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O Que o Islam diz Sobre a Reencarnação?

O Islam acredita que as pessoas serão ressuscitadas antes do Dia do Juízo, mas isso é diferente das doutrinas que acreditam em reencarnação.
  • O Islam não acredita que uma alma possa reencarnar em diferentes corpos.
  • A religião diz que no Dia do Juízo cada alma retornará para o mesmo corpo que habitou durante a vida, e terá a recompensa ou punição pelos seus atos.
  • No ponto de vista islâmico, crer em algum desses preceitos naturalmente elimina o outro, portanto o muçulmano não pode acreditar em reencarnação.
  • Crer no Dia do Juízo é um dos pilares da crença islâmica e, para um muçulmano, negá-lo é uma heresia.

Embora muitos aspectos da doutrina islâmica sempre tenham sido motivo de debate, a reencarnação nunca foi um assunto onde os estudiosos tivessem muita discordância entre seus pontos de vista. Um dos pilares da crença é o dia da ressurreição, onde todos se levantarão de seus túmulos e em seguida serão julgados por Allah de acordo com a vida que tiveram, aqueles que tiverem feito o bem serão recompensados com o paraíso e aqueles que tiverem feito o mal serão punidos no inferno. 

Mas tradicionalmente, a ideia de reencarnação como nas doutrinas religiosas que acreditam em ciclos de renascimento onde os humanos voltariam e outros corpos é algo que nunca encontrou respaldo no Islam. Podemos dizer que, ao longo da história, muitos grupos que se denominavam como muçulmanos chegaram a defender que isso era sim parte da trajetória da alma, mas todos eles foram vistos como hereges pelos estudiosos ortodoxos.

No entanto, isso não era um simples puritanismo da parte dos estudiosos, eles alegavam que a ideia de reencarnação contrariava um dos pilares da crença do Islam, justamente essa que dizia que os humanos seriam ressuscitados para o Dia do Juízo. Embora sejam noções que guardam alguma semelhança, iremos entender neste texto a razão delas serem contraditórias entre si e também falaremos o motivo dessa crença não ser parte da doutrina islâmica.

A Unidade Entre o Corpo e a Alma no Alcorão

É comum que as religiões que crêem em reencarnação afirmem que os humanos são, na verdade, almas que carregam um corpo, no entanto essa visão não é partilhada pela religião islâmica, que defende que os homens são a união de um corpo com uma alma.

O Alcorão diz claramente que o humano foi feito a partir do barro, isto é, da matéria física e somente em seguida Allah deu um espírito para ele.

"Tal é (Allah), Conhecedor do desconhecido e do conhecido, o Poderoso, o Misericordiosíssimo, que aperfeiçoou tudo o que criou e iniciou a criação do primeiro homem, de barro. Então, formou-lhe uma prole da essência de sêmen sutil. Depois o modelou; então, alentou-o com o Seu Espírito. " (Alcorão 32:6-9)

Isto significa que a alma é soprada por Allah no corpo humano, portanto é dada uma única vida para eles. Isso por si só já seria o suficiente para dizer que a crença na reencarnação é incompatível com o Islam, mas há no momento da morte uma separação total entre o espírito e este mundo.

Esta separação total esbarra no pilar da crença islâmica que já mencionamos, causando uma dicotomia entre aquilo que é parte da fé e o que não é.

A Ressurreição e o Fim do Mundo no Alcorão

O Alcorão afirma que o universo chegará ao fim e que as pessoas serão julgadas pelo que elas fizeram enquanto viveram aqui, ou seja, a alma é julgada pelas obras feitas através de seu corpo.

"Porventura, não consideram que serão ressuscitados, para o Dia terrível? Dia em que os seres comparecerão perante o Senhor do Universo?" (Alcorão 83:4-6)

Nem mesmo o universo não possui uma vida cíclica, ele chegará ao final e após o julgamento as almas receberão a recompensa ou castigo eterno. 

"E entre ambos haverá um véu e, nos cimos, situar-se-ão homens que reconhecerão a todos, por suas fisionomias, e saudarão os diletos do Paraíso: Que a paz esteja convosco! Eles (os dos cimos), ainda não entrarão no Paraíso, mas têm esperanças disso." (Alcorão 7:46)

Isso significa que a vida neste mundo é algo que as almas experimentam uma única vez, não haverão outros nascimentos e nem outras oportunidades de viver aqui novamente.

