A situação geopolítica do Oriente Médio em 2020 ficou marcada pela normalização de laços entre diversos países árabes com Israel, o que foi algo surpreendente para muitas pessoas. Ao longo do ano, os Emirados Árabes, Bahrein e Sudão firmaram um acordo e, na última quinta-feira (10/12), foi a vez do Marrocos estabelecer laços com o país de maioria judaica.
Os acordos contam com a mediação dos EUA. Recentemente, em seu Twitter, o presidente americano Donald Trump celebrou a normalização entre Marrocos e Israel, citando o acontecimento como “outro avanço histórico”. Por outro lado, os apoiadores da Palestina veem a normalização como uma traição da causa pela liberdade do país.
Os países árabes parecem cada vez menos interessados em sujeitar seus interesses nacionais à liderança palestina, pois isso tem sido pouco eficiente em solucionar o conflito no Oriente Médio e não oferece nenhuma contrapartida financeira para as nações que, até então, estavam boicotando Israel.
Além disso, após aumentar o seu controle sobre a Cisjordânia, Israel está pouco interessado em negociar a paz com os palestinos. Ao mesmo tempo, o governo dos EUA transferiu a embaixada do país de Tel Aviv para Jerusalém, o que diminuiu drasticamente a ajuda à Palestina.
O conflito árabe-israelense deverá chegar ao fim aos poucos para dar lugar a uma polarização entre árabes e iranianos. Os EUA estão bastante interessados em conter a influência regional do Irã, que cresceu muito nos últimos anos, através do apoio às milícias no Líbano, Síria, Iraque e no Iêmen.
As nações envolvidas na normalização estão interessadas não somente em solidificar suas relações com os EUA, mas também em conter o avanço do Irã, que é o grande inimigo dos países árabes no Oriente Médio. A aliança com Israel também seria uma união de forças para conter a influência iraniana no Oriente Médio.
Atualmente, o Irã está apoiando duas milícias envolvidas em conflito. Uma delas são os xiitas do Hezbollah, que estão lutando na Síria ao lado do exército de Bashar Al Assad, outro grande aliado. Já no Iêmen, os iranianos estão ao lado da milícia xiita dos Houthis, que luta contra as tropas da Arábia Saudita que estão ocupando o país.
Muito se especulou se a Arábia Saudita, outro grande oponente do Irã, tomaria a mesma decisão de seus vizinhos, mas o reino adotou uma postura neutra sobre o assunto até então. Algumas autoridades sauditas, incluindo o príncipe Mohammed bin Salman, se mostraram receptivas em estabelecer as relações. No entanto, o ministro das relações exteriores, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, diz que concorda caso haja a criação de um estado palestino dentro das fronteiras de 1967.
Além dos objetivos em comum, os EUA atenderam a interesses individuais de cada país. Isso ficou claro no caso do Marrocos que, desde 1975, busca o reconhecimento de sua soberania sobre o Saara Ocidental, o que gera disputa com grupos que querem a independência da região. O governo americano prometeu apoiar os marroquinos em troca do estabelecimento das relações com Israel.
Quem também conseguiu apoio dos EUA foi o Sudão, que estava na lista americana de nações que apoiavam o terrorismo e, no passado, foi acusado de dar suporte a Al Qaeda e de abrigar o terrorista Osama bin Laden. Após o acordo com Israel, o governo americano prometeu alterar o status do Sudão, o que era um grande obstáculo para o país obter ajuda externa e enfrentar sua crise econômica.
Já o Bahrein possui grande dependência financeira e política dos seus vizinhos sauditas e emiradenses, que acabam exercendo grande influência nos assuntos internos do país. A aliança com Israel pode ajudar a consolidar o poder da monarquia que, no passado, enfrentou forte opressão de seus opositores, sendo que a maioria deles é parte da população xiita.
Os primeiros países árabes a estabelecerem relações com Israel foram o Egito, em 1979, e a Jordânia, em 1994. Ambos os países tiveram suas terras ocupadas por Israel após a guerra de 1967.
Com informações de: AlJazeera e Reuters
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