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Uma resposta para aqueles que Atacam o Imam al-Ghazali – Sh. G. F. Haddad

Bismillah al-Rahman al-Raheem was-salaat was-salaam `alaa Rasul-illah wa ‘alaa alihi wa sahbihi wa sallam

(Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso. E que a paz e as bençãos de Allah estejam com o Profeta, seus familiares e seguidores).

Os “salafistas” de hoje ressuscitaram um traço particularmente ruim de alguns adversários do passado, que consiste em atacar o Imam Ghazali e depreciar aqueles que leem suas obras e citá-las para ilustrar suas opiniões. Isto concerne especialmente seu principal livro Ihya “Ulum al-Din, porque é um marco do tasawwuf (sufismo) que possui imenso público e sucesso, coisa que para os inimigos do tasawwuf é particularmente irritante. Alguns chegam a afirmar que Ghazali estava louco quando o escreveu, outros interpretam erroneamente a leitura de Ghazali do leito de morte de Imam Bukhari como uma renúncia ao tasawwuf, outros ainda trazem as condenações do livro por um punhado de estudiosos conhecidos por seu viés anti-sufi. No entanto, Deus permitiu que o livro se elevasse acima do clamor de seus poucos detratores, e suas traduções continuam aumentando em número e qualidade. O que se segue destina-se a fornecer aos leitores referências confiáveis a respeito de sua vida e obras, de modo a nos protegermos, com a ajuda de Deus, contra os insultos da ignorância e da inveja.

Salah al-Din al-Safadi (764), aluno de Abu Hayyan al-Andalusi, relata em seu grande dicionário biográfico intitulado al-Wafi – onde há mais de 14.000 biografias:

Muhammad b. Muhammad b. Muhammad b. Ahmad, a prova do Islam, o Ornamento da Fé, Abu Hamid al-Tusi (al-Ghazali), o jurista Shafi’i, estava em seus últimos anos sem rival.

Em 488 ele desistiu da totalidade de sua propriedade mundana (e de sua cátedra no Nizamiyya, onde havia ensinado desde 484 do calendário islâmico) e seguiu o caminho da renúncia e da solidão. Realizou a peregrinação e ao voltar, dirigiu seus passos para a Síria, onde permaneceu um tempo na cidade de Damasco, dando instrução no retiro da mesquita (zawiyat al-jami`) que agora leva seu nome no bairro oeste . Ele então viajou para Jerusalém, devotando-se a adoração e em visitar os locais e lugares sagrados. Em seguida, ele viajou para o Egito, permanecendo por um tempo em Alexandria.

Retornou à sua cidade natal em Tus (pouco antes de 492). Onde compilou uma série de valiosos livros [entre eles o Ihya ‘] antes de retornar a Nixapur, onde ele foi obrigado a dar aulas em Nizamiyya (499). Posteriormente isso foi abandonado e voltou para sua cidade natal, onde assumiu a direção de um retiro (khaniqah) para os sufis e de um ‘’colégio’’ vizinho para aqueles ocupados com o aprendizado. Ele dividiu seu tempo entre boas obras, como recitar o Alcorão e dar aulas para o povo do Coração (os sufis).

Tendo em vista o que foi dito sobre seu livro, ele está na lista dos mais nobres e mais estimados: ”se excetuado o Ihya, todos os livros do islam fossem perdidos, não haveria prejuízo algum.”   Eles desaprovaram-no por incluir em seu conteúdo hadiths que não são considerados de máxima autenticidade, porém, é permitido fazer tal inclusão em obras que sirvam de encorajamento ao bem e desencorajamento ao mal (al-targhib wa al- tarhib). O livro continua extremamente valioso. Imam Fakhr al-Din al-Razi costumava dizer: “Era como se Deus tivesse reunido todas as ciências sob uma cúpula, e as mostrasse a al-Ghazali”, ou algo nesse sentido. Ele faleceu em 505 em Tabaran, e foi enterrado na cidadela de Tus (1).

