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Sufismo: O que são as práticas Espirituais do Islam

O sufismo é a mística contemplativa do Islam e seus ensinamentos são focados na busca da presença de Deus, obtida através da obediência às leis sagradas.
  • O sufismo é uma ciência islâmica que tem suas origens ligadas aos ensinamentos do Alcorão e da Sunnah do Profeta Muhammad que lidavam com aspectos mais internos e espirituais da religião.
  • Os adeptos do sufismo se organizam por meio de ordens, que são lideradas por mestres ou sheikhs que possuem autorização para transmitir o conhecimento desta ciência islâmica, autorizações estas que remontam à figura do próprio Profeta, através de uma cadeia ininterrupta de mestres conhecida como silsilah.
  • Não existe sufismo sem Islam ou sem a prática da Sharia. Sufismo e Sharia são inseparáveis.

Perguntas frequentes

1. O que é um mestre sufi?

Um mestre sufi ou sheikh é aquele  responsável pela organização e transmissão dos ensinamentos de uma tariqa. Através dele, aqueles afetos ao estudo da espiritualidade islâmica podem ter acesso aos seus ensinamentos de maneira autêntica, e serem orientados no objetivo do conhecimento divino, através de práticas como a recordação de Allah (zikr) constante, jihad al nafs (combate ao ego) e zuhd (ascetismo).

2. O que é uma tariqa?

Tariqa é um termo árabe que denota a ideia de caminhou ou via, e é utilizado para designar uma ordem sufi, onde o mestre fica responsável por transmitir os ensinamentos aos seus discípulos, baseado na metodologia de seu imam fundador, tal como as escolas de jurisprudência islâmica.

Em curtas palavras, a ideia de tariqa está encaixada nas ciências islâmicas como a ideia de um madhab, ou escola de jurisprudência, para o fiqh,  e denota o sentido de haverem correntes de transmissão dos ensinamentos espirituais islâmicos.

No mapa a baixo estão listadas as principais tariqas e suas correntes na história do Islam:

Descrição das Ordens Sufis

Em relação ao mundo muçulmano como um todo, a identificação com o sufismo é mais alta na África Subsaariana, embora seja parte do “Islam normativo’’ de 99% dos países muçulmanos e em locais onde minorias muçulmanas formam comunidades milenares, como na China. Em 11 dos 15 países pesquisados na região, um quarto ou mais dos muçulmanos dizem pertencer a uma ordem sufi, incluindo o Senegal, onde 92% dizem pertencer a uma irmandade.

A ordem Tijaniyya é a mais comum em toda a região, com pelo menos um em cada dez muçulmanos se identificando com seguidor dessa irmandade no Senegal (51%), Chade (35%), Níger (34%), Camarões (31%), Gana (27%), Libéria (25%), Guiné-Bissau (20%), Nigéria (19%), Uganda (12%) e República Democrática do Congo (10%).

O segundo movimento mais difundido é a irmandade Qadiriyya, seguida por 11% dos muçulmanos no Chade, 9% na Nigéria e 8% na Tanzânia. Além disso, a ordem Muridiyya é relevante no Senegal (34%), mas não tem um amplo número de seguidores entre os muçulmanos em outros países pesquisados.

Nas outras regiões pesquisadas, a afiliação oficial com as ordens sufis é menos comum, porém, ainda assim, muito relevante: Bangladesh (26%), na Rússia (19%), no Tajiquistão (18%), no Paquistão (17%), na Malásia (17%), na Albânia (13%) e no Uzbequistão (11%) fazendo parte de diversas ordens. Várias ordens são proeminentes em países individuais, incluindo a Naqshbandiyya no Tajiquistão (16% de todos os muçulmanos), Chistiyya em Bangladesh (12%) e Bektashiyya na Albânia (12%).

Estatística de Ordens Sufis no Mundo Islâmico

3. O que são dervixes?

O termo dervixe possui a conotação do indivíduo que é um verdadeiro seguidor ou discípulo de uma determinada ordem sufi, porém, podem haver variações do termo com o mesmo significado, como murid ou faqir. Conhecidos principalmente na expressão dos “dervixes rodopiantes’’ da ordem mevlevi da Turquia, o dervixe é aquele imerso na prática da tariqa, que procura emular da melhor forma os ensinamentos do sheikh, em todos os aspectos da sua vida. 

O que é o sufismo (tasawwuf)?

