Ah.mad ibn `Abd al-H.alîm ibn `Abd Allâh ibn Abî al-Qâsim ibn Taymiyyah, Taqî al-Dîn Abû al-`Abbâs ibn Shihâb al-Dîn ibn Majd al-Dîn al-H.arrânî al-Dimashqî al-H.anbalî (ou mais comumente conhecido como Ibn Taymiyyah) (661-728/1263-1328) foi um dos mais influentes intelectuais da escola hambali tardia, elogiado pelo mestre em ahadith (tradições proféticas) S.alâh. al-Dîn al-`Alâ’î como “Nosso shaykh, mestre e imam entre nós e Allâh o Todo Poderoso, o mestre da verificação, o viajante do melhor caminho, o proprietário dos múltiplos méritos e provas imperceptíveis que todos concordam que são impossíveis de enumerar, o shaykh, o imam e fiel servo de seu Senhor, o doutor na Religião, o Oceano, o Pólo luminoso da espiritualidade, o líder dos imâms, a bênção da Comunidade, o sinal do povo do conhecimento, o herdeiro dos Profetas, o último dos que são capazes de independente raciocínio jurídico, o mais singular dos estudiosos da Religião, Shaykh al-Islâm (o Sheykh do Islã) … ”
Estudante de Ibn `Abd al-Dâ’im, al-Qâsim al-Irbilî, Ibn `Allân, Ibn Abî `Amr al-Fakhr, Ibn Taymiyyah desenvolveu seu conhecimento principalmente sozinho até que atingiu grande erudição. Shaykh al-Islâm, al-H.âfiz. al-Taqî al-Subkî disse: “Ele ensinou, escreveu livros, deu opiniões legais formais, e geralmente se distinguia por sua ágil sagacidade e memória fotográfica.’’1
Entre seus mais notáveis estudantes estão os mestres em hadith Ibn al-Qayyim, al-Dhahabî, Ibn Kathîr, and Muh.ammad ibn Ah.mad ibn `Abd al-Hâdî al-Maqdisî (705-744/1305-1343) assim como o jurista e narrador de hadith da escola Hanbali Sirâj al-Dîn Abû H.afs. `Umar ibn `Alî ibn Mûsâ al-Azjî al-Bazzâr (688-749/1289-1348) que não deve ser confundido com o h.âfiz. Abû Bakr al-Bazzâr (215-292/830-904)!
As opiniões e condutas de Ibn Taymiyyah criaram uma intensa controvérsia, tanto durante sua vida como após sua morte. Notou Al-Sakhâwî em al-Tawbîkh (p. 61): “Certas pessoas começaram a repudiá-los e a criar uma relutância geral em fazer uso de seus ensinamentos, apesar de suas estaturas no conhecimento, escrupulosidade piedosa e ascetismo. A razão para isto eram suas línguas afiadas e indelicadezas no discurso áspero e críticas excessivas, tais como Ibn H.azm e Ibn Taymiyya, que foram posteriormente julgados e prejudicados.
Uma ilustração do status ambivalente de Ibn Taymiyyah é o fato de que, embora o mestre em hadith da escola shafi’i al-Mizzi não tenha dado a ninguém o título de shaykh al-Islam em seu tempo além de Ibn Taymiyyah, Abî `Umar al-H.anbalî, e Imâm Taqî al-Dîn al-Subkî2, o erudito da escola hanafi `Alâ’ al-Dîn al-Bukhârî emitiu uma fatwa (veredito religioso) alegando que se qualquer pessoa chamasse Ibn Taymiyyah de shaykh al-Islam, tal pessoa teria cometido apostasia 3 e escreveu um livro contra o último intitulado al-Muljima li al-Mujassima (“Inibição ao Antropomorfista”)4.
Ibn Nâsir al-Dîn al-Dimashqi contrapôs esta fatwa ao autorar al-Radd al-Wâfir, no qual listou todas as autoridades que haviam escrito em louvor a Ibn Taymiyyah ou o chamavam de Sheikh al-Islâm. Shaykh `Abd al-Fattâh. Abû Ghudda inclui Ibn Taymiyya entre os estudiosos que nunca se casaram e extravagantemente o nomeia “Shaykh al-Islâm e o Porta-Estandarte de todos os porta-estandartes” em seu livro al-‘Ulam’al-Uzzâb, que ele escreveu depois que se estabeleceu em Najd (Península Arábica).
Em Bayân Zaghl al-‘Ilm al-Dhahab, afirma:
”Se você atingisse excelência nos Princípios (al-Us.ûl) e seus afiliados – lógica, ética, filosofia, os ditos dos antigos e as parábolas- ao mesmo tempo protegendo-se com o Livro (Alcorão) e a Sunnah, bem como as doutrinas dos salaf (probos antecessores), então juntando-se entre a razão e a transmissão, ainda, eu não acho que você atingiria o nível de Ibn Taymiyyah. Não, por Deus! Você nem se aproximaria. No entanto, eu vi o que aconteceu com ele – quanta oposição ele enfrentou, deserção, declarações legítimas e ilegítimas de heresia, apostasia e mendacidade! Antes de entrar nessa ciência [i.e. doutrina islâmica], ele estava brilhando com a luz e iluminando outros, trazendo os sinais do salaf em sua face. Então ele se tornou sem luz, escuro e sombrio para incontáveis grupos de pessoas, um mau dajjal (no sentido de enganador) e descrente de acordo com seus inimigos, enquanto grande número de sábios e elites o consideravam um eminente, brilhante e erudito inovador (mubtadi` fâd. Il muh.aqqiq bâri`), a comunidade de seus amigos ignorantes, um e todos, o consideravam portador do Islâm, o defensor da Religião, e o reavivador da Sunnah “.5
Em `Ibar, depois de louvar seu professor, al-Dhahabî afirma:” Ele também teve algumas opiniões estranhas pelas quais foi atacado “. Ibn `Abd al-Hâdî em al-`Uqûd al-Durriyya faz uma admissão meandrosamente semelhante que seu professor foi acusado de inovação: ” Ele deu vazão a certas expressões que os eruditos anteriores e posteriores nunca se atreveram a usar enquanto ele corajosamente as indulgiu.’’6
Em sua monografia biográfica, al-Durratu al-Yatmimiyya al-Sîrati al-Taymiyya, al-Dhahabi relata que Ibn Daqîq al-îd disse, ao se encontrar com Ibn Taymiyya: “Vi um homem com todas as ciências (expostas) diante de seus olhos, levando o que desejava e deixando o que desejava “. Perguntado por que ele não o debateu, Ibn Daqîq al-‘îd respondeu: “Porque ele gostava de falar (yuh.ibbu al-kalâm) e eu amo o silêncio”.7
Imâm S.alâh. Al-Dîn al-Safadî disse: “O Shaykh, Imâm e erudito sábio Taqî al-Dîn Ah.mad ibn Taymiyya – Allah tenha misericórdia dele! -era imensamente versado, mas tinha uma inteligência defeituosa (` aqluhu nâqis. ) que o envolvia em perigos e o fazia cair em dificuldades. “8
Seu primeiro confronto com os estudiosos ocorreu em 698/1298, em Damasco, quando ele foi impedido de ensinar apos emitir sua Fatwâ H.amawiyya, na qual inequivocamente atribuiu direção vertical literal para a presença de Allah (swt) (disse que Deus está literalmente no céu e sentado literalmente em um trono). Ele foi refutado por seu contemporâneo, Imâm Ibn Jahbal al-Kilâbî (d 733), em uma longa resposta que Tâj al-Dîn al-Subkî reproduziu na íntegra em seu T.abaqât al-Shâfi’yyya al-Kubrâ. Ibn Jahbal escreveu: “Como você pode dizer que Allah está literalmente (h.aqîqatan) no (fi) céu, e literalmente acima (fawq) do céu, e literalmente no (fi) Trono, e literalmente sobre (`alâ) o Trono?!” 9
Qâd.î Yûsuf al-Nabahânî também refutou a Hamawiyya de Ibn Taymiyyah em sua magnífica epístola Raf` al-Ishtibâh fî Istih.âlat al-Jiha` alâ Allâh (“A Remoção da Incerteza Sobre a Impossibilidade da atribuição de direção para Allah”) citado na íntegra em seu Shawâhid al-H.aqq (p.210-240).
Ibn Taymiyya então voltou às suas atividades até que foi convocado pelas autoridades novamente em 705/1305 para responder por sua ‘Aqîda Wâsit.iyya. Passou os poucos anos seguintes entrando e saindo da prisão ou defendendo-se de várias “acusações abomináveis” de acordo com Ibn Hajar al-‘Asqalânî. Por ter se arrependido oficialmente, sua vida foi poupada, embora em um ponto foi oficialmente anunciado em Damasco que “Quem seguisse as crenças de Ibn Taymiyya, tornaria sua vida e propriedade lícitas para confisco.”