O supramencionado claramente refuta o insinuado por alguns que Ghazali repudiou o tasawwuf ao fim de sua vida. Retornemos àqueles que tentam criar uma separação entre o Ghazali de usul al-fiqh e o Ghazali do tasawwuf.  Quando lhes é dito que os livros de Imam Ghazali sobre a metodologia e as fundações da lei islâmica são considerados leitura obrigatória – tais como seus Mustasfa, Mankhul e Shifa ‘al-ghalil – eles dizem que ele os escreveu antes de seu período de reclusão no qual ele adotou o tasawwuf. Na realidade, o maior e mais abrangente dos quatro livros que escreveu sobre Usul al-fiqh (Princípios da lei) foi composto no último período de sua vida como afirmado pelo Dr. Taha al-`Alwani em seu livro Usul al-fiqh Al-islami:

A enciclopédia al Imam al-Ghazali, de fonte metodológica Ashari, seu quarto livro sobre o assunto, e sua última palavra, foi al-Mustafa, que foi impresso várias vezes no Egito e em outros lugares. Na verdade, este é o trabalho que ele escreveu depois de sair de seu período de meditação e de reclusão (2).

Ghazali e a confiabilidade dos hadiths em sua obra

Em Damasco, ele viveu recluso por uns dez anos, empenhado na luta espiritual e na lembrança de Deus, no final do qual ele emergiu para produzir sua obra-prima Ihya ”Ulum al-Din [Dando vida às ciências Religiosas], um clássico entre os livros dos muçulmanos sobre a interiorização do temor a Deus (taqwa) e da relação pessoal com Allah, iluminando a alma através da obediência a Ele, e os níveis de realização dos crentes nela. A obra mostra o quão profundamente Ghazali percebeu pessoalmente o que ele escreveu e seu tratamento magistral de centenas de questões relacionadas com a vida interior que ninguém havia discutido ou resolvido anteriormente é uma realização de excelência bem fundamentada que mostra o intelecto bem disciplinado de seu autor e profunda apreciação da psicologia humana. Ele também escreveu cerca de duzentas outras obras, sobre a teoria do governo, Da Lei Sagrada, as refutações aos filósofos, Dos princípios da fé, sobre o sufismo, A exegese corânica, Sobre a teologia escolástica e das bases da jurisprudência islâmica. (3)

O que se pode dizer sobre os críticos de Ghazali? O mais barulhento é Ibn al-jawzi, um detrator de sufis, rejeita o Ihya em quatro de suas obras: I’lam al-ahya ‘bi aghlat al-Ihya’ (informando os vivos sobre os erros de Ihya’), Tablis Iblis, Kitab al-qussas, (4) e sua história al-muntazam fi tarikh al-muluk wal-umam(5). Suas visões influenciaram Ibn Taymiyya e seu aluno Dhahabi. A base da posição destes são os hadiths de pouca confirmação de sua autenticidade utilizados por Ghazali, a lista é fornecida por Taj al-Din al-Subki em seu Tabaqat. Suas críticas são justificadas ou um exagero? O mais provável é que este último, em vista do fato de que tanto o hafiz al-Iraqi (806) quanto o hafiz al-Zabidi (depois de 1205) documentaram cada hadith do Ihya e nunca questionaram sua utilidade como um todo. Em vez disso, eles aceitaram sua imensa posição entre os muçulmanos e contribuíram para seu embelezamento e propagação como um manual para o progresso espiritual. Como Subki sublinhou, Ghazali nunca se destacou no campo dos hadith. (6)

O que é mais importante ainda, a maioria dos mestres de hadith sustenta que é permitido utilizar hadiths de baixa comprovação de sua autenticidade para coisas que não sejam tirar conclusões para decisões legais, como por exemplo: estimular o bem e desencorajar o mal (al-targhib wa al-tarhib), como inúmeros mestres de hadith já indicaram, e como outros estudiosos e como o próprio al-Safadi também (7).

Deve ser entendido que Ghazali incorporou todo o material que ele julgou de uso para seus propósitos didáticos sobre as bases de conteúdo, em vez de origem ou cadeia de transmissão; Que a maior parte do Ihya consiste em citações do Alcorão, de hadith, e dos provérbios de outros, a própria prosa de Ghazali é responsável por menos de 35% da obra(8) e a maioria dos hadiths citados são de origem autêntica.

