Com a queda do nordeste da Ásia Menor para os turcos otomanos, um grande número de prisioneiros de guerra cristãos foram trazidos para capital otomana, e muitos cristãos se estabeleceram no território islâmico como dhimmis (não-muçulmanos sob governo islâmico).
O primeiro ministro otomano Alauddin, filho mais velho de Osman Gazi, fundador do Império Otomano, e irmão de Orkhan, o então sultão após a morte de Osman Gazi, convenceu seu irmão mais novo, o agora sultão Orkhan do perigo que os grandes senhores feudais da região apresentavam, pois possuíam grandes exércitos e muitas vezes ofereciam um risco para o Estado otomano central.
Os senhores feudais podiam usar o grande influxo de cristãos e sua influência contra o governo central otomano. Assim, parecia sábio que houvesse um recrutamento dos jovens entre os prisioneiros de guerra e súditos cristãos para serem educados e treinados pelo poder central para criar um exército de elite, e educá-los dentro dos ensinamentos do Islam.
A este exército seria dado o posto de armada real, e sua lealdade era esperada para que não se revoltassem contra o Estado. Além disso, eles poderiam provar seu valor como muçulmanos devotos e seus familiares não pensariam em se revoltar e lutar contra o poder central, já que seus próprios filhos compunham o exército real.
Quando o plano foi posto em prática, e vários jovens cristãos foram recrutados e treinados para a elite da armada real, muitos cristãos nos domínios do império vieram aos centros de treinamento com seus filhos para que entrassem no corpo de janízaros, pois nisso havia muitas vantagens. O treinamento dos janízaros não consistia somente em ensinamentos militares, eles eram também alfabetizados em turco, árabe ou persa. Eram versados em muitas disciplinas seculares a nível básico como matemática. Isso trazia ao cargo de janízaro um status muito alto, eles eram membros da própria guarda pessoal do sultão, algo que camponeses cristãos europeus jamais poderiam imaginar para seus filhos, que viviam numa sociedade feudal decadente e miserável, em que estes luxos eram raramente desfrutados por alguns cavaleiros, membros do clero e da nobreza.
A taxa diária prescrita de pagamento para entrada de nível de janízaros no tempo de Ahmet I era de três Akches. Promoção para um regimento de cavalaria implicava um salário mínimo de 10 Akches. Os Janízaros recebiam uma soma de 12 Akches a cada três meses para roupas e 30 Akches para armamento com um subsídio adicional para munição também.
Eles eram pagos com salários e pensões e tinham direito a aposentadoria e formaram sua própria classe social distinta. Como tal, tornaram-se uma das classes dirigentes do Império Otomano, rivalizando com a aristocracia turca. Os mais brilhantes dos janízaros foram enviados à instituição palácio. Através de um sistema de meritocracia , os janízaros tinham um enorme poder . Os ensinamentos do Islam e o treinamento militar de alto nível, fizeram deles uma força de soldados temidos e valentes, e ao mesmo tempo devotos guerreiros muçulmanos de um império que acabara de nascer, e vivia sob constante pressão e ameaça por todos os lados.
A única arma da Europa e seus reis cristãos contra os janízaros era a difamação. Boatos se espalhavam de que os janízaros eram filhos de cristãos recrutados à força por uma regra de ”imposto de sangue”, que segundo eles seria uma prática do Islam, de que os cristãos deveriam dar seus filhos como escravos para os exércitos otomanos em cotas anuais de crianças. Para quem já viu o ”caso das noivas criança do Hamas”, ou ”Cristão queimados vivos por muçulmanos na Nigéria”, esse boato medieval só difere na idade.
A Igreja Católica e a nobreza europeia temiam em muito as políticas otomanas. Ao anexar territórios de reinos vizinhos após vitórias militares, os otomanos tinham uma política bastante ”a frente de seu tempo”. Aos conquistados, era permitida a liberdade religiosa, e a isenção de imposto por alguns anos até que pudessem se recuperar do prejuízo da guerra e pagassem a Jaziyah (imposto devido aos dhimmis). Isso diferia em muito a vida que os camponeses da mesma Europa cristã levavam, com taxas cobradas tanto pela igreja como pelo estado, e a total falta de mobilidade social. Estas duas diferenças sociais levou um grande numero de camponeses cristãos a migrarem para terras otomanas, ao passo que em alguns períodos, havia mais cristãos vivendo neste Estado islâmico de que muçulmanos.
À medida que cresciam em número, os janízaros eram separados em divisões distintas entre si. Quando em acampamento, cada divisão reunia-se em torno de um caldeirão de cobre onde seu alimento era preparado, e curiosamente adotaram uma forte simbologia com base na comida. Chamavam seus coronéis de “fazedor de sopa chefe”, oficiais-intendentes eram “cozinheiros chefes”, e assim por diante. Os caldeirões eram levados para as batalhas, e se eles fossem perdidos, toda a unidade era dispensada e impedida de integrar a mesma companhia.
Os janízaros permaneceram por muito tempo como a elite do exército turco, entrando em batalha em momentos decisivos ou apenas como último recurso para garantir a segurança do sultão.
Certamente que os janízaros eram a elite dos soldados do Império Otomano. Eram inimigos temíveis, e isso, provavelmente, se devia ao fato de terem sido os primeiros a adotar as armas de fogo, antes mesmo da difusão destas. Além disso, os janízaros eram muito bem equipados com armaduras em seus fardamentos, e também eram bastante hábeis no manejo do arco recurvo e composto (um arco laminado construído de madeira, osso ou chifre, e tendões de animais). Entre eles, o maior costume era raspar a cabeça, deixando um rabo de cavalo e um tufo de cabelo no topo, eles também eram conhecidos pelos seu inconfundíveis bigodes. Usavam cáftans e zarcolas (um chapéu de feltro um tanto alto).
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