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Navegadores Muçulmanos: Colombo não foi o primeiro a cruzar o Atlântico

Será que Cristóvão Colombo foi o primeiro a cruzar o Atlântico? Se sim, como se explica a presença de vestígios de viagens anteriores? Leia e entenda
  • Ao contrário do que aprendemos na escola, Cristóvão Colombo não foi o primeiro a chegar às Américas.
  • Várias evidências mostram que muçulmanos árabes, africanos ocidentais e otomanos chegaram ao destino antes dele.
  • Provas como mapas, palavras semelhantes ao árabe, barras de ouro e até mesmo um intérprete confirmam essas viagens.

O poema antigo que as crianças nas escolas americanas mais reconhecem começa com o verso: “Em 1492, Colombo navegou o oceano azul…” De fato, no ano de 1492, Cristóvão Colombo (cujo nome verdadeiro era, em italiano, Cristoforo Colombo) atravessou o Atlântico em nome da Coroa Espanhola e desembarcou no Caribe da América do Norte. Por centenas de anos, simplesmente foi aceito que Colombo foi o primeiro explorador a navegar valentemente através do mar e “descobrir” as Américas. No entanto, esta teoria não resiste à ciência moderna.

O correto seria dizer que as primeiras pessoas que realmente descobriram a América foram os ancestrais dos nativos americanos, que provavelmente cruzaram para a América do Norte através da Rússia e Alasca, cerca de 12.000 anos atrás. Mas a discussão da “descoberta” das Américas pelos europeus, africanos ou asiáticos é um insulto para a história dos povos indígenas. Dito isto, a questão importante para saber é sobre quem foram almas ousadas a atravessarem primeiro o oceano Atlântico de barco, e a teoria de Colombo não faz justiça à sua história.

Enquanto o conhecimento comum sobre Colombo é que ele viveu em uma época em que todo mundo achava que o mundo era plano, este não é, claramente, o caso. Sábios gregos antigos, como Aristóteles e Pitágoras, sugeriram que a terra era de fato, redonda. Foi durante a Idade de Ouro Islâmica (750-1100) que ocorreram avanços nos estudos sobre a forma e tamanho da terra. Ao contrário do que a maioria das pessoas podem acreditar, naqueles anos, era comum o entendimento de que a Terra não era plana. O debate, em vez disso, foi sobre exatamente como a Terra era grande. Nos primeiros anos do século 800, o califa abássida Al Mamun reuniu as mentes mais brilhantes da época (incluindo al Khawarizmi) em Bagdá, que calcularam a circunferência da Terra e erraram por apenas 4% o seu tamanho real.

Sabendo que a Terra era redonda, e conhecendo o seu tamanho com um bom grau de precisão (sem a tecnologia moderna que temos hoje), alguns muçulmanos intrépidos devem ter tentado velejar ao redor do mundo, centenas de anos antes de Colombo. A prova destas viagens está à nossa frente, em preto e branco.

Espanha Muçulmana

O grande historiador e geógrafo muçulmano, Abu al Hasan al Masudi escreveu em 956 sobre uma viagem que ocorreu em 889, saindo de al Andalus (Espanha muçulmana). Na viagem, eles navegaram durante meses para o oeste. Então, finalmente encontraram uma grande massa de terra do outro lado do oceano, onde eles trocaram com os nativos e depois voltaram para a Europa. Al Masudi registra esta terra através do oceano em seu famoso mapa e se refere a ela como “a terra desconhecida”.

Mapa do mundo de Al-Masudi de 956, mostrando a "terra desconhecida" através do Atlântico em frente a África.
Mapa do mundo de Al-Masudi de 956, mostrando a “terra desconhecida” através do Atlântico em frente a África.

Mais duas viagens da Espanha muçulmana para as Américas são registradas na história. Uma delas foi em 999 e foi liderada por Ibn Farrukh, de Granada. A outra é registrada pela mente genial do geógrafo al Idrisi, que trabalhou na multicultural e religiosamente tolerante Sicília do rei Roger II, nos anos 1100. Ele escreveu sobre um grupo de muçulmanos que navegou a oeste de Lisboa por 31 dias e caiu em uma ilha no Caribe. Eles foram feitos prisioneiros pelos nativos americanos naquela ilha por alguns dias. Eventualmente, foram libertados quando um tradutor que viveu entre os nativos que falavam árabe organizou a sua libertação. Eles finalmente navegaram de volta a al Andalus e relataram o acontecido. A parte importante desse conto é a existência de um falante de árabe entre os nativos, indicando que deve ter havido mais contatos não relatados entre o mundo árabe e as Américas.

África Ocidental

Há uma outra parte do mundo muçulmano que teve contato com as Américas antes de Colombo. Na África Ocidental, em 1300, um império poderoso e incrivelmente rico chamado Mali existiu. O mais famoso líder deste império era Mansa (rei) Musa. O evento mais memorável de seu reinado foi sua jornada épica no hajj de 1324. A caravana de mais de 60.000 pessoas causava uma impressão onde quer que fosse, incluindo no Egito, onde Mansa Musa contou a história de como ele chegou ao poder. Seu irmão, Abu Bakr, foi o Mansa antes dele. Durante seu reinado, Abu Bakr enviou uma frota de 400 navios para explorar o Oceano Atlântico. Apenas um navio retornou, mas relataram que encontraram uma terra através do oceano. Mansa Abu Bakr, em seguida, equipado com uma frota de 2000 navios, que navegou pessoalmente, rumava a oeste pelo mar. Nunca mais se ouviu falar deles.

