Os companheiros do Profeta Muhammad serviram na transferência do livro sagrado islâmico para futuras gerações. O Alcorão foi compilado em um livro no tempo do primeiro califa, Abu Bakr. A jornada do Alcorão, que começou a ser revelado ao Profeta Muhammad durante o mês do Ramadã em 610, na sua forma original até o presente dia é uma característica que nenhum dos livros sagrados anteriores tem. Os companheiros do Profeta Muhammad desempenharam um papel importante na compilação do Alcorão, deixando uma história interessante por trás.
Durante os 23 anos do tempo de Muhammad como profeta, os versos do Alcorão foram memorizados à medida em que foram revelados, e cerca de 42 escribas escreveram seus versos sobre diferentes materiais como papel, tecido, fragmentos de osso e couro. Nos tempos antigos, a alfabetização era uma habilidade que poucas pessoas tinham e o próprio Muhammad não sabia ler ou escrever. Durante a época do califa Abu Bakr, quando 70 pessoas que haviam memorizaram todo o Alcorão de cor (qari) foram mortas na Batalha de Yamama, Omar ibn al-Khattab (que viria a ser o segundo califa) ficou preocupado e apelou a Abu Bakr para compilar o Alcorão em um livro. Abu Bakr formou uma delegação sob a liderança de Zaid ibn Thabit, um dos principais escribas e companheiros do profeta.
Esta delegação de 12 pessoas, incluindo figuras famosas como Uthman ibn Affan, Ali ibn Abi Talib, Talha
Ibn Ubaydullah, Abdullah ibn Masood, Ubayy ibn Kab, Khalid ibn al-Walid, Hudhaifah e Saleem, se reuniram na casa de Omar e reuniram todos os materiais nos quais os versos do Alcorão foram escritos. Além disso, os versos memorizados pelos companheiros também foram ouvidos. Cada um deles foi convidado a mostrar duas testemunhas para o verso que recitavam a fim de autentica-los.
Assim, todos os versos do Alcorão que descrevem a criação do universo e das pessoas, o dia do julgamento, as histórias exemplares das pessoas que viveram antes e as crenças, o culto, a moral e as bases legais que os crentes devem obedecer foram reunidas em um livro de único volume. Cada um dos versos foi ensinado pelo arcanjo Gabriel e declarado pelo Profeta Muhammad. O verso (ayah) é o nome dado a cada sentença do Alcorão e a surah é o nome dado a cada capitulo do livro sagrado. Existem 6.236 versos, 114 surahs e cerca de 323.000 palavras no Alcorão. Saeed ibn al-Aas, que era famoso pela beleza de sua caligrafia, escreveu-os sobre couro de gazela. A escrita usada era a caligrafia árabe do tempo, que já era antiga e usada comumente naquela época na Península Arábica. Os companheiros chegaram a um consenso de que esta escrita, usada pelo profeta Ismael, é a escrita dos muçulmanos. A cópia unificada do Alcorão foi recitada aos companheiros em uma reunião geral. Não houve objeção. Então, surgiu um livro chamado “mushaf”, que significa ”versos escritos”. Um total de 33 mil companheiros concordaram que todas as palavras do Alcorão estavam no lugar certo. Então este mushaf foi enviado paraOmar ibn al-Khattab. Após sua morte, este livro passou para Hafsah, a filha de Omar e uma das esposas do Profeta Muhammad.
