Um dos grandes imâms sufis que também era conhecido como um muhaddith, pregador e jurista mâliki, Abu al-Fadl Ibn ‘Ata’Allah al-Iskandari (m. 709) é o autor de al-Hikam (Aforismos), Miftâh al-Falâh (A Chave para o Sucesso), al-Qasd al-Mujarrad fî Ma’rifat al-Ism al-Mufrâd (O Objetivo Puro Concernente ao Conhecimento do Nome Único), Tâj al-‘Arûs al-Hâwi liTadhhib al-Nufûs (A Coroa da Noiva Contendo a Disciplina das Almas), ‘Unwân al-Taufîq fî Adab al-Tarîq (O Sinal do Sucesso Concernente à Disciplina do Caminho), a biografia al-Latâ’if fî Manâqib Abi al-‘Abbâs al-Mursi waShaikhihi Abi al-Hasan (As Bênçãos Sutis nas Vidas Santas de Abu al-‘Abbâs al-Mursi e Seu Mestre Abu al-Hasan al-Shâdhili), en outros. Ele era aluno de Abu al-‘Abbâs al-Mursi (m. 686) e o segundo sucessor do fundador sufi, Imâm Abu al-Hasan al-Shâdhili.
Ibn ‘Ata’Allah foi um dos que confrontaram Ibn Taimiyya por seus excessos em atacar aqueles dos sufis com o qual ele discordou. Nunca se refere a Ibn Taimiyya por nome nas suas obras, mas é claro que é dele que ele fala quando diz, no seu Latâ’if, que Allah pôs os sufis a teste através dos que ele chama de “os sábios de aprendizado externo”. Nas páginas abaixo está a primeira tradução inglesa [e agora portuguesa, Nota do T.] do acontecimento histórico que ocorreu entre os dois.
Texto do Debate
Do Usûl al-Wusûl por Muhammad Zaki Ibrâhîm Ibn Kathîr, Ibn al-Athîr e outros autores de dicionários biográficos e biografias nos transmitiram esse debate histórico autêntico. Isso nos dá uma ideia da ética do debate entre as pessoas de aprendizado. Documenta a controvérsia entre uma personalidade de relevância no tasawwuf, Shaikh Ahmad Ibn Ata’Allah al-Iskandari, e uma pessoa igualmente importante no então chamado movimento “salafista”, Shaikh Ahmad Ibn ‘Abd al-Halîm Ibn Taimiyya durante a Era Mameluca no Egito sob o reino do Sultão Muhammad Ibn Qalawun (al-Malik al-Nasir).
O Testemunho de Ibn Taimiyya para Ibn ‘Ata’Allah: Shaikh Ibn Taimiyya foi preso em Alexandria. Quando o Sultão o perdoou, voltou para o Cairo. Na hora da reza do anoitecer ele foi para a mesquita de al-Azhar onde a salât al-maghrib estava sendo guiada pelo Shaikh Ahmad Ibn ‘Ata’Allah al-Iskandari. Depois da reza, Ibn ‘Ata’Allah ficou surpreso de descobrir que Ibn Taimiyya estava rezando detrás dele. Cumprimentando-o com um sorriso, o shaikh sufi cordialmente deu as boas-vindas à chegada de Ibn Taimiyya ao Cairo, dizendo: “as-salâmu ‘alaikum”. Então Ibn ‘Ata’Allah começou a conversar com o visitante erudito.
Ibn ‘Ata’Allah: “Ordinariamente rezo a reza do anoitecer na mesquita do Imâm Husain e a reza noturna aqui. Mas veja como o plano divino acontece! Allah ordenou que eu deveria ser primeiro a cumprimentar você (depois de seu retorno ao Cairo). Conte-me, ó faqîh, você me culpa pelo que aconteceu?
Ibn Taimiyya: “Eu sei que você não quis me causar nenhum dano, mas nossas diferenças de opinião ainda estão de pé. Em todo caso, quem quer que tenha me causado dano de qualquer maneira, de hoje em diante eu o exonero e o livro de qualquer culpa nesse assunto.”
Ibn ‘Ata’Allah: “O que é que você sabe sobre mim, Shaikh Ibn Taimiyya?”
Ibn Taimiyya: “Sei de você ser um homem de piedade escrupulosa, aprendizado abundante, integridade e confiabilidade no discurso. Testemunho que nunca tinha visto ninguém como você seja no Egito ou na Síria que ame a Allah mais nem que seja mais modesto n’Ele, nem que seja mais obediente em cumprir o que ele comandou e em se refrear do que ele proibiu. Apesar disso, temos nossas diferenças. O que você sabe sobre mim? Está declarando que sou desviado quando eu nego a validade de invocar qualquer um salvo Allah por ajuda (istighâtha)?”