Enquanto não há nenhum registro no Mali do resultado dessa viagem, não há evidência de sua chegada às Américas. Existem inúmeros sítios arqueológicos nas Américas do Norte e Sul que atestam a presença do Mali. Exploradores espanhóis e piratas registraram que existiam cidades abandonadas no Brasil que tinham inscrições idênticas à linguagem da mandinga (o povo do Mali). Mais inscrições em língua mandinga foram encontradas nos Estados Unidos também. Perto do rio Mississippi, existem muitas inscrições que gravaram sua exploração das Américas. No Arizona, há uma inscrição em se que lê “Os elefantes estão doentes e com raiva. Atualmente, existem muitos elefantes doentes”, e inclui também um esboço de um elefante. Porém, os elefantes não são nativos das Américas. Eles foram levados pelos Mandingas para as Américas, e as inscrições são prova da bem sucedida viagem de Mansa Abu Bakr, mais de 100 anos antes de Colombo.

O Império Otomano

Em 1929, uma descoberta surpreendente foi feita em Istambul, Turquia. Um mapa desenhado no ano de 1513 pelo cartógrafo Otomano, Piri Reis, foi encontrado. Reis escreveu que seu mapa foi baseado em fontes anteriores, incluindo mapas dos antigos gregos e árabes, e também incluindo mapas por Cristóvão Colombo, que tinha navegado apenas 21 anos antes. O que é notável sobre este mapa é o nível de detalhes, que obrigou os historiadores a reavaliarem a teoria de exploração de Colombo.

O mapa de Piri Reis de 1513
O mapa de Piri Reis de 1513

O mapa mostra claramente a costa leste da América do Sul, que está na posição correta com relação à África. A costa do Brasil é mostrada com um detalhe incrível, com muitos rios colocados com precisão no mapa. Embora Reis tenha usado mapas de Colombo como uma fonte, Colombo nunca foi para a América do Sul. Assim, Reis deve ter extraído essas informações de mapas anteriores, de navegadores muçulmanos que ele usou como fontes. Além disso, o mapa de Reis inclui a Cordilheira dos Andes, que não havia ainda sido explorada pelos europeus – o que só aconteceria até os anos 1520, uma década após o desenho do mapa de Reis.

Piri Reis baseou seu mapa em fontes anteriores, que claramente tinham um bom entendimento sobre as Américas e tinham explorado a área bem antes dos primeiros europeus. O mapa é, talvez, a mais forte evidência física da exploração muçulmana das Américas antes de Colombo

O que Colombo disse?

Com todas estas evidências da exploração muçulmana antes da viagem de Colombo em 1492, é possível que o próprio Colombo sabia que ele não era o primeiro? Sim, é mais do que provável que este seja o caso. Colombo navegou da Espanha no mesmo ano em que a última dinastia muçulmana da Península Ibérica foi destruída na Reconquista. Muitas das pessoas da Ibéria ainda eram muçulmanas e levaram consigo o conhecimento dos muçulmanos da Idade de Ouro. Numerosas pessoas que acompanharam Colombo em sua viagem eram Mouriscos, muçulmanos que foram forçados a se converter ao catolicismo, sob pena de morte se não o fizessem. Colombo poderia ter ouvido dos muçulmanos sobre o Novo Mundo enquanto estava na Espanha e, assim, foi inspirado para ir explorar.

Uma vez tendo ido para as Américas, Colombo registrou numerosos exemplos de muçulmanos que já estiveram ali presentes. Ele comentou sobre o ouro que os nativos tinham, que foi feito da mesma forma e na mesma liga como os muçulmanos da África Ocidental faziam. Além disso, Colombo registrou que a palavra nativa nessa área para o ouro é “guanin”, que é muito parecida com a palavra mandinga para o ouro, “ghanin” – o que provavelmente vem da palavra árabe para a riqueza, “ghina”.

Em 1498, Colombo registrou ter visto um navio carregado com mercadorias em direção à América, cheio de africanos que estavam provavelmente em seu caminho para o comércio com os nativos americanos. Colombo também registrou em seu diário que os nativos americanos lhe disseram sobre negros africanos que vieram regularmente para negociar  com eles.

Até mesmo Colombo sabia que ele não havia sido o primeiro a cruzar o Oceano Atlântico.

Conclusões

Claramente, a teoria de que Colombo descobriu a América não é senão um conto velho que não tem resistido ao teste do tempo. Não há dúvidas de que a Era Colombiana foi um momento crucial na história do mundo, que mudou o modo de vida nas Américas e na Europa para sempre. No entanto, ele não foi o primeiro a fazer a travessia para as Américas. Existem evidências de que muçulmanos árabes, africanos ocidentais e otomanos realizaram viagens para as Américas bem antes de Colombo e da Europa cristã. Por alguma razão, os livros continuam a enaltecer a viagem de Colombo e a coragem de sua tripulação como o “primeiro” a atravessar o Atlântico. Essa ideia precisa ser reexaminada à luz da evidência de explorações muçulmanas anteriores, para trazer, então, suas contribuições para o público em geral.

Bibliografia

Dirks , J. (2006). Muslims in American History . Beltsville, MD: Amana Publications.

Morgan, M. (2007). Lost History. Washington D.C. : National Geographic Society.

Quick, A. H. (2007). Deeper Roots. (3rd ed.). Cape Town: DPB Printers and Booksellers.

Fonte: Lost Islamic History

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