Uma diferença foi observada na recitação do Alcorão nas batalhas da Armênia entre muçulmanos de Damasco e do Iraque durante o período do terceiro califa, Uthman. Hudhaifah, um dos companheiros, foi ante o califa no caminho de volta de uma expedição e pediu-lhe para solucionar isto. No 25º ano da hégira (647), Uthman reuniu uma delegação com a presença de Abdullah ibn al-Zubair, Saeed ibn al-Aas e Abd al-Rahman ibn Harith sob a liderança de Zaid ibn Thabit. Todos, exceto Zaid, eram da tribo de Quraysh. Uthman disse que o dialeto de Quraysh deveria ser preferido se eles caíssem em conflito com Zaid em relação ao dialeto, já que o Profeta Muhammad era da tribo Quraysh. O Alcorão havia sido revelado em sete dialetos da língua árabe da época. Os primeiros muçulmanos que eram alfabetizados podiam facilmente ler a escrita de seu próprio idioma, mas um pouco diferente, já que na época o alfabeto árabe não tinha marcas diacríticas para diferenciar letras ou símbolos de vogais. Por exemplo, aqueles da tribo Tamim pronunciavam a letra “sin” como “te” e liam a palavra “nass” como “nat“. Era diverso e conveniente, e não mudava o significado. A delegação trouxe o mus’haf original da Hafsah. Neste mus’haf, as surahs não estavam separadas entre si. As surahs foram ordenadas de acordo com a ordem de sua revelação no manuscrito de Ali e de acordo com seus comprimentos no manuscrito de Abdullah ibn Masood. Agora, os versos foram escritos no dialeto Quraysh. As surahs foram dispostas em filas, separadas entre si em relação ao seu comprimento e alinhamento entre si. A ordem das surahs não se baseava na ordem em que o arcanjo Gabriel lhes recitou ao Profeta Muhammad, mas no consenso dos companheiros.
As cópias antigas foram destruídas para evitar futuros conflitos. Por isso, há algumas seitas xiitas que acusam Uthman de mudar o Alcorão. Da nova cópia, alguns mushafs também foram escritos em pergaminho e enviados para diferentes lugares como Bahrein, Damasco, Basra, Kufa, Iêmen e Meca, acompanhados por um qari (pessoa que havia memorizado todo o livro). Há rumores de que cópias foram enviadas ao Egito também. A cópia que ficou com o califa foi chamada al-Mushaf al-Imam (o mushaf principal). Não há diferença entre os mushafs recitados em todo o mundo hoje, já que todos foram copiados de cópias originais. Assim, o Alcorão foi escrito durante a vida do Profeta Muhammad, enquanto sua compilação foi feita durante o califado de Abu Bakr e foi copiado durante o califado de Uthman.
Uthman também estabeleceu escolas especiais para a recitação e escrita corretas do Alcorão. Durante o califado de Ali, viu-se a introdução de marcas diacríticas (os acentos). Durante o tempo do califa omíada Abd al-Malik, marcas vogais também foram adicionadas. Desde então, inúmeros muçulmanos memorizaram o Alcorão. No mês do Ramadã, todo o Alcorão é recitado na oração Tarawih na Caaba em Meca. Mesmo o menor erro pode se destacar para os muçulmanos que o memorizaram oriundos de vários cantos do globo.
Alguns desses sete primeiros mus’hafs desapareceram ao longo do tempo. Hoje, no Palácio de Topkapi e no Museu de Artes Turco-Islâmicas em Istambul, há mus’hafs do período de Uthman e Ali. Um deles foi escrito à mão por Uthman, e os outros dois por Ali. Enquanto a cópia no Egito estava na Mesquita de Amr ibn al-Aas, foi apresentada ao sultão otomano Selim II e trazida ao palácio de Topkapi após a conquista do Egito. Alguns afirmam que esta é de fato a cópia de Medina e que o último sobrevivente da família abássida levou com ele enquanto escapava para o Egito do massacre mongol. Dizem que, devido a uma mancha semelhante a sangue em uma de suas páginas, é cópia que o próprio califa Uthman lia quando foi martirizado. Outros mus’hafs pertencentes ao primeiro período do Islã são exibidos na Mesquita Al-Hussein no Cairo, na Bibliotheque Nationale em Paris, na Biblioteca Britânica em Londres, na Biblioteca Hast Imam em Tashkent e em outros museus. Um museu recém-inaugurado em Meca também apresenta versos do Alcorão escritos em ossos e pedras. Os versos escritos em rochas e pedras no século VII na Arábia também sobreviveram ao presente
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