Jerusalém é conhecida em árabe pelo nome de Al-Quds e é considerada pelos muçulmanos como a terceira cidade mais sagrada do Islam, atrás somente das cidades de Meca e Medina. A importância deste local está ligada à história do Profeta Muhammad e também dos profetas que o precederam e sua importância foi destacada até mesmo pelo Mensageiro do Islam.
Antes de Meca, a cidade de Jerusalém foi a primeira na qual os muçulmanos se direcionavam nas orações. O local também foi palco de um grande milagre ocorrido durante a vida do Profeta Muhammad e, até hoje, há um grande complexo onde está localizada a Mesquita al-Aqsa e a Mesquita do Domo da Rocha, que são templos erguidos no local deste marco miraculoso.
Por causa da relevância religiosa, Jerusalém se transformou, nos dias atuais, em um símbolo político da presença muçulmana e árabe nas terras ocupadas por Israel e seus cartões postais também foram politizados por causa desses conflitos. Até hoje, diversas mobilizações ocorrem nesta cidade, que se tornou um importante ponto de resistência.
Alguns estudiosos muçulmanos relatam histórias que, apesar de não serem conclusivas, servem para entender os primórdios da importância de Jerusalém e especialmente da Mesquita al-Aqsa. O templo teria sido construído pelo Profeta Adão ou então pelo Profeta Abraão, mas no tempo deste, já era, ao menos, um ponto conhecido de adoração.
Essa narrativa possui algumas semelhanças com a história da construção da Caaba e se difere particularmente da Bíblia hebraica e cristã, que diz que o Profeta Salomão seria o construtor do Templo de Jerusalém. No entanto, um relato do Profeta Muhammad esclarece que o local era um ponto antigo de adoração e foi estabelecido pouco tempo depois da mesquita sagrada de Meca.
Abu Dharr relatou que perguntou ao Profeta: "Ó Mensageiro de Allah, qual mesquita foi construída pela primeira vez na superfície da terra?" Ele disse: "A mesquita al-Haram (em Meca)." Eu disse: "Qual foi construída em seguida?" Ele respondeu "A mesquita de Al-Aqsa (em Jerusalém)." Eu disse: "Qual foi o período de construção entre os dois?" Ele disse: “Quarenta anos”. Ele acrescentou: "Onde quer que (você esteja, e) o tempo de oração chegar, faça a oração lá, pois o melhor é fazê-la (ou seja, oferecer as orações a tempo)" (Sahih Bukhari 3366)
Mesquita al-Aqsa (Foto: wikipedia)
Os filhos de Israel deixaram de cuidar da al-Aqsa quando o Profeta José conquistou um cargo importante no reino do Egito e, na esperança de alcançar um bem estar material e espiritual, muitos israelitas partiram para a terra do Faraó. Passado o tempo desde a morte de José, os descendentes dos imigrantes passaram a ser escravizados e sua opressão só se encerrou quando o Profeta Moisés os guiou de volta para sua terra.
Após o Profeta Davi estabelecer seu reino em Jerusalém, ele foi sucedido por seu filho, o Profeta Salomão, que foi quem de fato reconstruiu o templo e deu início à narrativa contida no livro dos judeus e cristãos. Após este período, os israelitas ainda foram expulsos de sua terra pelos babilônios e só puderam retornar por intermédio dos persas. A posse daquele reino, no entanto, mudaria diversas vezes e, com isso, a al-Aqsa passou por muitas demolições.
O Islam, por ser uma religião que aperfeiçoou e concluiu todas as religiões que Deus havia entregue aos homens, também assumiu a verdade e importância do legado de todos os profetas. Deste modo, toda a grandeza com a qual Deus honrou Jerusalém é reconhecida por Allah e Seu Profeta.
A cidade se torna ainda mais especial devido ao fato de ser palco de um dos maiores milagres da história islâmica, a viagem noturna e ascensão do Profeta Muhammad (Isra e Miraj). Este evento aconteceu em uma noite em que o Profeta Muhammad dormia próximo à Caaba e foi acordado pelo Anjo Gabriel, que o levou até um burro com asas chamado buraq, que o levou até Jerusalém em uma noite, sendo que a viagem normal naquela época demorava cerca de 40 dias.
