- O Livro “Guerra Santa” de Nigel Cliff desmistifica muitos aspectos das relações entre os árabes e os europeus.
- A conquista portuguesa na Índia foi cercada de mitos sobre os muçulmanos e ignorância sobre a população daquele país.
- Além disso, muitas das atrocidades dos heróis da navegação portuguesa também são detalhadas na obra.
Terminando hoje a leitura do livro ”Guerra Santa” de Nigel Cliff, que narra as explorações portuguesas à Índia e demais partes da Ásia, separei alguns pontos que notei na minha leitura:
- O idioma árabe era a língua do comércio. Fosse você um europeu de Portugal ou Espanha, o idioma que teria de usar para negociar no mundo fora da Europa era o árabe.
- A Europa não era uma massa cristã unida como alguns tentam propor quando falam de ”invasão islâmica”. A realeza e nobreza europeia vivia em um mar de guerras intermináveis, independente de todos serem católicos, muitos se aliaram com muçulmanos contra seus correligionários.
- Os Europeus criaram uma ideia Oriente tão fantasiosa que supera qualquer universo criado por autores de ficção atuais. As ”descobertas” de navegação europeia foram motivadas por 3 fatores: encontrar um rei cristão lendário chamado Preste João (que até hoje não foi encontrado), matar muçulmanos e por fim ao Islam, e falir o monopólio Veneziano sobre o comércio das tão vorazmente cobiçadas especiarias.
- Os heróis de Portugal que se lançaram ao mar em uma missão heróica de desbravar o mundo não passavam de cruzados sem escrúpulos que queriam converter o mundo ao cristianismo forçosamente. Não respeitavam a religião local onde quer que chegassem com seus navios imundos com seus marinheiros literalmente apodrecendo vivos pela falta de higiene.
- Quando os primeiros portugueses liderados por Vasco da Gama chegaram à Índia, encontraram no comércio oriental a cooperação relativamente pacífica entre os muçulmanos e pessoas de demais religiões orientais, inclusive judeus (que ao passo que tinham seus correligionários sendo queimados vivos na Europa, na Índia tinham até seu próprio príncipe). Os muçulmanos desde a costa Oriental da África até o sudeste Asiático controlavam o comércio que era ricamente fervilhante de todas as riquezas da terra.
- Um dos maiores motivos (se não o maior) para os portugueses pensarem em expansão marítima era acabar com o Islam. Os navegadores portugueses como Afonso de Albuquerque não tinham nenhum escrúpulo, acreditando que eram absorvidos por Deus (e com as bençãos do Papa), atacavam navios de comerciantes muçulmanos matando todos a bordo e pilhando tudo que encontrassem. Fossem velhos, mulheres ou crianças, ninguém estava livre das mãos dos assassinos de Cristo. O próprio Vasco da Gama ao afundar um navio muçulmano de peregrinos e comerciantes deixou apenas 17 crianças como sobreviventes para que fossem batizadas como cristãs a força. A barbaridade dos cristãos da época superava qualquer ato de terroristas muçulmanos de hoje em dia.
- Os Europeus alegavam que tentavam combater os muçulmanos para buscar e auxiliar cristãos indianos quando chegassem a Índia. Porém ao encontrar cristãos nestorianos na Índia, os obrigaram a se converterem ao catolicismo a força. Inclusive matando muitos padres locais.
- Nada que os europeus trouxessem como mercadoria interessava os comerciantes locais, e os governantes riam dos presentes que os portugueses lhes entregavam. Não passavam de quinquilharias que só tinham valor na empobrecida Europa. Quando não conseguiam forçar ninguém a comprar suas bugigangas, os europeus recorriam a invasão e guerra. Conversões forçadas, chacinas, torturas, esquartejamento de cadáveres eram rotina por onde os ”servos de Cristo” passavam.
- Os europeus eram totalmente ignorantes no que dizia respeito ao lugar que queriam invadir. Acham que todos indianos não-muçulmanos eram cristãos. Acham que os templos hindus eram igrejas, e os deus adorados pelos indianos uma espécie exótica de santos.
- Muçulmanos e protestantes cooperaram durante anos decisivos para a Reforma, com proteção em território otomano para refugiados protestantes perseguidos na Europa pela Igreja Católica. Os sultões otomanos davam auxílio militar com muitas tropas e navios para a Inglaterra e França na guerra contra os Habsburgos da Espanha e Sacro Império Romano. O rei francês chegou a despovoar a cidade de Tulon e transformar a catedral da cidade em mesquita para acomodar os aliados muçulmanos.
No fim das contas, vejo que a visão de alguns de que na história humana não existem vilões nem mocinhos está totalmente errada. Se homens como Afonso de Albuquerque e Vasco da Gama não são vilões, acho que alguns conceitos da historiografia precisam ser revistos, por que se não, daqui alguns séculos homens como Stalin e Hitler serão tidos como heróis que cometeram erros devido circunstâncias.
– Victor Peixoto.
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