Esses eventos provocaram grande dissensão entre os estudiosos de Damasco e do Cairo, conforme detalhado por Imâm Taqî al-Dîn al-H.is.nî em seu Daf`u Shubahi Man Shabbaha wa Tamarrad wa Nasâba Dhâlika ilâ al-Sayyid al-Jalîl al-Imâm Ah.mad(“Refutação dos Sofismas do Rebelde que conecta Allâh à Criação, e Então atribui esta Doutrina para o Imâm Ah.mad”).10
Ibn Taymiyya em várias ocasiões declarou-se seguidor da escola de Shâfi`î – como faziam muitos h.anbalis em Damasco – e crente da escola teológica Ash’arî. Ibn H.ajar escreveu em al-Durar al-Kâmina:
”Uma investigação [de suas opiniões] foi conduzida com vários estudiosos [no Cairo] e uma declaração escrita foi elaborada na qual ele disse: ” Eu sou Ash`arî”. Sua caligrafia é encontrada com o que ele escreveu literalmente, isto é: “Eu acredito que o Alcorão é um significado que existe na Essência Divina, e que é um Atributo dos Atributos pré-eternos de Sua Essência, e que é Incriado, e que não consta da letra nem da voz, e que Sua palavra: O Misericordioso estabeleceu-se sobre o Trono (20: 5) não é tomada de acordo com seu significado literal (laysa `alâ z.âhirihi), e eu não sei no que consiste em seu significado, e só Allah sabe disso, e digo o mesmo sobre Sua”descida” da mesma maneira como se fala de Seu “estabelecimento”. Isto foi escrito por Ahmad ibn Taymiyya. Eles testemunharam sobre ele que ele arrependeu-se de vontade própria de tudo o que violou o acima. Isso aconteceu no dia 25 de Rabî` al-Awwal de 707/1307 e foi testemunhado por uma enorme variedade de estudiosos e outros.”11
O estudioso h.anbalî Najm al-Dîn Sulaymân ibn `Abd al-Qawi al-T.ûfî disse: 12
”Ele [Ibn Taymiyya] podia trazer à tona, em uma hora, o Livro (Alcorão), a Sunnah, a língua árabe e a especulação filosófica, material que ninguém poderia expor em muitas sessões, como se essas ciências estivessem diante de seus próprios olhos e ele as selecionando e escolhendo delas a vontade. Em uma determinada época, seus companheiros chegaram a exalta-lo e isso o levou a ficar satisfeito consigo mesmo até que se tornou presunçoso diante de seus semelhantes. Ele ficou convencido de que era um estudioso capaz de raciocínio independente (mujtahid). Dai em diante, começou a responder a todos e cada um dos estudiosos grandes e pequenos, passados e recentes, regredindo até o ponto de chegar a ‘Umar رضي الله عنه criticando-o em uma questão. Isso chegou aos ouvidos do Shaykh Ibrâhîm al-Râqî que o repreendeu. Ibn Taymiyya foi vê-lo, desculpando-se e pendido perdão. Ele também falou contra Alî رضي الله عنه e disse: “Ele cometeu erros em dezessete assuntos diferentes.” … Por causa de seu apoio fanático a escola H.anbalî ele atacou os Ash’aris até que começou a insultar Al-Ghazzâlî, oque levou algumas pessoas a se oporem a ele e quase o mataram … Verificaram que ele havia deixado escapar certas palavras, relativas à doutrina, que saíram de sua boca no contexto de seus sermões e pronunciamentos jurídicos, e foram várias as ações que mencionaram que ele havia citado a tradição da descida de Allah (swt) (para o céu mais próximo) descendo dois degraus do minbar (púlpito no qual pregava) dizendo: “Tal como esta minha descida” e assim foi classificado como um antropomórfista. Eles também citaram sua refutação de quem usa o Profeta como um meio (intercessor) ou busca ajuda dele (aw istaghâtha) …. As pessoas ficaram divididas em partidos por causa dele. Alguns o consideravam antropomorfista pelo que ele mencionou em al-‘Aqîda al-Hamawiyya e al-‘Aqîda al-Wâsitiyya e outros livros de sua autoria, no sentido de que a Mão, Pé, Canela e Face são Atributos literais de Allah e que Ele está estabelecido sobre o Trono com Sua Essência. Diziam-lhe que se este fosse o caso, Ele estaria necessariamente sujeito ao confinamento espacial (al-tah.ayyuz) e divisibilidade (al-inqisâm). Ele respondeu: “Não admito que o confinamento espacial e a divisibilidade sejam necessariamente propriedades dos corpos”, então foi registrado contra ele (ulzima) que o mesmo defendia que a Essência Divina estava sujeita ao confinamento espacial. Outros o consideravam um herege (zindîq) devido ao seu dizer que o Profeta não deve ser procurado por ajuda e o fato de que isso equivale a diminuir e impedir o estabelecimento da grandeza do Profeta … Outros o consideravam um dissimulador ( munâfiq) por causa do que ele disse sobre Alî: … que ele tinha sido abandonado em todos os lugares em que foi, tentou repetidamente adquirir o califado e nunca o alcançou, lutou por desejo de poder e não por religião, e disse que “Ele amava a liderança enquanto` Uthmân gostava de dinheiro. ” Ele diria que Abû Bakr havia declarado adesão ao Islâm em sua velhice, plenamente ciente do que disse, enquanto `Alî tinha declarado a conversão ao Islâm enquanto era criança, e o Islâm de um menino não é considerado sólido sobre a sua mera palavra …. Em suma ele disse coisas feias como estas, e foi dito contra ele que ele era um hipócrita, em vista do dito do Profeta (para ‘Alî): “Somente um hipócrita tem ódio de ti.”13
Outra razão pela qual Ibn Taymiyya encontrou oposição foi a sua crítica aos s.ûfîs, particularmente Shaykh Muh.yî al-Dîn Ibn `Arabî, embora se tenha descrito em sua carta a Abû al-Fath. Nas.r al-Munayjî, como um ex-admirador do Shaykh al-Akbar:
”Eu era um daqueles que, anteriormente, costumava ter a melhor opinião de Ibn `Arabî e enaltecerlhe elogios, por causa dos benefícios que eu vi em seus livros, como o que ele disse em muitos de seus livros, por exemplo: al- Futûh.ât, al-Kanh, al-Muh.kam al-Marbout., Al-Durra al-Fâkhira, Mat.âli` al-Nujûm, e outras obras desse tipo.”14
De acordo com o s.ûfî Ibn `Abd al-Hâdî em seu Bad ‘al`Ilqa bi Labs al Khirqa, Ibn Taymiyya declarou-se também seguidor de várias ordens s.ûfîs, entre elas a corrente Qâdirî de Shaykh ‘Abd al-Qâdir, de acordo com o Ibn’ Abd al-Hâdî em seu Bad ‘al’ Ilqa bi Labs al Khirqa Al-Gîlânî 15 em cujo livro Futûh. Al-Ghayb ele escreveu um comentário parcial de cem páginas que cobre apenas cinco dos setenta e oito sermões do livro 16. No al-Mas’alat al-Tabríziyya, Ibn Taymiyya declara: “Labistu al khirqa al-mubarraka li al Shaykh ‘Abd al-Qâdir wa baynî wa baynahu ithnân” – ”Me vesti com o abençoado manto sufi de Shaykh ‘Abd al-Qâdir, e entre mim e ele estao apenas dois sheykhs”.17
Outras acusações de heresia foram feitas contra Ibn Taymiyya por suas asserções sem precedentes sobre o divórcio pronunciadas de forma inovadora: ele sustentava (1) que uma formulação tripla de divórcio em uma única sessão conta como uma; (2) que o divórcio pronunciado no momento da menstruação não tem validade; E (3) que jurar um juramento ao divórcio poderia ser retomado através da expiação (kaffâra), tudo em violação do Consenso dos Quatro Imâms e outros dos salaf.
Shaykh al-Islâm al-Taqî al-Subkî disse: “Ibn Taymiyya difundiu o engano ao[afirmar] a existência de uma diferença de opinião no assunto [do divórcio], oque é uma mentira, uma fabricação e impudência de sua parte contra o Islâm … Foi afirmado por muitos dos estudiosos que aquele que se opõe ao Consenso (al-ijmâ ‘) da Comunidade é um descrente (kâfir). “18
Depois de passar os anos 719-721/1319-1321 na prisão, ele foi preso novamente em 726/1325 até sua morte, dois anos depois, em meio a acusações de kufr (descrença) por declarar que aquele que viaja para visitar o Profeta (em seu túmulo) transgride uma proibição (h.arâm), comete um pecado (ma`s.iya), e uma inovação (bid`a).