O sufismo do árabe “tasawwuf’’ é uma das três ciências fundamentais da religião islâmica (Imam para aqida, Islam para fiqh, e Ihsan para o sufismo), e é aquela que lida profundamente com seus aspectos internos, voltados ao crescimento e aperfeiçoamento espiritual do muçulmano, e, portanto, algo estritamente necessário, ao menos em seu nível mais básico, para todos os muçulmanos.

O nível mais básico, fundamental e, portanto, necessário de sufismo de acordo com a maioria dos teólogos sunitas, consiste no reconhecimento da existência de Amigos de Deus (awliya) vivos e na busca da companhia, das bênçãos e dos conselhos deles. Tendo em vista a premissa de que tais indivíduos são a emulação do potencial máximo que um ser humano comum pode chegar, fazendo deles os melhores orientadores de seus tempos nesta ciência, pois, eles experimentaram em essência aquilo trazido pelo Profeta Muhammad.

Esse é o sentido da ordem que Deus dá, no Sagrado Alcorão, de buscar a companhia e o conselho do Povo da Recordação de Deus. A figura do ‘’wali’’, algo cuja tradução mais próxima seria de um “santo’’ no cristianismo, é central para o sufismo. O wali está para o sufismo como o alim (estudioso do Islam) está para a shariah, sendo ambas ciências distintas.

Para além disso, está o nível de busca filiação com tais mestres, através de algo conhecido como bayah ou ahad, no qual o indivíduo faz um voto de seguir no seus caminhos, a fim de buscar alcançar seu próprio potencial espiritual islâmico, o qual só irá descobrir ao longo de sua jornada na ciência do sufismo, conhecida como suluk. 

Um dos conceitos que alguns não entendem quando falamos de “demografia do sufismo” no mundo muçulmano, é que quando dizemos que na maioria dos países muçulmanos o sufismo é aceito como parte da religião, em contrapartida, a sua rejeição por sub-seitas heterodoxas como o wahabismo de terceira geração, não estamos dizendo que tais muçulmanos “são sufis”, porque dificilmente você vai achar alguém realmente filiado a uma tariqa ou coisa do tipo.

Na verdade, para tais muçulmanos, o sufismo é uma ciência válida e parte da religião popular por consenso tanto dos muçulmanos comuns como dos eruditos. Da mesma forma que ter um número inferior de padres em relação à população brasileira não atesta que ela não seja majoritariamente católica. Afinal, nem todo católico é padre, e nem todo muçulmano sunita que reconhece o sufismo como ciência islâmica é membro dedicado de uma ordem sufi. Se dizer “sufi” é uma responsabilidade espiritual que até dentro do próprio sufismo é desaconselhada.

Quais são as origens dos ensinamentos e práticas sufis

A origem dos ensinamentos sufis está nas fontes sagradas islâmicas primárias, do que foi visto sendo praticado pelo Profeta ou diante dele com sua aprovação. Tais práticas, foram transmitidas metodologicamente tal como tudo do Profeta: seus hábitos, ditos e decisões. Buscar a lembrança de Allah é algo frequentemente descrito no Alcorão, que também detalha os benefícios que serão dados ao buscador. A seguir, estão alguns exemplos dos vários trechos que fazem esta recomendação:

  • “Recordai-vos de Mim, que Eu Me recordarei de vós.” (Alcorão 2:152)
  • “Em verdade, é na lembrança de Deus que o coração encontra conforto.” (Alcorão 13:28)
  • “Ó vós que credes! Que os vossos bens e os vossos filhos não vos alheiem da recordação de Deus, porque aqueles que tal fizerem, serão desventurados.” (Alcorão 63:9)

Os ensinamentos contidos no Alcorão mostram o quanto é importante para o muçulmano se recordar do Criador. Através deste exercício, ele poderá sentir a divina presença.

No entanto, se no livro sagrado islâmico não há detalhes de como deve ser feita a recordação, um hadith citado no Kitab al-Futuwwa de Ibn al-Husain al-Sulami mostra que Abu Bakr, um dos nobres companheiros do Profeta Muhammad, expressou seu êxtase de uma maneira que foi reproduzida pelos místicos do Islam ao longo da história:

“Sentindo um vazio na ausência de Abu Bakr, o Profeta perguntou sobre seu paradeiro. Os companheiros responderam que Abu Bakr distribuiu todas as suas posses e que não tinha nada mais para se vestir além de uma peça de tecido, que ele dividia com sua esposa, alternando o uso entre eles para se envolverem na hora da reza.