Ibn ‘Ata’Allah: “Claro, meu querido colega, você sabe que istighâtha ou chamar por ajuda é o mesmo que tawassul ou buscar um meio e pedir por intercessão (shafâ’a); e que o Mensageiro, sobre ele a paz, é aquele cuja ajuda é buscada já que é nosso meio e aquele cuja intercessão nós buscamos.”
Ibn Taimiyya: “Nesse assunto, sigo o que a Sunna do Profeta afirmou na Sharî’a. Pois isso foi transmitido num hadîth confiável: ‘Fui outorgado com o poder da intercessão.” Também coletei os ditos do versículo alcorânico: ‘(…) talvez assim teu Senhor te conceda uma posição louvável.’ (17:79) no sentido de que ‘posição louvável’ é a intercessão. Além disso, quando a mãe do Comandante dos Fiéis ‘Ali morreu, o Profeta rezou para Allah no túmulo dela e disse: ‘Ó Allah que vive e nunca morre, que adianta e decreta a morte, perdoe os pecados de minha mãe Fâtima bint Asad, torne amplo o lugar onde ela entra, através da intercessão por mim, Seu Profeta, e os Profetas que vieram antes de mim. Pois Você é o o mais misericordioso daqueles capazes de terem misericórdia.’
Essa é a intercessão que pertence ao Profeta, sobre ele a paz. Quanto a buscar a ajuda de alguém que não Allah, isso tem traços de idolatria; pois o Profeta comandou seu primo ‘AbdAllah ibn ‘Abbâs para não pedir ajuda a ninguém fora Allah.”
Ibn ‘Ata’Allah: Que Allah o faça prosperar, ó faqîh! Quanto ao conselho que o Profeta — sobre ele a paz — deu a seu primo Ibn ‘Abbâs, ele queria o aproximar de Allah não através de sua relação familiar com o Profeta mas através do seu conhecimento. Quanto a seu entendimento da istighâtha como sendo buscar a ajuda de alguém sem ser Allah que seria idolatria, pergunto a você: há algum muçulmano que possui fé real e crendo em Allah e em Seu Profeta que pensa que haja outro que não Allah que tenha poder autônomo sobre eventos e que seja capaz de executar o que Ele queira em relação a eles? Há algum crente verdadeiro que creia que haja alguém que possa recompensá-lo por seus bons atos e puni-lo por seus maus, que não seja Allah?
Fora isso, devemos considerar que há expressões que não devem ser tomadas somente em seu sentido literal. Não é por causa de medo de associar um parceiro a Allah e para que se bloqueie os meios para a idolatria. Pois quem quer que busque ajuda do Profeta somente busca seu poder de intercessão com Allah e quando você mesmo diz: ‘Essa comida satisfaz meu apetite.’ A comida em si satisfaz seu apetite? Ou seria o caso de que é Allah quem satisfaz seu apetite através da comida?
Quanto a sua declaração de que Allah proibiu os muçulmanos de invocar qualquer outro que não seja Ele mesmo buscando ajuda, você já viu de fato algum muçulmano invocando alguém que não Allah? O versículo que você citou do Alcorão foi revelado concernente aos idólatras e àqueles que costumavam invocar falsos deuses e ignorar Allah. Então, o único modo dos muçulmanos buscarem a ajuda do Profeta é no sentido de tawassul ou buscando um meio, pela virtude do privilégio que ele recebeu de Allah (bi haqqihi ‘indAllah) e tashaffu’ ou buscar intercessão, pela virtude do poder de intercessão que Allah lhe outorgou.
Quanto ao seu pronuncuamento de que istighâtha ou buscar ajuda é proibido na Sharî’a porque pode levar à idolatria, se esse fosse o caso, então deveríamos proibir também as uvas, porque elas são meios de se fazer vinho, e castrar os homens não casados porque não fazê-lo deixaria no mundo um meio de cometer fornicação e adultério.”
Com o último comentário ambos os shaikhs riram. Ibn ‘Ata’Allah continuou: “Sou familiarizado com o inclusivismo e previsão da escola legal
fundada pelo seu shaikh, o Imâm Ahmad, e sei da compreensividade de sua própria teoria legal e sobre seu princípio de bloquear os meios para o mal (sadd al-dhara’i’) assim como o senso de obrigação moral que um homem de sua proficiência na jurisprudência islâmica e integridade deve sentir. Mas percebo também que seu conhecimento da língua demanda que você pesquise os significados ocultos das palavras que são frequentemente veladas por trás de seus sentidos óbvios. Quanto aos sufis, significados para eles é como um espírito, e as palavras em si são como seu corpo. Deve-se penetrar profundamente no que está por trás do corpo verbal para que se pegue a realidade mais profunda do espírito da palavra.
