Nasrudin é um personagem que se tornou popular em diversas partes do mundo, especialmente no Oriente Médio, devido às suas histórias bem-humoradas. Seus relatos também são repletos de significados filosóficos e sabedorias que trazem várias lições de temas sobre a vida.
No entanto, Nasrudin também é um personagem histórico que hoje possui mais de 800 anos. Ele é reconhecido como um filósofo, ou um homem sábio bastante espirituoso e bem humorado, cuja personalidade inspirou a elaboração de aforismos, piadas e anedotas em povos de diferentes origens.
A forma como suas histórias eram contadas o tornou popular não só no mundo turco, que é seu local de origem, mas também em lugares como África, Pérsia, Arábia e nos territórios que percorriam a rota da seda entre a China e a Índia. Por causa disso, muito do que é contado sobre Nasrudin acabou sendo acrescentado aos relatos originais alguns anos mais tarde.
As histórias mais antigas encontradas sobre Nasrudin são datadas do século XV. O primeiro registro de que se tem notícia é o que está relatado no épico turco “Saltuknâme”, de Ebul Hayri Rumi, de 1480. Já no ano de 1531, ele aparece novamente no livro de histórias de Lami Celebi, “Letif”.
No entanto, não há consenso entre os cronistas sobre sua identidade. Lami Celebi cita que Nasrudin era contemporâneo do poeta medieval turco Sheyyad Hamza, do século XIV. No século XVII, o viajante Eviliya Celebi, que ajudou a popularizar Nasrudin na Europa, visitou o suposto túmulo do personagem e citou uma anedota em que ele aparecia ao lado do governante mongol Tamerlão, falecido em 1405.
Já no século XIX, o Mufti Huseyin Efendi, de Sevrihisar relata que Nasrudin nasceu em 1208 na aldeia de Hortu, em um lugar hoje conhecido como Nasreddin Hoca Koyu, na região de Sivrihisar. Esses relatos mostram que ele foi educado nas escolas de Sivrihisar e Konya, aprendeu jurisprudência islâmica (fiqh) e conheceu o poeta e místico islâmico Jalal ad Din Rumi. Seu sheikh era Seyyid Mahmud Hayrani e, por causa desta ligação, Nasrudin se mudou para Aksehir, casou-se e tornou-se imam e juiz. Sua inteligência e seu senso de humor o tornaram membro notável e bastante popular daquela comunidade.
Além dos três relatos mencionados acima, outros dois mencionam a existência de Nasrudin em meados do século XIII. Um deles é de Sheyyid Mahmud Hayrani, de 1257, e o outro é do sultão Hajj Ibrahim, de 1266-67.
É aceito o fato que Nasrudin nasceu na segunda metade do século XIII, em Hortu, e se estabeleceu em Aksehir e mais tarde em Konya, que são dois locais próximos que hoje fazem parte da Turquia. Seu túmulo está localizado em Aksehir, onde se tornou uma figura popular.
Outro indício sobre a vida do personagem se encontra no cemitério de Mawlana Jalal ad Din Rumi, onde há uma pedra tumular que pertence a Fatima, filha de Nasrudin. Ali está escrito que ela morreu em 1326, o que reforça que Nasrudin viveu durante o século XIII na região de Konya.
Após os primeiros relatos sobre Nasrudin, cresceu bastante nos séculos seguintes o número de anedotas que o envolviam. No primeiro momento, elas foram registradas especialmente nas línguas turcas das regiões noroeste e central da Ásia, que faziam representações quase idênticas às otomanas.
No século XV, essas anedotas começaram a se acumular e, em 1837, elas foram impressas pela primeira vez em Istambul, através da gráfica Matbaa Amire, com o título “Agradáveis Histórias de Khodji Nasrudin”. A primeira impressão produzida está na Biblioteca do Museu do Palácio Topkapi.
A partir daí, suas anedotas começaram a se espalhar por outros territórios onde os otomanos tinham influência, sendo traduzidas para outros idiomas, e foram incorporadas em narrativas de outros personagens. Hoje, ele é parte do folclore e da cultura popular albanesa, árabe, azeri, bengali, bósnia, hindi, pashto, persa, sérvia e urdu.
Ele é chamado pelos turcos de “Nasreddin Hoca”. Para os cazaques, ele é “Koja Nasreddin”. Os gregos o chamam de “Hoja Nasreddin”, enquanto azerbaijãos, afegãos e iranianos se referem a ele como “Molla” ou “Mulla Nasrudin”. No folclore dos povos árabes do Oriente Médio e norte da África, ele é “Juha”.
Mesmo após a impressão dos contos, as pessoas não se apegaram às histórias originais e novas anedotas continuaram sendo inventadas segundo o imaginário popular. Hoje, a maioria daquilo que é narrado sobre Nasrudin não possui nenhuma ligação com a personalidade histórica, mas sim ao bom humor e à criatividade das pessoas que se apegaram às características deste personagem.
Hoje, quando o nome de Nasrudin é mencionado em uma conversa entre turcos, eles já se preparam para rir. Muitas dessas histórias estão documentadas na tradição narrativa internacional e são usadas, inclusive, por ordens sufis, que se aproveitam do caráter sábio do personagem para transmitirem lições entre os adeptos.
Por ser uma figura tão influente, os contos de Nasrudin são usados em contextos políticos e espirituais, e carregam diversas interpretações sobre seus significados.
O velho Nasrudin estava a caminho da vila com seu filho. O garoto estava montando o burro deles. Eles conheceram duas mulheres na estrada e ouviram uma dizer à outra.
“Oh, pelos dias da juventude! O menino cavalga à vontade enquanto o pai velho anda. Surpreendente!”.
