Nesta quinta-feira (02/07), um tribunal turco ouviu argumentos contrários e favoráveis à mudança de status do museu Hagia Sophia em uma mesquita. O veredito deve sair em 15 dias, mas já causa enorme polêmica entre grupos com interesses divergentes.
A polêmica começou quando o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, propôs que a construção, que é considerada Patrimônio Mundial da UNESCO, recuperasse o seu antigo status de templo religioso islâmico, algo que foi alterado em 1934, quando o país enfrentou uma secularização nacionalista encabeçada pelo então governante Ataturk.
Na ocasião, o Islam viveu uma forte repressão por parte do governo. Ordens espirituais foram perseguidas de forma arbitrária, homens e mulheres foram proibidos de se usar trajes religiosos em público e até mesmo o chamado para oração em árabe foi proibido.
O advogado em defesa da mudança alegou que a Hagia Sophia é de propriedade do sultão otomano Mehmed II, responsável pela conquista da cidade de Istambul. Ele questionou a legalidade do Conselho de Ministros de 1934, que transformou o templo em um museu.
No entanto, o advogado de estado contrário à mudança argumentou que a decisão tomada em 1934 é legal e que a mudança ou manutenção do status do museu cabe ao governo.
O museu de Hagia Sophia não possui importância religiosa somente para os muçulmanos. Antes de os otomanos dominarem Istambul, a cidade era a capital do Império Bizantino, que foi um importante propagador da Igreja Católica Ortodoxa do patriarcado grego. O museu foi originalmente projetado como a catedral do antigo império e, atualmente, o principal rito cristão da Grécia está contestando a proposta do presidente turco.
O Patriarca Ecumênico Bartolomeu, que vive em Istambul, declarou que “a conversão de Hagia Sophia em uma mesquita decepcionará milhões de cristãos em todo o mundo”. Ele também afirmou que mudar seu status “fraturará esses dois mundos” em um momento em que a humanidade precisa de unidade mais do que nunca por causa da pandemia da COVID-19.
Quem também criticou a mudança foi o secretário de estado norte-americano, Mike Pompeo, que comentou, através de uma rede social, que manter o status de museu da Hagia Sophia é importante para manter o compromisso com a diversidade religiosa e para garantir que ela permaneça acessível a todos.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Turquia, Hami Aksoy, criticou os comentários feito por Mike Pompeo. Em suas declarações, ele afirmou: “Estamos surpresos com o comunicado de imprensa divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA sobre o status da Hagia Sophia”.
Ele também afirmou que a Turquia sempre protegeu seus patrimônios e bens culturais sem nenhum tipo de discriminação, incluindo a Hagia Sophia. Em suas palavras, ele também acrescentou: “A Hagia Sophia é propriedade da Turquia, como todos os nossos bens culturais localizados em nossa terra”.
Além disso, Hami afirmou que qualquer questão relacionada ao museu é “nosso caso interno, como parte dos direitos soberanos da Turquia”. “Naturalmente, todos são livres para expressar sua própria opinião. No entanto, ultrapassa a marca de falar sobre nossos direitos de soberania usando uma linguagem de ‘aviso e imposição'”, concluiu.
De acordo com os relatos da mídia turca, caso o museu se transforme em uma mesquita, ela deverá permanecer aberta para visitação de turistas. Atualmente, outros templos importantes na Turquia, como a Mesquita Azul, operam desta maneira. A conversão da Hagia Sophia em templo religioso islâmico encontra forte apoio das massas religiosas do país, que consideram a mudança ocorrida em 1934 como um grande erro.
Com informações de TRTWorld.
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