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Os Companheiros Judeus de Muhammad

Ao contrário do que muitos pensam, o Islam sempre foi muito receptivo aos judeus, e vários companheiros do Profeta Muhammad possuíam esta origem.
  • Quando o Profeta Muhammad chegou em Medina, muitos perceberam que ele era um Mensageiro de Deus que veio para completar a revelação da Torah.
  • No entanto, alguns dos maiores eruditos judeus que viviam na Arábia reconheceram a verdade na profecia de Muhammad.
  • Eles fizeram parte não apenas do seu ciclo de nobres discípulos, mas também da sua família, afinal, o Profeta também se casou com uma mulher judia.
  • A mensagem do Islam compartilha raízes com a revelação da Torah e reafirma a verdade que está contida nela.

O Islam se vê como a última revelação de Allah para a humanidade, e possui uma mensagem focada no monoteísmo puro, sem associar parceiros a Allah, pois Ele rege toda a criação sem pai, filhos e sem ajuda de nada.

As outras duas religiões que mais se aproximam desta percepção são as de matriz abraâmica: o cristianismo e o judaísmo.

Embora o judaísmo esteja mais distante do Islam, no sentido de rejeitar a mensagem de alguns profetas, a teologia é mais semelhante, pois não há o conceito da trindade cristã.

Isso aproximou muitos judeus do Islam desde o tempo do Profeta Muhammad, e durante sua vida, ele testemunhou a conversão de muitos judeus que viviam na Arábia.

Esses convertidos enfrentaram as normas sociais vigentes na época para abraçar o seu novo credo, e são a prova de que, mesmo havendo muitos hipócritas entre as tribos judaicas da Arábia, vários outros eram sinceros na fé.

O Alcorão não dirigiu nenhuma palavra negativa aos judeus por causa de sua religião, muito menos por causa de sua etnia, mas sim pela hipocrisia que boa parte das tribos judaicas da Arábia lidavam com os assuntos religiosos.

Esses hipócritas não aceitavam Muhammad como um profeta, mas isso não era devido à sua mensagem, mas porque ele não tinha origem judaica.

Aqueles que eram sinceros na religiosidade e se aprofundaram nos estudos das escrituras sagradas, estiveram ao lado de Muhammad, e boa parte deles acabou se convertendo ao Islam.

Abdullah Ibn Salam (Rabino)

Abdullah ibn Salam é um dos companheiros mais notáveis do Profeta Muhammad oriundo do judaísmo.

Ele era um rabino da tribo Banu Qaynuqa, tinha o nome de Hussein ibn Salam antes de se converter, e era muito respeitado por toda comunidade de Medina, até mesmo pelos não-judeus.

Ele aguardava ansiosamente pela vinda de um profeta que estava anunciado na Torah, e quando soube do Profeta Muhammad, ele ficou muito curioso para o conhecê-lo.

Quando o Profeta chegou em Medina, ibn Salam preparou três perguntas baseadas nos seus estudos de Torah, e só um verdadeiro profeta saberia responder:

"Em primeiro lugar, qual é o primeiro presságio da Hora? Qual é a primeira refeição do povo do Paraíso? E o que faz um bebê se parecer com seu pai ou mãe?'." (Bukhari 4480)

E o Profeta respondeu a ele: "Quanto ao primeiro presságio da Hora, será um fogo que reunirá as pessoas do oriente para o oeste. E quanto à primeira refeição do povo do Paraíso, será o lóbulo caudito (ou seja, extra) do fígado do peixe. E se a secreção do homem procedeu à da mulher, então a criança se assemelha ao pai, e se a secreção da mulher procedeu à do homem, então a criança se assemelha à mãe." 

Ao ouvir essas palavras, ele teve certeza que Muhammad era o profeta que os judeus estavam aguardando, mas muitos não o aceitaram porque ele não era um israelita.

Quando souberam que ibn Salam  se converteu, os judeus o humilharam e falaram coisas absurdas para ele, mas isso nunca o fez abandonar o Islam, e era conhecido por ser um dos companheiros mais nobres do Profeta.