Al-Mardâwî, Ibn Hubayra e outros afirmaram que a totalidade das autoridades primitivas e tardias do madhhab (escola) H.anbali estipulam a conveniência (istih.bâb) de visitar a sepultura do Profeta em Madina, sobretudo depois do Hajj (peregrinação a Meca), e/ou viajando somente para fazê-lo.19 Ibn Muflih., Al-Mardâwî e Mar’î ibn Yûsuf em Ghâyat al-Muntahâ declararam o caráter sunita de se visitar os túmulos dos muçulmanos e a permissibilidade (ibâh.a) de viajar para fazê-lo. Mar`î reitera esta decisão em sua monografia inédita sobre a ética com relação a sepulturas e visitação das mesmas, Shifâ ‘al-S.udûr fî Ziyârat al-Mashâhid wal-Qubûr.20
A mais notória de todas as suas fatwas foi refutada por seu contemporâneo mestre em h.adîth Sheik al-Islâm Taqî al-Dîn al-Subkî em seu livro de referencia Shifâ ‘al-Siqâm fî Ziyârati Khayri al-Anam (“A Cura das Doenças em Relação a Visitação a Melhor das Criaturas “), também intitulado Shann al-Ghâra` alâ man Ankara al-Safar li al-Ziyâra (“A Incursão Contra Aquele que Negou a Legalidade da Viagem para o Propósito da Visitação”). Shaykh al-Islâm aduziu o h.adîth (dito do profeta): “Quem visita a minha sepultura, a minha intercessão será garantida para ele”21 como prova contra a afirmação de Ibn Taymiyya de que “todos os h.adíths que falam a respeito do mérito da visitação são fracos ou forjados” e denunciado a fatwâ (veredito religioso) sem precedentes de Ibn Taymiyya como uma inovação flagrante.
Imâm Abû al-Fad.l Zayn al-Dîn ‘Abd al-Rahim ibn al-Husayn al-‘Irâqî al-Misr (725-806/1325-1403), Shaykh al-Islâm, Imâm, Qâd e mestre em h.adîth de seu tempo, e principal professor do mestre da mesma ciência Ibn Hajar al-‘Asqalânî, disse em al-Ajwiba al-Makkiyya, uma refutação da fatwa de Ibn Taymiyya, reivindicando a proibição de se viajar para visitar o túmulo Profeta: “Não há tah.rîm (proibição) de um ato de viagem no h.adîth [” Montarias não devem ser seladas, exceto para viajar para três mesquitas “], mas é uma ênfase na importância de viajar a estas três mesquitas em particular, e a ênfase torna-se uma obrigação em caso de promessa (nadhr), o que não é o caso de uma promessa de se rezar em qualquer mesquita diferente dessas três”.21
Al-`Irâqî reagiu ainda mais à afirmação de Ibn Taymiyya de que era uma inovação na religião as várias ações de generosidade aos parentes no dia de Âshûrâ 22 com as palavras: “Eu acho estranho que tais palavras venham desse imâm, cujo os seguidores dizem que englobou a Sunnah (tradição do profeta) no conhecimento e na prática … Aquele que não ouviu falar de algo não deve negar que exista! ” Al-`Irâqî então procedeu a várias ações que, ao contrário, eram uma Sunnah baseada em narrativas sonoras do Profeta, bem como os Companheiros e os Imâms dos Sucessores e as gerações sucessivas.23
Imam Ibn Hajar al-‘Asqalânî disse em Fath. Al-Bârî sobre a proibição na fatwa de Ibn Taymiyya de se viajar para visitar o túmulo Profeta: “Este é um dos assuntos mais feios que já foram relatado por ele”. Em sua marginalia sobre esse trabalho, o estudioso “salafî” Bin Baz (1910-1999) comenta: “Isso não foi uma coisa feia, mas uma coisa correta dita por Ibn Taymiyya”!24
Al-Safadî disse:
”Ibn Taymiyyah embelezou sua declaração
Quanto à visita ao Melhor da Criação,
Então as almas vieram em massa para reclamar
Para o melhor dos estudiosos e mais puro de Imâms
Quem compilou este livro, proporcionando-lhes uma cura
E assim foi realmente a A Cura da Doença.”
Al-Qârî disse em seu comentário de Al-Shifâ ‘ de Qad`Iyâd’:
”Ibn Taymiyya – um dos h.anbalis – cometeu um excesso quando declarou ser proibido viajar para visitar o túmulo do Profeta, assim como outro também cometeu excesso quando disse que é obrigatório na Religião saber que a Visitação é um ato que aproxima o ser humano de Allah (qurba) e que quem nega é julgado como um descrente (kâfir). No entanto, este último ponto de vista é provavelmente mais próximo de ser correto do que o primeiro, porque declarar algo proibido que os Ulema (eruditos) por Consenso declararam desejável (mustah.abb), é descrença. Pois é mais grave do que declarar proibido algo concordado como meramente permitido (mubâh.) neste assunto.”25
Outro Imâm da escola hanafî que escreveu um comentário importante sobre Shifa, de Qad Iyâd, al-Khafâjî, disse sobre Ibn Taymiyya em relação à sua fatwa herética: “Ele imaginou que estava defendendo o monoteísmo com todos os tipos de disparates que não merecem menção pois não se originam da mente de uma pessoa racional e muito menos um eminente – Que Allâh o perdoe! “26
Entre os que rejeitaram a fatwa de Ibn Taymiyya como inválida estão também Shaykh al-Islâm Ah.mad Zaynî Dah.lân em seus livros, Abû ‘Abd Allâh ibn al-Nu`mân al-Maghribî al-Tilimsânî al-Mâlikî em seu Mis.bâh. Al-Anâm fî al-Mustaghîthîn bi Khayr al-Anâm, Nûr al-Dîn `Alî al -Halabî al-Shâfi`î – o autor de S.îra H.alabiyya – em seu Bughyat al-Ah.lâm, Ambos incluídos no al-Nabahânî, H.ujjat Allâh `alâ al-`lamin, entre muitas outras obras sobre o tema da busca de meios de intercessão do Profeta (al-tawassul wa al-istighâtha), al-Nabahânî com seu Shawâhid al- H.aqq, Shaykh Muhammad ibn `Alawî al-Mâlikî em Shifâ’al-Fu’âd fî Ziyârati Khayr al-`Ibâd, Ibrâz al-Ghay fî Shifâ ‘-Ay (” A Exposição do Desvio Para a cura dos doentes “), Shaykh` Îsâ al-H.ymiarî de Dubai, al-Sayyid Yûsuf al-Rifâ`î do Kuwait, e outros.
Um aluno sûfî, porém anti-Ash’arî, de Ibn Taymiyya e al-Dhahabî, Ibn `Abd al-Hâdî, atacou violentamente Shaykh al-Islâm al-Subkî numa refutação intitulada ”al-S.ârim al-Munkî fî Nah.r al-Subkî” (A dolorosa lamina na Garganta de al-Subki), na qual ele” adotou a maneira dos fanáticos e se afastou das normas dos estudiosos de hadîth” de acordo com Shaykh ‘Abd al-‘Azîz ibn Al-Siddîq al-Ghumârî.27 Ibn `Abd al-Hâdî ”encheu seu livro com acusações infundadasa fim defender as inovações de seu professor …. Melhor teria sido se intitulasse o livro de al-Shâtim al-Ifkî (”O abusador Mendacioso”).”28 Ibn`Abd al-Hâdî acusa falsamente al-Subkî em sua “refutação” de encorajar a peregrinação ao túmulo do Profeta, a prostração perante ele, sua circundação, e a crença de que o Profeta remove a dificuldade, facilita e faz com que quem quiser entrar no Paraíso Independentemente de Allah (swt)!
Nu`mân al-Alûsî também escreveu um ataque tanto a al-Haytamî como a al-Subkî em seu Jalâ ‘al-‘Aynayn, que ele dedicou ao wahhâbî s.ûfî indiano, S.iddîq H.asan Khân, e no qual, segundo al-Nabahânî, ele foi ainda mais longe do que Ibn ‘Abd al-Hâdî. Entre as contra-refutações dessas duas obras estao: Nus.rat Al-Imam al-Subkî, de al-Samannûdî, uma monografia de al-Akhnâ’î, e Shawâhid al-Haqq 29 de al-Nabahânî. Este último cita os poemas de outros dois críticos de al-Subkî – o h.anbalî Abû al-Muzaffar Yûsuf ibn Muh.ammad ibn Mas`ûd al-`Ubadî al-`Uqaylî al-Saramrî e Muh.ammad ibn Yûsuf al- Yumni al-Yâfi`î, “que alegou seguir a escola de shâfi” – então procede a refutá-los juntamente com o livro de Ibn `Abd al-Hâdî.
