A Associação Nacional de Juristas Islâmicos (ANAJI) condenou nesta sexta-feira (27) o ataque sofrido pela produtora responsável por gravar o “Especial de Natal” do grupo humorístico Porta dos Fundos. O ataque foi provocado durante a madrugada da terça-feira (24/12/19), com o uso de coquetéis-molotov, no bairro Humaitá, na zona sul do Rio de Janeiro.
O prédio onde funciona a produtora ficou parcialmente danificado pelas chamas. Poucos instantes após o crime, um segurança que trabalhava no local conseguiu controlar o incêndio usando um extintor de incêndio. Ninguém ficou ferido.
A polícia ainda está investigando o ocorrido. No entanto, integrantes de um grupo de extrema-direita, autodenominado como “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Grande Família Integralista Brasileira”, assumiram a autoria do crime.
O caso está sendo tratado pela polícia como uma tentativa de homicídio, uma vez que ofereceu risco à vida do segurança da empresa.
Em entrevista com o presidente da ANAJI, Girrad Sammour, se posicionou sobre o ocorrido e afirmou que este tipo de conduta não condiz com os valores islâmicos e que qualquer tentativa de ligar o Islam à violência contra inocentes é algo que contraria os princípios da religião:
“Nós condenamos o ato de violência de dois coquetéis-molotov, independente de quem seja o autor, porém, não podemos opinar em nada enquanto as investigações não forem concluídas.
Somos contra o desrespeito praticado pelos humoristas contra o Profeta Jesus (que a paz de Deus esteja com ele), mas não aceitamos qualquer tipo de violência ou agressão e temos a Justiça como meio democrático para a resolução dos conflitos.
Assim é dito no Alcorão: “E que a inimizade para com um povo não vos induza a não serdes justos. Sede justos: isso está mais próximo da piedade. E temei a Allah. Por certo, Allah, do que fazeis, é Conhecedor.” [Sagrado Alcorão 5:8].
Agir com violência atinge a integridade de toda a sociedade e democracia. Esperamos que todas as medidas legais cabíveis sejam adotadas para a punição dos responsáveis.
À luz desses e de outros textos islâmicos, o ato de incitar o terror no coração de civis indefesos, a destruição total de prédios e propriedades, o bombardeio e a mutilação de homens, mulheres e crianças inocentes são atos proibidos e detestáveis, de acordo com o Islam. Os muçulmanos seguem uma religião de paz, misericórdia e perdão, e a grande maioria não tem nada a ver com os eventos violentos que alguns associaram a eles. Se um muçulmano individual cometesse um ato de terrorismo, essa pessoa seria culpada por violar as leis do Islam.
No verdadeiro Islam, não existe o terror. No Islam, a morte de um homem é um ato de gravidade similar à incredulidade. Ninguém pode tocar em um inocente, mesmo em tempo de guerra. Ninguém pode ser um kamikaze. Ninguém pode se misturar à multidão com bombas amarradas ao corpo. Independente do credo desta multidão, isto não é admissível religiosamente. Mesmo em caso de guerra, onde é difícil manter-se o equilíbrio, isso não é permitido no Islam. O Islam afirma: “Não toque nas crianças, nem em pessoas que oram nas igrejas.” Isto tem sido repetido várias vezes, sem contar ao longo da história.”
Portanto, a única Jihad (luta) permitida no Islam é a luta dos oprimidos contra o opressor, a luta travada para proteger a paz de todas as pessoas, independente de sua religião ou credo. As táticas usadas hoje, como atentados suicidas, etc, estão absolutamente fora de questão para os verdadeiros seguidores do Islam.
Girrad Mahmoud Sammour
Presidente da ANAJI
Em dezembro, o lançamento do Especial de Natal do Porta dos Fundos causou indignação em cristãos e muçulmanos após debochar da imagem de Jesus Cristo. O enredo da trama apresentou um Messias que não queria pregar a palavra de Deus aos seus seguidores, que possuía uma relação homossexual com satanás, além de insinuar um triângulo amoroso entre Deus, Maria e José.
O grupo humorístico foi acusado de intolerância religiosa e de fazer escárnio com a doutrina cristã. Na ocasião do lançamento do filme, a ANAJI também emitiu nota de repúdio pela produção do grupo Porta dos Fundos.
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