Página Inicial » História Islâmica » Quem foi Ibn Batutta?

Quem foi Ibn Batutta?

Ibn Batuta incorpora o espírito universal da humanidade de explorar, aprender, documentar e ensinar. Nascido em 1304 na cidade Marroquina de Tânger, ele viajou para fazer o sua peregrinação a Meca quando era um jovem de 21 anos. De Mecca, ele embarcou em uma jornada que o levou, no curso de 25 anos, para todos os maiores centros de cultura do mundo. Sem dúvida, um dos maiores viajantes que o mundo conheceu, Ibn Batuta pertence a um selecionado grupo de exploradores como Fah-yen (China, século VI), Ibn Jubayr (Espanha, século XII) e Marco Polo (Veneza, século XIII).

A importância histórica de Ibn Batuta é devido a sua rihla (registro de viagem), que fornece um retrato do mundo Islâmico, de como ele existiu na primeira metade do século XIV e a sua relação com outros centros globais e poderes regionais. Ibn Batuta conheceu pessoalmente algumas das maiores figuras da qual deixaram a sua marca na história, incluindo Ibn Khaldun do Magrebe, Ibn Taymiyyah da Síria, Sultão Abu Saeed da Pérsia-Iraque, Sultão Nuruddin Ali do Leste da África, Sultão Orkhan do império Otomano, Sultão Muhammed bin Tughlaq da Índia, Sultão Al Zahir da Indonésia, Imperador Toghun Timur da China, Mansa Sulaiman do Mali e alguns dos mais proeminentes Shaykhs Sufis da época. A suas impressões destes homens fornece uma informação inestimável sobre os autores e agitadores da época. Suas observações dos costumes, valores e instituições da sociedade que ele visitou provém um relato de primeira-mão, da unidade, como também da diversidade cultural do mundo Islâmico, como existiu ele naqueles tempos.

Na primeira metade do século XIV, o mundo estava em uma paz relativa. As Cruzadas tinham terminado e os massacres Mongóis eram uma coisa do passado. No Magrebe, existiu um equilíbrio de poder entre os Muçulmanos e os Cristãos. A dinastia Al Muhaddith no Magrebe tinha quebrado e em seu lugar foi tomado por quatro poderes distintos, os Merinidas de Marrocos, os Wadids da Algeria, Hafsida da Tunísia e os Nasrís de Granada. Havia uma quietude relativa entre estes sultanatos e os Reinos Cristãos de Castela e Aragão. Este equilíbrio permitiu que os Estreitos de Gibraltar a serem abertos a expedição e embarcações, Venezianas e Genoveses, que eram capazes de atravessar os Estreitos e fazer comércio com as costas ocidentais da França e Inglaterra. Os prósperos estados municipais da Itália experimentou a primeira onda da Renascença. Egito, Síria e Hejaz estavam sobre os Mamelucos do Egito, que ganhou o respeito do mundo Islâmico devido a sua vitória sobre os Mongóis. Além disso, depois da destruição de Bagdá, Cairo se tornou o centro do Califado. Cairo e Damasco se tornaram cidades deslumbrantes devido ao seu comércio com a Índia e a China através do Iêmen. A Pérsia estava de volta ao Islam e ali começou tremendos trabalhos de reconstrução na Pérsia, Iraque e Khorasan. A Rota da Seda para a China foi reaberta. Os Turcos Otomanos estavam a continuar o seu avanço implacável na Europa, enquanto os imperadores Bizantinos tentaram conte-los através de acordos e laços de casamentos. Na Índia e no Paquistão, a rica e poderosa dinastia Tughlaq governava, herdeiro do poderoso Khiljis que deixou um subcontinente consolidado sobre o controle militar-político do Delhi. Islam entrou na Malásia e na Indonésia, e o Sultanato de Achem ansiosamente procurava eruditos e juristas que estavam fugindo da devastação Mongol do século passado. A China ainda estava sendo governada pela dinastia Mongol (Yuan), que tinha trazido a metade do norte e do sul da China sobre uma bandeira. O Oeste Africano presenciou o grande império Mali  em sua ápice.

