O Islamismo chegou ao território nigeriano entre os séculos XI e XII através do comércio, da migração e também através das viagens de estudiosos-místicos ao longo das rotas comerciais. Mas há ainda relatos de que as regiões de Kanem e Bornu estiveram em contato com comerciantes muçulmanos desde o século IX.
Mais tarde, o Islamismo aparece também em Hausaland, no noroeste, e sua influência passa a ser evidente em Kano e Katsina. Nesses lugares, o Islamismo foi a religião da Corte e do comércio, e se espalhou pacificamente a partir de clérigos e comerciantes muçulmanos. À época, cada vez mais, o comércio trans-saariano estava sendo conduzido por muçulmanos.
Diz-se que o Islamismo fincou raízes fortes na Nigéria – e isso é sentido na cultura do país há séculos. Por exemplo, pelo menos uma vez na vida, todos os muçulmanos devem fazer o Hajj, ou peregrinação, à cidade sagrada de Meca. Isso ocorre para que possam participar dos ritos especiais que ocorrem durante o décimo segundo mês do calendário lunar.
Para a maioria dos comerciantes e empresários nigerianos prósperos, a viagem se tornou tão comum que, no país, muitos adotavam a expressão “Hajji” honorífico (fem. Hajjia), significando um peregrino, para se referir a comerciantes bem-sucedidos.
A Nigéria é o país mais populoso da África, lar de cerca de 170 milhões de pessoas. De acordo com um relatório de 2011 do ‘Pew Research Center’, a Nigéria também abriga a sexta maior comunidade muçulmana do continente. Nesse relatório também há a projeção de que a Nigéria terá uma maioria muçulmana até 2030.
Mas, é preciso destacar que a importância da Nigéria para os estudos islâmicos decorre não apenas do seu peso demográfico. Mas, também, porque algumas perguntas que estão sendo colocadas, pela comunidade internacional, para os muçulmanos nigerianos hoje têm relevância para muitos muçulmanos ao redor do mundo.
Alguns exemplos dessas perguntas são:
Enquanto essas questões são discutidas, a população muçulmana da Nigéria continua a crescer. As estimativas sugerem que entre 80 e 85 milhões de nigerianos se identificam como muçulmanos (aproximadamente 50% da população total), dos quais a maioria provavelmente é sunita (60 milhões), embora essa não seja uma identidade unificada e inclua uma grande variedade de pontos de vista diferentes.
Em um breve retrospecto da expansão do islamismo no país, já no século XX, alguns momentos servem de marco. Na década de 1960, por exemplo, houve um grande impulso à disseminação do Islamismo. Isso ocorreu com Ahmadu Bello, o primeiro-ministro da região Norte, após a independência da Nigéria. Com seu programa de islamização, Ahmadu Bello levou mais de 100.000 pessoas à conversão, nas províncias de Zaria e Níger.
No entanto, um golpe militar em 1966, que colocou fim na vida de muitos políticos, incluindo Ahmadu Bello, encerrou esse programa de islamização. A retomada de uma política governamental a favor do domínio do Islamismo ocorreu na década seguinte, quando a fé voltou a se espalhar rapidamente, sob o regime de Ibrahim Babangida (1985-1993).
O amplo escopo das crenças e práticas islâmicas criou uma força que levou os muçulmanos do Norte da Nigéria a sentirem que eles faziam parte de um conjunto de tradições culturais. Como toda tradição, essas também afetam a vida familiar, as vestimentas, a alimentação e as maneiras de se comportar das pessoas. O sentimento de pertencimento dos muçulmanos nigerianos, então, dizia respeito a fazerem parte de um mundo islâmico mais amplo.
Na década seguinte, especificamente em 1978, o país passou por uma reforma constitucional. À época, havia a demanda por uma Suprema Corte Islâmica separada. Mas, isso não se concretizou e, até 1990, essa continuou sendo uma meta muçulmana com muita força no país.
Essa década é, inclusive, outro marco da história muçulmana na Nigéria. Diz-se que duas características do Islamismo são essenciais para compreender o seu lugar na sociedade nigeriana. A primeira diz respeito ao grau de relação que o Islamismo tem com outras instituições da sociedade, a segunda é a sua contribuição ao pluralismo nigeriano. Essas características foram sentidas com maior força a partir da década de 1990 no país.
Como instituição consolidada na Nigéria, o Islamismo inclui obrigações ritualísticas diárias e anuais, tais como a peregrinação à Meca, o conhecimento da sharia, ou lei religiosa, além das percepções políticas, familiares e comunitárias apropriadas para a conduta pessoal.
A partir de 1990, então, as reuniões públicas começavam e terminavam com a oração muçulmana, e todos sabiam pelo menos as orações mínimas em árabe e os pilares da religião necessários para a participação plena. Além disso, toda comunidade rural tinha, pelo menos, um local reservado para as orações comunitárias. Nas comunidades maiores, as mesquitas eram bem frequentadas, principalmente às sextas-feiras, quando as elites administrativas e a população oravam com seus líderes, em uma demonstração de solidariedade comunitária e religiosa.
