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Hajj: A peregrinação à Meca que os muçulmanos realizam

O Hajj é a peregrinação que todo muçulmano deve fazer pelo menos uma vez na vida à cidade de Meca. Saiba como é feito e quais são seus significados.
  • O Hajj é uma peregrinação que os muçulmanos fazem à cidade de Meca e é obrigatória para todos que têm condições físicas e financeiras de realizá-lo.
  • Todos os rituais da peregrinação foram instituídos por Deus através do Profeta Abraão.
  • Durante o Hajj, o muçulmano deve realizar vários rituais que o conectam com o Dia do Juízo Final.
  • A peregrinação purifica todos os pecados e dá uma vida nova àquele que a realiza com devoção e sinceridade.

O Hajj é a grande peregrinação que os muçulmanos devem fazer à cidade de Meca. É obrigatório para todos os fiéis que possuem recursos físicos e financeiros para realizarem-no e é considerado um dos Cinco pilares do Islam, ao lado do testemunho de fé (shahada), da oração (salat), da caridade obrigatória (zakat) e do jejum do mês sagrado do Ramadan (sawm).

Ele deve ser feito durante o mês lunar de Zul Hijjah (que não corresponde a nenhum mês do calendário gregoriano) e a realização dos rituais pode durar entre 5 e 6 dias. O Hajj não pode ser feito fora do período estipulado, pois toda peregrinação fora deste prazo é considerada uma peregrinação menor (Umrah) que, embora tenha muitos méritos, não substitui o ritual obrigatório.

As origens do Hajj estão ligadas ao Profeta Abraão e ao seu filho, o Profeta Ismael, que ergueram a Caaba, um templo de adoração ao Deus único, em meio a um deserto árido, o que a consagrou como local de peregrinação. Durante muitos anos, os pagãos que viviam em Meca transfomaram a cidade em um local de culto ao politeísmo, mas ela recuperou seu sentido original quando o Profeta Muhammad e seus companheiros conquistaram-na e estabeleceram o Islam.

Preparando-se para a peregrinação

Ao iniciar a peregrinação, o fiel deve fazer a intenção de realizá-la. Quando ele parte para a peregrinação, entra em estado de inviolabilidade (ihram), o que significa que não é permitido machucar nenhum animal ou inseto, usar linguagem suja, impaciência ou qualquer outro tipo de comportamento que seja contrário à pureza sagrada de Meca. Para isto, o peregrino deve, antes de tudo, tomar um banho ritual (ghusl) para se purificar.

Ao ir para o Hajj, os homens devem vestir dois tecidos: um sobre os ombros e outro cobrindo a parte inferior do corpo. As mulheres devem se vestir modestamente, seguindo os preceitos da religião, mantendo o rosto descoberto e usando roupas brancas ou pretas.

Vestindo-se desta maneira, os muçulmanos se colocam em condições de igualdade, de forma que não há distinção entre pessoas ricas e pobres – todas estão unidas e igualadas materialmente e espiritualmente diante de Deus.

Enquanto seguem para Meca, os peregrinos devem pronunciar repetidamente a Talbiyah, que é a Resposta do Convocado, em que devem dizer: “Aqui estou, Ó Deus, a Teu serviço! Aqui estou a Teu serviço! Aqui estou a Teu serviço! Tu não tens parceiros! Aqui estou a Teu serviço! Certamente, a Ti pertence todo o louvor e toda a graça, assim como todo o domínio. Tu não tens parceiros!”

Talbiyah sendo pronunciada em árabe.

Etapas da peregrinação

Caaba, a Casa Sagrada erguida pelo Profeta Abraão Foto (Foto: Wikipedia)

No oitavo dia do mês, iniciam-se os rituais da peregrinação, sendo que o primeiro deles é a Tawaf, quando o peregrino deve circundar a Caaba sete vezes no sentido anti-horário. Em seguida, os muçulmanos devem realizar o Sai, no qual se deve percorrer por sete vezes a distância entre as colinas de Safa e Marwah. Ali, eles bebem a água de Zamzam, que brota de uma fonte entre os dois montes. 

O momento mais importante da peregrinação ocorre no décimo dia, que é chamado de Dia de Arafah por causa do monte com o mesmo nome que fica nos arredores de Meca. Os peregrinos se dirigem até lá e ficam de pé sobre local, vislumbrando a cena do Juízo Final e implorando por misericórdia. Todo muçulmano que se arrepender com sinceridade de seus pecados será perdoado por Deus. Neste momento, é como se uma nova vida começasse.