O concreto que segurou este vasto mundo islâmico foi a Shariah. Ibn Batuta foi treinado na Shariah e sua aplicação na escola de jurisprudência Maliki. Propriamente dito, ele carregou as credenciais de um kadi que o serviria bem em um mundo que estava em relativa paz consigo sobre o leque de uma visão islâmica Sunnita. Segundo apenas para a Lei, uma união universal que era a língua Árabe. Até nas partes  lestes do mundo islâmico onde o Farsi era a língua literária, a língua Árabe desfrutava um lugar único como a língua do Qur’an e Hadith como um meio de transmissão da Lei. A Lei e o idioma eram as forças universais que seguravam os Muçulmanos juntos, mesmo quando eles brigavam entre si e com não-muçulmanos por poder e posição. Poder político e o domínio da grande massa de terra estendendo da Mauritânia do Bengal deu a eles o controle das rotas de comércio ligando os principais centros de civilização, como a China, Índia, Pérsia, Egito, Ítala e o Oeste Africano. Esta vasta rede de rotas de comércio foi resguardada com muito ciúme e protegida por monarcas regionais que sabiam que a sua própria prosperidade, dependia de um comércio internacional. Um viajante podia se mover do Mali ao Delhi sem deixar a familiar religião e idioma dos muçulmanos.

O comércio assim como a competição entre os governantes por prestigio facilitava a movimentação de eruditos, arquitetos, doutores, engenheiros, poetas e homens de aprendizagem que procuravam bom empregos nas diversas cortes. Esta movimentação trouxe um poderoso motor para espalhar o conhecimento e a difusão da fé. Os beneficiários foram os territórios periféricos que tinham recentemente vindo sobre a influência política do Islam. Estes territórios incluía a Índia e o Paquistão, Indonésia, Malásia, Turquia e o  Oeste Africano. Foi durante este período que a tecnologia da pólvora moveu-se da China para o oeste da Ásia e de lá para a Europa. O século XIV transformou o cenário Islâmico e deslocou o centro de gravidade do Islam do seu reduto tradicional Árabe-Persa para regiões que segura o maior número de crentes hoje: Indonésia, Paquistão, Índia, Bangladesh e Nigéria.

A importância de laços externos provindo pela Lei Divina, o idioma Árabe e as rotas de comércio é óbvio. De igual importância era a unidade espiritual do Islam, que tinha se assegurado nos auges da catástrofe Mongol e agora era o principal veículo de expressão religiosa. Como um vasto lago subterrâneo de água fresca ligando pequenas ilhas, esta espiritualidade ligava as ilhas habitadas pelos Africanos, os Árabes, os Persas, os Turcos, os Indianos e os Malaios. Transcendendo geografia e cultura, trouxe um motivo para a força da imigração de grandes shaykhs Sufis ao coração do Industão e as dispersas ilhas do leste Indiano. Também foi o motor que impulsionou o avanço Turco no sudeste Europeu, como uma das ordens Sufis ou outras influenciaram a brigada ghazi dos Turcos.

A ordem Christi tinha penetrado nas florestas da Índia central e os Mallams (professores religiosos) atravessaram os prados Africanos carregando consigo não apenas bolsas de águas para saciar a sua sede, mas a espiritualidade universal do Islam para saciar a sede espiritual de todos os seres humanos. Pela primeira metade do século XIV, essa espiritualidade tinha avançado de mera contemplação e recitação para atividade social e estabeleceu poderosas instituições para sustentar esta atividade. Um viajante podia achar paz e conforto em várias estações, não apenas nas karavanserais (lugares de descanso para viajantes) construído pelos governantes, mas também nas qanqas (lugares de retiro) construído pelos Sufis. Entre os mais conhecidos dos Sufis da qual Ibn Batuta disfrutou hospitalidade foram Shaykh Burhanuddin da Alexandria, Shaykh Abdur Rahman ibn Mustafa de Jerusalém, Shaykh Qutbuddin de Esfahan, Chirag-e-Dehli da Índia e Shah Jalal de Sylhet.

Ibn Batuta recebeu sua inicial educação na escola Maliki de Fiqh, uma vocação que lhe serviria bem em suas interações com os homens de conhecimento em terras distantes. Ele também foi treinado nos modos urbanos, se tornando um cavalheiro da época. Tasawwuf permeava a sociedade islâmica e Ibn Batuta estava em casa com os mestres Sufis. De fato, Ibn Batuta personificava a personalidade do novo muçulmano, absorvido com a espiritualidade Sufi, que era totalmente integrado com as leis e regulações da Shariah. Ibn Batuta, era um nativo de Marrocos e era fluente na linguagem. A familiaridade com o Árabe garantiu que ele iria achar companheiros com os kadis, ulema e os Sufis que formavam o literário e a elite espiritual do Islam.

