Na última terça-feira (8/10), o jornal The New York Times divulgou o depoimento de dois soldados do Tatmadaw – o Exército de Myanmar – em que eles admitem terem recebido ordens para matar, enterrar e destruir aldeias povoadas por muçulmanos da etnia Rohingya.
As ordens teriam sido dadas no ano de 2017, quando cerca de 6.700 Rohingya foram mortos em Myanmar. Este número é estimado pela associação Médicos Sem Fronteiras, que fez um levantamento das pessoas assassinadas entre agosto e setembro de 2017 e apontou que cerca de 730 dessas vítimas eram crianças.
Nos novos depoimentos divulgados pelo jornal americano, o soldado Myo Win Tun admite ter participado do massacre de 30 muçulmanos Rohingya e enterrado estas pessoas em uma vala comum, próximo a uma torre de celular e uma base militar. De acordo com o militar, ele teria recebido ordens para “atirar em tudo que visse e ouvisse”.
Outro soldado, identificado como Zaw Naing Tun, contou ter participado da destruição de 20 vilas. Ele também revelou que recebeu ordens para matar todas as pessoas que visse pela frente, sem importar se eram crianças ou adultos. Ao todo, afirma terem sido entre 60 e 70 muçulmanos assassinados. Zaw Naing Tun também confessou ter estuprado uma mulher.
Esta é a primeira vez que as violações contra os direitos humanos da etnia Rohingya foram relatadas pelos perpetradores do massacre. Desde 2017, mais de um milhão de muçulmanos fugiram de Myanmar para se abrigarem em um campo para refugiados em Bangladesh. Até então, o crime havia sido denunciado somente pelas vítimas.
Os dois militares tiveram os depoimentos divulgados por rebeldes de Myanmar. Os soldados, que fugiram do país, agora estão sob custódia e serão transportados para Haia, na Holanda, onde serão julgados pelo Tribunal Penal Internacional.
As informações obtidas até aqui indicam que a campanha levantada contra os Rohingya pode se tratar de um genocídio étnico que, a partir de agora, será investigado pelo tribunal.
As vítimas da perseguição alegam que além dos assassinatos, enterros em massa e destruição de aldeias, o exército de Myanmar cometeu uma série de estupros contras mulheres muçulmanas.
As perseguições étnicas em Myanmar são frutos da ascensão do nacionalismo budista no país. Autoridades políticas e religiosas acusam os muçulmanos de serem estrangeiros querendo se apropriar da nação, no entanto, eles são um grupo estabelecido na região de Rakhine, na costa sudoeste.
A líder política civil de Myanmar, Daw Aung San Suu Kyi, que também é laureada com o Prêmio Nobel da Paz, teve seu legado manchado ao negar a perseguição contra os muçulmanos, prestando apoio aos militares do país e se recusando a condenar os ataques.
O governo do país também nega ter arquitetado um massacre e afirma que os Rohingya estão ateando fogo nas próprias vilas para atrair a simpatia da comunidade internacional. Até o momento, 200 assentamentos da etnia muçulmana foram destruídos.
Os massacres de 2017 causaram a maior fuga de refugiados do mundo. Em poucas semanas, cerca de 750 mil pessoas saíram do estado de Rakhine rumo a Bangladesh. Atualmente, cerca de 600 mil muçulmanos ainda permanecem no país.
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