Agora que você encontrou uma base para sua regra contra Ibn ‘Arabi no Fusus al-Hikam, o texto o qual foi adulterado por seus oponentes não só com coisas que ele não disse, mas com afirmações que ele sequer poderia ter intencionado dizer (dado o caráter de seu Islã). Quando o Shaikh al-Islâm al-‘Izz ibn ‘Abd al-Salâm entendeu o que o Shaikh Ibn ‘Arabi realmente disse e analisou, entendeu e compreendeu o significado real de seus pronunciamentos simbólicos, pediu o perdão de Allah por sua opinião anterior sobre o shaikh e reconheceu que Muhyiddîn ibn ‘Arabi foi um Imâm do Islã.
Quanto à afirmação de al-Shâdhili contra Ibn ‘Arabi, você deveria saber que Abu al-Hasan al-Shâdhili não foi a pessoa que o disse, mas um dos alunos da Shâdhiliyya. Além disso, sendo essa afirmação que aquele aluno estava falando sobre algum dos seguidores de al-Shâdhili. Assim, suas palavras foram tomadas duma maneira que ele mesmo nunca intencionou.
“O que você pensa sobre o Comandante dos Fiéis, Sayyidinâ ‘Ali ibn Abi Tâlib, que Allah esteja satisfeito com ele?”
Ibn Taimiyya: No hadîth do Profeta, sobre ele a paz, é dito: “Sou a cidade do conhecimento e ‘Ali é sua porta.” Sayyidinâ ‘Ali é um mujâhid que nunca foi a uma batalha exceto que retornasse vitorioso. Que sábio ou jurista que veio depois dele se esforçou por Allah usando a língua, a pena e a espada ao mesmo tempo? Ele foi o mais talentoso Companheiro do Profeta — que Allah honre seu semblante. Suas palavras eram uma lâmpada radiante que me iluminaram durante todo o curso da minha vida depois do Alcorão e Sunna. Ah! Alguém que está sempre carente de provisões e abundante em sua jornada.
Ibn ‘Ata’Allah: Agora, o Imâm ‘Ali pediu para alguém tomar seu lado numa facção? Pois essa facção que tem declarado que o anjo Gabriel cometeu um erro e entregou a revelação a Muhammad — sobre ele a paz — em vez de ‘Ali! Ou ele lhes pediu que declarassem que Allah encarnou em seu corpo e que o Imâm se tornou divino? Ou ele não lutou e os trucidou e deu uma fatwa (opinião legal) de que eles deveriam ser mortos onde quer que se encontrassem?
Ibn Taimiyya: “Na base dessa mesma fatwa, fui para combatê-los nas montanhas da Síria por mais de dez anos.
Ibn ‘Ata’Allah: E o Imâm Ahmad — que Allah esteja satisfeito com ele — questionou as ações de alguns de seus seguidores que tinham o hábito de sair em patrulhas, quebrando barris de vinho (nas lojas de seus vendedores cristãos ou onde quer que os encontrassem), derramando seu conteúdo no chão, espancando meninas cantoras e confrontando gente na rua. Tudo isso eles faziam no nome de recomendar o bem e proibir o que era proibido. Entretanto, o Imâm não tinha dado nenhuma fatwa de que eles poderiam censurar ou repreender toda essa gente. Consequentemente, esses seguidores deles foram açoitados, jogados na prisão e desfilaram montados no lombo de burros voltados para o rabo.
Agora, é o próprio Imâm Ahmad responsável pelo mal comportamento que os piores e mais perversos hanbalis continuam perpetrando até nossos dias mesmo, no nome de recomendar o bem e proibir o que é proibido?
Tudo isso é para dizer que o Shaikh Muhyiddîn Ibn ‘Arabi é inocente a respeito do que aqueles dos seus seguidores fazem, os quais absolvem gente de obrigações legais e morais estabelecidas pela religião e de cometer atos que são proibidos. Você não enxerga isso?
Ibn Taimiyya: “Mas onde que eles estão em respeito a Allah? Entre vocês sufis estão aqueles que afirmam que quando o Profeta — sobre ele a paz — deu as boas novas aos pobres e disse que eles entrariam no Paraíso antes dos ricos, os pobres entraram em êxtase e começaram a rasgar suas roupas em pedaços; que naquele momento o anjo Gabriel desceu do céu e disse ao Profeta que Allah buscou sua porção de direito dentre essas roupas rasgadas; e que o anjo Gabriel carregou uma delas e a pendurou no trono de Allah. Por essa razão eles declaram que os sufis vestem roupas com remendos e chamam a si mesmos de fuqarâ’ ou os “pobres”!