“Pai”, o garoto exclamou, “você insistiu que eu cavalgasse, não é? Vamos lá, não seja teimoso. Você monta no burro!” eles seguiram pela estrada, Nasrudin cavalgando e o jovem caminhando.
Depois de um tempo, eles encontraram dois velhos mancando sozinhos. “Ei, velho!” e os velhos disseram: “Seus ossos já estão velhos e secos. Você tem um pé na cova. Mas este jovem, ele merece secar como você? Deixe ele cavalgar!” Depois que eles passaram, Nasrudin puxou seu filho para cima do burro junto com ele.
Eles foram sob o sol quente e depois chegaram a um grupo de pessoas ocupadas sentados ao lado da estrada. “Oh, a crueldade! Aquele pobre animal. É demais, duas pessoas andando! O pobre animal está prestes a morrer.” “Oh, pelo amor de Deus”, disse Nasrudin. Ele saiu do burro e eles caminharam juntos, levando o burro na frente deles.
Mas, no momento seguinte, encontraram dois homens em pé ao lado da estrada. “Allah Allah, olhe para esses idiotas! O burro segue em frente, pulando sem carga nas costas e eles caminham de trás, suando e cobertos de poeira. Que pessoas estúpidas existem no mundo!”
Finalmente, Nasrudin virou-se para o filho e disse: “Olhe aqui! Feliz é aquele que pode escapar da língua das pessoas! Sempre haverá alguém que não está satisfeito com suas ações. Então trabalhe apenas para agradar a Allah.”
Um dia, Nasrudin e seus alunos estavam a caminho da lição. Ele estava sentado de costas no seu burro. “Nasrudin”, perguntaram-lhe: “Por que você se senta assim? Não é desconfortável?”
“Se eu me sentar do outro lado”, ele respondeu, “vocês todos estariam atrás de mim e não ficaríamos cara a cara. Andar deste jeito é melhor.”
Uma noite, um ladrão entrou na casa de Nasrudin e roubou todos os tipos de coisas. Depois que ele saiu, Nasrudin pegou a primeira coisa em que poderia colocar as mãos, que veio a ser uma peneira, e o seguiu porta afora.
Ele seguiu o ladrão por todo caminho até a casa dele, tentando ir atrás. O ladrão, surpreso, disse: “O que você está fazendo na minha casa?” Nasrudin respondeu: “Você está trazendo todas as nossas coisas aqui… eu pensei que estávamos nos mudando também.”
Um dia, o mestre Nasrudin estava dando uma palestra do púlpito na mesquita.
“Ó crentes, vocês sabem o que eu vou lhes dizer?”
A plateia respondeu “não”, então ele anunciou “não tenho vontade de falar com pessoas que nem sabem do que vou falar”. Então, ele desceu do púlpito e deixou a mesquita.
As pessoas ficaram envergonhadas e o chamaram de volta no outro dia. Ele voltou, foi ao púlpito e fez a mesma pergunta, e dessa vez todos responderam:
“Sabemos”.
“Bem, já que vocês já sabem o que vou dizer, não vou mais desperdiçar seu tempo.” E ele os deixou novamente.
Todo mundo estava realmente perplexo.
“Na próxima vez que ele vier, diremos que alguns de nós sabem e outros não.”
Com certeza, chegou outro dia e Nasrudin ficou no púlpito, fazendo a mesma pergunta. Os da esquerda disseram: “Nós sabemos”. E os da direita disseram: “Nós não sabemos”.
“Bem”, Nasrudin disse, “a metade que sabe o que vou dizer, conte para a outra metade.” E ele foi embora.
Em um Ramadan, o velho Nasrudin disse a si mesmo: “Por que eu deveria jejuar como todo mundo? Vou encontrar uma panela e todos os dias jogarei uma pedra nela. Quando houver trinta pedras, farei um banquete!” Mas depois de alguns dias, sua filha viu o que ele estava fazendo e ela jogou um punhado de pedras também!
Alguns dias depois, alguém perguntou:
“Nasrudin, que dia do Ramadan é hoje?”
“Espere um pouco e eu vou lhe contar”, disse ele.
Ele foi para casa, esvaziou a panela e começou a contar as pedras. Quando ele encontrou cento e vinte pedras, pensou consigo mesmo: “Se eu lhes contar a verdade, eles dirão que sou louco”.
Ele voltou para eles e disse:
“É o quadragésimo quinto dia do Ramadan.”
“Nasrudin, o que você está dizendo? Existem apenas trinta dias no Ramadan!”
“Oh, mas estou sendo muito razoável mesmo! Se você for pelo cálculo da panela, seria o 120º do Ramadan!”
Não existem muitas informações sobre a vida de Nasrudin, mas as fontes apontam que ele nasceu na segunda metade do século XIII, e viveu na região de Konya, que atualmente é parte do território da Turquia. Ele foi um sábio muito popular entre a comunidade que conviveu, e ficou reconhecido pelo seu bom humor e sabedoria.
Seus contos começaram a serem compilados anos após a sua morte, e se tornaram populares em vários locais predominantemente islâmicos, o que fez com que novas anedotas em torno do personagem aparecessem. Isso também fez com que surgissem muitas especulações em torno do personalidade histórica de Nasrudin.
Livros com suas histórias foram publicados pela primeira vez no século XIX, em Istambul, e isso fez com que o personagem ficasse ainda mais conhecido, especialmente em territórios onde os otomanos tinham grande influência. Nasrudin foi traduzido para o árabe, persa, urdu, e vários outros idiomas, possibilitando o surgimento de novas histórias.
Suas anedotas são sempre bem humoradas, e muitas delas costumam a carregar uma lição de sabedoria. Atualmente suas histórias são conhecidas em diversas partes do mundo e, em algumas culturas, ele é um importante ícone folclórico e parte da cultura popular.
Com informações de Muslim Heritage
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