“Todos provarão a morte. Então retornareis a Nós.” [Alcorão 29:57]

"O dia em que esta chegar, aqueles que a houverem desdenhado, dirão: Os mensageiros de nosso Senhor nos haviam apresentado a verdade. Porventura obteremos intercessores, que advoguem em nosso favor? Ou retornaremos, para nos comportarmos distintamente de como o fizemos? Porém, já terão sido condenados, e tudo quanto tiverem forjado desvanecer-se-á." (Alcorão 7:53)

A Incompatibilidade entre a Reencarnação e a Crença Islâmica

A fé islâmica possui 6 pilares de sua crença, na qual o Dia do Juízo é um deles: 

  1. Deus
  2. Anjos
  3. Profetas
  4. Livros Sagrados
  5. Dia do Juízo
  6. Predestinação

Só é um muçulmano aquele que acredita nesses 6 pilares, portanto, todos aqueles que aceitam o Islam como religião crêem que esses pontos são verdadeiros.

Isso significa que aquele que crer que a alma não retornará para o mesmo corpo no qual ela viveu no Dia do Juízo está consequentemente está negando um dos pilares da crença islâmica.

Ao contrário de religiões que creem na reencarnação, o Islam não acredita em vidas cíclicas que retornam a este mundo ou vão se transformando em outras coisas eternamente. As criações são lineares, todas elas possuem início, meio e fim, apenas a alma poderá provar a eternidade, mas como podemos ver isso acontecerá em outro mundo e não neste.

Aceitação Histórica

A ideia de reencarnação em outros corpos é rejeitada pelos estudiosos muçulmanos por unanimidade e não há controvérsia ou debate sobre a validade disso para a crença islâmica, é um argumento totalmente rejeitado.

Ao longo da história, houveram grupos que se autodenominavam muçulmanos e que diziam acreditar em reencarnação como os xiitas Ismaelitas (mais especificamente como era praticado no período do Califado Fatímida), Yazidis, Bektashis, Druzos, Aluitas, etc. todos eles são declarados como hereges pelo corpo de sábios da ortodoxia islâmica, por essas e outras crenças que são incompatíveis com os princípios estabelecidos por Allah e Seu Profeta.

Sobre essas religiões e seitas, o Imam Abu al-Hasan al-Ashari, um dos grandes sábios da religião islâmica, diz o seguinte sobre eles em seu livro Maqalat al-Islamiyyin wa-ikhtilaf al-musallin:

"Extremistas (ahl al-guluw), afirmam que o céu e o inferno estão neste mundo, dizendo que o universo não é temporal; assim, eles negam o dia do juízo final e a vida após a morte, e também essas pessoas assumem o álcool, o adultério e muitas outras coisas ilegais, que a religião do Islã proíbe, como lícitas."

Quem também rejeita a ideia de transmigração da alma para outros corpos é o Imam al-Ghazali, que disse que só era possível para alma voltar para o mesmo corpo que viveu e isso. Já Ibn Hazm diz que aqueles que quem acreditar na reencarnação nesses moldes se torna um incrédulo:

“É suficiente refutar a ideia deles notar que há consenso entre todos os muçulmanos de que eles são descrentes e que aqueles que acreditam nessa ideia estão seguindo algo diferente do Islã, e que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) ensinou outra coisa além disso”. (al-Fisal fil-Milal wal-Ahwa wal-Nihal, 1/166)

Conclusão

A reencarnação de uma alma em diferentes corpos é uma crença incompatível com o Islam. O Alcorão diz que o corpo é criado de uma matéria, recebe um espírito em seguida e, após a morte, ele retorna para Allah onde permanecerá até o Dia do Juízo onde finalmente receberá recompensa ou punição eterna pelos atos que praticou em vida.

O Dia do Juízo é um pilar da crença islâmica, isso significa que qualquer um que acredite que a alma não irá aguardar após a morte pelo seu julgamento está aderindo a uma crença que não faz parte do Islam, além de ser uma heresia.

Todas essas afirmações estão contidas no Alcorão e são sustentadas pelos sábios islâmicos. Ao longo da história, houveram algumas religiões e seitas iniciadas por pessoas que se diziam muçulmanas e que acreditavam na reencarnação, mas todas elas foram taxadas como desviantes pelos eruditos muçulmanos e, portanto, não fazem parte do Islam.

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