Ibn ‘Ata’Allah: “Nem todos os sufis vestem vestes e roupas remendadas. Aqui estou eu diante de você: o que você desaprova da minha aparência?”
Ibn Taimiyya: “Você está entre os homens da Sharî’a e leciona em al-Azhar.”
Ibn ‘Ata’Allah: “al-Ghazzâli foi igualmente um Imâm tanto em Sharî’a quanto em tasawwuf. Tratou as normas legais, a Sunna e a Sharî’a com o espírito do sufi. E aplicando esse método foi capaz de reviver as ciências religiosas. Sabemos que o tasawwuf reconhece que o que é manchado não tem parte na religião e que a limpeza tem o caráter da fé. O sufi verdadeiro e sincero deve cultivar no seu coração a fé reconhecida pelo Ahl al-Sunna.
Dois séculos atrás o exato fenômeno dos pseudossufis apareceu que você mesmo critica e rejeita. Haviam pessoas que buscaram diminuir a realização da adoração e obrigações religiosas, aliviando o jejum e menosprezando as cinco rezas diárias. Eles se degeneraram para as arenas vastas da preguiça e desleixo, declarando que eles foram libertados dos grilhões da escravidão da adoração divina. Não satisfeito com seus próprios feitos malignos, até que eles declararam intimações das realidades mais estravagantes e estados místicos, tal como o próprio Imâm al-Qushairi descreveu na sua famosa Risâla, que ele direcionou contra eles. Ele também estabeleceu em detalhes o que constituía o verdadeiro caminho para Allah, que consiste em se agarrar firme no Alcorão e Sunna. Os Imâms do tasawwuf desejam chegar a uma realidade verdadeira não só por meio de evidências racionais concebidas pela mente humana que são capazes de serem tanto falsas quando verdadeiras, mas por meio da purificação do coração e purgando o ego através de uma série de exercícios espirituais. Eles deixam de lado as preocupações da vida desse mundo na medida em que o verdadeiro servo de Allah não se ocupe com qualquer outra coisa exceto o amor de Allah e Seu Profeta. Essa é uma ordem alta de negócios e uma que torna o servo piedoso e próspero. É uma ocupação que reforma aquelas coisas que corrompem a criatura humana, tais como amor pelo dinheiro e ambição por posição pessoal na sociedade. Entretanto, é uma ordem de negócios que é constituída por nada menos do que a guerra espiritual por causa de Allah.
Meu amigo erudito, interpretar textos de acordo com seus significados literais pode às vezes levar uma pessoa ao erro. Literalismo é o que causou seus julgamentos sobre Ibn ‘Arabi que é um dos Imâms de nossa fé conhecido por sua piedade escrupulosa. Você entendeu que ele escreveu de uma maneira superficial; enquanto os sufis são mestres das figuras literárias que intimam significados muito mais profundos, linguagem hiperbólica que indica consciência espiritual elevada e palavras que transmitem segredos concernentes ao reino do invisível.”
Ibn Taimiyya: “Esse argumento está contra você, não a seu favor. Pois quando o Imâm al-Qushairi viu seus seguidores se desviando do caminho para Allah ele tomou uma atitude para melhorá-los. O que os shaikhs sufis fazem nos nossos dias? Só peço que os sufis sigam o caminho da Sunna desses grandiosos e piedosos ancestrais de nossa fé (Salaf): os ascetas (zuhhâd) entre os Companheiros, a geração que seguiu seus passos da melhor forma possível que puderam! Quem quer que aja dessa maneira eu estimo altamente e o considero um Imâm da religião. Quanto à inovação injustificada e a inserção de ideias dos idólatras tais como os filósofos gregos e os budistas indianos, ou como a ideia de que um homem possa encarnar Allah (hulûl) ou alcançar unidade com ele (ittihâd), ou a teoria de que toda a existência é uma em existência (wahdat al-wujûd) e outras coisas do tipo para as quais seu shaikh convoca as pessoas: é claramente ateísmo e descrença.”