O hadîth “Quem visita meu túmulo, minha intercessão será garantido para ele” (Man zâra qabrî wajabat lahu shafâ`atî)30 é uma narração razoável(h.asan) como concluído por Imâm Abû al-Hassanat al-Lacknawî31 e seu redator Abd al-Fattâh. Abû Ghudda nas notas deste último sobre a Muwat.ta do Imam Mâlik de acordo com a narração de Muh.ammad ibn al-Hassan (capítulo 49: Sobre o túmulo do Profeta) bem como Shaykh Mah.mûd Mamdûh.32, embora alguns estudiosos primitivos o tivessem declarado uma narração sonora (s.ah.îh.), como Ibn al-Sakan em al-Sunan al-S.ih.âh. e Abd al-H.aqq al-Ishbîlî em al-Ah.kâm, seguido por Shaykh al-Islâm al-Taqî al-Subkî em Shifâ ‘al-Siqâm em vista da totalidade das cadeias de narração33. Outros estudiosos que o consideraram autêntico são o aluno de Ibn Hajar, o mestre em h.adîth al-Sakhâwî34, o mestre em h.adîth de Madîna Imâm al-Samhudi35 e Shaykh al-Islâm al-Haytamî em al-Jawhar al-Munaz .z.am. Al-Ghassâni (por volta de 682) não o incluiu em seu compêndio de narrativas fracas de al-Dâraqut.nî intitulado Takhrîj al-Ahâdîth al-Díââf min Sunan al-Dâraqut.nî36. Apenas alguns eruditos tardios, a começar por Ibn Taymiyya, permaneceram indecisos se classificariam este hadîth como fraco ou forjado.
O Imâm al-Lacknawî disse sobre este hadîth:
”Existem alguns que o declararam fraco [ex. Al-Bayhaqî, Ibn Khuzayma e al-Suyût.], E outros que afirmaram que todos os hadíths sobre a visitação ao túmulo do Profeta são forjados, como Ibn Taymiyya e seus seguidores, mas ambas as posições são falsas para aqueles a quem fora dada a compreensão correta, a verificação do caso dita que o hadîth é hasan (razoável), como Taqî al-Dîn al-Subkî expôs em seu livro Shifâ ‘al-Siqâm.”
• Ibn `Abd al-Hâdî que escreveu a al-Sârim al-Munkî numa refutação violenta do livro de al-Subkî sobre visitação mas contradisse sua própria posição em outro livro dele: ele cria muito caso quanto a confiabilidade de `Abd Allâh ibn `Umar al-`Umarî no al-Sârim al-Munkî, mas confia nele em outro livro, al-Tanqîh! Shaykh Mahmûd Mamdûh refutou sua fraqueza nesse hadîth em grandiosos detalhes e declarou que al-Sârim al-Munkî está na raiz de todas a generalizações subsequentes de enfraquecimento de hadîths que concernem à desejabilidade da visitação.
• O shaykh tardio da “tempestade do deserto” wahhâbi, `Abd al-`Azîz Bin Bâz, que reiterou o veredicto imprudente de Ibn Taymiyya: “Os hadîths que concernem à visitação do túmulo do Profeta são todos fracos, de fato forjados”;
• O tardio Nasir al-Albânî, que afirmou que a visita ao Profeta se encontra entre as inovações, embora ele mesmo é o arqui-inovador de nosso tempo.
• E Nasir al-Jadya’, que em 1993 obteve seu doutorado com honras da Universidade de Muhammad ibn Sa’ud depois de escrever um livro de 600 páginas entitulado al-Tabarruk no qual ele perpetua a mesma afirmação aberrante.
O Imâm al-Sakhâwî disse:
A ênfase e encorajamento em visitar seu nobre túmulo são mencionadas em numerosos hadîths, e isso seria suficiente para várias batalhas se fosse somente o hadîth onde o Profeta confiável e confirmado por Deus promete que sua intercessão entre outras coisas se torna garantida a qualquer um que o visite, e que os Imâms estão de pleno acordo desde o tempo logo depois de seu passamento até nosso próprio tempo em que isso (isto é, visitá-lo) está entre os melhores atos de se aproximar de Allah.
Não há contestamento entre os juristas das Quatro Escolas quanto à força probatória da narração de Ibn `Umar, como foi alegado várias e várias vezes pelos juristas para sustentar sua forte desejabilidade em visitar o Profeta em Medina. Veja, por exemplo, só entre fontes hanbali, os livros citados acima. Veja também os textos sólidos adicionais ilustrando a visita ao Profeta, entre eles a do Companheiro Bilâl ibn Rabâh al-Habashi por todo o caminho desde o Shâm, assim como a prática dos Companheiros de buscar o Profeta como um meio para suas necessidades visitando seu túmulo, assim como Bilâl ibn al-Hârith al-Muzanî, Abû Ayyûb al-Ansâri, `Â’isha e Fâtima, todos citados em seções sobre Tawassul e Visitação na Enciclopédia de Doutrina Islâmica do Shaykh Hishâm Kabbânî. E Allah sabe melhor.
Nos últimos cinco meses de seu período de dois anos na cadeia Ibn Taymiyya foi proibido de escrever, e nesse tempo se voltou à reza e à recitação intensiva do Alcorão e se arrependeu de ter gastado tempo escrevendo refutações doutrinárias em vez de se focar no comentário do Alcorão. Nesse tempo ele confidenciou ao seu fiel estudante Ibn al-Qayyim: “Meu Paraíso e meu Jardim são meu peito – querendo dizer sua fé e conhecimento – e onde quer que eu vá eles nunca vão me deixar. Minha prisão é seclusão, minha execução é martírio, e meu exílio é uma excursão.”
Al-Safadî disse: “Ele despediçou o tempo dele refutando os cristãos e os Râfida, ou qualquer um que objetasse a Religião ou a contradissesse, mas se ele tivesse se devotado a explicar al-Bukhârî ou o Nobre Alcorão, teria posto a guirlanda de sua fala bem ordenada nos pescoços das pessoas de conhecimento.” Al-Nabahânî disse no Shawâhid al-Haqq: “Ele refutou os cristãos, os xiitas, os lógicos, então os ash’aris e Ahl al-Sunna, resumindo, não poupou ninguém seja muçulmano ou não muçulmano, sunita ou outra coisa.”
Seu aluno al-Dhahabî o elogiava generosamente como “o brilhante shaykh, imâm, sábio erudito, censor, jurista, mujtahid e comentador do Alcorão,” mas reconhecia que as maneiras depreciativas de Ibn Taymiyya o alienava até mesmo de seus admiradores.
Por exemplo, o gramático Abû Hayyân elogiou Ibn Taymiyya até que descobriu que ele se cria um especialista em língua árabe mais grandioso que Sîbawayh, então quando se retratou dos elogios anteriores e se dissociou dele.
Shaykh al-Islâm Taqî al-Dîn al-Subkî supostamente primeiro o elogiou numa carta a al-Dhahabî mas depois o acusou de descrença.
Outros admiradores antigos que se tornaram críticos foram o Qâdî al-Zamalkânî, Jalâl al-Dîn al-Qazwînî, al-Qûnawî, al-Jarîrî, e o próprio al-Dhahabî, em cuja nasîha ele se dirige a Ibn Taymiyya com as palavras: “Quando será que você vai parar de criticar os sábios e de achar faltas nas pessoas?”
Os ulemâ’ viram a influência de Ibn Hazm na tinta envenenada da pena de Ibn Taymiyya. Al-Safadî disse: “Ele se adornou com al-Muhallâ [de Ibn Hazm], imitando o que quer que ele quisesse dali – se ele quisesse, poderia citá-lo de memória – e perpretar baseado nisso uma série de ataques e depreciações.”
Al-Dhahabî disse: “Não o considero impecável, e até mesmo discordo dele numa série de questões tanto nos fundamentos quando nas ramificações pois, apesar de seu vasto conhecimento, grande coragem, abundante sagacidade e defesa firme do que Allah proibiu, ele era apesar de tudo um ser humano entre outros seres humanos, impetuoso em sua maneira de debate, dado à raiva e explosões contra seus oponentes. Isso semearia inimizade contra ele no coração das pessoas. Se ele tivesse várias batalhas com gentileza contra seus oponentes teria sido o pivô do consenso.”
Dr. Sa’îd al-Bûtî apontou que embora Ibn Taymiyya tenha culpado al-Ghazzâlî e outros sábios ash’aris de se envolverem em disputas filosóficas ou dialéticas, ainda assim ele foi muito mais longe que a maioria em kalâm e filosofia. Isso é evidente por seus livros de kalâm e filosofia como Muwâfaqât al-Manqûl wa al-Ma’qûl, al-Ta’sîs Radd al-Asâs, e mais notavelmente por suas posições em al-Radd ‘alâ al-Mantiqiyyîn (“Contra os Lógicos”) na “não inicialidade genérica” das coisas criadas e a causalidade aristotélica (al-`illa al-aristiyya).
