No mês de Muharram, os muçulmanos realizam o jejum de Ashura, que apesar de não ser obrigatório é amplamente recomendado. Ele ocorre mais especificamente no décimo dia do mês, mas normalmente é acompanhado de um segundo dia de jejum, que pode ser feito no dia 9 ou 11.
O jejum foi determinado pelo Profeta Muhammad para que os muçulmanos pudessem resgatar a memória do Profeta Moisés quando ele conduziu os filhos de Israel durante a fuga do Egito. Durante o período da Ashura, os muçulmanos se abstêm de alimentos, líquidos e prazeres sexuais. Tais práticas servem para aproximar os fiéis da herança espiritual dos profetas.
Paralelo ao jejum, os muçulmanos também relembram o martírio do Imam Hussein, neto do Profeta Muhammad, que entregou sua vida para combater a opressão do tirano Yazid. Sua morte é relembrada como um sacrifício feito para evitar que a religião fosse corrompida.
O Alcorão narra a história sobre os filhos de Israel, que estavam sendo escravizados e oprimidos pela tirania do Faraó do Egito que, na época, era uma terra de idólatras politeístas.
Deus, então, atingiu todo o reino com pragas que geraram calamidades naturais e mortes, mas enviou o Profeta Moisés para salvar os seus fiéis, e somente aqueles que Allah jurou proteger não foram atingidos pelas desgraças.
Os filhos de Israel saíram do Egito através do Mar Vermelho, que foi milagrosamente aberto ao meio pelo Profeta Moisés através do poder de Allah. Os fiéis puderam escapar por um trecho de terra firme e, logo após a travessia, as águas se juntaram novamente, fechando-se sobre os egípcios que os perseguiam.
Durante o tempo do Profeta Muhammad, os servos de Deus também sofreram dura opressão em Meca, nas mãos dos pagãos Coraixitas. Muitos foram forçados a abandonar o Islam, sofreram duras sanções comerciais, torturas e foram punidos até mesmo com a morte.
Por causa disso, Deus permitiu que os muçulmanos fugissem da cidade de Meca para Medina, onde havia um grupo de muçulmanos recém-convertidos que prometeram proteger o Profeta Muhammad e seus companheiros. Esta grande migração ficou conhecida como hégira e, a partir disso, o Islam se consolidou em Medina e estabeleceu sua primeira nação.
Medina era um lugar que tinha uma forte presença judaica e, logo após a chegada dos muçulmanos, o Profeta Muhammad presenciou um grupo de judeus jejuando e questionou a razão de estarem fazendo aquela adoração, ao que eles responderam: este é um dia abençoado. Neste dia, Allah salvou os filhos de Israel dos seus inimigos (no Egito), então o Profeta Moisés jejuou para agradecer a Allah.”
O Profeta Muhammad, como forma de comparar os anos de perseguição em Meca ao êxodo de Moisés da opressão do Egito, disse: “Nós estamos mais próximos de Moisés do que vocês.” Portanto, ele jejuou naquele dia e ordenou aos muçulmanos que também jejuassem.” (Bukhari)
As bênçãos do jejum de Ashura são abundantes e Allah considera aqueles que o praticam como pessoas que fizeram um grande esforço. Entre as boas ações recomendadas para este dia, também está a prática de caridade:
“É relatado de Abd Allah ibn Amr ibn al As (que Allah esteja satisfeito com ele) que: ‘Quem jejuar no dia de Ashura, será como se tivesse jejuado o ano inteiro. E a caridade neste dia é como a caridade de um ano inteiro.’” (Ibn Rajab, Lataif al Maarif)
Paralelo à história do Profeta Moisés e a implementação do jejum do Profeta Muhammad, o dia de Ashura também é lembrado pelos muçulmanos pela data da Batalha de Karbala, onde ocorreu o martírio do Imam Hussein.
No ano 61 depois da hégira, Yazid foi empossado como califa e seu governo foi cercado de controvérsias. Ele era um tirano que não observava as leis islâmicas e, por causa disso, muitas pessoas relutaram em jurar-lhe lealdade. Um desses homens foi Hussein ibn Ali, neto do Profeta Muhammad, que ao ser convocado por Walid ibn Utba ibn Abu Sufyian, governador de Medina, a se submeter a Yazid, recusou o pedido e buscou asilo em Meca.
No tempo em que permaneceu em Meca, Hussein recebeu cartas do povo de Kufa pedindo sua ajuda para que liderasse um levante contra Yazid. O neto do Profeta Muhammad enviou um emissário chamado Muslim ibn Aqil para a cidade a fim de reunir o exército. A missão começou de forma bem sucedida e cerca de 18 mil homens se propuseram a lutar junto com Hussein.
Porém, o plano fracassou quando Yazid substituiu o governador de Kufa por Ubaydullah ibn Ziyad, que mandou matar Muslim ibn Aqil, fazendo com que o levante se dissipasse. No entanto, antes de saber da morte de seu enviado, Hussein já havia partido para assumir a liderança de seu exército.
Quando soube da morte de seus enviados, ele deu permissão para sua tropa recuar e somente alguns homens, mulheres e crianças continuaram do seu lado. Quando chegou em Kufa, testemunhou que seus antigos aliados agora se opunham a ele por medo da repressão de Yazid.
Hussein disse aos ex-aliados que voltaria para Meca, mas eles pediram para que ele tomasse outro caminho. Então, foi para o oeste e chegou na cidade de Karbala, onde o exército de Yazid deteve seu grupo e os manteve em cativeiro, sem direito a ter acesso à água, como uma última tentativa de fazer o neto do Profeta jurar lealdade ao califado, mas foi em vão.
Na manhã seguinte, as tropas do califa, com seus milhares de soldados, atacaram Hussein e seu grupo, que tinha pouco mais de uma centena de homens, e o que se seguiu foi uma verdadeira carnificina. A batalha se encerrou durante o pôr do sol do dia de Ashura. Os homens mortos tiveram suas cabeças arrancadas e penduradas em estacas e todos os pertences das mulheres e familiares do Profeta foram levados.
O martírio do neto do Profeta é lembrado como um grande sacrifício de um homem que deu sua vida para que a religião não fosse corrompida por um tirano. O dia de Ashura, além de ser marcado pelo jejum e a caridade, também deve ser lembrado como um dia de introspecção por aqueles que dedicaram suas vidas pela causa de Deus.
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