Em Jerusalém, o Profeta Muhammad se reuniu com todos os profetas predecessores na mesquita al-Aqsa e guiou todos eles em oração e, após isso, o Mensageiro de Allah subiu pelos céus, onde chegou ao limite da criação e falou diretamente com Deus. Este evento foi descrito no Alcorão de maneira especialmente honrosa.
Glorificado seja Aquele que, durante a noite, transportou o Seu servo, tirando-o da Sagrada Mesquita (em Meca) e levando-o à Mesquita de al-Aqsa (em Jerusalém), cujo recinto bendizemos, para mostrar a ele alguns dos Nossos sinais. Sabei que Ele é o Oniouvinte, o Onividente. (Alcorão 17:1)
Uma das práticas islâmicas mais conhecidas pelo mundo afora são as cinco orações diárias que são feitas em direção à Meca, porém, no início da revelação do Alcorão, Deus havia determinado Jerusalém como qibla, isto é, a referência para as rezas dos muçulmanos.
A direção da oração mudou após a migração dos muçulmanos de Meca para Medina. Na nova cidade, havia muitos judeus que oravam voltados para Jerusalém e ficaram muito incomodados em dividir esta direção com os muçulmanos. Por causa disso, começaram a descredibilizar o Profeta Muhammad e o Islam, dizendo que eles afirmavam ter uma religião cujas leis substituem as anteriores, mas rezavam diante da qibla dos judeus.
Neste contexto, Deus revelou uma passagem do Alcorão que mudava a qibla de Jerusalém para Meca: Vimos-te (ó Mensageiro) orientar o rosto para o céu; portanto, orientar-te-emos até uma qibla que te satisfaça. Orienta teu rosto (ao cumprires a oração) para a Sagrada Mesquita (de Meca)! E vós (crentes), onde quer que vos encontreis, orientai vossos rostos até ela. Aqueles que receberam o Livro, bem sabem que isto é a verdade de seu Senhor; e Allah não está desatento a quanto fazem. (Alcorão 2:144)
Isso durou algum tempo e há, inclusive, uma mesquita na cidade de Medina construída durante o período de vida do Profeta Muhammad que tinha sua qibla voltada para Jerusalém e, pouco tempo depois, os muçulmanos mudaram esta referência para a cidade de Meca. Por causa disso, este templo ficou conhecido como al-Qiblatain.
Mesquita Quiblatain (Foto: Wikipedia)
Deus estabeleceu Jerusalém como qibla sabendo das acusações que os muçulmanos sofreriam dos judeus, mas fez isso como forma de testar quem eram os verdadeiros fiéis: Nós não estabelecemos a qibla que tu (ó Mohammad) seguias, senão para distinguir aqueles que seguem o Mensageiro, daqueles que desertam, ainda que tal mudança seja penosa, salvo para os que Allah orienta. E Allah jamais anularia a vossa obra, porque é Compassivo e Misericordiosíssimo para com a humanidade. (Alcorão 2:143)
Em 637, poucos anos após a morte do Profeta Muhammad, seu nobre companheiro Omar ibn al-Khattab era o então califa dos muçulmanos e liderou um exército de 40 mil homens na conquista de Jerusalém contra o Império Romano.
Quando adentrou na cidade sagrada, viu que o local do antigo templo havia se transformado em um terreno estéril que os romanos usavam como um depósito de lixo. Omar ordenou que o local fosse limpado e que se estabelecesse novamente uma mesquita no local.
Em 692, Abdal Malik ibn Marwan estabeleceu a segunda mesquita no complexo da al-Aqsa conhecido como Bait al-Maqdis, a famosa mesquita do Domo da Rocha, que muitos estudiosos muçulmanos acreditam que está construída no exato local onde o Profeta Muhammad embarcou em sua viagem pelos céus.
No ano de 1099, Jerusalém foi conquistada pelos cristãos cruzados e milhares de muçulmanos perderam as vidas neste período, pois os invasores se recusaram a manter prisioneiros. A al-Aqsa foi transformada em um palácio e o Domo da Rocha em uma igreja, e só foram recuperados em 1187, quando Saladino conquistou a cidade.