Al-Dhahabî aludiu a isso em sua epístola a Ibn Taymiyya: “Quando será que você vai parar de investigar as minúcias envenenadas da descrença filosófica, tal que nisso teríamos que refutá-los com nossas mentes? Você engoliu os venenos dos filósofos e seus tratados, não uma, mas várias vezes!”
O Bayân Zaghl al-`Ilm wa al-Talab de al-Dhahabî é uma epístola breve na qual al-Dhahabî lista as diferentes disciplinas e ciências do Islã e então procede descrevendo-as brevemente, inclusive as Quatro Escolas sunitas. No seu capítulo sobre doutrina, ele menciona seu professor: “Ibn Taymiyya era considerado por seus inimigos um perverso Anticristo e descrente, enquanto um grande número de sábios e da elite o considerava um inovador eminente, brilhante e erudito (mubtadi’ fâdil muhaqqiq bâri’).”
Al-Nasîha al-Dhahabiyya li Ibn Taymiyya é uma epístola escrita quando al-Dhahabî tinha por volta de cinquenta e cinco anos de idade e que dirigiu a Ibn Taymiyya pelo fim da vida. Em sua epístola breve porém mordaz o autor se distancia de seu contemporâneo e o admoesta sem nomeá-lo, chamando-lhe de “um polêmico eloquente que não descansa nem dorme.”
Oh! O desapontamento dele que segue você! Pois ele é exposto à corrupção em crenças básicas e à dissolução. Particularmente se ele carece de aprendizado e religião, um ocioso autoindulgente que faz bem para vocês lutando em seu nome com sua mão e língua, enquanto ele é na verdade seu inimigo em seu ser e coração.O que são seus seguidores senão gente à toa e fanática de pouca inteligência, mentirosos comuns de mentes entediantes, estrangeiros silenciosos fortes em astúcia, ou secamente retos sem entendimento? Se você não acredita nisso, só dê uma olhada neles e os avalie honestamente.
Um apologista “salafîsta” recentemente lançou dúvida na autenticidade da autoria de al-Dhahabî dessa epístola, também afirmando que, mesmo que al-Dhahabî a tenha escrito, então era direcionado para alguém que não Ibn Taymiyya. Entretanto Ibn Hajar cita a Nasîha em al-Durar al-Kâmina e não duvida de sua autenticidade como atribuída a al-Dhahabî, nem seu estudante al-Sakhâwî que a chama de “uma gloriosa declaração de doutrina” em al-I’lân wa al-Tawbikh. E os dois grandes especialistas nas obras de al-Dhahabî, Salâh al-Dîn al-Munajjid e Bashshâr ‘Awwâd Ma’rûf, declararam que não há dúvida de que al-Dhahabî a escreveu pelo fim de sua vida e a endereçou a Ibn Taymiyya.
Shaykh al-Islâm al-Subkî escreveu em sua introdução à primeira epístola da sua refutação tripla de Ibn Taymiyya:
Quando Ibn Taymiyya inovou seja no que for que tenha inovado nos princípios de doutrinas e destruiu os pilares e costuras dos fundamentos do Islã depois de se camuflar com a pretensão de seguir o Livro e a Sunna, fingindo convocar as pessoas à verdade e guiá-las ao Paraíso, ele saiu da conformidade (ittibâ’) e entrou na novidade (ibtidâ’), desviou-se (shadhdha) da Congregação (jamâ’a) dos muçulmanos violando o Consenso (al-ijmâ’) e atribuíndo que é necessário corporeidade e natureza composta (mâ yaqtadî al-jismiyya wal-tarkîb) para a Essência Transcendente.
Ele afirmou que a dependência de partes compostas não é uma impossibilidade; que entidades criadas (al-hawâdith) subsistem na Essência de Allah (swt); que o Alcorão é originado, Allah o falando depois de sua não existência; que Ele fala, fica em silêncio, e origina em Sua Essência as vontades (al-irâdât) de acordo com as coisas criadas, no processo de chegar a necessária pré-eternidade do mundo (istilzâm qidam al-‘âlam) declarando que não há começo para as entidades criadas. Então afirmou a existência de entidades originadas sem começo (hawâdith lâ awwala lahâ), afirmando que o atributo pré-eterno é originado e o criado e originado ser sem começo. E ninguém nunca se ateve a essas duas doutrinas ao mesmo tempo em nenhuma sociedade nem em nenhuma comunidade religiosa, então ele não é parte de nenhuma das sententa e três seitas na qual a Umma de dividiu, nem pode haver nenhum lugar para que ele fique com qualquer umma em particular. E mesmo que tudo isso constitua a mais tola descrença (kufran shanî`an), ainda assim é pouco comparado com o que ele inovou nos ramos!
Outro jurista shâfi’i, al-Haytamî, escreveu semelhantemente em sua Fatâwâ Hadîthiyya:
Ibn Taymiyya é um servo que Allah abandonou, desviou, cegou, ensurdeceu e rebaixou. Essa é a declaração dos Imâms que exporam a corrupção de suas posições e a mendacidade de seus ditos. Quem quer que deseje buscar sobre isso deve ler as palavras do imâm mujtahid Abû al-Hasan al-Subkî, de seu filho Tâj al-Dîn Subkî, do Imâm al-‘Izz ibn Jamâ’a e outros dos shaykhs shâfi’is, mâlikis e hanafis… Deve ser considerado que ele é um inovador desviado e desviador (mubtadi’ dâll mudill) e um fanático ignorante (jâhilun ghâlin) a quem Allah tratou com Sua justiça. Que Ele nos proteja de semelhantes desse caminho, doutrina e ações!… Saiba que ele diferiu das pessoas em questões sobre as quais Tâj al-Dîn Ibn al-Subkî e outros nos alertaram. Entre as coisas que Ibn Taymiyya disse que violam o consenso dos sábios estão:
• que quem quer que viole o consenso não comete nem descrença (kufr) nem transgressão grave (fisq);
• que nosso Senhor está sujeito a eventos criados (mahallun li al-hawâdith) – glorificado, exaltado e santificado seja Ele bem além do que os depravados associam a Ele!
• que Ele é complexo ou feito de partes (murakkab), Sua Essência tendo carências de modo semelhante de que o todo carece de suas partes, elevado seja Ele e santificado para além disso!
• que o Alcorão é criado na Essência de Allah (muhdath fî dhâtillâh), elevado seja Ele para além isso!
• que o mundo é de uma natureza pré-eterna e existe com Allah desde a pré-eternidade como um “objeto que sempre existiu”, assim se fazendo existente necessariamente em Sua Essência (mûjaban bi al-dhât) e [fazendo-o] não agir deliberadamente (la fâ`ilan bi al-ikhtyâr), elevado seja Ele para além disso!
• suas sugestóes de corporeidade, direção e deslocamento [de Allâh (swt)] (al-jismiyya wa al-jiha wa al-intiqâl), e que Ele cabe no Trono, não sendo nem maior nem menor, exaltado seja Ele de tal invenção medonha e descrença aberta, e possa Ele abandonar todos seus seguidores, e possa todas suas descrenças serem dispersas e perdidas!
• seu dito de que o Fogo vai se extinguir (al-nâr tafnî),
• e que Profetas não são impecáveis (al-anbiyâ’ ghayr ma’sûmîn),
• e que o Profeta não tem nenhum status especial diante de Allah (la jâha lahu) e não deve ser usado como um meio (la yutawassalu bihi),
• e que empreender uma viagem (al-safar) ao Profeta para fazer sua visitação seria um pecado, pela qual seria proibido encurtar as rezas, e que é proibido pedir por sua intercessão visando o Dia da Necessidade,
• e que as palavras (alfâz) da Torá e do Evangelho não foram substituídas, mas seus significados (ma`ânî) sim. Alguns dizem: “Quem quer que olhe para seus livros não atribui a ele a maioria dessas posições, exceto que através da qual ele se atém à visão de que Allah (swt) tem direção, e que ele foi autor de um livro que estabeleceu isso, e força a prova sobre as pessoas que seguem essa escola de pensamento que eles são crentes na corporeidade divina (jismiyya), dimensionalidade (muhâdhât), e estabelecimento (istiqrâr).” Isto é, pode ser que às vezes ele costumava reinvindicar essas provas e que elas eram consequentemente atribuídas a ele em particular.
Mas quem quer que tenha atribuído isso a ele dentre os Imâms do Islã sobre cuja grandeza, liderança, religião, confiabilidade, justiça, aceitação, discernimento e meticulosidade existe acordo – então ele não dizem nada exceto o que foi devidamente estabelecido com precauções adicionais e inquérito repetitivo. Isso é especialmente verdade quando é atribuída a um muçulmano uma visão que necessita sua descrença, apostasia, desvio e execução. Assim se é verdade isso que ele é um descrente e um inovador, então Allah lidará com ele com Sua justiça, e além disso Ele perdoará a nós e a ele.
