Pergunta: É permitido rezar sobre túmulos? Qual a fatwa com relação à oração realizada em mesquitas que possuem túmulos em seu interior? Isso é transformar túmulos em mesquitas?
Resposta:
Na jurisprudência islâmica, essa questão dos túmulos em mesquita, está longe de ser algo novo. Essa questão foi abordada da pior maneira possível por ignorantes e por aqueles que desejavam semear discórdia, acusando outros de adorar túmulos, inovar e cometer idolatria. A confusão entre certos assuntos causou mal-entendidos ao lidar com essa questão e, portanto, vamos esclarecer isso e diferenciá-los.
Rezar sobre um túmulo não é o mesmo que orar em uma mesquita que possui um túmulo, e isso não transforma uma sepultura em uma mesquita. Portanto, vamos diferenciar essas três coisas:
1) Rezar em túmulos.
2) Rezar em mesquitas que possuem túmulos.
3) Usar túmulos como lugares para oferecer orações (mesquitas).
Rezando Sobre Túmulos
Um túmulo é o lugar onde uma pessoa está enterrada e estes são respeitados dentro lei islâmica como forma de homenagear os mortos. Por esta razão, os juristas concordam que andar sobre túmulos não é um ato admirado, pois foi relatado que o Profeta (paz e bênçãos sejam com ele) proibiu isso. De acordo com os Malikis, esta ordem é específica para sepulturas elevados, os Shafi’is e Hanbalis fizeram exceções por ser uma necessidade, ou a única maneira de chegar até outra sepultura.
Já os Hanafis não gostam de orar em cemitérios e esta também era a posição de Al-Thawri e Al-Awza’i. Isso ocorre porque um cemitério provavelmente é sujo e é semelhante às ações dos judeus. No entanto, não há nenhum mal em rezar dentro do cemitério, desde que seja em um local reservado para a oração e que esteja livre de sepulturas ou sujeiras.
Os malikis mantiveram a permissibilidade de rezar nos cemitérios independentemente de serem utilizados ou não, se são abertos ou não, ou se pertencem a muçulmanos ou politeístas.
Os Shafi foram detalhistas, dizendo que é acordado dentro da escola que as orações realizadas nos cemitérios que estão expostos, são inválidas, pois a terra se misturou com os restos mortais. Esta decisão aplica-se apenas se a pessoa não coloca algo sob ela para orar. Caso contrário, se a pessoa reza em cima de um pano ou tapete, é certo que não está exposto, então a oração é válida sem discordância, uma vez que o lugar onde é executada é puro, embora seja levemente desagradável, pois é um lugar onde a imundície está enterrada. Se houver dúvidas quanto à sua exposição, existem duas opiniões. A posição mais correta é que a oração é válida, mas é algo desgostoso pois, uma vez que a terra é pura, não se pode dizer que é uma imundície devido a dúvidas.. A posição oposta, que a oração é inválida, baseia-se na dúvida sobre o cumprimento da oração [obrigatória]; O que é obrigatório não é removido por dúvida.
Os Hanbalis afirmaram que uma oração realizada em um cemitério não é válida, independentemente da situação e/ou da circunstância, embora não haja nenhum impedimento que alguém reze em um lugar onde haja uma ou duas sepulturas, afinal um lugar assim não pode ser chamado de cemitério. Segundo eles, um cemitério é um lugar onde há três túmulos ou mais. Eles, evidentemente, disseram que não é proibido orar em uma casa onde alguém esteja enterrado mesmo que contenha mais de três túmulos porque não é um cemitério.
Rezando em Uma Mesquita Que Possui um Túmulo
Rezar em uma mesquita que abriga o túmulo de um profeta ou uma pessoa justa, é algo válido, sancionado na lei islâmica e é algo recomendado. A evidência que apoia esta decisão é encontrada no Alcorão, na Sunnah, nas ações dos Companheiros e no consenso prático da comunidade.
O Alcorão
O Alcorão diz: “Erigi um edifício, por cima deles; seu Senhor é o mais sabedor disso. Aqueles, cujas opiniões prevalecia, disseram: Erigi um templo, por cima da caverna!” [18:21]. Este verso pertence a história dos Companheiros da caverna que dormiram por muito tempo, mas pensaram que eles estavam lá há apenas um curto período. A primeira afirmação do verso foi feita pelos politeístas, enquanto a segunda foi feita pelos monoteístas. O verso expressa ambas as declarações, sem censura. Se houvesse alguma culpa sobre eles, teria sido evidenciado de alguma forma. O reconhecimento de ambas as declarações, é prova de sua permissibilidade. De fato, o Alcorão apresenta as palavras dos monoteístas em uma luz favorável em comparação com a dos politeístas, envolvida em dúvidas. A decisão dos monoteísta de construir um lugar de culto e não apenas qualquer estrutura, surgiu de sua fé. Isso indica que eles conheciam Deus e reconheceram a adoração e a oração. Em seu comentário sobre as palavras “Nós realmente construiremos um lugar de culto sobre eles”, Al-Razi disse: “Para adorar a Deus e preservar os restos do povo da caverna”. Al-Shawkani disse: “A menção de construir uma mesquita sugere que “aqueles que ganharam em seu ponto de vista” eram muçulmanos.
