Aposto que você nunca ouviu falar destas duas recentes histórias:
Uma mulher de 49 anos de idade em Nova York sofreu queimaduras em mais de 50 por cento do corpo porque o pai dela despejou ácido em seu rosto e corpo.
Uma mulher de 29 anos em Montreal sofreu queimaduras em mais de 70% de seu corpo. Por quê? Seu namorado verteu ácido em seu rosto durante um ataque de raiva, e literalmente derreteu sua pele.
Você não conheceu estas histórias porque os ataques de ácido são arbitrariamente anunciados como “problema muçulmano”. Nesses casos, nem as vítimas, nem os agressores, eram muçulmanos. Sugere-se que 99,9 por cento desses ataques ocorrem na cultura muçulmana. Confira as notícias sobre a vítima acima em Nova York. Ela termina com um link direcionando a uma história de ataque com ácido no Afeganistão. Fale se não é um dado sugestivo…
Essa sugestão, no entanto, está errada. Mais de 80 por cento de todos os ataques com ácido são cometidos contra mulheres. Porém, em alguns casos, as mulheres também cometeram esses crimes contra outros homens ou contra outras mulheres, mas a maioria foram por motivos de retaliação. Portanto, os homens são o denominador comum – e não o islã.
Um relatório da OMS observou: “Além de Bangladesh, violência perpetrada com ácido tem sido relatada no Afeganistão, Camboja, China, Índia, Jamaica, Nepal, Nigéria, Paquistão, África do Sul e Uganda. Houve também alguns casos isolados na europa e na américa do norte.”
“A violência perpetrada com ácido é um fenômeno mundial”, disse a Acid Survivor Trust International, a maior organização européia que ajuda vítimas de ataques com ácido, “isso não se restringe a uma determinada raça, religião ou localização geográfica”. Segundo estimativas, mais de 1.500 Pessoas em 20 países são vítimas de ataques com ácido a cada ano.
Desculpe pessoal, mas dizer que os ataques com ácido são unicamente realizados no mundo muçulmano é como dizer que raiva, estupro, vingança, ressentimento – e os homens – são coisas exclusivas do mundo muçulmano. Não funciona assim.
Alguns troçadores insistem: “Os homens americanos provavelmente receberam a idéia dos muçulmanos”. Essa é uma piada ruim por dois motivos; é insensível e imprecisa. De acordo com o New York Times, um homem do Brooklyn jogou ácido no rosto de “excitante aparência” da proprietária do local em que residia na década de 1890.
A verdade é que quase nenhuma raça, religião, país ou costume considerável é imune a este crime vil.
Pegue a Colômbia. Um país de língua espanhola da américa do sul que recentemente reportou cerca de 100 ataques de ácido por ano. A população do país é 95% cristã e menos de 1% muçulmana. Então, você culparia a cultura cristã ou espanhola?
Considere o Camboja. Localizado perto do Vietnã, relatou aproximadamente 100 ataques de ácido ao longo de um período de dois anos. Mais de 95% do país pratica o budismo com menos de 2% de muçulmanos. Um pouco de mais para tanto Nirvana (estado espiritual de paz absoluta e invencível) em um só lugar, eu suponho.
Ou dê uma olhada na Índia. Enquanto os números reais são muito maiores, um estudo da Universidade Cornell afirma que houve pelo menos 153 ataques com ácido relatados apenas na mídia indiana de 1999 a 2010. O país é 80% hindu, 13% muçulmanos e 2% sikh (que também não são imunes a tais ataques). Muitos casos foram reportados ocorridos em Hong Kong e China. Mesmo em Israel, um pequeno país, um professor e dois alunos foram queimados quando uma família judaica decidiu trazer a disputa para a escola, jogando ácido em seus rostos.
Conte tudo e você acaba com cerca de 5 bilhões de pessoas, seguidores de cinco das maiores religiões do mundo, abrangendo cinco continentes.
Sim, a taxa de ataques perpetrados com ácido continua a ser maior nos países de maioria muçulmana, mas isso é verdade para as taxas de poliomielite, analfabetismo, pobreza e corrupção, sugerindo uma hipótese alternativa.
Essa hipótese, de acordo com os psicólogos, é o desprezível desejo de infligir desfiguração permanente, não morte, à vítima. E os sentimentos de raiva, vingança, ressentimento no fundo desse farisaísmo, tem a pobreza, analfabetismo e falso orgulho em grande parte como responsáveis por tais desejos. Vamos ver como esta hipótese ressoa com nossas mentes.
A raiva causou cegueira permanente para Victor Riesel, um jornalista famoso, quando um gângster jogou-lhe ácido em Nova York em 1956.
Talvez o paradigma da vingança raivosa estivesse em jogo quando as mulheres no Arizona, Cleveland e Chicago sofreram ataques semelhantes nos últimos anos.
Nós não sabemos se foi ressentimento ou tentativa de ganhar simpatia quando uma mulher no estado de Washington foi pega em flagrante com um ataque ácido auto-infligido.
E a justiça vitriólica feita palas próprias mãos – que já queimou pessoas nas clínicas de aborto nos estados do Texas, Louisiana e Flórida em 1998 – e continua a ameaçar clínicas similares na Inglaterra.
Felizmente, os perpetradores já não estão conseguindo um passe livre – mesmo em países muçulmanos. Desde que Bangladesh introduziu a pena de morte por destilar ácido em outrem em 2002, de acordo com Morrison e Rahman, os ataques de ácido caíram de cerca de 500 em 2002 para menos de 100 em 2010. No Irã, os ataques de ácido agora são considerados um crime capital. O documentário ganhador do Oscar “Saving Face” expôs esses crimes hediondos no Paquistão, onde os ataques de ácido agora são punidos com prisão perpétua.
Os homens muçulmanos devem perceber: ficar indiferente a esses crimes que acontecem em países muçulmanos é como permitir que alguém dissolva ácido sulfúrico no rosto do islã.
E todos os homens podem ajudar, conscientizando ao máximo de pessoas possíveis sobre e contra esses crimes, e exigindo legislação mais rigorosa onde vivem, em vez de culpar o Islã.
Fonte: https://www.huffingtonpost.com/faheem-younus/acid-attacks-are-not-islam_b_1856007.html
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