O “salafista” Nu’mân al-Alûsî respondeu às condenações acima e tomou o lado de Ibn Taymiyya em seu Jalâ’ al-‘Aynayn bi Muhâkamat al-Ahmadayn (“A Arbitragem entre os dois Ahmads), o qual o Shaykh Yûsuf al-Nabahânî refutou por sua vez no seu Shawâhid al-Haqq fil-Istighâtha bi Sayyid al-Khalq (“As Testemunhas da Verdade Relativas à Obtenção de Ajuda através do Mestre das Criaturas”).
O Renovador do Islã no século passado, o Imâm Muhammad Zâhid al-Kawtharî também afirmou em termos forte que a posição de Ibn Taymiyya dos Atributos Divinos é equivalente a descrença e apostasia porque reduz Allah a um corpo corpóreo. Ele afirma em suas Maqâlât:
Em al-Ta’sîs fî Radd Asâs al-Taqdîs (A Colocação da Fundação: Uma Refutação da “Fundação da Santificação Divina” de al-Râzî) Ibn Taymiyya diz: “Al-‘arsh (o Trono) em linguagem quer dizer al-sarîr (assento elevado ou sofá), assim nomeado em respeito ao que está no topo dele, assim como o telhado é nomeado em respeito ao que está sob ele. Assim, se o Alcorão atribui um trono a Allah, é então sabido que esse trono é, em respeito a Allah, como o assento elevado é em respeito a outro que não Allah. Isso torna necessariamente verdadeiro que Ele está no topo do Trono.” Então assim o Trono é, para Ibn Taymiyya, o assento (maq’ad) de Allah (swt) – Exaltado seja Ele bem para além de tal noção!
Ele também diz: “É bem sabido que o Livro, a Sunna, e o Consenso em lugar nenhum diz que todos os corpos (ajsâm) são criados, e em lugar nenhum diz que Allah mesmo não é um corpo. Nenhum dos Imâms dos muçulmanos já disse algo do tipo. Assim se eu também escolher não dizê-lo, isso não me expele da religião nem da Sharî’a.” Essas palavras são completa imprudência. O que ele faz com todos os versículos declarando que Allah (swt) está bem longe de qualquer coisa como Ele? Será que ele espera que a idiotice com que cada idiota possa vir seja endereçada com um texto específico? Não basta que Allah (swt) tenha dito: Não há nada como Ele? (42:11)? Ou será que ele considera permissível para alguém dizer: Allah (swt) come isso, mastiga aquilo, e prova isso, só porque nenhum texto menciona o oposto? Isso é descrença e antropormorfismo nus e crus.
Em outra passagem do mesmo livro ele diz: “Vocês [ash’aris] dizem que Ele não é nem um corpo, nem um átomo (jawhar), nem limitado espacialmente (mutahayyiz), e que ele não tem direção, e que Ele não pode ser apontado como um objeto de percepção sensorial, e que nada d’Ele pode ser considerado distinto dele. Vocês tem afirmado isso nos campos de que Allah não é nem divisível nem feito de partes e que Ele não tem nem limite (hadd) nem fim (ghâya), com sua visão então para que se proíba de se dizer que Ele tenha qualquer limite ou medida (qadr), ou que Ele até mesmo tenha uma dimensão que seja ilimitada. Mas como vocês se permitem fazer isso sem evidência do Livro e da Sunna?” A inteligência do leitor basta para comentar sobre essas afirmações heréticas. Consegue imaginar um apóstata ser mais descarado que isso, bem no meio da sociedade islâmica?
Em outro lugar do mesmo livro ele diz: “É obrigatório saber que Allah não quer dizer pelo nome de “O Uno” (al-Wâhid) a negação dos Atributos.” Ele aqui está aludindo a tudo implica Sua “vinda” para um lugar e coisas do tipo. Continua: “Nem Ele quer dizer com isso a negação de que Ele pode ser percebido pelos sentidos, nem a negação de limite e dimensão e todas essas interpretações que foram inovadas pelos Jahmiyya e seus seguidores. Negação do que foi dito acima não é encontrado no Livro nem na Sunna.” E isso está no mesmo pé do que veio antes em relação ao puro antropomorfismo e clara apostasia.
Em outro livro dele, Muwâfaqât al-Ma’qûl, que está na margem de seu Minhâj, Ibn Taymiyya afirma que as coisas acontecem como novas em relação a Allah e que Ele tem uma direção de acordo com dois tipos de conjectura. E você sabe, leitor, o que os Imâms dizem correspondente a aquele que deliberada e intencionalmente estabelece que Allah tem uma direção, ao menos que dizer tal coisa seja um deslize da língua ou da pena. Então há em suas afirmações que o conceito de movimento se aplica a Allah, junto com todos os outros que estabelecem tal coisa; sua negação de que há uma permanência eterna no fogo do inferno que completou a criação; e sua doutrina de “pré-existência genérica” do mundo.(al-qidam al-naw`î).
Sua Negação da Eternidade do Fogo do Inferno
Ibn Taymiyya afirmou e negou a eternidade do fogo do inferno intermitentemente, do mesmo jeito que ele intermitentemente afirmou e negou a corporeidade do Divino, o não inicialidade do mundo, e outras coisas. Sua negação da eternidade do fogo do inferno e sua sugestão de sua extinção eventual foi refutada, entre outras, pelo Comandante dos Crentes em Hadîth Muhammad ibn Ismâ’îl al-San’ânî em seu Raf’ al-Astâr li-Ibtâl Adillat al-Qâ’ilîn bi Fanâ’ al-Nâr (“Expondo a Nulidade das Provas daqueles que Alegam que o Fogo do Inferno Vai Acabar”) e pelo Shaykh al-Islâm Taqî al-Dîn al-Subkî em sua epístola al-I’tibâr bi Baqâ’ al-Jannati wa al-Nâr publicada como parte de seu livro al-Durra al-Mudiyya fî al-Radd ‘alâ Ibn Taymiyya, que também contém duas epístolas refutando as posições dele sobre o divórcio. Em al-I’tibâr al-Subkî afirma:
A doutrina dos muçulmanos é que o Paraíso e o Fogo do Inferno não vão acabar. Abû Muhammad Ibn Hazm relatou o Consenso na questão é o fato de que quem quer que viole tal Consenso é um descrente (kâfir) por Consenso. Não há dúvida sobre isso, pois é obrigatoriamente sabido na religião e a evidência para esse efeito é abundante. fn78
Essa doutrina herética foi endossada pelo admirador do Ibn Taymiyya chamado Ibn Abî al-‘Izz em seu comentário sobre al-Tahâwî, em clara contradição à afirmação do anterior, §83. “O Jardim e o Fogo são criados e nunca se extinguirão nem chegarão a um fim.”
Também entre as inovações de kalâm de Ibn Taymiyya está a divisão do tawhîd em dois tipos: tawhîd al-rubûbiyya e tawhîd al-ulûhiyya, respectivamente A Unicidade do Senhorio e a Unicidade da Divindade. A primeira, ele disse, consiste no reconhecimento de Allah como o criador de tudo, uma crença compartilhada tão por crentes quando por não crentes. A segunda, ele disse, era a afirmação de Allah como a única deidade verdadeira e único objeto de adoração, um crença exclusiva aos crentes. Sua conclusão natural foi de que “quem quer que não conheça tawhîd al-ulûhiyya, seu conhecimento de tawhîd al-rubûbiyya não será levado em conta porque os idólatras também têm tal conhecimento.” Ele então compara os sábios de kalâm aos idólatras árabes que aceitaram tawhîd al-rubûbiyya mas ignoraram tawhîd al-ulûhiyya! Essa dialética foi imitada por Ibn Abî al-‘Izz em seu comentário da ‘Aqîda de al-Tahâwî.