Em conclusão, dizemos como al-Safadi que o Ihya ‘se classifica como um trabalho de targhib ou ética, que é o assunto principal do tasawwuf. Os critérios de autenticidade para as provas citadas nessas obras são menos rigorosos do que para as obras de aqida e fiqh de acordo com a maioria dos estudiosos, como mostra a próxima seção. Manter as obras de tasawwuf aos critérios destas obras é culpar as maçãs por não serem laranjas. Consequentemente, como al-Safadi indicou corretamente, a crítica de Ihya ‘ulum al-din por alguns com base em hadiths com baixa comprovação de sua autenticidade não resiste, nem critica semelhante de obras semelhantes, como a crítica de Dhahabi a Qut de Abu Talik al-Makki Al-qulub e outros. Aqueles que se apegam a tais críticas, ignorando o endosso maciço do tasawwuf e de seus livros pelos estudiosos muçulmanos se apegam ao seu próprio preconceito, em vez de conhecimento sólido. Nosso conselho a esses irmãos é: Lembramos o conselho de al-Dhahabi em sua biografia sobre Ibn all-Farid em Mizan al-i`tidal: “Não se apresse em julgar, mas sim, manter a melhor opinião dos sufis”; 9) do conselho do Imam Ghazali em al-Munqidh min al-dalal: “Pense bons pensamentos (sobre os sufis) e não albergue dúvidas em seu coração”; (10). E da fatwa de Ibn Hajar al-Haytami a respeito dos críticos daqueles que respeitam o tasawwuf e acreditam em awliya: “Os maus pensamentos sobre eles (os sufis) são a morte do coração.” (11) Tome o grande bem que está em cada uma das obras dos sufis de maneira adequada, respeitem os mestres do tasawwuf, pois o menor entre eles está a torres acima de você no conhecimento, não procurar as discordâncias dos estudiosos, e manter a humildade e respeito perante aqueles que falam de Deus, que é de de Quem vem Todo o sucesso.

  • Salah al-Din Khalil ibn Aybak al-Safadi, al-Wafi bi al-wafayat (Wiesbaden, 1962-1984) 1:274-277 (#176).
  • Taha Jaber al-`Alwani, Usul al-fiqh al-islami: Metodologia para fontes em jurisprudência islâmica, ed. Yusuf Talal DeLorenzo (Herndon, VA: IIIT, 1411/1990) p. 50.
  • Reliance of the Traveller p. 1048
  • Ibn al-Jawzi, Kitab al-qussas wa al-mudhakkirin p. 201.
  • Ibn al-Jawzi, al-Muntazam 9:169.
  • Taqi al-Din al-Subki, Tabaqat al-shafi`iyya 4:179-182.
  • Veja al-Hakim, al-madkhal li `ilm al-hadith” (início), al- Bayhaqi Dala’il al-nubuwwa (introdução), Nawawi, al-Tibyan fi `ulum al-qur’an p. 17. Este último diz: “Os estudiosos estão de acordo sobre a legitimidade do uso de hadiths fracos no reino das obras virtuosas”. Al-Sakhawi declarou o ponto de vista do consenso acadêmico sobre esta questão no epílogo de seu al-Qawl al-badi `al-salat` ala al-habib al-shafi` (A admirável doutrina sobre a invocação de bênçãos sobre o Amado intercessor) (Beirute: dar al-kutub al-‘ilmiyya, 1407/1987) p. 245-246.
  • J. Winter, trans. Ghazali’s “Sobre recordar a morte” (Cambridge: Islamic Texts Society, 1989), Introduction, p. xxix n. 63.
  • al-Dhahabi, Mizan al-i`tidal 3:214
  • al-Ghazali, al-Munqidh min al-dalal (Damascus 1956) p. 40.
  • Ibn Hajar al-Haytami, Fatawa hadithiyya (Cairo: al-Halabi, 1970) p. 331.

Reproduzido com permissão de Shaykh M. Hisham Kabbani ‘O Repúdio às inovações “Salafi” _ (Kazi, 1996) p. 326-330.

Que a Paz e as bênçãos de Allah estejam sobre o Profeta, sobre sua Família e seus Companheiros

GF Haddad ©

[7 Set 1996]

Fonte: https://www.abc.se/~m9783/n/atgz_e.html

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