Em 1325, ele partiu do Tanger para cumprir suas obrigações com o Hajj. Naqueles tempos, a pratica do Hajj não era apenas uma visita a Mecca, mas uma aventura por várias cidades que ficavam no caminho do pelegrino, uma oportunidade de visitar grandes mesquitas, madrasas e de aprender com professores mestres. Também era uma oportunidade única de dar expressão a irmandade universal da humanidade. A caravana de Ibn Batuta, que incluía notáveis eruditos como Abu Abdullah al Zubaidi e Abu Abdullah al Nafzawi, Kadi de Túnis, passou sobre algumas das principais cidades do Magrebe incluindo Tlemchen (capital de Wadids), Algeria e Túnis. Tunísia era na época um grande deposito de comercio e centros culturais. Da Africa veio o ouro, marfim e nozes. Do Egito importava-se bordados e marcenaria como também produtos embarcados do Leste como ervas da Índia, medicamentos, temperos e porcelana Chinesa. Estes produtos eram vendidos nos estados municipais do sul Europeu, como também em outras cidades do Magrebe. Era a capital do leste de Al Muhaddith que embelezava as mesquitas e construía maiores escolas de aprendizagem. Com a quebra do Império Al Muhaddith, exércitos Cristãos tinha tomado grande parte da Espanha e tinha expulsado a maioria dos muçulmanos. África do Norte, Tunísia em particular, beneficiou desta migração forçada de eruditos, artesãos, poetas, músicos, horticultores e homens de letras. Os Háfsidas, que tinha sucedido o Al Muhaddith, continuou a tradição de encorajar aprendizado e a Tunísia com a população por cerca de 100,000, se tornou um centro que atraía notável ulema de tão longe quanto Cairo, Damascos e Fez. Ibn Batuta ficou na Tunísia por cerca de dois meses, adquirindo no processo alguns do refinamentos Andaluzes e uma côrte de maneiras que o serviriam mais tarde em suas viagens.

Da Tunísia, a caravana atravessou o duro deserto da Líbia ate que chegou a cidade de Alexandria. Esta cidade, localizado na boca do Delta do Nilo, era um ocupado centro comercial com um enérgico comércio com a Veneza, Genoa, Túnis, Tanger, Valência, Sicilia e e a costa da Síria. Era aqui que as rotas das caravanas levando da Índia e as rotas do mar do Leste Africano se encontravam. Todos os produtos da Ásia e África passavam pela cidade. Em Alexandria, Ibn Batuta encontrou o notável Shaykh Sufi Burhanuddin e ficou um tempo em seu zawiyah. O velho Shaykh deu ao jovem viajante roupas para simbolizar sua iniciação na ordem Sufi e derramou sobre ele seu brilho espiritual. Da Alexandria, a caravana do Hajj chegou a grande cidade de Cairo.

O Cairo naqueles tempos tinha um excesso de população de meio milhão, que era mais de quinze vezes o tamanho da cidade de Londres, três vezes mais que a cidade de Tabriz, o dobro da cidade de Delhi. Era a capital dos Mamelucos. Os Mamelucos, como seus equivalentes da Índia, originaram-se de escravos Europeus e da Ásia Central que eram comprados e adotados pelos Turcos, aceitaram o Islam, casaram em nobres famílias e pela sua enorme resistência se levantaram para se tornarem Reis. Os Mamelucos do Egito eram chamados Mamelucos Bahri, porque algum deles habitavam as ilhas no rio Nilo. Eles deslocaram a decadente dinastia Aiúdida em 1250 e trouxe o Egito, Síria, as costas do Mar Vermelho da Arabia e o Sudão sobre o seu controle. Os Mamelucos se provaram em ser excelentes administradores e excelentes patrocinadores de aprendizagem. Ibn Batuta chegou em Cairo durante o reinado do Sultão Al Nasir Muhammed ibn Qalawun que governou de 1293 ate 1341. Um grande construtor, Al Nasir construiu mais de trinta mesquitas, numerosas escolas e hospitais. A grande mesquita de ibn Qalawun ainda existe na velha cidade de Cairo. Os ataques Mongóis na Pérsia, Iraque e Ásia Central puxaram um grande números de eruditos, Sufis, poetas, linguistas, arquitetos, fuqahah, matemáticos, filósofos e doutores para o Cairo.

O Cairo tinha se tornado o pre-eminente centro de cultura, arte e aprendizagem no mundo Islâmico. Depois da destruição de Bagdá (1258), um sobrevivente membro Abássida tinha se instalado com Califa em Cairo e a cidade tinha se tornado centro do Califado e então o foco da vida politica Islâmica. O hospital (marista como era chamado) de Qalawun era uma maravilha da época. Ele continha mais de 300 alas para pacientes e era equipado com as mais avançadas ferramentas de cirurgia da época. O hospital tinha muitos médicos empregados, cirurgiões e atendentes. Tinha salas de estudos, banheiros, livrarias e depósitos anexos ao prédio. Recitação do Qur’an acalmava a alma. Musica era tocada para ajudar o processo de recuperação. Os tratamentos eram de graça. Ricos e pobres eram tratados iguais.

