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Em meio à quarentena, Muçulmanos se preparam para o Ramadan 2020

Muçulmanos convertidos falam de suas expectativas para o mês sagrado deste ano, e acreditam que a pandemia do coronavírus trará novos aprendizados.
  • Em 2020, o Ramadan deve começar entre os dias 23 e 24 de abril.
  • O jejum é uma oportunidade para que os muçulmanos convertidos possam adquirir novos conhecimentos.
  • A crise causada pelo coronavírus promete novos desafios para o Mês Sagrado este ano.
  • Além de se abster de comida, bebidas e relações íntimas, os muçulmanos podem adotar outras práticas para ter um Ramadan mais proveitoso.

Os muçulmanos em todo mundo estão aguardando ansiosamente pelo início do Ramadan deste ano. O mês sagrado islâmico está previsto para começar somente entre os dias 23 e 24 de abril, mas muitos fiéis já estão se preparando para poder jejuar e, principalmente, para evoluírem espiritualmente neste período tão especial.

Nesta época, os muçulmanos se abstêm não só de alimentos, mas também de bebidas, inclusive a água, e de relações íntimas. Além disso, também se esforçam para evitar maus comportamentos. A duração do jejum é desde o período da alvorada até o pôr do sol, podendo ocorrer entre 29 e 30 dias. 

Em 2020, a pandemia do coronavírus promete mudar alguns hábitos do jejum dos muçulmanos que, por causa do surto da doença, estão sendo obrigados a se manter distante das orações congregacionais nas mesquitas. No entanto, nem mesmo isso contém o entusiasmo dos crentes por este período do ano, que é tão especial. 

Aperfeiçoando a Fé

Os ensinamentos deixados pelo Profeta Muhammad incentivam que os muçulmanos façam do Ramadan mais do que um mês sem comer e beber: é um mês de aprendizado e, acima de tudo, de cumprir a vontade de Deus. É com base nesses exemplos que os adeptos do Islam se esforçam para praticar sua fé com uma intensidade maior neste mês.

Lucas Coltri, 28, é um desses fiéis. Em 2013, ele se converteu no primeiro dia do Ramadan. No entanto, alguns princípios da religião ainda não estavam muito claros mas, de acordo com ele, cada mês sagrado é uma grande carga de aprendizado. 

“A ideia é que, a cada mês de Ramadan, a gente aplique todo o aprendizado no restante do ano e, a cada ano, eu sinto que estou conseguindo me manter nessa crescente, pois sempre há algo novo a aprender”, afirma.

Segundo ele, o mês sagrado também é diferente dos demais e é uma oportunidade única de aprendizado para o muçulmano.

“A dedicação ao mês de Ramadan é muito diferente do restante do ano: no Ramadan, a gente fica mais atento a coisas que durante o ano acabamos não percebendo, a reflexão sobre cada atitude diária é bem mais cautelosa e específica”.

O primeiro Ramadan

No Brasil, é comum a chegada de novos fiéis nas comunidades islâmicas. Este ano, uma delas foi Alice de Araújo, 26. Ela começou a ter contato com o Islam em meados do ano passado, após participar de cerimônias de recordações de Deus (Zikr) junto com seu marido, que já era muçulmano. 

“Um motivo foi especialmente importante para mim: eu perdi meu filho há um ano e meio e, desde então, sentia um enorme buraco no coração (…). Então, meu marido me convidou para ir fazer o zikr e eu fui. Lembro que o primeiro dia foi um pouco difícil porque eu não sabia ler a transliteração em árabe, mas mesmo assim eu senti muita paz. Por isso, eu quis voltar e comecei a ir semanalmente. E percebi que essa paz começou a durar cada vez mais tempo. Eu encontrei no Islam tudo o que eu precisava para elaborar melhor o luto do meu filho”.

Com a fé renovada, ela teve entusiasmo para cumprir a rotina diária de oração, aprender sobre a nova crença e também para fazer o jejum do meio de Shaban. Agora, sua expectativa é de que todas essas práticas sirvam de inspiração e aprendizado para o mês mais importante do calendário islâmico.

