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Redes sociais deletam postagens de muçulmanos sobre a Palestina

  • No Facebook e no Instagram, houve relatos de usuários que tiveram publicações censuradas e restringidas pelo apoio à causa da Palestina.
  • As restrições afetaram negócios e também a disseminação de informações sobre o conflito.
  • O Facebook pediu desculpas pela censura e recuperou algumas publicações que haviam sido excluídas.

Durante os conflitos entre Israel e Palestina no mês de maio de 2021, muitas pessoas se engajaram novamente nas campanhas que pedem o fim da ocupação israelense e a libertação do território palestino. Embora tenham sido registrados vários protestos ao redor do mundo, foi na internet que as mobilizações tiveram a sua maior proporção.

As principais redes sociais tiveram diferentes tipos de mobilização, como hashtags, fotos de perfil em solidariedade aos palestinos e uma ampla divulgação de conteúdo. No entanto, essas manifestações sofreram censura por parte da administração das redes. 

Diversos produtores de conteúdo e digital influencers relataram uma queda no alcance de suas publicações, simplesmente porque denunciaram as violências praticadas pelo exército israelense. Os casos que tiveram a maior repercussão no Brasil foram o da educadora e palestrante Carima Orra e o da influencer Mariam Chami, que chegou a relatar que o Instagram haveria excluído stories em que falava sobre o conflito

Algoritmo ou retaliação?

Elizabete Reis é muçulmana e consultora de imagem e estilo. Ela usa o Instagram como uma ferramenta de divulgação de trabalho e como forma de produzir conteúdo relevante para o seu negócio. Ela teve uma postagem cujo alcance foi restringido pelo Instagram mas, no conteúdo do post, não havia nenhum assunto relacionado à guerra.

Na postagem de Elizabete, aparece uma mão em um fundo vermelho perguntando ao público como cada muçulmana defende suas causas. O que parecia ser uma postagem inofensiva foi visto pelo Instagram como um problema e a postagem teve um engajamento muito abaixo do que a consultora costuma ter.

https://www.instagram.com/p/CO7-7PUNyQD/?utm_source=ig_web_button_share_sheet

“Este post só engajou depois que eu pedi para a minha audiência conferir. Ainda assim, nem todos receberam a notificação dele”, afirma Elizabete. “Eu já esperava este resultado (...) foi um teste que fiz. O Instagram, especificamente, tem trabalhado em atualizações constantes, o que mexe com o alcance, o engajamento e o algoritmo.” 

Mas não foi só o Instagram que restringiu o alcance das publicações. O Facebook também puniu seus criadores de conteúdo por denunciarem as agressões israelenses. A página História Islâmica fez várias postagens divulgando informações que contextualizam o conflito entre os dois países do Oriente Médio e o resultado não foi diferente.

“Quando começamos a falar da Palestina, e não só falar da Palestina, a criticar Israel, imediatamente nossos posts caíram de acessos, engajamento e interações. Foi algo automático. Vimos muitos influencers reclamando disso mundialmente. Alguns simplesmente abandonaram o assunto para não serem mais penalizados pela plataforma”, contou Victor Peixoto, administrador da página História Islâmica.

Victor Peixoto, responsável pela página História Islâmica.

As postagens eram uma forma de propor uma reflexão sobre o conflito e ajudar quem não conhece bem a história da disputa entre os dois países. “Posts no Facebook não criarão uma redoma de ferro sobre a Faixa de Gaza. Porém, ajudam a conscientizar as pessoas sobre a crueldade de governos assassinos, que são perdoados pelas Nações Unidas, mas não o podem ser por nós. Somos humanos, precisamos estar com os corações ligados.”

Uma agressão aos direitos

As redes sociais muitas vezes estão intimamente ligadas ao trabalho das pessoas e reduzir o alcance muitas vezes prejudica o negócio delas, além de limitar o direito de se expressarem.

“Mark Zuckemberg não acorda de manhã e escreve sobre como Ibn Sina ensinou medicina ao Ocidente. Sou eu que o faço e, através disso, mantenho pessoas acessando a rede social e gerando milhões para ele. Gostaria no mínimo de um pouco de respeito por mim enquanto produtor de conteúdo quando não decido apoiar o massacre dos palestinos”, afirma Victor.

Alguns usuários punidos pelas redes também já pensam em formas de dependerem menos delas. 

“Eu estou pensando em levar meu negócio para outras plataformas ‘menos escravizantes’ para poder ter minha voz e meu posicionamento garantidos. Essas redes obrigam você, cada vez mais, a criar conteúdo para ficar cada vez mais preso a elas. Eu tento, da minha forma, mostrar meu posicionamento de forma sutil para não ser tão boicotada, mas infelizmente muitos de nossos irmãos ainda precisam dessas redes para trabalhar”, concluiu Elizabete.

Pedido de desculpas do Facebook

Na última terça-feira (18/05), altos funcionários do Facebook se reuniram on-line com o primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Shtayyah, e pediram desculpas pelo ocorrido. A empresa, que também administra o Instagram, comunicou que houve um problema com o algoritmo das redes sociais que categorizou algumas palavras e hashtags como ofensivas de maneira indevida.

Posteriormente, o Instagram comunicou que recuperou várias publicações que haviam sido excluídas. Termos comumente usados por membros da causa da Palestina, como “mártir” e “resistência”, haviam sido categorizados pelas redes sociais como palavras que incitam a violência.

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