Madrasas (escolas) eram anexadas as mesquitas. O conceito de uma mesquita-madrasa cresceu do Masjid al Nabawi, a mesquita do Profeta, em Medina. A ideia encontrou patrocínio ao seu maior nível durante a intensa rivalidade entre os Fatimidas e os Abássidas (969-1100). Cairo e Bagdá se tornaram grandes centros de aprendizagem. Al Azhar cresceu em Cairo e o colégio Nizamiya floresceu em Bagdá. O exemplo destas duas capitais foi copiado pelos centros da província de Merv, Nixapur, Bucara, Samarcanda, Damasco, Fez, Timbuktu e Córdoba, como também cidades que vieram sobre influência islâmica em séculos mais tardes como os de Delhi, Tabriz, Istambul e Lahore. As anotações de Ibn Batuta dizem que as escolas em Cairo eram muito numerosas para contar. Cada mesquita-madrasa tinha um pátio onde grandes professores davam palestras e estudantes ansiosos aprendiam o Qur’an, Fiqh, gramatica árabe, matemáticas, medicina e filosofia, apesar de que estudos de ciências mais seculares como matemáticas, medicina e filosofia não estava a disposição em todas as escolas.

A caravana da qual Ibn Batuta estava viajando foi atrasada. Impaciente para alcançar Hejaz, Ibn Batuta, tomou a rota do sul pelo rio Nilo e através do deserto ao porto sudanês de Aydhab. Ele descreve o vale do Nilo como um jardim varietal, cheio de vida e variedade, servindo como uma cesta de pães para o império Mameluco. Aydhab era uma cidade portuária sulista, empoeirada, quente, sem água, lotada de mercadoria de importação e exportação. Forçado a um clima inóspito, Ibn Batuta voltou a Cairo e de lá ele viajou através de Sinai para a Palestina e Síria. Ele rezou na mesquita de Abraão em al Khalil (Hebron) e ficou vários dias na Masjid al Aqsa em Jerusalém. Em 1326, Jerusalém deixou de ser um ponto de discórdia entre os Cristãos e Muçulmanos. As cruzadas na Palestina tinham terminado e a principal atração da cidade era os seus lugares para peregrinação muçulmanas, cristãs e judaicas. Ibn Batuta ficou varias noites rezando em Masjid al Aqsa e no Domo da Rocha, recordando os eventos passados de Isra e Meraj. Ele também ficou vários dias no zawiyah do Shaykh Sufi Abdul Rahman ibn Mustafa que pertencia a ordem Rifai.

Depois de receber sua ijazat (significando literalmente permissão, também um diploma) do Shaykh ibn Mustafa, Ibn Batuta moveu para Damasco, onde ele encontrou-se com o bem conhecido reformista Ibn Taymiyyah (d. 1328). Os dois estavam em diferentes perspectivas. Ibn Batuta era um homem da nova era sufi. De fato, a onde for que ele ia, ele procurava a companhia de Sufis bem conhecidos. Por contraste, Ibn Taymiyah previa os perigos inerentes na abordagem Sufi, que não tinha provas empíricas e deixava a si ser explorada por charlatões. Os Sufis respondiam a esta acusação se assegurando que a melhor prova empírica de sua abordagem era a notável transformação do caráter humano que aparecia. Ibn Taymiyah era bastante contra as interpretações alegóricas dadas ao Qur’an por certas escolas Sufis e ele sentia que o Qur’an tinha que ser interpretado no sentido literal, como enfatizado por Imam Shafi’i. Ibn Taymiyah travou uma batalha de uma vida toda para alertar a sua geração contra os riscos que ele sentia que espreitavam a abordagem Sufi. Ele pediu aos Muçulmanos voltarem ao que ele sentia ser o vibrante, externo, Islam empírico dos períodos Omiadas e Abássidas. Sem precisar dizer, os dois homens não se viam olho a olho. Como a história iria ter, o mundo islâmico abraçou os Sufis e os eruditos relegaram Ibn Taymiyah, respeitando-o mas esquecendo-o. Foi apenas nos últimos 200 anos, desde a chegada do colonialismo europeu, que o mundo islâmico se virou mais uma vez as idéias de Ibn Taymiyah para achar algumas respostas ao desafio do Ocidente.