Ao se converter, ganhou do Profeta o nome de Abdullah (significa "servo de Allah" em árabe) no lugar de Hussein. 

Safiyyah bint Huyayy (Esposa do Profeta)

Uma das "mães dos crentes" Saffiyah era uma das esposas do Profeta e tinha origem judaica.

Ela era casada com um homem chamado Kinaanah ibn Rabi, o defensor do forte de Al-Qamus, que era o mais forte de Khaybar.

Ela uma vez foi agredida pelo seu marido por sonhar com uma lua que caía em seu colo, e ele logo presumiu que ela estava querendo se casar com o Profeta Muhammad.

Quando os muçulmanos entraram em guerra contra os judeus na batalha de Khaybar, eles tomaram mulheres e crianças como cativos, pois era proibido fazer qualquer mal a eles.

Enquanto esteve nessa condição, Safiyah relata que ela teve certeza de que Muhammad era um profeta de Deus.

Em determinado momento, o Mensageiro de Allah perguntou a ela se ela queria se casar com ele, ou se ela desejava permanecer seguindo sua tradição e ir embora com o seu povo.

Ela então preferiu se casar com o Profeta e se tornar muçulmana. Eles ficaram casados até o fim da vida do Mensageiro de Allah, e os relatos mostram que ela foi uma esposa altamente devota até os últimos dias de vida dele.

Zaid ibn Saana (Rabino)

Zaid ibn Saana foi um outro erudito judeu que se converteu ao Islam por estudar e se aprofundar nas fontes judaicas.

Sua história foi relatada por Tabarani no livro al-Mujam al-Kabeer:

"De acordo com Abdullah ibn Salaam, Zaid ibn Saana relata que uma vez que o Mensageiro de Allah (que apaz esteja com ele) tomou um empréstimo de Zaid para ajudar outras pessoas na cidade e prometeu pagá-lo em uma determinada data. Dois ou três dias antes da data de vencimento, Zaid ibn Saana se aproximou do Mensageiro de Allah (que a paz esteja com ele) que estava acompanhando Abu Bakr, Omar, Uthman (que Allah esteja satisfeito com eles) e vários outros companheiros para oferecer uma oração fúnebre. Depois de orações, Zaid ibn Sunah veio até o profeta (que a paz esteja com ele), agarrou-o por sua camisa e seu manto, olhou para ele com raiva e disse: “Ó Muhammad! Por que você não paga minha dívida?! Por Allah, não sei nada sobre sua família, exceto adiamento (de dívidas). Conheço bem o seu povo."

Com isso, Omar ficou extremamente zangado e disse: “Ó inimigo de Allah! Você realmente acabou de dizer o que eu ouvi você dizer ao Mensageiro de Allah? Você realmente acabou de fazer com ele o que eu vi? Por Aquele que tem minha vida em Suas mãos, se eu não estivesse preocupado com (o Profeta) nos deixando, eu teria golpeado sua cabeça com minha espada.”

O Profeta e Mensageiro de Allah, que estava olhando para Zaid ibn Saana calma e pacientemente, disse (mesmo que a data de vencimento ainda não tivesse chegado): “Ó Omar! Nós não precisamos disso. Eu precisava mais do seu conselho para pagar bem o empréstimo dele e do seu conselho para lidar com ele com cortesia. Vá com ele, ó Omar, pague seu empréstimo e dê a ele vinte saa (o equivalente a 44 quilos) de tâmaras porque você o assustou.”

Assim, Omar pegou Zaid ibn Saana, pagou sua dívida e deu a ele mais vinte saa de tâmaras. Zaid então perguntou a ele o motivo do aumento e Omar respondeu que o Mensageiro de Allah (que paz e as bênçãos estejam com ele) ordenou que o desse porque Omar havia assustado Zaid.

Segundo Zaid, ele então perguntou: “Você me reconhece, Omar?”

“Não”, disse ele.

“Eu sou Zaid ibn Saana”

“O estudioso dos judeus?”, Omar perguntou.

“Sim, o próprio.”

“Então o que fez você se comportar e falar com o Mensageiro de Allah como você fez?” perguntou Omar.