“Acho que a gente deve mesmo fazer alguns sacrifícios em nome da nossa fé porque isso deixa ela sempre mais forte”, comenta. “Eu nunca tinha feito jejum por motivos espirituais. E acho que é uma prática muito importante por vários motivos, como dar o devido valor à comida. Além disso, quando sinto fome durante o jejum, eu me lembro do motivo que me faz praticá-lo e isso me faz sentir mais próxima do que eu acredito, como a oração também me faz sentir”, concluiu. 

Jejum em tempos de Pandemia

Entre os inúmeros valores espirituais que o Ramadan reforça, este ano um desafio novo será proposto devido ao surto do coronavírus. O isolamento trouxe brigas nos supermercados por causa de produtos, ameaça de crise financeira e afastamento dos muçulmanos das orações nas mesquitas. 

Diante de situações como essa, uma nova razão para se amparar em Allah e se reconectar com os princípios islâmicos será dada aos muçulmanos. “A gente nunca deve se desesperar por nada. Essa época é justamente a que mais recordamos que o rizk (sustento) vem unicamente de Allah. Em tempos de crise, as pessoas potencializam o que há em seus íntimos tanto para o bem quanto para o mal e, assim, a gente coloca nossa paciência à prova”, afirma Lucas Coltri.

Além disso, o surto da doença COVID-19 é um lembrete para os muçulmanos não deixarem de tomar cuidados com a saúde. Afinal, algumas precauções, em especial a higiene, também fazem parte da fé islâmica.

“Desde que a quarentena começou, eu estou seguindo todas as orientações da OMS e quando o Ramadan começar não vai ser diferente. Então, seguirei dentro de casa, diminuindo as chances de pegar coronavírus, Influenza e quaisquer outras doenças. Acredito que a dedicação à fé é importante por vários motivos, dentre eles, o cuidado com a saúde mental. Por isso, farei o jejum durante o dia e, durante a noite, quando eu puder comer e beber, vou manter uma dieta equilibrada e uma hidratação adequada. Assim, eu vou favorecer a minha imunidade e me manter o mais segura possível”, conta Alice.

Como aproveitar o Mês Sagrado

O muçulmano que tem uma boa intenção para o Ramadan, como aproximar-se de Deus, aprender sobre a religião, ser uma pessoa menos egoísta e mais generosa, possui muitas condições de ter um mês sagrado proveitoso. O momento é ótimo para fazer um jejum não somente de comida, mas também de pecados, inclusive aqueles que passam despercebidos, como a procrastinação, a preguiça e o desleixo, especialmente com assuntos que envolvem a religião.

Leia um Juz do Alcorão por dia, leia um Tafseer, faça cursos sobre assuntos que envolvem a religião ou ao menos aproveite para aprender algum assunto sobre o Islam sobre o qual ainda não possui domínio. É importante se lembrar de que o aprendizado é parte fundamental da espiritualidade – não é por acaso que o primeiro mandamento que o Profeta Muhammad recebeu quando encontrou o Anjo Gabriel foi: “leia”.

Evite perder muito tempo assistindo televisão (de assuntos não-religiosos), navegando em redes sociais e jogando videogames a fim de que o tempo de jejum passe mais rápido. Evite fofocas, brigas, intrigas, e também conversar com pessoas encrenqueiras. O Profeta Muhammad orientou aos muçulmanos que, se alguém o provocar neste período no ano, a resposta deve ser curta e direta: “estou de jejum”.

Ao fazer as orações, busque ter concentração e recitar o Alcorão com entendimento do que está sendo dito. Além de comprometimento em aprofundar-se nos valores religiosos, é muito importante ter moderação ao se alimentar e, principalmente, evitar desperdício na hora de comer. Afinal, é incoerente jogar fora os alimentos quando há tantas pessoas passando fome, e isso não está de acordo com o espírito do Ramadan.

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