Damasco era a segunda maior capital dos Mamelucos e era uma grande cidade no seu próprio respeito. Durante o combate entre os Mamelucos e Il Khans da Pérsia -Iraque (1258-1315), Damasco tinha sofrido. Com o início da paz entre as duas dinastias em 1315, a cidade ganhou sua antiga preeminência como a estação pivô na rota de comércio ligando Egito e a África do Norte ao Mar Negro, Pérsia, China e a Índia. Tinha uma população cerca de 250,000 e era conhecida por seu aço de alta qualidade, chamado Aço Damasco, que era valioso e procurado no mundo.

Um comércio de ferro e os seus processos provém uma ilustração de como o Islam tinha soldado junto o velho mundo em um único bloco comercial. Minério de ferro era exportado da África do Leste ao Gujarate na Índia onde era fundido o ferro-gusa e reexportado a Síria. Em Damasco, era refundado, dado a liga e formado em Aço, usando um processo que só foi redescoberto em 1960 e é referido como super-plasticidade. Ibn Batuta escreveu que os bazares em Damasco estavam cheios de produtos importados que incluía especiarias, pedras preciosas, bordados, perfumes e ervas medicinais da Índia, porcelana da China, peles da área do Mar Negro e cavalos Turcos da Ásia Central. A nobreza em Damasco, copiando o exemplo do Sultão de Cairo, tinha construído numerosas mesquitas, escolas, hospitais, casas de repouso para viajantes, canais e banheiros públicos. Ele ficou uma grande quantidade de tempo na magnificente Mesquita Omiada de Damasco, apreendendo outros assuntos, o Hadith de acordo com Shaykh Bukhari.

Em Setembro de 1326, Ibn Batuta finalmente partiu para cumprir o seu Hajj. Modernas conveniências que Hajjis tomam por garantido nos dias de hoje, não existiam, e as 800 milhas de Damasco a Mecca era uma prova para os duros. Peregrinos normalmente viajavam em grandes caravanas, algumas grandes como 30,000, cheias de provisões para a viagem, lideradas por um emir (líder), acompanhadas por imams, juízes, médicos e protegidas por soldados. Mesmo assim, muitos sucumbiam na rota, pegos por imprevisíveis tempestades de areia, ou atacados por bandidos. Quase levava um ano para fazer o Hajj e para algumas partes da África, como o Mali, levava quase dois anos. Mesmo assim eles iam, os filhos e as filhas de Adão, de todos os cantos da terra, para o sagrado santuário de Mecca, para celebrar o Nome do Criador e para cimentar a prestigiosa irmandade da humanidade.

Os ritos do Hajj não tinham mudado nos mil e quatorze anos desde que o Profeta aperfeiçoou eles. Um peregrino hoje iria experimentar as mesmas emoções e se expressar da mesma forma, como Ibn Batuta fez no ano de 1326. Se aproximando do norte, a caravana de Damascos parou primeiro em Madina, a Cidade do Profeta. Ali, cercado pelo brilho da Mesquita do Profeta, Ibn Batuta rezou, lembrando com frequência o nome do amado Apóstolo de Deus. Em Dhul Halifa, ele descartou sua roupa urbana, vestiu o Ihram e marchou adiante com seus companheiros recitando Talbiya: “Aqui estou, O Senhor, Aqui estou! De fato, apenas Você é merecedor de todo Louvor. De Você é o Prêmio. De Você é o Reinado. Aqui estou ao Teu Comando, O Senhor!”. Emoções o tomou na primeira olhada ao Haram (a palavra Haram é usado apenas para santuários ao redor da Ka’ba em Mecca, a Mesquita do Profeta em Madina e a Mesquita Al Aqsa em Jerusalém), circulado por milhares, invocando o nome de Deus em milhares de diferentes línguas. Ele se misturou a massa humana, completando os círculos.

Depois disso, ele marchou adiante para os montes de Safa e Marwa, relembrando da luta de Hagar para achar agua no deserto, depois que o Profeta Abraão deixou ela ali com seu jovem filho Ismael. Ele lembrou o momento de quando Divina misericórdia interveio para responder a suplica de uma mãe e causou agua jorrar adiante de uma rocha. A mãe, Hagar, gritou, “Zumi, Ya Mubaraka” (Para! O, agua abençoada!). Após atravessar os montes de Safa e Marwa sete vezes, Ibn Batuta bebeu para o contentamento do seu coração do poço Zamzam. (A palavra Zamzam deriva de Zumi, a exclamação que Hagar fez quando ela viu agua jorrar de uma rocha).

