A Revolta dos Malês, que ocorreu no estado da Bahia no ano de 1835, foi um marco na luta dos escravos no Brasil. Além disso, foi também um dos poucos momentos em que os muçulmanos tiveram protagonismo na história brasileira. Este capítulo acaba de ganhar uma minissérie que traz, em sua dramaturgia, a visão dos africanos a respeito do conflito de uma forma inédita.
A “Revolta dos Malês” estreou em novembro no site do Sesctv e relata o drama de Guilhermina, uma malê muçulmana que consegue comprar a própria alforria e, em seguida, tenta de todas as formas conseguir libertar sua filha, Teresa, das mãos do fazendeiro Souza Velho.
Paralela à batalha de Guilhermina, a revolta dos malês está prestes a eclodir, e a protagonista precisa desempenhar o seu papel da melhor forma possível para que seu povo consiga se libertar da opressão dos senhores de escravos.
Além de sofrerem as dores da tortura da escravidão, os malês ainda são humilhados por outros povos negros que convivem junto com eles na senzala. No entanto, a situação atinge o seu estopim quando o líder muçulmano Licutan é preso pela polícia.
A situação desencadeia um forte descontentamento na comunidade muçulmana, e eles planejam uma revolta para o final do mês sagrado do Ramadan, para libertar todos os malês oprimidos pela escravidão.
A minissérie é dirigida por Belisario Franca e Jeferson De, e conta com cinco capítulos, cada um com cerca de 25 minutos de duração. Todos eles já estão disponíveis para serem assistidos.
Os malês eram um grupo de escravos que vieram de partes diferentes do continente africano, e que eram categorizados por causa da religião que seguiam.
Eles se diferenciavam bastante dos africanos vindos de outras culturas, pois sabiam ler e escrever em árabe. Gozavam de certa liberdade e eram conhecidos pelos senhores de escravos como “negros de ganho”.
Formavam uma classe de escravos urbanos (o que era incomum), andavam livremente pela cidade e exerciam diversos ofícios, como barbeiro, artesão, alfaiate, vendedor, entre outros.
Eles ganhavam quantias em dinheiro e pagavam uma taxa aos seus donos. Muitos deles tinham o sonho de comprar a própria liberdade.
Apesar de terem conhecimentos sofisticados, os malês eram proibidos de exercer sua fé, já que, na época, somente o catolicismo era permitido no Brasil. Os lugares onde eles se reuniam para fazer as orações eram fechados e derrubados pela polícia.
Cansados da opressão, os malês se revoltaram e tentaram tomar o poder na Bahia para libertar seus companheiros da escravidão e das prisões. Embora a tentativa tenha sido mal sucedida, alguns historiadores citam este capítulo como um acontecimento importante para que o Brasil interrompesse o tráfico negreiro, 15 anos mais tarde.
Apesar das lideranças do movimento serem muçulmanas, a revolta não foi contra o cristianismo, e sim contra os brancos que escravizavam os africanos.
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