Resposta à afirmação falsa nº 1:
Resposta à afirmação falsa, feita por certos adversários do Islam, de que o Profeta (que Deus o abençoe e lhe dê a paz) certa vez bateu em ‘A’isha:
O hadith incompreendido (Sahih Muslim, Livro 4, Número 2127):
Muhammad ibn Qais disse: Devo narrar-vos [um hadith do Profeta — que Deus o abençoe e lhe dê a paz] que ouvi da minha mãe? Pensamos que se referia à mãe de quem havia nascido, mas disse então que ouvira de ‘A’isha [a Mãe dos Crentes] a seguinte narração: Devo narrar-vos algo que aconteceu entre mim e o Mensageiro de Deus (que Deus o abençoe e lhe dê a paz)? Dissemos: Sim. Ela disse: Numa noite em que cabia por turno ao Mensageiro de Deus (que Deus o abençoe e lhe dê a paz) ficar comigo, ele virou de lado, cobriu-se com o manto, tirou os sapatos e deixou-os ao lado de seus pés, estendeu o xale sobre a cama e ficou deitado até que pensou que eu havia dormido. Então, pegou o manto bem devagar, pôs os sapatos em silêncio, abriu a porta, saiu e fechou-a sem fazer barulho. Cobri a cabeça, pus o véu, amarrei o cinto, saí atrás dele e segui-o até que chegou no Baqi’ [o cemitério de Medina]. Permaneceu ali, em pé, por bastante tempo. Levantou então as mãos três vezes e voltou-se, e eu também voltei. Ele apressou o passo e também apressei; correu e também corri; chegou em casa e também cheguei, mas cheguei antes dele e entrei. Estava deitada na cama quando ele entrou e perguntou: Por que, ó ‘A’isha, estás sem fôlego? Eu disse: Por nada. Ele disse: Conta-me, ou informar-me-á o Sutil, o Ciente. Eu disse: Mensageiro de Deus, que meu pai e minha mãe sejam dados em resgate por ti; e contei-lhe tudo. Ele disse: Foi a escuridão [do teu vulto] que vi adiante de mim? Eu disse: Sim. Ele bateu-me no peito, causando-me dor, e disse: Acaso pensaste que Deus e Seu Mensageiro seriam injustos contigo? Ela disse: O que os homens ocultam, Deus conhece. Ele disse: Gabriel veio a mim e chamou-me, mas ocultou-se de ti. Atendi a seu chamado, mas também ocultei-o de ti, pois não estavas vestida. Pensei que havias dormido e não quis acordar-te, com medo de que te assustasses. Ele [Gabriel] disse: Teu Senhor mandou-te ir aos habitantes do Baqi’ e implorar perdão por eles. Eu disse: Mensageiro de Deus, como devo orar por eles? Ele disse: Diz: “A paz sobre os habitantes desta cidade [o cemitério] que são crentes e muçulmanos, e que Deus tenha misericórdia dos que nos precederam e dos que nos sucederão; e nós, se Deus quiser, nos juntaremos a vós.”
Resposta à tradução errônea:
O termo usado no hadith é: فلهدني في صدري
Em sua exegese, o Imam Nawawi declara: فاألهل اللغة – لهده ولهده بتخفيف الهاء وتشديدها أي دفعه
“Segundo os lexicógrafos, as palavras ‘lahada’ e ‘lahhada’ significam ‘empurrar’, ‘afastar’, ‘repelir’ (dafa‘a).”
A palavra “bateu” não é uma tradução correta. Antes, segundo o Sheikh Gibril Fouad Haddad, a frase deve ser traduzida como:
“Ele empurrou meu peito com um empurrão que me causou dor.”
Para entender o que isso significa na prática, é preciso ter em conta um dado importante sobre a imposição de mãos por parte do Profeta (que Deus o abençoe e lhe dê a paz). Trata-se de um gesto que visa afastar as influências malignas (waswas) e conferir bênção, como evidenciam os seguintes relatos:
1. Ubayy ibn Ka‘b disse: “Veio-me certa vez à mente uma negação [da Verdade] como não ocorrera sequer na Era da Ignorância [antes do Islam]. Quando o Mensageiro de Deus (que Deus o abençoe e lhe dê a paz) viu o meu estado, bateu-me no peito. Comecei a suar e senti-me como se estivesse olhando para o próprio Deus, de tanto medo.” (Sahih Muslim)
2. Jarir ibn Abdullah al Bajali foi enviado pelo Profeta (que Deus o abençoe e lhe dê a paz) para destruir Dhu al-Khalasa, o templo dos ídolos da tribo de Khatam, apelidado de “A Caaba do Iêmen”. Jarir relata: “Avancei com cento e cinquenta cavaleiros, mas não conseguia me firmar sobre o cavalo. Relatei esse fato ao Mensageiro de Deus (que Deus o abençoe e lhe dê a paz), que empurrou-me então o peito com tanta força que deixou nele a marca de seus dedos, dizendo: ‘Ó Deus, concede-lhe a firmeza e faz dele um guia de justiça e um homem bem guiado!’” (Bukhari e Muslim)
Outras provas de que a tradução correta é “Empurrou meu peito com um empurrão que me causou dor”: ‘A’isha disse: “O Mensageiro de Deus (que Deus o abençoe e lhe dê a paz) jamais golpeou nada com sua mão, exceto quando lutava pela causa de Deus. Nem jamais bateu num servo ou numa mulher.” (Ibn Majah, hadith considerado “sahih” por Albani)
A “causa de Deus” engloba a guerra contra os infiéis e as punições legais impostas aos criminosos. Não se refere de maneira alguma ao modo como o marido deve tratar sua esposa. Temos aí, portanto, provas claras de que as palavras “bateu” ou “golpeou” não são traduções corretas. Antes, a tradução deve ser a proposta pelo Sheikh Gibril F. Haddad: “Empurrou meu peito com um empurrão que me causou dor”; e o empurrão em questão deve ser entendido no sentido acima explicado, como um gesto que visava afastar um mau pensamento e conferir bênção.
Tradução: Marcelo Cipolla
Fonte: https://www.answering-christianity.com/karim/mistranslations_of_hadiths.htm
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