Abû Hâmid Ibn Marzûq [Imâm al-`Arabî al-Tubbânî] escreveu:
Tawhîd al-rubûbiyya e tawhîd al-ulûhiyya foram inventados por Ibn Taymiyya que afirmava que todos os muçulmanos entre os mutakallimûn adoravam outro que não Allah graças a sua ignorância de tawhîd al-ulûhiyya; ele afirmou que o único tawhîd que eles conheciam era tawhîd al-rubûbiyya. O último consiste em afirmar que Allah é o Criador de todas as coisas, o que, diz ele, que os politeístas concordam. Ele então declara que todos os muçulmanos são descrentes. Muhammad ibn Abd al-Wahhâb o imitou nisso, e outros imitaram Muhammad ibn Abdul Wahhâb. O sábio erudito tardio al-Sayyid Ahmad ibn Zaynî Dahlân (d. 1304) abordou esse assunto numa pequena seção de seu tratado al-Durar al-Saniyya fî al-Radd ‘alâ al-Wahhâbiyya (“As Pérolas Resplandecentes em Refutação aos Wahhâbîs”). Assim fez o sábio al-Shaykh Ibrâhîm al-Samannûdî al-Mansûrî (d. 1314) que falou execelentemente em seu livro Sa’âdat al-Dârayn fî al-Radd ‘alâ al-Firqatayn al-Wahhâbiyya wa al-Zâhiriyya (“A Felicidade das Duas Moradas na Refutação das Duas Seitas: Wahhâbîs e Zâhirîs). O sábio erudito tardio al-Shaykh Salâmat al-‘Azzâmî (d. 1376) também escreveu palavras valiosas sobre isso em seu livro al-Barâhin al-Sâti’a fî Radd Ba’d al-Bida’ al-Shâ’i’a (“As Provas Radiantes em Refutação a Certas Inovações Difundidas”)…
Imâm Ahmad ibn Hanbal… nunca disse que o tawhîd se consistia em duas partes, uma sendo tawhîd al-rubûbiyya e a outra tawhîd al-ulûhiyya. Nem nunca disse que “quem quer que não conheça tawhîd al-ulûhiyya, seu conhecimento de tawhîd al-rubûbiyya não é levado em conta porque os idólatras também tinham tal conhecimento.”… Nenhum dos seguidores dos Seguidores… nenhum dos Sucessores… nenhum dos Companheiros do Profeta nunca disseram que o tawhîd se consistia em duas partes, uma sendo tawhîd al-rubûbiyya e a outra tawhîd al-ulûhiyya, nem nenhum deles nunca disseram que “quem quer que não conheça tawhîd al-ulûhiyya, seu conhecimento de tawhîd al-rubûbiyya não é levado em conta porque os idólatras também tem tal conhecimento.”… Em nenhum lugar na Sunna do Profeta… é relatado que o Profeta já tenha dito ou sequer ensinado a seus Companheiros que o tawhîd se consiste de duas partes, uma sendo tawhîd al-rubûbiyya e a outra tawhîd al-ulûhiyya, nem que “quem quer que não conheça tawhîd al-ulûhiyya, seu conhecimento de tawhîd al-rubûbiyya não é levado em conta porque os idólatras também tem tal conhecimento.” Se a humanidade e os gênios se juntassem para estabelecer que o Profeta teria dito tal coisa, mesmo com uma corrente inautêntica de transmissão, não teriam sucesso.
Os livros da Sunna do Profeta transbordam com o fato de que o chamado do Profeta às pessoas para Allah foi para que elas testemunhassem que não há Deus exceto Allah somente e que Muhammad é o Mensageiro de Allah, e para que elas repudiassem a adoração de ídolos. Umas das ilustrações mais famosas disso é a narração de Mu’âdh ibn Jabal quando o Profeta o mandou para o Iêmen e lhe disse: “Convide-os para o testemunho de que não há Deus senão Allah e que Muhammad é o Mensageiro de Allah…” E é narrado em cinco dos seis livros de tradições autênticas – e Ibn Hibbân declarou como confiável – que um árabe beduíno relatou a visão da lua nova ao Profeta e ele ordenou as pessoas a jejuar sem pedir a esse homem nada além de confirmar o testemunho de fé. De acordo com essa baboseira de Ibn Taymiyya, teria sido necessário que o Profeta chamasse todas as pessoas ao tawhîd al-ulûhiyya do qual elas eram ignorantes – já que o tawhîd al-rubûbiyya elas já conheciam – e ele deveria ter dito a Mu’âdh: “Convide-os ao tawhîd al-ulûhiyya; e ele deveria ter perguntado ao beduíno que viu a lua nova do ramadã: “Você conhece o tawhîd al-ulûhiyya?”
Finalmente, em Seu precioso Livro do qual a falsidade não pode se aproximar seja pela frente ou por trás, Allah nunca ordenou o tawhîd al-ulûhiyya a Seus servos, nem sequer disse que “quem quer que não conheça esse tawhîd, seu conhecimento do tawhîd al-rubûbiyya não é levado em conta.”
Ibn Marzûq é o pseudônimo do shaykh do Shaykh Muhammad ibn ‘Alawî, Muhammad al-‘Arabî ibn al-Tubbânî al-Maghribî al-Mâlikî al-Makkî (d. 1390) que foi autor tanto do Barâ’at al-Ash`ariyyîn e do al-Ta’qîb al-Mufîd ‘alâ Hady al-Zura’î al-Shadîd em refutação a Ibn Taymiyya, Ibn al-Qayyim e as insinuações do movimento wahhâbi contra os ash’aris.
O método de Ibn Taymiyya no debate era prover uma barragem de citações e citações em apoio a suas posições. No processo ele frequentemente mencionava relatos de posições estabelecidas que, sob exame mais de perto, são dúbias seja pelo ponto de vista da transmissão, seja pelo conteúdo. Por exemplo:
• Seu relato da narração de Ibn Batta na qual Hammâd ibn Zayd foi questionado por um homem: “Nosso Senhor descende ao céu da terra – isso quer dizer que Ele se move de um lugar a outro lugar? (yatahawwalu min makân ilâ makân?)” Hammâd respondeu: “Ele mesmo está em Seu lugar, e Ele se aproxima de Sua criação do jeito que Ele quiser (huwa fî makânihi yaqrabu min khalqihi kayfa shâ’).” Mesmo que a questão e sua resposta possa ser estabelecida autenticamente que tenha acontecido – já que a confiabilidade de Ibn Batta é questionada -, a doutrina de atribuir lugar a Allah (swt) é inédita de dentre os Salaf.
• Seu relato das palavras de Ishâq ibn Râhûyah ao emir `Abd Allâh ibn Tâhir: “Ele tem a capacidade de descer sem o Trono ficar vazio d’Ele” (yaqdiru an yanzila min ghayri an yakhlua al-`arshu minh). Tal afirmação não deixa nada das características das criaturas exceto que seja atribuídas ao Criador: corpo, lugar, superfície e deslocamento!
• Al-Bayhaqî em al-Asmâ’ wa al-Sifât narra os relatos do encontro de Ishâq com o emir `Abd Allâh ibn Tâhir com cinco correntes (três delas confiáveis de acordo com al-Hâshidî), nenhuma delas mencionando as palavras “sem o trono ficar vazio d’Ele.” Essa interpolação aparente é apesar de tudo o fundamento da posição de Ibn Taymiyya no Sharh Hadîth al-Nuzûl (p. 42-59) de que Allah desce “em pessoa” embora permaneça sobre o Trono “em pessoa”! Essa posição foi caracterizada pelo Imâm Abû Zahra (veja mais abaixo) como a afirmação dual da “acimidade” e “abaixidade” de Allah o Altíssimo na parte de Ibn Taymiyya, embora extenuantemente negado pelo próprio Ibn Taymiyya em Minhâj al-Sunna e por al-Albânî que defende o último contra a conclusão de Abû Zahra na sua introdução ao Mukhtasar al-‘Uluw!
• Seu relato do livro de Abû ‘Umar al-Talamankî, al-Wusûl ilâ Ma’rifat al-Usûl: “O Ahl al-Sunna wa al-Jamâ’a está de acordo (muttafiqûn) que Allah estabeleceu a Si mesmo em pessoa (bi dhâtihi) no Trono.” Note que Ibn Taymiyya cita imprecisamente, já que al-Dhahabî cita do mesmo livro a pasagem seguinte: “Os muçulmanos do Ahl al-Sunna wa al-Jamâ’a chegaram ao consenso (ajma'[û]) que Allah está sobre os céus em pessoa (bi dhâtihi) e estabelecido sobre Seu Trono do modo que ele quiser (kayfa shâ’).” Claro, ambas as afirmações são falsas já que não existe tal consenso; e a posição do Ahl al-Sunna é que quem quer que atribua direção a Allah comete apostasia.
• Sua declaração: “Os sábios aprovados por Allah e Seus Amigos aceitos narraram que Muhammad o Mensageiro de Allah (swt) será assentado por Seu Senhor no Trono ao lado d’Ele.” Por “os sábios aprovados por Allah e Seus Amigos aceitos” aqui ele quer dizer uma minoria de sábios hanbalis com convicções antropomorfistas.
• Sua afirmação quanto a narração de ‘Abd Allâh ibn Khalîfa de ‘Umar onde o Profeta glorificou a Allah e disse: ‘Verdadeiramente, Seu Assento de Autoridade (kursî) abrange os céus e a terra, e verdadeiramente Ele se senta nele (innahu yajlisu `alayh) e não sobra dele [senão] um espaço de quatro dedos, e verdadeiramente ele range como o som de uma sela nova quando alguém a monta, devido a Seu peso o pressionando'” que “a maioria do Ahl al-Sunna aceita [essa narração]” quando a quase totalidade – inclusive seus próprios alunos al-Dhahabî e Ibn Kathîr – o classificam “denunciado” (munkar), e ele mesmo reconhece a rejeição de Abû Bakr al-Ismâ`îlî disso, entre outros.