Ibn ‘Ata’Allah: “Ibn ‘Arabi foi um dos mais grandiosos juristas que seguia a escola de Dâwûd al-Dhâhiri através de Ibn Hazm al-Andalusi, que é próximo de sua metodologia em lei islâmica, ó hanbalis! Mas embora Ibn ‘Arabi fosse um dhâhiri (isto é, um literalista em assuntos de lei islâmica), o método que ele aplicava para entender a realidade última (al-haqîqa) era buscar o significado oculto e espiritual (tarîq al-bâtin), isto é, purificar o eu interior (tathir al-bâtin). Entretanto nem todos os seguidores do oculto são do mesmo jeito. Para que você não caia em erro ou esqueça, repita sua leitura de Ibn ‘Arabi com um entendimento fresco de seus símbolos e inspirações. Perceberá que ele é muito semelhante a al-Qushairi. Ele tomou seu caminho no tasawwuf sob a proteção do Alcorão e Sunna bem como a Prova do Islã, Shaikh al-Ghazzâli, que participou de debates sobre diferenças doutrinais em assuntos de crença e questões de adoração mas as considerou ocupações carentes de valor e benefícios reais. Convidou as pessoas para verem que o amor de Allah é a maneira de um servo correto de Allah em respeito à fé.
Você tem algo a objetar sobre isso, ó faqîh? Ou você ama as disputas dos juristas muçulmanos? O Imâm Mâlik, que Allah esteja satisfeito com ele, exercia extremo cuidado sobre tais altercações em assuntos de crença e costumava dizer: “Sempre que uma pessoa entra em discussão sobre questões de crença ela diminui sua fé.” Semelhantemente al-Ghazzâli disse: “O meio mais rápido de se aproximar de Allah é através do coração, não do corpo. Não quero dizer por coração essa coisa de carne palpável pela visão, audição, vista e toque. Antes, tenho em mente o segredo mais interno de Allah mesmo, o Exaltado e Grande, que é imperceptível à vista ou toque.” De fato, o Ahl al-Sunna são aqueles mesmos que chamaram o shaikh sufi al-Ghazali de “a Prova do Islã,” e não há ninguém que contradiga suas opiniões ainda que um dos sábios tenha sido excessivo em elogiar seu livro quando disse: “O Ihyâ’ ‘Ulûm al-Dîn era quase um Alcorão.”
A execução da obrigação religiosa (taklîf) na visão de Ibn ‘Arabi e Ibn al-Farid é uma adoração cujo mihrab, ou nicho de reza indicando a orientação da reza, é seu aspecto interno, não meramente seu ritual externo. Pois o que é bom para você se levantando e sentando rezando se seu coração está preocupado com algo que não Allah? Allah elogia as pessoas quando diz no Alcorão: “Que são humildes em suas orações” (23:2) e culpa as pessoas quando diz: “Que são negligentes em suas orações” (107:5). Isso é o que Ibn ‘Arabi quis dizer quando diz: “A adoração é o mihrab do coração, isto é, o aspecto interno da reza, não o externo.”
O muçulmano é incapaz de chegar ao conhecimento da certeza (‘ilm al-yaqîn) ou à certeza em si (‘ain al-yaqîn) da qual o Alcorão fala ao menos que ele evacue seu coração do que quer que o distraia no caminho dos anseios mundanos e se centre na contemplação interna. Então os jorros da realidade divina encherão seu coração, e dali brotará seu sustento. O sufi real não é aquele que deriva seu sustento pedindo e esmolando. O único que é sincero é aquele que instiga seu coração e espírito à auto-obliteração em Allah por obediência a Allah. Talvez Ibn ‘Arabi tenha causado que os juristas se levantassem contra ele por causa de seu desprezo da preocupação deles de argumentar e se altercar sobre assuntos de crença, casos legais reais e situações legais hipotéticas, já que ele viu o quanto isso os distrai de purificar o coração. Ele os chamou de “os juristas da menstruação das mulheres”. Que Allah lhe conceda refúgio de estar entre eles! Já leu a afirmação de Ibn ‘Arabi de que “quem quer que erija sua fé exclusivamente em provas demonstrativas e argumentos dedutivos, erige uma fé na qual é impossível se confiar”? Pois ele está afetado pelas negatividades de constantes objeções. A certeza (al-yaqîn) não se deriva das evidências da mente, mas emana das profundezas do coração.” Você já leu uma fala tão pura e doce como essa?”
Ibn Taimiyya: “Você falou bem… Se pelo menos seu mestre fosse como você diz, pois então ele estaria o mais longe possível da descrença. Mas o que ele disse não pode sustentar os significados do que você foi dado, na minha visão.”
“Reproduzido com permissão, de “The Repudiation of ‘Salafi’ Innovations” [O Repúdio das Inovações “Salafistas”] do Shaikh M. Hishâm Kabbâni (Kazi, 1996), p. 367-379,
Bênçãos e Paz sobre o Profeta, sua Família e seus Companheiros
Fonte: https://www.abc.se/home/m9783/ir/ez/isl/On-Tsw_I.AtaAllah.html
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