“Pensas que o caso dos ocupantes da caverna e da inscrição foi algo extraordinário entre os Nossos sinais?” (Alcorão 18:9)
A história do Povo da Caverna parece ser bem conhecida entre o Povo do Livro, especialmente entre os cristãos. Imam Ibn Ashur discute por que os judeus sabiam dessa história pois, embora os chamemos de muçulmanos, eles eram seguidores de Jesus.
Os historiadores colocam esses eventos por volta de 200-250 DC. Esta foi uma época na qual o Império romano estava no auge, sendo pagão nessa época. O Império só se se tornou cristão após Constantino.
Nos primeiros 400 anos do Cristianismo houve uma grande divergência sobre a divindade de Jesus. Os verdadeiros seguidores de Jesus, reconheceram sua missão profética e não atribuíram divindade a ele.
Embora alguns textos os chamem de cristãos, isso é no sentido de que seguiram a Cristo e não a doutrina da Igreja, que foi estabelecida 100-150 anos depois deles. No entanto, o Cristianismo estava estabelecido com sua conhecida doutrina quando eles acordaram.
Também houve uma grande discordância sobre onde eles estavam localizados. Alguns dizem que seria na Grécia. Alguns dizem que seria na Turquia. Alguns mencionam até a Andaluzia (Espanha Islâmica). Não sabemos com certeza. Há um riwaya de Ibn Abbas que, no tempo de Muawiyya, durante uma campanha, eles foram para o norte e falaram “Essa é a caverna do Povo da Caverna.”
Muawiyya, que era um líder naquela época, disse que queria vê-la. Ibn Abbas o aconselhou a não fazer isso, dizendo que “isto não é para nós”. Mesmo assim, ele enviou um grupo para a caverna e um vento forte os impediu de entrar. E Allah sabe melhor. Contudo, isso não é importante para a lição da história.
Quando Allah diz “Pensas que o caso dos ocupantes da caverna e da inscrição foi algo extraordinário entre os Nossos sinais?” uma questão é formada, mas que na verdade é uma negação. Allah está apontando o fato de que não deve haver uma fonte de espanto, visto que Ele pode trazer os mortos de volta à vida, logo colocar os jovens para dormir 309 anos não é tão assombroso, mas é mais um sinal entre os sinais de Allah.
Quanto à palavra raqim (inscrição), alguns disseram que a história do Povo da Caverna se tornou uma fábula ou história. As pessoas da sua cidade escreveram e fizeram uma inscrição com os seus nomes e colocaram na entrada da caverna. Outra narração diz que era o nome do cachorro que ficava de guarda do lado de fora da caverna. Novamente, não sabemos.
No versículo 10, Allah fala sobre o aspecto mais importante da história. Ele diz:
“Recorda-te de quando um grupo de jovens se refugiou na caverna, dizendo: Ó Senhor nosso, concede-nos Tua misericórdia, e reserva-nos um bom êxito em nossa empresa!” (Alcorão 18:10)
Esse é o aspecto mais importante da história, no qual as pessoas adormecidas se voltaram para Allah, o Altíssimo, em seu momento mais terrível de necessidade e Allah os recompensou, não somente nessa vida, mas também na próxima. Essa súplica é a súplica de quem não tem outro lugar para se voltar a não ser para Allah, e é respondido.
Segundo a história, eles eram um grupo de jovens que viviam nessa cidade. O imperador romano daquela época perseguia os não-pagãos e os fazia cumprir declarações de lealdade ao paganismo e de sacrificar animais aos deuses pagãos. Esses jovens estavam entre os que se recusaram a seguir tal prática. Uma narração diz que eles foram convocados perante ao imperador e mantiveram sua postura.
Por serem jovens, o imperador deu-lhes tempo para pensarem sobre o assunto até que ele voltasse. Eles conversaram entre si sobre o que fazer, para onde se voltar. E um deles sugeriu que se escondessem na caverna. É provável que eles já conhecessem a caverna como um local muito parecido com a caverna de Hira.
Em relação ao cachorro, há narrações que dizem que o animal era deles, enquanto há outras narrações que afirmam que o cachorro era de rua. Quando eles estavam a caminho da caverna, ele os seguiu e eles não puderam fazer nada para se livrar dele. O cachorro os seguiu por todo o caminho e ficou do lado de fora da entrada da caverna o tempo todo.
Algumas pessoas notaram como é incrível que a maioria das pessoas não dê muita consideração a um animal nos dias de hoje, mas por seguir e ficar ao lado das pessoas justas, o cachorro é mencionado no Alcorão – no discurso eterno e perfeito de Allah para o que parece um ato tão pequeno.
“Adormecemo-los na caverna durante muitos anos.” (Alcorão 18:11)
Alguns mufassirun dizem que eles dormiram por 300 anos solares, o que equivale a 309 anos lunares. Outros dizem que essa é a quantidade de tempo que as pessoas dizem que dormiram, mas que ninguém sabe ao certo.