Em seguida, os peregrinos vão até o vale Muzdalifah, onde ficam em vigília, recolhem pedras no chão e levam-nas para o vale de Mina, e atiram-nas sete vezes contra o maior dos três pilares do apedrejamento, que são grandes estruturas de pedra que representam o demônio. Este ritual é chamado de Ramy al Jamarat.

Depois disso, ocorre a festa do sacrifício que é chamada de Eid al Adha. Neste dia, os peregrinos sacrificam um carneiro, ou animal semelhante, e os homens raspam o próprio cabelo, enquanto as mulheres apenas cortam parte dele. Este ato marca o fim do estado de inviolabilidade. No entanto, os peregrinos devem continuar atirando pedras contra os pilares por mais dois dias.

O último evento é a circundamento de despedida em torno da Caaba que, assim como na chegada, deve ser feito sete vezes em sentido anti-horário e, após isso, o Hajj chega ao seu fim.

Roteiro

  1. 8 de Zul Hijjah – Tawaf e Sai.
  2. 9 de Zul Hijjah – Arafat e Muzdalifah.
  3. 10 de Zul Hijjah – Ramy al Jamarat, Eid al Adha e corte dos cabelos.
  4. 11 de Zul Hijjah – Ramy al-Jamarat.
  5. 12 de Zul Hijjah – Ramy al-Jamarat, saída de Mina e retorno a Meca.
  6. 13 de Zul Hijjah – Tawaf de despedida.

Medina

A visita à cidade de Medina não é parte do Hajj. No entanto, muita pessoas aproveitam a oportunidade para ir até o local onde está a Mesquita do Profeta, entre outros lugares de grande importância para a religião islâmica. Afinal, esta é uma oportunidade única para milhares de pessoas.

Simbologia

Peregrinos realizando o Sai aos pés do Monte Safa. (Foto: Wikipédia)

Todos os atos realizados na peregrinação estão ligados ao Profeta Abraão e ao Profeta Ismael. Além da Casa Sagrada que eles ergueram juntos, o chamado de Deus, ao qual os muçulmanos respondem antes da peregrinação, veio através do Profeta Abraão, que também instituiu a circundução em torno da Caaba.

Quando os fiéis percorrem as colinas de Safa e Marwah, eles repetem um gesto feito pela senhora Agar, mãe do Profeta Ismael. Deus, como um teste de fé, pediu para que o Profeta Abraão deixasse seu filho e a mãe dele em um vale árido de Meca. Desesperada pela falta de água, ela percorreu o vale entre os dois montes por sete vezes, até que Allah fez com que uma fonte saísse sob os pés da criança. 

Esta fonte milagrosa são as águas de Zamzam, da qual os fiéis bebem e pedem a Deus por bênçãos e curas de doenças. Este ritual também simboliza dois aspectos importantes que os muçulmanos devem ter com Allah: temor pela justiça divina e esperança por misericórdia

Tanto a coletagem das pedras em Muzdalifah, quanto o ato de atirá-las nos pilares de apedrejamento e a festa do Eid al Adha estão ligados ao momento em que Deus ordenou a Abraão que imolasse seu filho Ismael em sinal de obediência. Neste momento, o demônio tentou o pai incentivando-o à desobediência, dizendo que ele deveria proteger sua família. No entanto, o Profeta rebelou-se atirando pedras contra satanás em três pontos, que atualmente são representados pelas estruturas de pedra.

Por fim, no momento em que Abraão iria executar a imolação, ficou atestado que o Profeta iria obedecer a ordem divina, mesmo sentindo-se angustiado. Deus, para compensá-lo, substituiu Ismael por um carneiro, que foi abatido em seu lugar.

Obrigatoriedade e importância

O Hajj é um ato obrigatório para todo muçulmano adulto que tiver recursos financeiros e capacidade física para realizá-lo. Isto significa que, se o sustento de sua família não for afetado e ele não tiver nenhuma doença incurável ou não tiver uma idade avançada que dificulte a locomoção, deve fazer o Hajj o mais rápido possível.

Mesmo que o muçulmano não tenha nenhuma condição, ele deve ter a intenção de algum dia poder fazer o Hajj. Se algum dia ele tiver as condições para isto, e não houver nenhum imprevisto que atrapalhe seus planos, é considerado pecaminoso que ele não faça a grande peregrinação.

A peregrinação é para que os muçulmanos pratiquem a obediência a Deus e se lembrem do Dia do Juízo Final. O Profeta Muhammad diz que quem conclui o Hajj se renova espiritualmente e se purifica dos seus pecados cometidos anteriormente.

