Neste artigo, o Sheikh Jamir Meah discute a sunnah de visitar túmulos. Ele aborda os benefícios e bênçãos de visitar túmulos, refletindo sobre nosso próprio estado, recordando aqueles que foram embora e finaliza com um desafio prático para qualquer um que queira reviver o espírito dessa sunnah.
Os seres humanos passam por cinco estágios da existência. O primeiro estágio começa passando sob o lombo de seus ancestrais masculinos e femininos. A segunda fase envolve seu nascimento nessa vida terrena e continua até sua morte. A terceira fase é gasta em seu túmulo e no Reino Intermediário (Al Barzakh) até o Dia da Ressurreição. O quarto estágio é passado inteiramente no Dia do Juízo Final e continua até que seus julgamentos finais sejam aprovados. A quinta e última fase é sua vida na Morada Eterna, seja no Jardim ou no Fogo.
Um resumo sucinto desses estágios é mencionado no Alcorão, quando Allah, o Altíssimo coloca para nós: “Como ousais negar a Allah, uma vez que nada éreis e Ele vos deu a vida, depois vos fará morrer, depois vos ressuscitará e então retornareis a Ele?” (Alcorão 2:28)
Como o escritor deste artigo e você como o leitor, podemos afirmar com segurança que passamos a fase 1 de nossa existência com bastante êxito e agora estamos, é claro, em algum lugar da fase 2 (talvez não passando por isso de modo bem-sucedido!).
Passamos anos sendo transmitidos de lombo para lombo inconscientemente, após termos aparecido na Terra, passamos boa parte de nossos anos formais aprendendo tudo o que precisamos para sobreviver.
Lutamos e trabalhamos para manter a sobrevivência, estabelecer segurança, enquanto realizamos nossas esperanças e aspirações pelo resto de nossas vidas e, prontos ou não, somos expulsos da superfície da Terra e enterrados nela. Entre na fase 3.
A fase 3 nos apresenta o túmulo e o reino intermediário, ambos territórios desconhecidos para nós; nos encontraremos sozinhos e separados de tudo o que passamos nos anexando naqueles mais de 60 anos de existência terrestre.
Quando você ou eu morremos, nosso “julgamento” começa efetivamente, então para uma pessoa “será mostrado (em seu túmulo) sua (final) morada de manhã e à noite” (Al Bukhari). Permanecemos nessa terceira fase intermediária até o Dia do Julgamento, muito mais dos que os meros 60-90 anos que passamos trabalhando na Terra.
A fase 4 é o começo da eternidade, e o resto é, como se costuma dizer, história (bem, na verdade não, para nós é o nosso “futuro”, enquanto, na realidade, o conceito terrestre de tempo deixará de existir).
Refletindo, então, na grande escala das cinco fases da existência dos seres humanos, esse estágio terrestre parece bem minúsculo. É por esta razão que encontramos tantos lembretes em textos religiosos relacionados com o nosso fim último na Terra. Mansos ou poderosos, todos afirmamos com certeza inequívoca que “Cada alma provará o sabor da morte.” (Alcorão 3:185)
Infinitesimal como a vida terrena pode ser; isso não é claro sem consequências colossais. Nesse período de um piscar de olhos que é a vida terrena, criamos ou destruímos nosso futuro eterno. O que fazemos na Terra determina onde estaremos no pós-Terra. O manual do usuário que nos mostra “o que fazer e como ter sucesso na Terra” é, obviamente, o Alcorão e a Sunnah.
O Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, nos aconselhou “Lembrem-se frequentemente da destruidora de prazeres” (Ibn Maja), referindo-se à morte. Isto não é algo mórbido ou pessimista. Está lidando com uma realidade inevitável.
“Tu sabes que é comum; tudo o que vive deve morrer, passando pela natureza para a eternidade.” (Hamlet, ato 1, cena 2)
Do mesmo modo que as pessoas não ficariam ociosas nem perderiam um tempo precioso se um médico lhes dissesse que elas têm uma doença terminal e pouco tempo de vida, qualquer pessoa sensata que reflete com um coração aberto e sincero perceberá que “a vida terrena é apenas jogo e diversão, pompa, mútua vanglória e rivalidade, com respeito à multiplicação de bens e filhos; é como a chuva, que compraz aos cultivadores, por vivificar a plantação; logo, completa-se o seu crescimento e a verás amarelada e transformada em feno. Na Outra Vida haverá castigos severos, a indulgência e complacência de Allah. Que é a vida terrena, senão um prazer ilusório?” (Alcorão 57:20)
Existem muitas maneiras de se recordar dessa destruidora de prazeres. Uma maneira de lembrar nosso final inevitável é pela lembrança daqueles que nos precederam e já chegaram à fase 3 da existência humana (Reino Intermediário). Podemos fazer isso visitando túmulos, que é o assunto abordado neste artigo.
Visitar túmulos é algo que foi recomendado pelo Profeta, como um meio de nos lembrarmos da passagem deste mundo para o outro.
