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Os árabes são considerados uma ‘’raça superior’’ no Islam?

Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso

O Islam é uma religião igualitária no sentido de que se opõe a todas as formas de racismo, tribalismo, doutrinas e ideologias perniciosas que incitam o orgulho de uma classe de pessoas contra outra. O Alcorão e a Sunnah transmitem uma mensagem consistente sobre a igualdade padrão de todas as pessoas, com a piedade/temencia (at-taqwa) sendo a única característica distintiva que torna alguém melhor do que outro.

Allah disse:

‘’Em verdade, o mais nobre de vocês para Allah é o mais temente/piedoso.’’

-Surata al-Hujurat 49:13

Abu Nadrah relatou: O Mensageiro de Allah, que a paz e as bênçãos estejam com ele, disse:

‘’Ó povo, seu Senhor é um e seu pai Adão é um. Não há superioridade de um árabe sobre um não-árabe, nem de um não-árabe sobre um árabe, e nem da pele branca sobre a pele negra, nem da pele negra sobre a pele branca, a não ser pela piedade. Fui claro?’’

Fonte: Musnad Aḥmad 22978, Grau: Sahih

Esses textos, e muitos outros, são explicitamente claros em sua rejeição às hierarquias baseadas na raça ou linhagem. É suficiente para os crentes se apegarem firmemente à sua mensagem, independentemente do que os outros possam dizer a eles.

No entanto, houve um discurso problemático entre os estudiosos clássicos que afirmam que os árabes têm "favor" (fadl) e "mais virtude" (afdal) sobre os não-árabes, em contradição direta com as palavras claras do Alcorão e da Sunnah.

Para piorar as coisas, esse discurso foi mais tarde cooptado por alguns nacionalistas árabes modernos na era da consciência racial. Foi deturpado para alegar que o Islam justifica a superioridade dos árabes sobre todas as outras pessoas, a tal ponto que não é incomum ouvir alguns árabes hoje se referirem a um negro como 'abid (escravo) ou usar outros termos depreciativos. Tais atos e ideias racistas não têm base alguma no Islam.

O texto principal em torno do qual o discurso clássico da "virtude árabe" girava é a seguinte tradição profética:

‘’Em verdade, Allah escolheu Kinanah dos filhos de Ismael, e ele escolheu os Coraixitas de Kinanah, e ele escolheu a tribo de Hashim dos Coraixitas, e ele me escolheu da tribo de Hashim.’’

Fonte: Ṣaḥīḥ Muslim 2276, Grau: Sahih

Uma leitura imparcial dessa tradição demonstra que é bastante rebuscado inferir dela a superioridade ontológica dos árabes étnicos em todos os tempos e lugares. Em vez disso, essa tradição é semelhante ao que Allah disse sobre outros profetas e nações.

Allah disse:

‘’Em verdade, Allah escolheu Adão e Noé e a família de Abraão e a família de Imran dentre os mundos.’’

Surat Ali Imran 3:33

E Allah disse:

‘’Ó filhos de Israel, lembrem-se da Minha bênção que lhes dei e que os favoreci acima dos mundos.’’

Surat al-Baqarah 2:47

Allah favorece algumas nações em detrimento de outras ao conceder revelação divina sobre elas, mas não tem nada a ver com raça, tribo ou linhagem. Allah só favorece algumas nações sobre outras por causa de suas obras justas. Esse favor se perde com a perda da piedade, e é por isso que os israelitas acabaram caindo em desgraça.

Algumas narrações também foram falsamente atribuídas ao Profeta para apoiar uma reivindicação de superioridade árabe:

‘’O melhores dentre os povos são os árabes, e o melhor dos não árabes são os persas.’’

De acordo com Ash-Shawkani em seu livro al-Fawā’id al-Majmū’ah 1/414, esta tradição é fabricada (mawdu).

Alguns estudiosos clássicos citaram o discurso da "virtude árabe" como evidência para apoiar uma condição de "adequação" (kafa'ah) no casamento, o que significa que eles desencorajaram os árabes a se casarem com não árabes. Ainda hoje, existem subculturas muçulmanas que desencorajam o casamento fora de sua tribo ou raça.

As preocupações razoáveis ​​com a compatibilidade cultural e linguística no casamento são válidas, porque a esposa e o marido devem ser capazes de se relacionar facilmente. No entanto, a única condição básica real para adequação no casamento é a compatibilidade da religião, não raça ou qualquer outra coisa.

Imam Malik, que Allah tenha misericórdia dele, disse:

‘’A conveniência para o casamento está na religião e nada mais.’’

E Ibn Abdul Barr disse:

‘’Esta é toda a doutrina de Malik e seus companheiros.’’

Fonte: al-Mughnī 7/35

A preponderância de evidências expõe a inegável fraqueza da visão de que os árabes são superiores em virtude de sua etnia, visto que se opõe aos textos categóricos do Alcorão e da Sunnah. Mesmo assim, alguns estudiosos ainda fizeram da virtude dos árabes sobre outros um ponto de discussão em seus livros.

Ibn Taymiyyah foi um desses estudiosos clássicos que se engajou no discurso da "virtude árabe". Embora esse discurso seja precário, para dizer o mínimo, sua posição era muito mais matizada do que alguns entenderam. Ele afirma que os árabes só foram favorecidos em relação aos outros por causa de suas ações louváveis.

Ibn Taymiyyah escreve:

‘’Esta razão para este favor, e Allah sabe melhor, é por causa da qualidade de suas mentes, sua linguagem, seu caráter e seus atos. Esse é o favor, seja por conhecimento benéfico ou por atos justos.’’