Narrado por Abu Huraira: “O Profeta disse: ‘Quem executou o Hajj para o prazer de Allah e não tem relações sexuais com sua esposa, e não pratica mal ou pecados, então ele retorna (depois de Hajj, livre de todos os pecados) como se tivesse nascido de novo.'” (Sahih al Bukhari)

Hajj Badal

Peregrino com trajes próprios do Hajj. (Foto: Pixabay)

Por ser uma obrigação que nem todos podem cumprir, é muito comum que os muçulmanos enviem outras pessoas na peregrinação em seu lugar. Esta prática é chamada de Hajj Badal. É um recurso para as pessoas idosas, doentes ou até mesmo aqueles que já faleceram e não puderam quitar suas dívidas com Deus.

Esta prática é feita com base em alguns relatos do Profeta Muhammad, que descrevem quais situações ela é oportuna.

“Minha mãe prometeu ir ao Hajj, mas morreu antes de fazê-lo. Posso executar o Hajj em nome dela?” O Profeta respondeu: “Sim, faça o Hajj em nome dela. Você não acha que se sua mãe tivesse uma dívida, você pagaria por ela? Cumpra sua dívida com Allah; pois Allah é mais merecedor de receber aquilo que é devido.” (Sahih al Bukhari)

“al Fadhl estava andando atrás do Mensageiro de Allah e uma mulher da tribo de Khatham veio, e al Fadhl começou a olhá-la e ela começou a olhá-lo. O Profeta virou o rosto de al Fadhl para o outro lado. A mulher disse: “Ó Mensageiro de Allah! A obrigação do Hajj exigida por Allah a Seus adoradores tornou-se devida pelo meu pai, e ele é velho e fraco, e ele não pode permanecer firme no monte; posso executar o Hajj em seu nome?” O Profeta respondeu: “Sim, você pode.”

No Hajj Badal, é necessário que o peregrino tenha autorização da pessoa que ela irá representar. Quem fizer a peregrinação deve intencionar que estará fazendo por alguém incapaz e, durante a peregrinação, tudo que for feito será em benefício daqueles que não puderam cumprir a obrigação.

Por ser uma obrigação estabelecida por Deus aos muçulmanos, o Hajj Badal não pode ser feito em nome de uma pessoa que não seja adepta do Islam ou que tenha as condições necessárias para fazer a peregrinação.

Semelhanças e diferenças entre Hajj e Umrah

A Umrah é um ritual que pode ser feito em qualquer período do ano. Não é considerada obrigatória, embora seja altamente recomendável. Para realizá-la, o muçulmano também deve estar em estado de inviolabilidade, que é feito da mesma maneira da peregrinação maior.

Para concluí-la, o muçulmano deve realizar a circundução em torno da Caaba, o Sai entre os montes Safa e Mawrah e o corte de cabelo ao final da peregrinação. Por ter um número menor de etapas, a Umrah pode ser cumprida em poucas horas, ao contrário da peregrinação maior, que dura vários dias. 

A peregrinação menor não está entre os cinco pilares do Islam, como é o caso do Hajj. Ambos os rituais só podem ser feitos por muçulmanos, e a entrada de pessoas de outras crenças no perímetro sagrado de Meca (que não se estende por toda a cidade) é considerada ilegal, além de ser altamente desrespeitosa.

Conclusão

O Hajj é a peregrinação obrigatória que os muçulmanos devem fazer à cidade de Meca. Quem possui condições físicas e financeiras devem, obrigatoriamente, realizá-la pelo menos uma vez na vida, e aqueles que não têm devem manter a intenção de poder fazê-la algum dia.

A peregrinação consiste em 5 ou 6 dias de ritual, no qual o muçulmano deve realizar alguns atos que foram instituídos por Deus através do Profeta Abraão. Esses atos servem para que o fiel se submeta a Deus e clame por Sua misericórdia no Dia do Juízo Final. Após o Hajj, o peregrino que fizer os atos de adoração com sinceridade e devoção será perdoado de todos os pecados.

Pessoas que não puderem fazer o Hajj por terem uma idade avançada, doença incurável ou até as que faleceram antes de poder ir à Meca podem ter a sua dívida paga através de outra pessoa que for capaz de fazer a peregrinação e fizer a intenção de representá-las. Esta prática é conhecida como Hajj Badal e foi detalhada pelo Profeta Muhammad em seus relatos de vida.

O Hajj possui um período específico do ano no qual deve ser feito. Fora deste prazo, os fiéis podem realizar apenas a Umrah, a peregrinação menor, que não é obrigatória, não possui os mesmos méritos mas, ainda assim, é altamente recomendada. As duas peregrinações possuem algumas diferenças no número de rituais que devem ser feitos em cada uma e ambas só podem ser feitas por muçulmanos.

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