Anas narrou que o Profeta, disse “Eu os proibi de visitar túmulos então me pareceu que eles abrandam o coração, trazem lágrimas aos olhos e recordam da próxima vida.” (Ahmad)
Abu Huraira relatou as palavras do Profeta: “Visite túmulos pois eles são a recordação de sua morte.” (Sahih Muslim)
A recomendação se aplica tanto a homens quanto a mulheres, como foi evidenciado quando um Companheiro disse viu Aisha visitando o túmulo de seu irmão, ele disse a ela “O Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, não proibiu a visita a túmulos?” Ela respondeu: “Sim, ele havia proibido. Então ele ordenou a visitá-los.” (Al Hakim, Al Bayhaqi)
Os benefícios de visitar túmulos não vão somente para o visitante. É relatado que o Profeta, disse “Não há uma pessoa que passe pelo túmulo de seu irmão crente que ele conheceu nessa vida e mande cumprimentos sobre ele sem que ele o reconheça e devolva os seus cumprimentos” (Al Istidhkar). Outras narrações descrevem o consolo e a felicidade que os falecidos encontram quando alguém os visita.
Grandes intenções são feitas ao visitar túmulos. Entre essas intenções estão:
1. Seguir a recomendação e as ações do amado Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele.
2. Recordar a natureza fugaz deste mundo, o momento da morte, a vida imediata e a próxima vida.
3. Orar pelos irmãos, irmãs e pelos outros.
4. Cumprir alguns dos direitos dos mortos e confortar os falecidos.
5. Encorajar os outros a visitarem túmulos e lembrarem-se da morte.
6. Esperar que, por sua vez, tenha muito visitantes em seu próprio túmulo quando chegar a hora.
7. Suavizar o coração pela lembrança do retorno humildade à terra e rever o caminho e o relacionamento com Deus e com os outros.
“O coração duro, que se tornou duro, é amolecido somente pelos sinais da decadência.” – A “mulher velha” de Abd al Qays, Ihya ‘Ulum al Din.
Os túmulos podem ser visitados em qualquer momento, contudo estudiosos geralmente recomendam visitar cemitérios nas quintas à noite, sextas e sextas à noite até o nascer do sol. Tem sido narrado e observado que os espíritos dos falecidos retornam aos seus túmulos nesses momentos.
Quando um visitante entra no cemitério deve cumprimentar a todos os crentes e fazer súplica dizendo:
“Que a paz esteja com os habitantes desta morada dentre os crentes e os muçulmanos, e que Allah tenha misericórdia daqueles que foram antes de nós e daqueles que virão mais tarde e, se Allah permitir, nos juntaremos a vocês.” (Sahih Muslim)
Alguns estudiosos afirmaram que é uma etiqueta ficar de frente para o topo da cabeça da pessoa enterrada. Outros disseram que se deve ficar na direção do peito do falecido, que estaria em direção à qibla.
Deve-se colocar galhos verdes frescos nos túmulos, se disponíveis. Dizem que os galhos verdes vivos trazem alívio aos mortos.
Deve-se entrar e sentar-se no túmulo com serenidade e sem pressa, principalmente se estiver visitando alguém que tenha direitos sobre nós, como pais, parentes, professores.
Deve-se refletir e ponderar sobre o estado do falecido e sobre nosso próprio estado. Imam al Ghazali disse “O visitante não deve negligenciar de rezar por si mesmo e pelo falecido, ou derivar uma lição. Este último só pode acontecer pela representação do falecido em nossos corações, e da maneira como seus membros foram dispersos no exterior, e como seremos ressuscitados de nossos túmulos e que nos juntaremos a ele em pouco tempo. (Ihya Ulum al Din:40)
Deve-se recitar qualquer trecho do Alcorão que seja capaz, com a intenção de recompensa para o falecido.
Deve-se fazer súplicas abundantes pelo perdão dos mortos e com isso eles se alegrarão. O Imam Abdullah Al Haddad relatou que “um homem morto foi visto em um sonho e, ao ser questionado sobre seu estado, disse que havia sido recebido por um anjo que tentou queimar seu rosto com uma chama na mão. Mas um dos vivos disse: ‘Deus tenha piedade de tal e tal pessoa!’ E a chama se apagou!”
Visitar túmulos é um ato solene. Como tal, deve-se manter a dignidade adequada o tempo todo, mantendo-se dentro dos limites da Shariah. Deve-se evitar choro e lamentações excessivos, atos que o Profeta, que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele, proibiu.
O desafio prático deste mês é que todos nós tentemos visitar um cemitério próximo uma vez. Não importa se o falecido é alguém conhecido por você ou não. Vamos dedicar um tempo para orar por eles, sobre nosso próprio estado e jornada e reavaliar nossas vidas e relacionamentos uns com os outros e nosso relacionamento com Allah.
Embora possamos não ver, ou mesmo conhecer o falecido, no Dia do Julgamento nós os conheceremos, e pode ser que a pessoa interceda por nós por causa do que fizemos por eles e, por meio dela, entramos no Paraíso.
Fonte: Seekers Guidance
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