No Brasil, há poucos seguidores do Islam, o que faz com que os materiais sobre o assunto sejam escassos. Ao mesmo tempo, muitos fatos que ocorrem no mundo despertam curiosidade e fazem as pessoas se perguntarem: “Que religião e essa?”. Na última década, a consolidação das redes sociais como meio de comunicação levou ao surgimento dos influencers, os formadores de opinião dentro do meio virtual, e entre eles havia muçulmanos falando sobre sua fé.
Essas iniciativas fizeram com que a história da religião e seus fundamentos se tornassem mais conhecidos e respeitados entre o grande público, que finalmente pôde perceber que o Islam é uma tradição milenar que não é definida por alguns fatos negativos e que seu legado contribui até hoje para o equilíbrio e desenvolvimento da humanidade.
Mansur Peixoto converteu-se ao Islam ainda na pré-adolescência. Seu imenso interesse por história o guiou em uma busca constante por aprofundamento no assunto e, graças ao conhecimento adquirido, ele se motivou a criar a página História Islâmica, no Facebook, no ano de 2013, com foco amplo nos episódios e personagens que marcaram a religião em diversos períodos e locais.
Atualmente, a página é o principal portal sobre o Islam em língua portuguesa, conta com mais de 100.000 seguidores no Facebook e não trata apenas sobre fatos relacionados à história, mas também sobre alguns fundamentos da religião e opinião. Além do conteúdo vasto e didático, a linguagem também muitas vezes é acessível para facilitar o entendimento de assuntos complexos para o grande público, o que possibilitou que muitas pessoas aprendessem sobre a religião.
“É um trabalho de anos, no sentido literal da palavra. O História Islâmica não se construiu em um dia e a página e suas perspectivas evoluíram junto comigo. E sim, foi um grande desafio, pois afinal, é uma página simplesmente orgânica. E o público também padece dos mesmos desafios”, afirma Mansur.
Graças ao sucesso da página, hoje o conhecimento que ela promove está além das próprias fronteiras, sendo importante para a criação de conteúdos didáticos por todo o Brasil. "Todos os dias, professores do Brasil inteiro me procuram não só para agradecer pelo material produzido como também para produzir junto com eles”, conta o administrador.
Os muçulmanos também começaram a ocupar espaços na política. No Movimento Brasil Livre (MBL), um dos membros de grande destaque é o professor salvadorense Ricardo Almeida que, além de ser ativista, produz conteúdo nos canais do grupo falando sobre política e também comenta assuntos religiosos.
“As pessoas são muito sequiosas de estudar esses dois assuntos - religião e política - e de ver a relação que essas coisas têm”, comenta Ricardo.”
Ricardo orientou muito de seus pensamentos por autores conservadores e tradicionalistas. Alguns deles, inclusive, foram muçulmanos como Guénon e Schuon. Isso o motivou a estudar filosofia na UFBA, onde teve contato com outros conservadores que o convidaram a participar de protestos contra o governo da então presidente Dilma Rousseff. Essas manifestações motivaram o MBL a criar um núcleo em Salvador, do qual ele se tornou coordenador.
Hoje, Ricardo faz parte do núcleo nacional do MBL, em São Paulo, onde também produz aulas para os canais do grupo na web. Apesar da enorme repercussão de seus vídeos, o professor não se considera um criador de conteúdo para a web e diz que se preocupa muito mais com o conteúdo do que com os formatos para a internet.
“Muita gente passa ter uma imagem positiva do Islam ao me ver fazendo as coisas porque, às vezes, a pessoa tem uma imagem caricata de que o muçulmano é um sujeito esquisito, muito puritano, que não gosta de ninguém e é hostil, mas aí ao ver uma pessoa normal, brincando e produzindo conteúdo falando de liberalismo ela pensa: ‘pô, os muçulmanos não são tão esquisitos quanto eu pensava’”, completou.
Por ser um assunto pouco comum, o Islam ainda é alvo de muita ignorância no Brasil. Mas, de acordo com Mansur Peixoto, o trabalho da página facilitou o acesso à informação e melhorou a qualidade do debate. “Temas islâmicos hoje, após a página, são abordados com mais propriedade, e não só isso, as inverdades sobre a religião e sua história são prontamente rebatidas em posts”, afirmou.
O administrador do canal História Islâmica acredita que adaptar o discurso da página para combater a ignorância não é a parte mais difícil do trabalho. “Sempre há novas formas de se reinventar neste sentido, porém, crescer nas redes, com seus algoritmos complexos, é sempre uma dificuldade'', concluiu.
Ricardo acredita que, embora a internet seja um ambiente em que há muita histeria, também é um bom espaço para se falar sobre o Islam. “Eu sei de várias pessoas que se converteram através disso”, relata. “A internet também é um espaço muito importante para as disputas que os muçulmanos têm que fazer e eu acho que eles (muçulmanos que estão produzindo conteúdo) são muito importantes.”
O professor de filosofia também aponta que deve haver um grande trabalho fora das redes para atrair pessoas. “O principal desafio que o Islam tem no Brasil é se estabelecer de fato. Eu acho que a religião aqui ainda é uma religião de poucos convertidos, quando vou na mesquita eu vejo isso. Você vê muitos africanos e árabes, gente que etnicamente recebeu a religião há muito tempo”, afirma.
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