De Mecca, ele procedeu-se para Mina e para a grande congregação em Arafat. Nesta planície situaram-se os filhos de Adão, negro e branco, rico e pobre, Árabes e Turcos, Persas e Espanhóis. A onde estava nesta congregação os Reis e a onde estavam os Mendigos? Todos eram iguais na visão de Deus e iguais na visão do homem, na suplica perante o Criador, celebrando apenas o Seu Nome, invocando Sua misericórdia e Sua munificência. De Arafat, Ibn Batuta retornou para Muzdalifa e para a Mina e Mecca para completar os ritos do Hajj e se juntou aos seus companheiros Hajjis em celebração desta abençoada oportunidade. Ele agora cumpriu o seu objetivo da qual ele decidiu quando ele saiu de Tânger, mas horizontes distantes acenavam a ele.

Em 1326, Ibn Batuta se juntou a caravana de peregrinos Persas retornando para casa depois do Hajj. A caravana tomou a rota do norte de Mecca para Madina, pela Arábia central para Cufa. Durante a rota, Ibn Batuta viu muitos poços, aquedutos e paradas de repouso construídos pela Imperatriz Zubaida, esposa de Harun al Rashid, durante seu célebre Hajj (799). Najaf e Karbala eram locais de peregrinação. De Najaf, o jovem viajante virou-se ao sul para Basra, visitando em meio a rota o túmulo do Shaykh Ahmed ibn Rifai, fundador da ordem sufi Rifai. Ele ficou no zawiyah, participando dos ritos Sufis da ordem, incluindo orações, musica e movimentos dos dervishes. Mais distante ao sul, na cidade de Abidjan, Ibn Batuta ficou mais tempo na companhia dos Sufis. Subindo a planície Persa, ele cruzou as montanhas de Zeros para a cidade de Esfahan. Esfahan tinha escapado das devastações Mongóis, parcialmente porque era distante da rota principal dos avanços dos exércitos Mongóis e parcialmente porque evitou desafiar e aceitou as medidas Mongóis de governo. Ibn Batuta ficou com Shaykh Qutbuddin Hussain da ordem Suhrawardi. Ele então prosseguiu a magnifica cidade de Shiraz, da qual, como sua cidade irmã de Esfahan, tinha escapado da devastação Mongol e tinha se tornado um ponto de atividade Sufi na Persia. Shiraz era referida como “Burj e Awliya” (ponte para os amados de Deus, os grandes Sufis) e foi aqui que um bem conhecido poeta Farsi, Shaykh Sa’adi e o venerado Shaykh Sufi Ibn Khafif foi enterrado. Ibn Batuta encontrou o povo Persa a serem generosos, dado a cultura, bons atos e a cultivação de piedade.

Dando a volta, Ibn Batuta visitou Bagdá mas encontrou a cidade lutando para se levantar das ruínas. Persia era nestes tempos governada pelo príncipe Mongol, Abu Said (1316-1335), um realizado erudito, um homem piedoso, um experiente construtor e um administrador capacitado. Sobre ele a Persia tinha prosperado e tinha começado a sair das cinzas deixadas pela destruição Mongol. Os mongóis tinham feito Tabriz a sua capital. Ibn Batuta visitou esta cidade e a encontrou-a como uma prospera cidade comercial comparável a Damasco, embelezada com jardins, mesquitas e palácios.

Retornando a Bagdá, o viajante do mundo pegou uma excursão para o norte de Mosul onde ele visitou uma grande Sufi, uma senhorita chamada Sitt Zahida, que era a santa e professora de muitos grandes Sufis. Na história islâmica, tasawwuf não era um privilégio apenas para os homens. Uma grande quantidade de mulheres se destacam como torres de luz, chamando todos homens e mulheres para aquela espiritualidade que é inerente na humanidade. Rabia al Adawiyyah (d. 802) foi uma das primeiras mulheres Sufis no Islam que expressou amor por Deus em requintadas e refinadas poesias árabes, e era uma professora de muitos grandes shaykhs. Foi bem mais tarde na historia islâmica que mulheres muçulmanas foram puxadas para atrás e foram largamente negadas do privilégio de aprender e ensinar.

Depois de retornar a Meca e estudando ali por dois anos (1327-1329), Ibn Batuta embarcou em uma jornada que o levou para as cidades costeiras junto com as costas ocidentais do Oceano Índico. Desde os tempos de Profeta, Mulçumanos procuravam seu bem estar econômico em comércio. A localização do Oeste Asiático ao lado de grandes rotas de comércio entre a Ásia, Europa e a África proves a eles uma estratégica posição geográfica. A costa do leste Africano era conectada pelo mar para a Índia, Indonésia e a China. Cidades como Abadam e Mascate no Golfo Pérsico, Zafar nas costas do sul da península Árabe e Áden no Iêmen eram portos principais. Incluindo nesta rede de comércio estavam Mogadíscio, Mombasa, Kilwa e Sofala junto a costa Africana. Estas se tornaram cidades prósperas governadas por Emirs muçulmanos locais.