Naquela hora, o Profeta pediu a Bilal al-Habashi para que fosse à casa da filha do Profeta, Fátima, e lhe perguntasse se tinha uma peça extra de roupa que pudesse ser levada para Abu Bakr para que ele pudesse se vestir e vir para a mesquita. Tudo o que a nobre Fátima tinha era uma peça extra de tecido de lã feita de pêlo de bode. Quando Abu Bakr a enrolou na sua cintura, era muito curta. Então, ele costurou algumas folhas de tamareira ao tecido, para que pudesse se cobrir decentemente, e seguiu rumo ao caminho da mesquita.

Antes de ele chegar, o Arcanjo Gabriel apareceu para nosso Mestre nas mesmas vestimentas impróprias que Abu Bakr estava vestindo. Quando o Profeta disse para Gabriel que nunca o vira em tais trajes estranhos, Gabriel respondeu que hoje todos os anjos no céu estão vestidos assim para honrar Hadhrat Abu Bakr, o leal, generoso e fiel. Allah, O Altíssimo, estava enviando bênçãos e saudações para Abu Bakr. Gabriel disse: “Diga a ele que seu Senhor está satisfeito com ele, se ele estiver satisfeito com Seu Senhor.” Quando Abu Bakr veio até a presença de nosso Mestre e ouviu as boas novas dos lábios do amado Profeta, levantou-se e agradeceu a Allah, dizendo: “Certamente estou satisfeito com meu Senhor!” e, em estado de alegria, girou três vezes.”

Os ensinamentos do Sufismo passam pela ideia de que o muçulmano necessita ao máximo aperfeiçoar suas práticas religiosas. Se a Sharia determina como rezar, o sufismo determina como se concentrar. Se a jurisprudência determina como e quando jejuar do estômago no Ramadan, o sufismo ensina a fazer jejuns que vão além do físico, como jejum dos maus pensamentos, das preocupações e das aflições.

A prática mais comum e fundamental, inerente a todas ordens sufis é o zikr, ou recordação de Deus, feito solitariamente através de fórmulas transmitidas pelos mestres, ou de forma conjunta, silenciosa ou audível, em como nos eventos de hadrah. Esta lembrança pode ser feita de diversas formas, seja através dos cânticos, das recitações ou de movimentos. As práticas variam de acordo com cada ordem sufi, mas o objetivo é sempre manter uma lembrança constante de Deus. Desta forma, o buscador ou salik, é agraciado com a benção do Agrado divino.

Outro ponto chave na prática sufi é a ênfase no amor sem barreira que o muçulmano deve ter pelo Profeta, enraizado junto na recordação de Deus, com a recordação dele mesmo através dos “salawats’’ ou “invocações de bênçãos’’, que o muçulmano necessita realizar diariamente tendo em vista crescer neste amor, para se livrar de maus traços advindos da hipocrisia, e substituí-los pela emulação dos traços ensinados pelo próprio Profeta.

Conclusão 

As práticas espirituais do Islam existem desde os tempos do Profeta Muhammad e de seus companheiros, e servem para enobrecer a fé dos muçulmanos e torná-los mais próximos da presença de Allah.

A principal prática espiritual do Islam é a lembrança de Deus, o zikr, que está descrita no Alcorão como um exercício que oferece muitas bênçãos ao buscador, e vão desde da própria consumação das cinco orações diárias a dizer “em nome de Deus” antes de comer.

Atualmente, existem várias ordens sufis, e cada uma delas transmite variações ortodoxas dos mesmos ensinamentos. Embora as diversas ordens tenham linhagens diferentes, todas são oriundas da mesma origem, afinal, elas possuem suas raízes no Alcorão e na Sunnah.

As ordens funcionam em comunidades e são orientadas por um sheikh que teve permissão de um superior para ensinar. A linhagem dos mestres deve se conectar ao Profeta Muhammad.

Os mestres orientam os muçulmanos a seguir a lei islâmica (sharia) e a estimular sua fé. Essas condições são capazes de despertar a adoração perfeita e, para um sufi, esta é impossível de ser alcançada por um caminho que não seja o Islam.

Portanto, o sufismo não deve ser entendido como uma prática que não pertence ao Islam, e sim como uma parte inseparável dele, que ajuda os muçulmanos a desenvolverem uma relação próxima com Deus através de uma vivência profunda dos ensinamentos sagrados do Islam.

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