Durante oito séculos seguintes após a conquista, Jerusalém foi uma cidade de convivência religiosa entre judeus, cristãos e muçulmanos e a mesquita al-Aqsa foi um importante centro de adoração e de estudos, estudiosos vinham de várias partes do mundo para aprender e ensinar no templo.
Foto: Maxpexell
No início do século XX, o território palestino era governado pelo Império Otomano, que é reconhecido como o último califado islâmico da história. A tradição de buscar uma boa convivência religiosa e de manter o legado intelectual dos centros religiosos foi mantida até 1917, quando os britânicos entraram no território e o dominaram.
Na época que os britânicos dominaram a Palestina, 90% da população do país era árabe e havia apenas cerca de 56 mil judeus, sendo que 5% deles eram nativos da região e sua maioria havia migrado para a região justamente para fugir da perseguição que sofriam em países europeus.
Em 1947, os judeus tinham 6% de terras na Palestina e, por isso, os palestinos nativos rejeitaram a proposta da Assembleia Geral da ONU, que na ocasião propôs entregar 54% das terras para Israel. Isso deu início a uma guerra no ano seguinte, em que Israel dominou 85% de Jerusalém, enquanto a Liga Árabe Jordaniana assumiu o controle da Cisjordânia e de 11% da parte oriental de Jerusalém, incluindo a mesquita al-Aqsa.
Em 1967, após uma nova guerra, Israel ocupou a parte oriental de Jerusalém e ocupou a al-Aqsa, porém, após vários protestos, os israelenses devolveram o templo ao controle dos muçulmanos. Após este evento, uma lei foi aprovada proibindo que judeus e turistas orassem na mesquita. Eles também deveriam entrar no local somente pelo portão do magrebe.
Em 1969, um extremista judeu incendiou o mimbar da mesquita al-Aqsa, construído durante o reinado de Saladino, que demorou 20 anos para ser reparado. Em 1987, quatro palestinos foram mortos em um posto de controle em Gaza, o que deu início à primeira intifada, o movimento pela libertação da Palestina e da mesquita.
Em 2000, o primeiro-ministro israelense Ariel Sharon marchou sobre a al-Aqsa cercado por 1000 soldados, dando início à segunda intifada. Nesta ocasião, diversas proibições foram impostas aos muçulmanos e, até hoje, homens entre 18 e 50 não podem orar em determinados horários.
Em 2013, um projeto de lei foi proposto em Israel para que se permitisse a entrada de judeus para orar no local. Forças de segurança israelenses estão permanentemente no local e frequentemente os extremistas sionistas causam danos à construção. Entre os palestinos, é grande o temor de que os ultra-nacionalistas israelenses consigam demolir a mesquita e construam no local um templo judaico.
A cidade de Jerusalém e, mais especificamente, a mesquita de al-Aqsa, são importantes para o Islam desde o primórdio da revelação até os dias atuais. Embora hoje ela se destaque por sua importância política e cultural, a raiz de sua grandeza consiste no fato de que Deus estabeleceu ali o segundo templo construído no mundo, depois somente da Caaba.
Nas fontes islâmicas, é dito que a mesquita al-Aqsa pode ter sido construído por Adão ou Abraão, mas era um local antigo de adoração, muito anterior ao nascimento do Profeta Salomão, que é referido nas história judaica e cristã como o construtor do templo de Jerusalém.
Jerusalém, depois das cidades de Meca e Medina, ambas na Arábia Saudita, é considerada a cidade mais sagrada do Islam. O local, além de carregar o legado de vários profetas anteriores, também foi palco de um evento milagroso durante a vida do Profeta Muhammad, que foi a viagem noturna e ascensão do Profeta Muhammad, em que ele viajou da Caaba até a al-Aqsa junto com o Anjo Gabriel e, em seguida, subiu aos céus e falou diretamente com Deus.
Depois da morte do Profeta Muhammad, a cidade foi conquistada pelos muçulmanos e, durante muito tempo, ela foi um local de boa convivência religiosa e de propagação de conhecimento. A importância da cidade e da mesquita repercutem na influência cultural e política do povo palestino, que luta até os dias atuais pela liberação de sua terra da ocupação israelense.
https://www.visitmasjidalaqsa.com/islamic-history-of-al-masjid-al-aqsa/
https://www.visitmasjidalaqsa.com/hadith-on-masjid-al-aqsa/
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