“Ó Omar!” Eu respondi.

“Eu reconheci todos os sinais de profecia ao ver o rosto de Muhammad, exceto dois sinais que não eram imediatamente evidentes: Um, que sua tolerância precederia sua imprudência e que sua tolerância aumentaria ao encontrar imprudência excessiva. Agora eu reconheci esses dois sinais também. Testemunhe, ó omar! Estou satisfeito com Allah como meu Senhor, com Islam como minha religião, e com Muhammad como meu Profeta. Testemunhe também que dou metade da minha riqueza – e tenho muita riqueza – em caridade para a nação de Muhammad (que a paz e as bênçãos estejam com ele).”

Omar e Zaid então retornaram ao Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos estejam com ele) e Zaid anunciou publicamente: “Testifico que ninguém é digno de adoração além de Allah, e testemunho que Muhammad é Seu servo e Mensageiro e acredito nele.”

Zaid permaneceu fiel ao Islam até os seus últimos dias, e morreu durante a expedição de Tabuk, lutando pela causa de Allah.

Mukhayriq (Rabino)

Diferentemente dos outros personagens citados, Mukhayriq foi um rabino que não se converteu ao Islam, mas lutou ao lado do Profeta pela causa de Allah.

Ele tomou essa decisão de lutar ao lado dos muçulmanos enquanto o Profeta e seus companheiros se preparavam para se protegerem do ataque dos pagãos de Meca, que resultaria na Batalha de Uhud.

No entanto, o conflito se daria ao sábado, coincidindo com o período do shabat e, por isso, os judeus de Medina não queriam se envolver na luta, pois este era um dia sagrado de descanso para eles.

Mukhayriq ficou inquieto diante daquilo, pois sabia que os judeus tinham permissão para quebrar o descanso em caso de guerra e, neste caso, eles tinham uma aliança de guerra com os muçulmanos.

Ele convocou os seus correligionários, mas eles não atenderam ao seu chamado, e ele respondeu: 

""Não há shabbat para vocês". Então ele pegou sua espada e seus pertences e disse: “Se eu for morto, então minha riqueza será para Muhammad e ele poderá dispor dela como desejar”. Então ele foi e lutou ao lado do Profeta (que Allah exalte sua menção) até ser morto. Então, foi-nos relatado que o Profeta (que Allah exalte sua menção) disse: Mukhayriq é o melhor dos judeus. ” (Ibn Ishaq)

Ainda que seja inconclusivo se ele se tornou ou não muçulmano, o rabino Mukhayriq concluiu através de sua sabedoria e estudos que honrar o shabbat seria lutar ao lado do Profeta Muhammad e, por isso, ele foi honrado pelo Mensageiro de Allah.

Os Crentes do Povo do Livro

De acordo com a exegese corânica de Al-Baghawi, há um versículo no Alcorão revelado em referência aos crentes do povo do livro, mais especificamente ao já mencionado Abdullah ibn Salam, os irmãos  Asad e Usayd ibn Kab, Thalabah bin Qays , Salam bin Akht Abdullah bin Salam, Salamah bin Akhih e Yamin bin Yamin.

O versículo em questão é o 4:136, que diz: "Ó fiéis, crede em Deus, em Seu Mensageiro, no Livro que Ele lhe revelou e no Livro que havia sido revelado anteriormente. Em verdade, quem renegar Deus, Seus anjos, Seus Livros, Seus mensageiros e o Dia do Juízo Final, desviar-se-á profundamente." (Alcorão 4:136)

Esses foram os primeiros judeus que aceitaram o Islam quando o Profeta chegou em Medina.

Estes homens foram especialmente honrados por Allah no Alcorão. De acordo com o livro al-Juhud al-Daeawiat limuslimi al-Yahud min al-Sahabati de Ahmed bin Hassan Ali Hassan, também é mencionado em referência esses homens no livro sagrado: 

"Os adeptos do Livros não são todos iguais: entre eles há uma comunidade justiceira, cujos membros recitam os versículos de Deus, durante a noite, e se prostram ante o seu Senhor." (Alcorão 3:113)

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