Fonte: Iqtiḍā ’al-Ṣirāṭ al-Mustaqīm 1/447

Em outro lugar, ele nega explicitamente que esse "favor" esteja relacionado à raça ou cor da pele:

‘'Favor' está apenas de acordo com termos louváveis ​​no Livro e na Sunnah, como Islam, fé, benevolência, retidão, conhecimento, atos retos, excelência espiritual e assim por diante. Não é apenas pelo fato de um ser humano existir como árabe ou não-árabe, ou ser de pele negra ou branca, ou por residir na cidade ou no campo.’’

Fonte: Iqtiḍā ’al-Ṣirāṭ al-Mustaqīm 1/415

Portanto, mesmo entre os estudiosos clássicos que se engajaram nesse discurso, não há nada superior na composição genética ou linhagem física dos árabes étnicos para torná-los melhores do que outros. Como foi mencionado, a única qualidade para tornar alguém melhor é a piedade. O máximo que pode ser dito é que os árabes eram melhores do que outras nações na época em que o Islam foi revelado e na medida em que mantêm essas boas qualidades.

Como as tribos de Israel, os árabes também podem perder seu favor divino por negligenciar as virtudes pelas quais Allah os favoreceu em primeiro lugar.

Não há nada no Islam que privilegie os árabes étnicos e exclua outros muçulmanos. Ser árabe em si não é um requisito para a liderança no Islam.

Abu Mas’ud relatou: O Mensageiro de Allah, que a paz e as bênçãos estejam com ele, disse:

‘’O mais versado na recitação do Alcorão deve conduzir a oração. Se eles são iguais em sua recitação, então aquele que tem mais conhecimento deles na Sunnah. Se são iguais em conhecimento da Sunnah, então aquele que primeiro realizou a emigração. Se eles emigraram ao mesmo tempo, então aquele que primeiro abraçou o Islam. Nenhum homem deve liderar outro homem em oração, nem sentar-se no lugar de honra em sua casa, a menos que tenha sua permissão.’’

Fonte: Ṣaḥīḥ Muslim 673, Grau: Sahih

Os mais qualificados para liderar a oração são aqueles que podem recitar melhor o Alcorão. Isso envolve apenas o conhecimento da linguagem do Alcorão e dos modos de recitação (tajwid). Na verdade, alguns falantes não nativos de árabe são superiores em seu conhecimento do Alcorão do que os falantes nativos de árabe que só entendem seu dialeto coloquial (ammiyah).

Talvez o melhor exemplo de transcender o racismo no Islam venha do grande companheiro Bilal ibn Rabah, que Allah esteja satisfeito com ele. Bilal era originalmente um escravo africano antes do Islam, a classe mais baixa da sociedade árabe, mas depois do Islam ele se tornou um amado líder muçulmano em virtude de seu conhecimento, piedade e caráter.

Omar ibn Al-Khattab, que Allah esteja satisfeito com ele, costumava dizer:

‘’Abu Bakr é nosso mestre e ele emancipou nosso mestre Bilal.’’

Fonte: Ṣaḥīḥ al-Bukhārī 3544, Grau: Sahih

A maioria dos ilustres juristas muçulmanos das primeiras gerações eram escravos libertos ou não árabes. Estudiosos famosos, como Muhammad ibn Sirin, Tawus, Al-Bukhari, Al-Ghazali e muitos outros, eram de ascendência não árabe, mas sua contribuição acadêmica para o Islam foi maior do que a vasta maioria dos árabes étnicos.

Algumas pessoas que utilizam o discurso clássico da "virtude árabe" hoje o empregam para fins malignos, citando meros fragmentos de uma discussão de outra forma matizada. Eles perverteram o motivo pelo qual esses estudiosos até mesmo discutiram isso.

Ibn Taymiyyah escreve:

‘’Com efeito, este discurso é composto por duas questões, uma das quais é que é dever do muçulmano, quando vê virtudes ou fala delas, seguir o caminho dos sábios na religião, cujo objetivo é reconhecer o bem, para examiná-lo e esforçar-se por isso. Seu propósito não é que alguém se orgulhe de outro ou menospreze o outro.’’

Fonte: Iqtiḍā ’al-Ṣirāṭ al-Mustaqīm 1/452

De acordo com Ibn Taymiyyah, a questão da "virtude árabe" tinha como objetivo encorajar os muçulmanos a imitar as boas características pelas quais os árabes e sua cultura eram favorecidos: sabedoria, conhecimento, boas ações e assim por diante. Não se destinava a rebaixar outras culturas, raças, tribos ou etnias, nem a dar apoio teológico ao racismo e preconceito modernos.

Em suma, o Islam defende a igualdade inerente de tribos, raças e etnias. A única qualidade que torna um melhor do que o outro é a retidão. O discurso clássico da "virtude árabe" é altamente problemático, pois é apenas vagamente baseado no Alcorão e na Sunnah, e tem sido utilizado por grupos contemporâneos por razões manifestamente prejudiciais, para promover o racismo tanto a favor quanto contra o Islam.

Como tal, os muçulmanos não precisam desse discurso, independentemente da erudição dos estudiosos clássicos que o engajaram no passado. Em vez disso, os muçulmanos devem aderir apenas à linguagem clara e explícita do Alcorão e da Sunnah, que expressa a igualdade de todas as pessoas e as virtudes pelas quais qualquer ser humano pode se tornar bom.

E sucesso vem de Allah, e Allah sabe mais.

Fonte: abuaminaelias.com

 

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