“Então despertamo-los, para assegurar-Nos de qual dos dois grupos sabia calcular melhor o tempo que haviam permanecido ali.” (Alcorão 18:12)
As duas partes se referem às pessoas de fora da caverna que não sabiam o que aconteceu com os que lá se refugiaram. Alguns dizem que entraram na caverna e nunca mais saíram de lá.
Na narração com o imperador romano, é dito que eles seguiram os seus rastros até a caverna, mas nunca os encontraram. Muito parecido com os coraixitas que seguiram o Profeta, para uma caverna diferente, mas também não o encontraram.
Diz-se que o imperador ordenou a seus soldados que fossem atrás deles, mas eles não puderam cruzar a soleira. Algo os impediu de entrar.
Nesse ponto, essa narração diz que o imperador ordenou que a caverna fosse selada. E que a caverna só foi reaberta 309 anos depois, por um pastor que procurava abrigo para suas ovelhas.
Então, Allah disse:
“Narramos-te a sua verdadeira história: Eram jovens que acreditavam em seu Senhor, pelo que os aumentamos em orientação.” (Alcorão 18:13)
Em outras palavras, ninguém além de Allah, o Altíssimo, sabe a história deles verdadeiramente.
“E robustecemos os seus corações; e quando se ergueram, disseram: Nosso Senhor é o Senhor dos céus e da terra e nunca invocaremos nenhuma outra divindade em vez d’Ele; porque, com isso, proferiríamos extravagâncias.” (Alcorão 18:14)
Ou eles disseram isso entre si ou o disseram ao imperador romano, o que é mais provável.
“Estes povos adoram outras divindades, em vez d’Ele, embora não lhes tenha sido concedida autoridade evidente alguma para tal. Haverá alguém mais injusto do que quem forja mentiras acerca de Allah?” (Alcorão 18:15)
Em outras palavras, a fé não é uma crença cega e imediata. Os pagãos são desafiados com as palavras: Mostre-nos que essas coisas que você fez e adora podem prejudicar ou beneficiar você. Sem uma prova clara, como você pode justificar essa crença? Pois se você associa outros a Allah, ou adora outros ao lado d’Ele, isso é na verdade uma mentira contra Allah.
“Quando vos afastardes deles, com tudo quanto adoram, além de Allah, refugiai-vos na caverna; então, vosso Senhor vos agraciará com a Sua misericórdia e vos reservará um feliz êxito em vosso empreendimento.” (Alcorão 18:16)
Os mufassirun dizem que essas palavras foram ditas por um dos adormecidos na caverna. Provavelmente pelo seu líder. Alguns mencionam que o nome do líder era Maximiliano. Outros mencionam que aquele que foi mandado para a cidade quando acordaram se chamava Malich ou Malicha.
“E verias o sol, quando se elevava, resvalar a caverna pela direita e, quando se punha, deslizar pela esquerda, enquanto eles ficavam no seu espaço aberto. Este é um dos sinais de Allah. Aquele que Allah encaminhar estará bem encaminhado; por outra, àquele que desviar, jamais poderás achar-lhe protetor que o guie.” (Alcorão 18:17)
Isso é algo sobre a topografia da caverna. Se uma caverna tiver uma grande abertura, é chamada de kahf. Se tiver uma pequena abertura, como a caverna de Hira, é chamada de ghar. Uma caverna é definida como uma abertura ou como uma quebra em uma montanha. Esta caverna era o grande o bastante para a luz do sol atingir o seu interior.
Este versículo mostra que se o sol realmente tivesse penetrado no interior da caverna, eles teriam sido queimados, teria sido algo insuportável. Isso significa que houve um deslocamento do sol para que a luz solar não fosse lançada sobre o Povo da Caverna. É por isso que Allah diz “Este é um dos sinais de Allah.”
Os habitantes da caverna foram testados em sua fé a um grau que eles não poderiam mais existir e praticar sua religião. Todas as portas foram fechadas. E isso é uma das tribulações do Dajjal: essas pessoas serão testadas em sua fé ou religião.
Esses versículos, essa história que Allah nos relatou, servem como exemplo de onde se deve colocar prioridade e como proceder para fazê-lo. A preservação de nossa religião, como estudiosos dizem, é a maior prioridade.
Se você está em uma situação que você não pode praticar sua religião, é sua responsabilidade encontrar uma situação em que possa. Você não tem permissão de continuar naquele lugar. Você tem que sair. Você tem que encontrar algo diferente.
Considere a Hégira do Profeta, e seus companheiros. A Hégira das pessoas que deixaram a Andaluzia após a Inquisição.
Muitas dessas emigrações que aconteceram ao longo da história foram de pessoas que fugiram para preservar a sua religião. Até mesmo os judeus deixaram a Andaluzia pelo mesmo motivo e só encontraram refúgio em terras muçulmanas.
O Profeta menciona em um hadith que o verdadeiro mujahir, aquele que emigra, “é aquele que emigra de seus pecados”. Em outras palavras, da própria desobediência. Essa é uma emigração espiritual.
É deixar de lado todas coisas pelo bem da própria religião. E fugir para Allah, pelo amor de Allah.
O Povo da Caverna é um exemplo disso.
Fonte: Seekers Guidance
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