Com o aumento dos conhecimentos em torno da religião, ser um devoto era motivo de respeito e reconhecimento na sociedade nigeriana. Isso significava que, uma ou mais peregrinações à Meca, para um homem ou para a sua esposa, por exemplo, proporcionava prestígio. Aqueles capazes de absorver, em suas vidas cotidianas, as crenças e práticas do Islam eram profundamente respeitados.
Além disso, o transporte aéreo nigeriano tornou o Hajj amplamente disponível. As vestimentas tradicionais da peregrinação eram muito mais comuns em 1990 do que vinte anos antes, por exemplo. Por isso, grupos de alta sociedade nigeriana foram várias vezes à Meca, e também enviaram ou levaram suas esposas.
Por fim, é importante também destacar que o costume antigo de passar anos peregrinando pela África, para chegar até Meca, ainda era praticado, nesse período. Esses grupos de peregrinos podiam ser vistos recebendo caridade nas orações de sexta-feira, do lado de fora das principais mesquitas do norte do país.
Mas, mesmo com essa expansão, o Islamismo nigeriano não era considerado muito organizado. Ele refletia a natureza aristocrática dos grupos dominantes tradicionais, sendo formado basicamente por famílias de clérigos. Os herdeiros dessas famílias estudavam teologia – tanto no país, quanto no exterior – e ocupavam posições importantes nas mesquitas e no judiciário do país. Esses Ulemás foram, durante séculos, os consultores religiosos e jurídicos dos líderes e elites da região.
Mas, isso não diminui a força da religião no país. O poder de mobilização do Islamismo pode ser demonstrado pela conduta de seus fiéis. Em dados recentes, a Nigéria foi colocada como o país que mais reza no mundo (isso, independente de religião).
De acordo com a pesquisa, com dados recolhidos entre 2008 e 2017, 95% dos cidadãos nigerianos que participaram responderam que rezavam diariamente. Ou seja, mesmo que a pesquisa não tenha focado apenas em muçulmanos, pode-se deduzir, pelo alto número de seguidores da fé islâmica no país, que os muçulmanos nigerianos são extremamente dedicados.
A Nigéria é um país de cultura diversa – com diferentes idiomas e crenças religiosas. A sua significante população islâmica está concentrada, principalmente, no norte do país. Nessa região, grande parte da arquitetura é fortemente influenciada pela cultura muçulmana. As casas apresentam estruturas geométricas, com paredes de barro, para se ter uma ideia de como a influência islâmica é vista no dia a dia da sociedade nigeriana. Além disso, geralmente, as casas do norte do país têm marcações e decorações muçulmanas.
Mas, a influência da cultura islâmica pode ser vista ao longo de todo o território nigeriano. Não é por acaso que muitos monumentos, construídos como locais de culto, se destaquem por seus requintados projetos arquitetônicos.
Uma delas é a bela Mesquita Nacional de Abuja, localizada na capital da Nigéria. Ela foi construída em 1984 e fica na Avenida Independência. A mesquita está cotada entre os 50 centros religiosos mais bonitos do mundo, de acordo com um ranking do site Hongkiat Survey, possuindo uma cúpula dourada e quatro minaretes.
Já as instalações da mesquita incluem um centro de conferências, que tem capacidade para receber 500 pessoas, uma biblioteca e uma escola islâmica. Além disso, o lugar é aberto ao público em geral – a maioria muçulmana e também para os não muçulmanos – exceto durante as orações.
Outra mesquita importante na Nigéria é a de Bashir Tofa, que está localizada na área de Gadun-Albasa, em Kano. Ela foi nomeada em homenagem ao político Bashir Uthman Tofa e é conhecida por ser a mesquita mais bonita da Nigéria.
Já a Mesquita Central de Kano foi construída originalmente no século XV. No entanto, ela foi destruída nos anos 50 e recebeu a ajuda dos britânicos para ser reconstruída. A mesquita está localizada na área de Fagge, em Kano, e possui uma cúpula de cor verde e dois minaretes.
A Mesquita Central de Lagos também é outra construção importante para os muçulmanos nigerianos. Ela está localizada no coração da Ilha de Lagos, na Rua Nnamdi Azikwe, a poucos quilômetros da Praça Tinubu. A mesquita foi construída em 1841 e costumava ser a mesquita nacional da Nigéria, até Abuja se tornar a capital federal, em dezembro de 1991.
O Islamismo na Nigéria é semelhante ao que é seguido em todo o mundo: baseado nos ensinamentos do Profeta Muhammad, como descritos no Alcorão. O país abriga, atualmente, entre 80 e 85 milhões muçulmanos, com projeções que apontam para um território de maioria islâmica até o ano de 2030. É na região norte que está concentrada a maior parte dos muçulmanos do país.
No entanto, vale lembrar que, embora o Islamismo e o Cristianismo sejam as religiões dominantes na Nigéria, nenhuma delas é completamente livre de influência das religiões originárias locais. Muitas pessoas, dentre muçulmanos e cristãos, também seguem práticas religiosas locais.
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