• Sua afirmação de que “não sei de nenhum dos Salaf da Comunidade nem de nenhum dos Imâms, nem de Ahmad ibn Hanbal nem de outro além dele, que tenha considerado esses [versículos sobre o Nomes e Atributos Divinoss] como parte do mutashâbih” quando todos já ouviram a afirmação do Imâm Mâlik sobre istiwâ’ onde “sua modalidade é inconcebível” (al-kayfu ghayr ma’qûl)! Al-Baghdâdî em Usûl al-Dîn cita, entre aqueles que consideram o versículos de istiwâ’ uma dos mutashâbihât, Mâlik ibn Anas, os sete juristas de Medina e al-Asmâ’î enquanto o Imâm al-Ghazzâlî conta os versículos e narrações sobre os Atributos Divinos entre os mutashâbihât em al-Mustasfâ e o Imâm al-Nawawî concordou com ele.
• Suas afirmações: “A elevação de Allah (swt) sobre o Trono é literal, e a elevação da criatura sobre o navio é literal” (lillâhi ta’âla istiwâ’un ‘alâ ‘arshihi haqîqatan wa li al-‘abdi istiwâ’un ‘alâ al-fulki haqîqatan). “Allah está conosco literalmente, e Ele está acima de Seu Trono literalmente (Allâhu ma’ana haqîqatan wa huwa fawqa al-‘arshi haqîqatan). … Allah está com Sua criação literalmente e Ele está acima de Seu Trono literalmente (Allâhu ma’a khalqihi haqîqatan wa huwa fawqa al-‘arshi haqîqatan).”
As afirmações acima, todas indubitavelmente corroboram os relatos de Ibn Hajar e de Ibn Battûta onde ele desceu uma vez no minbar em suposta ilustração da descida de Allah (swt) ao céu mais próximo, dizendo: “Tal como a descida que acabei de fazer”!
O enterro de Ibn Taymiyya foi assistido por cerca de 50000 pessoas. Seus ensinamentos foram na maior parte esquecidos até que Muhammad ibn ‘Abd al-Wahhâb al-Najdî trouxe-os de volta do oblívio. Mais tarde, o movimento “salafista” os reviveu através de uma campanha de publicação de larga escala bancada por ativismo político e financeiro da década de 1930 até nossos dias.
Os “salafistas” e Ibn Taymiyya afirmam que estabelecimento acontece sobre o Trono. […] Ibn Taymiyya extenuantemente afirma que Allah desce, e pode estar acima (fawq) e abaixo (taht) “sem como”. […] e que a escola dos Salaf é a afirmação de tudo que o Alcorão declarou sobre a “acimidade” (fawqiyya), “abaixidade” (tahtiyya), e o estabelecimento acima do Trono.
Os wahhâbis apareceram no deserto da Arábia […] e reviveram a Escola de Ibn Taymiyya. O fundador da Wahhâbiyya e Muhammad ibn ‘Abd al-Wahhâb que morreu em 1786. Ele estudou os livros de Ibn Taymiyya que se tornaram inestimáveis em sua visão, aprofundando seu envolvimento neles até que ele os trouxe do reino da opinião para o reino da prática. Na realidade, os wahhâbis não adicionaram nada ao que Ibn Taymiyya tinha trazido, mas o exageraram mais do que ele já tinha feito, instituindo assuntos práticos os quais Ibn Taymiyya não tinha se endereçado porque eles não eram difundidos em seu tempo. Podem ser resumidos assim:
1. Eles não se restringiam a ver a adoração (`ibâda) do mesmo jeito que o Islã tem estipulado no Alcorão e Sunna e como Ibn Taymiyya mencionou, mas eles queriam incluir costumes (`âdât) também na jurisdição do Islã tal que os muçulmanos seriam limitados por eles. Então ele declarou que fumar cigarro é harâm e exagerou sua decisão ao ponto de o público geral considerou o fumante um mushrik. Como resultado eles pareciam os Khawârij que costumavam declarar como apóstata quem quer que cometesse um pecado.
2. No começo de seu assunto eles também declarariam que café e o que quer que lembrasse isso como harâm em si mesmos mas parece que eles se tornaram mais indulgentes nesse ponto com o passar do tempo.
3. Os wahhâbis não se restringem somente ao proselitismo, mas recorriam à guerra contra quem quer que discordasse deles com o fundamento de que estavam combatendo inovações, e inovações são um mal que deve ser combatido, e é obrigatório comandar o bem e proibir o mal. […] O líder do pensamento wahhâbi no campo da guerra e batalha era Muhammad ibn Sa’ûd, o ancestral da família governante saudita nas terras árabes. Ele era um cunhado do Shaykh Muhammad ibn ‘Abd al-Wahhâb e abraçou seu madhhab, defendendo-o fervorosamente e chamando-o pela força de armas. Ele anunciou que estava fazendo isso para defender a Sunna e erradicar a bid’a. Talvez essa missão religiosa que se tornou violenta estava levando consigo uma rebelião contra o domínio otomano. […] Até o governador do Egito, Muhammad ‘Alî, encarou-os e investiu contra os wahhâbis com seu forte exército, encaminhando-os no curso de várias batalhas. Naquele tempo suas forças armadas eram reduzidas e confinadas às tribos árabes. Ryadh e sua vizinhança eram o centro para essa da’wa permanente que se tornou violenta toda vez que encontrou a força e e então ficava quieta toda vez que encontrava oposição violenta.
4. Toda vez que conseguiam capturar um vilarejo ou cidade eles iam até as tumbas e os transformavam em ruínas e destruição […] várias batalhas destruiriam quaisquer mesquitas onde haviam tumbas também. […]
5. Sua brutalidade não parou aí, mas eles também iam a quaisquer túmulos que estivessem visíveis e os destruíam também. E quando o governante das regiões do Hijâz cedeu a pressão deles, eles destruíram todos os túmulos dos Companheiros e os arrasaram ao chão. […]
6. Eles se agarraram a assuntos pequenos que eles condenaram embora não tenha nada a ver com idolatria nem com qualquer coisa que leve à idolatria, tal como fotografia. Encontramos isso
em suas fatwas e epístolas nas mãos dos ulemâ’ deles, embora seus governantes ignorem esse dito deles completamente e lançam isso na beira da estrada.
7. Eles expandiram o significado de bid’a a proporções estranhas, ao ponto que eles de fato afirmam que drapear as paredes da nobre Rawda é um assunto inovado. Assim eles proibiram a renovação dos panos que estavam nela, até que eles caiam em farrapos e se tornem disformes, se não fosse pela luz que se derrama para todos que estejam na presença do Profeta ou sinta que nesse lugar está a morada da Revelação no Mestre dos Mensageiros. De fato, encontramos entre eles, além de tudo isso, aqueles que consideram que a expressão dos muçulmanos “nosso Mestre Muhammad (sayyiduna Muhammad) é uma bid’a impermissível e eles mostram um extremismo verdadeiro sobre isso e, pelo bem de sua missão, usam linguagem sórdida e furiosa até a maioria das pessoas de fato fugir deles o mais rápido que possam.
8. Para dizer a verdade, os wahhâbis puseram em prática as opiniões de Ibn Taymiyya e são seguidores extremamente zelosos e apoiadores dessas visões. Eles adotaram as posições de Ibn Taymiyya que explicamos na nossa discussão anterior daqueles que chamam a si mesmos de “Salafiyya”. Entretanto, eles expandiram o significado de bid’a e interpretaram como inovações coisas que não têm relação com adoração. […] De fato, perceberam que os ulamâ’ dos wahhâbis consideram suas próprias opiniões corretas e não possivelmente erradas, enquanto eles consideram a opinião dos outros errada e não possivelmente correta. Mais que isso, eles consideram que outros diferentes deles que erigem tumbas e as circuambulam que estejam próximo da idolatria. Nesse ponto estão próximos dos Khawârij que costumavam declarar aqueles que dissentissem deles como apóstatas e os combatiam como já mencionado. Esse era um assunto relativamente inofensivo nos dias em que eles ficavam enclausurados no deserto e não trespassavam suas fronteiras; mas quando eles se misturaram com outros até o interior do Hijâz ficar na mão da família Sa’ûd, o assunto se tornou de máxima gravidade. É por isso que o antigo rei ‘Abd al-‘Azîz da família Sa’ûd se opôs a eles, e tratou suas opiniões como confinadas a eles mesmos e irrelevantes aos outros.”
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