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Judeus do Irã: Uma expressiva e integrada comunidade

Embora seja inimigo declarado de Israel, no Irã os judeus gozam de liberdade civil, religiosa, além de convivência harmoniosa com os muçulmanos.
  • Apesar de ser um país islâmico xiita, o governo do Irã protege cristãos, judeus e zoroastras.
  • A comunidade judaica do Irã é uma das maiores do Oriente Médio.
  • Apesar de ser contrário ao estado de Israel, o Irã não odeia ou persegue os judeus que residem no país. 
  • Os judeus iranianos estão concentrados nas principais cidades do país e possuem liberdade civil e religiosa.

O Irã é um estado autodenominado como islâmico. Apesar disso, existem outras três religiões que são protegidas pelo estado: cristianismo, judaísmo e zoroastrismo. De acordo com a lei do país, seguidores dessas três religiões têm direito à representatividade parlamentar. 

Embora tenha conflitos com Israel, o Irã possui uma das maiores populações judaicas do Oriente Médio: ao todo, são cerca de 15 mil judeus em todo o país. No entanto, este número era bem maior antes da revolução iraniana de 1979, quando a quantidade de fiéis do judaísmo era superior a 100 mil pessoas.

Ter uma comunidade judaica expressiva e, ao mesmo tempo, ser inimigo declarado de Israel pode parecer uma grande contradição, mas muitos judeus que vivem no Irã explicam que a prática de seguir a Torá não está vinculada ao país onde residem. Ou seja, eles podem exercer sua fé independentemente do país em que vivem.

O conflito entre Irã e Israel

As relações entre os dois países nem sempre foram ruins. Aliás, durante a Segunda Guerra Mundial, o chefe da missão diplomática do Irã na França, Abdol Hossein Sardari, ajudou milhares de judeus a fugir da perseguição dos nazistas. No entanto, a situação começou a piorar quando Ayatollah Khomeini assumiu o poder no Irã.

Khomeini sempre enxergou o sionismo como uma ameaça e nunca reconheceu a legitimidade do estado de Israel. A principal razão da postura do líder iraniano se deve ao fato de Israel ser o aliado mais importante dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Após a revolução, o regime iraniano executou Habib Elghanian, um dos principais empresários e filantropos judeus do país, sob a acusação de espionagem e arrecadação de fundos para Israel.

A morte de Habib Elghanian causou enorme temor entre os seguidores da Torá. Neste período, estima-se que aproximadamente 65 mil judeus fugiram para os Estados Unidos e Israel em busca de segurança.

Os judeus do Irã

Existem 35 sinagogas espalhadas pelo Irã e a maioria dos judeus está concentrada nas principais cidades do país, como Teerã, Isfahan e Shiraz. Boa parte deles são lojistas, mas muitos trabalham como médicos, engenheiros e com outras profissões qualificadas.

“Temos todas as facilidades necessárias para nossos rituais e podemos fazer nossas orações muito livremente. Nunca temos problemas. Posso até dizer que, em muitos casos, somos mais respeitados que os muçulmanos“, disse Nejat Golshirazi, 60, rabino de uma sinagoga iraniana ao USA Today.

A sinagoga não possui nenhum segurança ou sistema de vigilância, ao contrário dos países europeus, onde as escolas, locais de adoração e instituições judaicas precisam ser protegidas contra possíveis ataques.

Os judeus, ao contrário dos muçulmanos do país, possuem permissão para beber álcool fora dos locais públicos e também possuem seus próprios açougues, que vendem carnes kosher, de animais abatidos de acordo com as leis da Torá. A lei do país também lhes dá permissão para que sejam dispensados do trabalho e das escolas durante o shabbat.

Como é ser judeu em um país muçulmano

O belo interior da Sinagoga Yusef Abad em Teerã
O belo interior da Sinagoga Yusef Abad, em Teerã. Foto: Wikimedia

Historicamente, judeus suspeitos de se aliar ao governo israelense foram perseguidos e executados no Irã. No entanto, além da liberdade civil e religiosa, a relação entre os seguidores da tradição hebraica e os muçulmanos é boa.

“Nossos vizinhos sabem que somos judeus, mas isso não é um problema. A sociedade aqui, em geral, não tem problemas em sermos judeus”, disse a jovem Musazedeh, em entrevista ao jornal alemão DW.

A boa convivência entre as duas religiões também se deve ao fato de os judeus se sentirem parte da sociedade. “Não somos uma entidade fora da nação iraniana. Fazemos parte dela. Nosso passado e nosso futuro. Posso orar em hebraico, mas só consigo pensar em persa (idioma iraniano)”, disse Siamak Moreh Sedgh, o único parlamentar judeu do país, ao USA Today.

A vida desta comunidade, além de ser um bom exemplo de convivência pacífica entre as religiões, também mostra que ser judeu não é algo que está ligado somente à Israel. “Não acho que Israel seja um estado judeu porque nem todo mundo em Israel vive de acordo com os ensinamentos da Torá. É nisso que os judeus no Irã acreditam”, afirmou Sedgh.

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