A terra mais ao sul eram chamadas de terra de Zanj. O movimento de pessoas e produtos era bidirecional. No começo do século VIII, tinha uma colônia Zanj no sul do Iraque. O itinerário de Ibn Batuta o levou de Mecca para Suaquém (Sudão), Áden (Iêmen), Zeila (Eritréia), Mogadíscio (Somália), Mombasa (Kenya) e mais ao sul para Zanzibar e Kilwa. A África do Leste exportava ouro, marfim, pele de animal e folhosa. Em retorno importava especarias, tecido de algodão e medicamentos da Índia, porcelana e seda da China, aço de Damascos, brocado e trabalho de cobre de Cairo. A costa Africana era integrada através de missões Sufi como o resto do mundo Islâmico. Eruditos assim como mercadores de tão longe quanto Samarcanta imigravam, casavam com mulheres Africanas e criaram a rica, e a composta cultura de Sahel. Ibn Batuta encontrou os habitantes destas terras bastante afluentes. Eles usavam boas roupas de algodão e refinadas jóias de ouro, rezavam em decoradas mesquita e jantavam em fina porcelana da China. Suas cidades eram pacíficas, sem fortalezas externas, oferecendo uma calorosa e aberta bem vinda a mercadores de terras distantes. Este pacífico, caráter sem muros das cidades costeiras Africanas era de se passar a sua destruição no século XVI, quando navios Portugueses apareceram nas costas e impiedosamente bombardearam as cidades a submissão uma após a outra.

O ano de 1332 viu Ibn Batuta explorar a planície Anatólia e as terras ao redor do Mar Negro. Três de suas observações de Anatólia é de se notar. Primeiro, o espírito de ghazzah era difundido nos Turcos. Ao redor de 1332, os Turcos tinham conquistado a maioria de Anatólia e o nascente principado Otomano logo iria florescer em  um império mundial. Desde o século IX, tribos Turcas tinham arrancado adiante de suas terras para as periferias da Mongólia, primeiro para Khorasan, depois para a Pérsia e mais adiante para Anatólia e alem. Estas migrações mais tarde seriam santificadas em valente luta (ghazzah) para a fé.

O Islã proveio uma abrangente fé para as tribos Turcas das quais seus movimentos intercontinentais teriam sido inevitáveis com ou sem sua conversão em massa ao Islã. Segundo, Ibn Batuta notou a participação de mulheres na vida pública. Mulheres Turcas cavalgavam, iam a guerra, atendiam funções de estado e empreendiam em comércio em par igual com os homens, uma situação não conhecida na estrita atmosfera do Magrebe Maliki de onde Ibn Batuta veio. Não é de se surpreender que os únicos reinados de mulher, as rainhas-monarcas do Islam vieram dos Turcos. (No século XVI, ouve uma sucessão de cinco rainhas Muçulmanas na Indonésia). Terceiro, Ibn Batuta anota que havia fortes presenças de movimentos jovens em Anatólia, ligados as irmandades Sufis. O movimento jovem akhi reforçou os laços fraternos e ensinou aos jovens homens as virtudes de integridade, generosidade, coragem e nobreza. Fraternidades Akhi proves hospitalidade aos eruditos e viajantes. O movimento akhi era para os jovens o que o movimento ghazi era para a população geral.

A visão de Ibn Batuta se virou para o leste em direção a Delhi, que tinha se tornado um íman para Sufis, eruditos e mercadores. Saindo no tardar de 1332, ele viajou através da região de Volga, que era notado ate no seu tempo por seu enérgico comércio de escravos. Depois através de Khorasan e o Khanate de Chagatai, Ibn Batuta viu as ruinas de Bukhara, Samarcanta, Balkh e Herat. Estas eram cidades que uma vez foram as coroas preciosas da civilização Islâmica, mas foram devastadas pelos Mongóis. Ibn Batuta visitou Kabul, Ghazna e Multan onde ele ficou com Shaykh Ruknuddin Abul Fatha da ordem Suhrwardi. Chegando em 1334, ele foi pressionado para serviço como chefe kadi pelo Imperador Muhammed bin Tughlaq, um monarca conhecido por seu intelecto e sua realização literária, como também por seus impulsos. Durante o século passado Delhi tinha crescido de uma pequena cidade guarita, Rajapute, para uma ocupada cidade cosmopolita no centro de um poderoso império. A consolidação do subcontinente sobre o poder central de Delhi trouxe poder sem igual e prosperidade para a Índia. Embaixadas de todos os poderes Asiáticos frequentavam a capital. O Qutub Minar já tinha mil anos de idade e a grande mesquita de Quwwatul-Islam servia como a Jamia Masjid para a metrópole.

