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Quem foi Jamal al-Din al-Afghani?

Contribuição do Prof. Dr. Nazeer Ahmed, PhD

As vidas de personagens imponentes e das grandes mentes são como prismas através dos quais podemos estudar o passado para que possamos entender um pouco o que acontece no presente. Neste artigo, analisaremos brevemente uma dessas personalidades.

Seyyed Jamal al-Din al-Afghani (1838 – 1896 d.C) foi, sem dúvida, um dos muçulmanos mais influentes do século XX. Alguns consideram que ele é a principal figura no despertar dos sentimentos políticos islâmicos e das reformas sociais na Índia, na Pérsia, no Afeganistão, no Egito e no Império Otomano. Outros criticam seu papel na destruição das instituições islâmicas, incluindo o Sultanato da Pérsia e o Califado Otomano e suspeitam que ele estava trabalhando em conluio com um poder europeu ou outro.

O veredicto da história sobre se ele era um patriota ou um traidor não é claro. É muito mais fácil supor que enquanto ele acreditava fervorosamente na sua grande visão pan-islâmica, ele foi apanhado nos turbilhões dos tempos como tantos muçulmanos daquela época e se tornou um parceiro no desaparecimento das instituições políticas que haviam fornecido estabilidade ao mundo islâmico durante 500 anos.

Seyyed Jamal al-Din nasceu em 1838 em Asadabad, perto da fronteira afegão-persa. Ele foi chamado de Seyyed porque sua família reivindicou descendência da família do Profeta pela linhagem de Imam Hussain (626 – 680 d.C). O título de “Afghani” refere-se à sua herança afegão-persa. Quando era jovem, Seyyed Jamal al-Din estudou Alcorão,  Fiqh (jurisprudência islâmica), gramática árabe, filosofia, tasawwuf (misticismo islâmico), lógica, matemática e medicina, disciplinas que eram a espinha dorsal de um currículo islâmico na época.

Em 1856, com a idade de dezoito anos, passou um ano em Deli e sentiu o impulso político crescente do subcontinente, que logo entraria em erupção no Levante dos Sipaios de 1857. Da Índia, Seyyed Jamal al-Din visitou a Arábia onde realizou seu Hajj (peregrinação ritual). Voltando ao Afeganistão em 1858, ele foi empregado por Amir Dost Muhammed (1793 – 1863 d.C). Seu talento o impulsionou para a vanguarda da hierarquia afegã. Quando Dost Muhammed morreu e seu irmão Mohammed Azam (1811 – 1867 d.C) se tornou o emir, Jamal al-Din foi nomeado primeiro-ministro.

Em 1869, Seyyed Jamal al-Din não sentiu-se muito no agrado do Emir e então deixou Kabul para a Índia. Em Deli, ele recebeu o tratamento de tapete vermelho de funcionários britânicos, que estavam ao mesmo tempo com o cuidado de não deixá-lo conhecer os principais líderes muçulmanos indianos. No mesmo ano, ele visitou o Cairo no caminho para Istambul, onde sua fama o precedeu e ele foi eleito à Academia turca. No entanto, sua interpretação “racional” do Alcorão e da Sunnah do Profeta eram profundamente suspeitas aos olhos dos ulemá (sábios) turcos, o que culminou em sua expulsão de Istambul em 1871.

De volta ao Cairo, ele teve um papel importante nos eventos que levaram ao derrube de Khedive (Paxá) Ismail (1830 – 1895 d.C), que havia levado o Egito a seus joelhos por sua extravagância. A influência européia aumentou, e Jamal al-Din estava à frente do Movimento Jovem Egípcio e do levante nacionalista sob Torabi Pasha (1881), que buscavam expulsar os europeus do Egito. Os britânicos, desconfiados de seus motivos, enviaram-no de volta à Índia antes da ocupação do Cairo em 1882.

Da Índia, Seyyed Jamal al-Din embarcou em uma viagem pela Europa e residiu por diversos períodos de tempo em Londres, Paris e São Petersburgo. Em Paris, ele se encontrou e influenciou o modernista egípcio Muhammed Abduh (1849 – 1905 d.C). Juntos, os dois começaram uma organização política Urwah al Wuthqa (The Unbreakable Bond, ou, ‘’Vínculo Indestrutível’’) cujo propósito declarado era “modernizar” o Islã e proteger o mundo islâmico da ganância dos estrangeiros. Seu estridente tom anti-europeu irritou os britânicos que conchavaram para ter a organização e seu meio de comunicação público, o Minarete, desligados.

