As pessoas têm comentado e escrito muito sobre o sufismo, como a disciplina é conhecida, mas ao fazer esses artigos, deve se esforçar para compreender o contexto através da tradução, se Deus quiser, o famoso Livro de Sabedoria de Ibn ‘Ata’ Illa (al-Hikam al-‘Ata ‘iyya), um manual clássico de desenvolvimento espiritual, juntamente com alguns comentários sobre isso. Qualquer um tem uma tariqa e um sheik ou não, e Ibn ‘Ata’ Illah está escrevendo sem apologia àqueles que o fazem, embora os insights destacados possam interessar muitos outros.
O intérprete transmite esse conhecimento com a autorização de Sheikh ‘Abd al-Rahman al-Shaghouri, de Muhammad Sa’id al-Kurdi, de Muhammad al-Hashimi, de Ahmad al-‘Alawi, de Muhammad al-Buzidi, de Muhammad Qaddur al-Wakili, de Abu Ya’za al-Mahaji e Muhammad ibn ‘Abd al-Qadir, de al-Arabi al-Darqawi, de’ Ali al-Jamal, de al-‘Arabi ibn ‘Abdullah, de Ahmad ibn’ Abdullah , de Qasim al-Khassasi, de Muhammad ibn ‘Abdullah, de’ Abd al-Rahman al-Fasi, de Yusuf al-Fasi, ‘Abd al-Rahman al-Majdhub, de’ Ali al-Sanhaji al-Dawwar, de Ibrahim al-Fahham, de Ahmad Zarruq, de Ahmad al-Hadrami, de Yahya al-Qadiri, de ‘Ali ibn Wafa, de Muhammad Wafa Bahr al-Safa, de Dawud al-Bakhili, de Ibn’ Ata ‘Illah al-Iskandari o autor da obra (Alá esteja satisfeito com todos eles), que diz:
O sheik começa seu livro com este aforismo-chave, pois é do adab ou “caminho apropriado” para que se possa percorrer o caminho espiritual, para então se concentrar no tawhid ou na “Unicidade Divina”, neste contexto, o que significa confiar em Allah e não em obras, uma vez que:
“Apesar de Deus vos ter criado, bem como o que elaborais?” Alcorão 37:96
O método para se alcançar a ascensão espiritual possui 3 patamares, consistindo em conhecimento (‘ilm), prática (‘ amal), e o estado resultante (hal) concedido por Allah. O conhecimento aqui significa tudo o que nos foi transmitido pelo Santo Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz), que é o conteúdo da Lei Sagrada ou da Shari’a. A prática deste conhecimento, interiormente e externamente, com coração e membros, é o caminho espiritual ou tariqa. O estado resultante, o desenho de Allah implantado perto do coração para que assim, haja aproximação de Deus, é o surgimento da Presença Divina sobre a alma, denominada por sufis como “realidade final” ou haqiqa.
Ibn ‘Ata’ Illah, como um guia espiritual, está preocupado com o segundo momento da ascensão, o caminho e as obras, então começa seu livro ao deixar o viajante saber que a questão do seu progresso espiritual está somente nas mãos de Allah O desânimo decorrente dos erros inevitáveis que se comete no caminho é um sinal de que a confiança está sendo depositada em alguém em vez de Allah.
As obras, seja a oração, o dhikr (lembrança de Allah), o jejum, ou jihad, não fazem com que alguém chegue ao fim do caminho, é só uma das vias para se alcançar a ascensão espiritual. Assim como colocar a rede no mar não produz peixe, embora seja preciso mantê-la lá para que, se Allah enviar peixes, eles possam ser pegos – assim também acontece com as obras, elas são uma rede, e seus resultados espirituais são advindos de Deus.
Abu Hurayra (Deus fique bem satisfeito com ele) ouviu o Santo Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) dizer:
“Nenhum de vós será salvo pelas vossas obras”. Um homem disse: “Nem mesmo você, ó Mensageiro de Deus?” Ele então respondeu: “Nem mesmo eu, a menos que Allah me envolva com piedade. Mas intencione fazer o bem “(Muslim, 4.2169: 2816).