De fato, foram as descrições de Ibn Batuta sobre a riqueza e a magnificência da corte de Delhi que fez dele suspeito aos olhos de seus contemporâneos quando ele voltou para sua casa em Marrocos. Sem então uma pessoa como Ibn Khaldun pensou que as historias de Ibn Batuta (“o Shaykh de Tanger”) não tinham credibilidade. Ibn Batuta anota que em 1340, uma embaixada chegou do Imperador Toghon Timur, Yuan Imperador da China, procurando a permissão do Sultão  para construir um monastério Budista perto de Delhi. Muhammed bin Tughlaq negou o pedido. Na retrospectiva histórica, a negação prevenia mais vigorosa interação entre os Muçulmanos Sufis da Índia e os Budistas do Império Yuan e a difusão do Islam em terras Chinesas. Então para não mandar os embaixadores Chineses de mãos vazias, o Sultão confiou que Ibn Batuta acompanha-se eles a Pequim, junto com presentes de ouro, diamantes e pérolas. Como ordenado pelo Imperador, Ibn Batuta partiu com um grande cortejo em 1340, visitando Gwalior, Gujarate e Daulatabad no seu caminho para Surate no oeste da Índia de onde ele planejou embarcar na sua viagem para a China. Mas os seus barcos viraram em uma grande tempestade marítima nas costas de Malabar e Ibn Batuta se encontrou movendo de cidade a cidade junto as costas. Mais viagens o levou para as Ilhas Maldivas , Sri Lanka e Bengal onde ele visitou Shaykh Sufi Jalal de Sylhet. Viajando para o leste da Indonésia, ele foi recebido pelo Sultão Ahmed al Malik al Zahir de Sumatra. Finalmente, ele fez o seu caminho para Pequim Cantão onde ele encontrou uma prospera comunidade de comerciantes muçulmanos.

Voltando para sua casa em Marrocos em 1349, o incansavelmente Ibn Batuta se encontrou em uma jornada para o sul, para o grande império do Mali. Durante os anos de 1351-1355, suas viagens o levou para os centros comercias de Sijilmasa, Ualata, Tumbuctu e Gao ao Rio Níger. Nesta época Mansa Sulaiman, sucessor ao grande Mansa Musa, governava o Mali.

As anotações de Ibn Batuta sobre a vida muçulmana em Mali é notável pelas diferenças em que as mulheres eram tratadas na sociedade Africana e Árabe. Em Mali, Ibn Batuta encontrou que as mulheres não eram isoladas dos homens como elas eram na África do Norte. Como suas irmãs na Anatólia turca, as muçulmanas africanas frequentavam os mercados, participavam da vida da corte e eram livres para se consultarem com qadis e ulemás sem esconder os seus rostos em véus, uma situação que Ibn Batuta, um jurista Maliki, achou censurável. Ibn Batuta encontrou grandes cidades do Rio Níger ricas e prósperas. As pessoas eram piedosas e firmes nas rezas, os eruditos eram bem instruídos no Qur’an e Sunnah, as universidades frequentadas por grandes eruditos de Fez e Cairo e suas grandes mesquitas cheias de crentes. Ibn Batuta retornou para casa em 1355 onde ele ficou o resto de sua vida em serviço do seu governante, Sultão Abu Inan de Merinida. Foi pela ordem deste Sultão que a Rehla foi composta e escrita por Ibn Juzayy usando contas de primeira mão de Ibn Batuta.

O mundo que Ibn Batuta conheceu iria logo desaparecer, engolido por uma grande praga em 1346, que moveu-se como uma aranha negra cruzando o mundo, obliterando cidades inteiras com suas picadas and cativando o crescimento das civilizações Afro-Eurasiana por mais de uma geração. Era este gasto mundo que enfrentou as invasões de Timur de Samarcanta, por volta de 1385.

Fonte: https://nazeerahmed.wordpress.com/contents/the-post-mongol-period/ibn-batuta

Sobre a Redação

A Equipe de Redação do Iqara Islam é multidisciplinar e composta por especialistas na Religião Islâmica, profissionais da área de Marketing, Ilustração/Design, História, Administração, Tradutores Especializados (Árabe e Inglês). Acesse nosso Quem Somos.