Em 1889, o sultão Nasiruddin Shah (1907 – 1979 d.C) da Pérsia visitou São Petersburgo e convidou Jamal al-Din para retornar a Teerã, prometendo-lhe o cargo de primeiro-ministro. Jamal al-Din relutante viu uma oportunidade de influenciar os acontecimentos na terra natal islâmica e retornou, logo para se encontrar muito longe dos favores do monarca. Temendo a ira do xá, Jamal al-Din se refugiou no Santuário de Shah Abdul Azeem e do santuário, denunciou o xá como um tirano e defendeu sua deposição. Foi enquanto ele ficou no santuário que Jamal al-Din conheceu e influenciou as figuras principais que tiveram um grande impacto nos eventos turbulentos subsequentes na Pérsia, incluindo o assassinato de Nasiruddin Shah.

O xá, furioso com as tiradas de Seyyed Jamal al-Din, o expulsou da Pérsia em 1891. Jamal al-Din chegou a Istambul e foi recebido calorosamente pelo sultão Abdul Hamid II (1842 – 1918 d.C) que, no entanto, observou atentamente suas atividades. Jamal al-Din Afghani passou o resto de sua vida em Istambul até que morreu de câncer em 1896.

Dois temas principais atravessam a vida e o trabalho de Seyyed Jamal al-Din al-Afghani. Primeiro, seu objetivo proclamado era unir o mundo islâmico sob um único regente califa em Istambul. Para este fim, ele buscou uma aproximação entre o Império Otomano e a Pérsia, trabalhando para que o xá reconhecesse o sultão otomano como califa de todos os muçulmanos, enquanto o califa reconheceria o xá como o soberano de todos os xiitas. Ele escreveu aos principais teólogos de Karbala, Tabriz e Teerã, argumentando apaixonadamente à própria causa e foi parcialmente bem sucedido em trazê-los a seu ponto de vista.

No entanto, a aproximação não ocorreu devido à turbulência política na Pérsia. Em segundo lugar, ele procurou “modernizar” o Islã para torná-lo receptivo, como ele considerava, às necessidades da era. O movimento que ele começou, que foi defendido por seu discípulo, Muhammed Abduh (1849 – 1905) do Egito, foi chamado de movimento salafi, deriva das palavras “salaf, salehin (os ancestrais piedosos)’’ e refere-se às opiniões jurídicas oficiais emitidas pelas três primeiras gerações após o Profeta Muhammad. Era essencialmente um movimento racionalista e apologista, que procurava criar um nahda (renascimento) do pensamento islâmico.

Muhammed Abduh procurou substituir as quatro escolas de Fiqh sunita (Hanafi, Maliki, Shafii e Hanbali) com uma única escola de jurisprudência islâmica (Fiqh). Ele ensinou que as leis do Alcorão poderiam ser “racionalizadas” e, se necessário, reinterpretadas. O movimento Salafi teve um grande impacto nos círculos intelectuais árabes em torno da virada do século XX. Isso influenciou o movimento Aligarh de Sir Seyyed (1817 – 1898 d.C) na Índia, bem como o movimento Muhammadiya na Indonésia. O movimento salafi, no entanto, não tinha raízes nem nas tradições islâmicas nem na história islâmica. O nahda era suspeito de tentar secularizar o Islã, assim como a renascimento do século XVI secularizara o ocidente latino. Como movimento de massa, o movimento Salafi foi um fracasso e foi rejeitado pelo mundo islâmico.

O sucesso principal de Jamal al-Din al-Afghani foi abrir o caminho para a revolução do tabaco na Pérsia (ver “Revolução Constitucional da Pérsia, 1906” nesta Enciclopédia), um movimento de resistência passiva, que continha a influência britânica no Irã na virada do século XX .

Fonte: https://historyofislam.com/contents/the-modern-age/jamaluddin-afghani/

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