Imam Nawawi comenta:
O significado externo desses hadiths, dentre muitos que Muslim relata, assume a posição daqueles que são corretos, onde ninguém merece recompensa e paraíso por seus atos de obediência. Quanto às palavras de Deus, o Altíssimo:
“…Entrai no Paraíso, pelo que haveis feito!” 16:32 e “…Eis o Paraíso que herdastes em recompensa pelos que fizestes.” 7:43
E versos semelhantes que indicam que entramos no Paraíso segundo nossas obras, obras não contradizem esses hadiths. Tais versículos dizem que entramos no Paraíso por conta de nossas obras , embora tenhamos tido sucesso pela permissão Divina. Fomos guiados a ter sinceridade em nossas práticas e o fato de Deus aceitá-las é devido a misericórdia de Allah. ( Sahih Muslim, 17.160-61).
O verdadeiro caminho espiritual é o da gratidão. Abu Sulayman al-Darani costumava dizer: “Como um homem sábio pode ser presunçoso com relação às suas obras espirituais, quando estas são apenas um presente de Deus e uma benção dada por Ele, somente para que ele O agradeça” (Nata’ij al-afkar , 1.114). E Abu Madyan disse: “A ruptura do coração do pecador é melhor do que a força do obediente” (Diwan, 50).
Ibn ‘Ata’ Illah neste aforismo (texto breve que enuncia uma regra) está informando ao viajante para que este não seja velado do verdadeiro caminho por sua própria determinação. Enquanto irada ou “determinação” é pressuposta, por sinal e de fato, a palavra “murid” ou “discípulo” é derivada disso. O caminho finalmente o enaltece em seu oposto através do tawhid, revelando que é uma mera causa, unida à ascensão da alma, não por necessidade lógica, mas pela generosa generosidade de Allah. Por esse motivo, alguns sheiks chamam aqueles que buscam os benefícios espirituais de murid ou “discípulo”, e os conseguintes de faqir ou “necessitado”. O profeta Moisés (sobre quem seja benção e paz) disse quando chegou à terra de Midian.
“Ó Senhor meu, em verdade, estou necessitado de qualquer dádiva que me envies!” 28:24
Essa humilde sinceridade de escravidão, ou podemos dizer realismo, permite que o viajante espiritual se beneficie do lado bom e do lado ruim do caminho.
Ele se beneficia do bem quando vê o caminho por outra perspectiva, não sendo a sua, sendo humilde, pois, como Abu Bakr al-Wasiti disse: “O mais próximo de tudo aquilo que Deus despreza está a contemplação de si próprio e suas ações” (‘Uyub al-nafs, 39), isso contradiz o tawhid, então Deus diz:
“Todas a mercês de que desfrutais emanam d’Ele” 16:53
E ele se beneficia do lado ruim através de sua fé (iman), praticando atos de obediência e se arrependendo das coisas ruins que praticou, agradando assim Allah o Altíssimo. Anas ibn Malik (Allah esteja satisfeito com ele) relatou através do Santo Profeta (Deus o abençoe e lhe dê paz) que disse:
“Verdadeiramente, Deus se alegra mais pela expiação de Seu servo quando mostra arrependimento para com Ele do que com um de vocês. Certa vez um servo estava com seu camelo em um deserto vazio, e este escapou com toda comida e água, então o servo perdeu as esperanças em encontrá-lo e deitou-se de baixo da sombra de uma árvore. Enquanto estava deitado ali, o camelo apareceu em pé do seu lado, ele então o prendeu e cheio de alegria gritou: “Ó Deus, você é meu escravo, e eu sou seu senhor”, cometendo um erro por pura alegria “(Muslim, 4.2104: 2747).
O segredo do verdadeiro arrependimento (tawba) no caminho espiritual consiste nessa alegria que é encontrada somente em Deus, o Altíssimo. Abul Hasan al-Shadhili, o sheik do próprio sheik de Ibn ‘Ata’ Illah, costumava rezar diariamente a Deus: “E quando nós te desobedecermos Senhor, mostre-nos misericórdia ainda maior do que quando nós O obedecemos” (Invocações, 27).
Ibn ‘Ata’ Illah escreveu desde o primeiro aforismo, em seu livro de sabedoria, para informar o viajante de que, quando as falhas acontecem, também há trabalho a ser feito: arrepender-se sinceramente a Deus, ter a certeza da generosidade Divina e esperar pelo melhor do caminho espiritual. O que marca a confiança em Deus é o fato da esperança não ser afetada. O que marca a confiança em si próprio é a interrupção da subida por um passo em falso, despencando assim juntamente com o orgulho ferido. O desânimo no caminho é uma incompreensão da Onipotência divina, enquanto a certeza no caminho e no Senhor é do adab daqueles que conhecem Allah.
Fonte: https://masud.co.uk/book-of-wisdoms-al-hikam-al-ataiyya/
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