascalon e reconstruiu as fortificações atacadas pelos muçulmanos. Naquele mesmo ano, Saladino atacou Jaffa enquanto Ricardo estava fora da cidade, mas alguns dias depois voltou e conseguiu deter a investida dos muçulmanos.
A guerra terminou com um acordo entre ambos governantes. Ricardo demoliu todas fortificações e, em troca, Saladino reconheceria o controle dos cruzados de Tiro até Jaffa. Os peregrinos cristãos receberam permissão para entrar em Jerusalém e, graças a esse tratado, a paz reinou na região por três anos.
Saladino morreu de febre no ano de 1193, em Damasco, e embora tenha sido um dos maiores conquistadores de seu tempo, suas únicas posses eram uma moeda de ouro e quarenta moedas de prata. Toda a sua riqueza foi dada aos seus súditos e nada sobrou para custear o seu funeral. Ele foi enterrado em um mausoléu próximo à Mesquita Umayyad.
Quando morreu, seu médico observou que, em sua vivência, essa foi uma das poucas vezes que os seus súditos realmente ficaram de luto pela morte de seu governante. Embora Saladino tenha feito muitas inimizades em sua vida, a maioria dos homens que o conheceram, incluindo seus oponentes, o reconheceram como um sultão nobre e justo.
Saladino foi um personagem histórico notável que teve uma grande ascensão ao governo por causa de suas nobres características e de seu profundo conhecimento sobre diversos assuntos. Ele começou na carreira militar, treinado pelo seu tio Shirkuh, e graças a isso, pôde se tornar vizir e, após perceber uma fragilidade no Califado Fatímida, conseguiu dissolver a dinastia xiita e consolidar a hegemonia sunita no Oriente Médio.
Após se tornar sultão do Egito, Saladino conquistou a Síria e enfrentou os cristãos cruzados na região do Levante. O maior desafio foi na Batalha de Hattin, em que Saladino conseguiu capturar e matar alguns dos oficiais mais importantes que protegiam a cidade de Jerusalém, o que abriu passagem para que os muçulmanos conseguissem avançar rumo à conquista da cidade sagrada.
Depois de um longo conflito, Saladino conseguiu entrar em Jerusalém e capturar a cidade, mas permitiu aos cidadãos que abandonassem o local em paz e sem derramamento de sangue mediante ao pagamento de um resgate. Tal conquista, entretanto, motivou a reação de nobres ingleses e franceses, que iniciaram a terceira cruzada para tentar recuperar o território perdido para os muçulmanos.
Houve grandes batalhas durante a terceira cruzada e Saladino esteve perto de perder Jerusalém, mas após uma guerra desgastante para ambas as partes, o sultão selou a paz com o rei Ricardo III, dando-lhe o controle de algumas terras na região do Levante. Pouco depois deste evento, Saladino faleceu, mas ficou marcado na história por suas habilidades militares e por ser um governante justo.
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