A Sunnah
– ‘Abd Al-Razaq narrou por Ma’mar através de Muhammad Ibn Muslim Ibn Shihab Al-Zuhri através de Al-Muwawir Ibn Makhramah e Marwan Ibn Al-Hakam que disse: “Abu Basir escapou dos politeístas após o tratado de Hudaybiyyah. Ele foi para Sayf Al-Bahr e Abu Jandal Ibn Suhayl Ibn ‘Amr se juntou a ele, tendo escapado dos politeístas também. Mais tarde, eles foram acompanhados por outros, cujo número chegou a trezentos. Abu Basir guiando-os em oração, dizia: “Deus O Altíssimo é o maior, quem defende a Deus é defendido por ele. “Quando Abu Jandal se juntou a eles, ele liderou as orações. Sempre que ouviam falar de qualquer caravana de comerciantes dos Quraysh, eles atacavam. Então o povo de Quraysh enviou uma Mensagem ao Profeta (pede-lhe que abençoe Abu Basir e seus companheiros). Ele pediu-lhe para entregar Abu Basir e seus companheiros para eles. O Profeta (paz e bênçãos sejam com ele) escreveu a Abu Jandal e Abu Basir dizendo a eles e aqueles que estavam com eles, para retornar às suas casas e famílias. A carta do Profeta foi trazida para Abu Jandal quando Abu Basir estava em seu leito de morte. Ele morreu com a carta do Profeta na mão enquanto ele estava lendo. Abu Jandal enterrou-o nesse mesmo lugar e construiu uma mesquita sobre o túmulo.”
– A posição dos Companheiros do Profeta sobre este assunto era evidente a partir das diferenças que surgiram entre eles durante o enterro do Profeta. Imam Malik disse: “Alguns consideraram que ele deveria ser enterrado pelo púlpito [onde ele costumava entregar sermões] e argumentou que deveria ser enterrado no Baqi”. Abu Bakr disse: “Ouvi dizer o Mensageiro de Deus” Nenhum Profeta foi sepultado, exceto no lugar onde o mesmo morreu. Então, cave um buraco para ele lá. “O ponto de evidência aqui é que os Companheiros do Profeta sugeriram que ele fosse enterrado pelo púlpito que é, com toda a certeza, dentro da mesquita, e ninguém os repreendeu por essa sugestão. A objeção de Abu Bakr não se deveu ao fato de que teria sido inadmissível enterrá-lo dentro da mesquita. Ele meramente queria aderir ao comando do Profeta de ser enterrado no mesmo lugar onde ele morreu.
– O Profeta (a paz e as benéficas sejam sobre ele) morreu no quarto de Aisha, que estava ligado à mesquita onde os muçulmanos rezavam. Assim, a situação da sala em relação à mesquita era praticamente a mesma coisa que a situação das mesquitas em relação às salas em que os santos estão enterrados atualmente, onde o túmulo está conectado à ela (mesquita), e as pessoas rezam na área principal.
Aqueles que se opõem a isso, afirmam que isso só era permitido para o Profeta (paz e benção sejam com ele). A resposta a isso é que as particularidades das decisões relacionadas com o Profeta (paz e bênçãos sejam sobre ele) exigem evidências, e a base é que as decisões permanecem gerais, desde que não haja evidência para restringi-las. Se aceitarmos a posição daqueles que afirmam que isso é apenas específico para o Profeta (o que já mostramos que não é), a resposta seria que Abu Bakr e Umar foram enterrados nesta sala e a sala está conectada com a mesquita. Os Companheiros oravam na mesquita conectada a esta sala, a qual que abrigava três túmulos, e Aisha morava na sala e rezava suas orações obrigatórias e sunnas nela. Isso não deve ser considerado como permissível e de conduta usual dos Companheiros?
Transformando uma Sepultura em uma Mesquita
Isso não é o mesmo que uma mesquita que já possui um túmulo em seu interior. O Profeta (paz e bênçãos sejam dele) não proibiu a construção de mesquitas na proximidade de túmulos, independentemente das estruturas estarem ou não separadas. Aisha relatou que o Profeta (a paz e as benéficas sejam sobre ele) disse: “Deus amaldiçoou os judeus e os cristãos [porque] tomaram os túmulos dos seus profetas como locais de culto”. A versão do hadith gravada pelos muçulmanos inclui as palavras “os túmulos dos seus profetas e justos”. Com base nesse hadith, os estudiosos da comunidade deduziram que a proibição diz respeito a transformar o túmulo em um lugar de culto, prostrando-se sobre a pessoa enterrada nele, como fizeram os judeus e os cristãos. O Alcorão diz: “Tomaram por senhores seus rabinos e seus monges em vez de Deus, assim como fizeram com o Messias, filho de Maria, quando não lhes foi ordenado adorar senão a um só Deus. Não há mais divindade além d’Ele! Glorificado seja pelos parceiros que Lhe atribuem!” [9: 31].
Os muçulmanos precisam entender o que é exatamente proibido, e não olhar o que outros muçulmanos fazem em suas mesquitas e alegar que o hadith se refere a eles. Foi o que os Khawarij fizeram, que Deus nos proteja. Ibn Umar disse: “Eles aplicaram versos [do Alcorão] que foram revelados em referência aos politeístas, e os aplicou aos muçulmanos”.
Os grandes estudiosos entenderam o significado [desses ahadith] com visão ampliada, manifestando-se em seus comentários. Shaykh Al-Sindi disse: “O hadith foi um alerta para a comunidade se posicionasse contra a emulação de que os judeus e os cristãos fizeram com os túmulos dos seus profetas, transformando-os em locais de culto, seja se prostrando para eles, ou orando em sua direção. Foi dito que a mera construção de uma mesquita na proximidade de uma pessoa justa, buscando bênçãos, NÃO é proibida”.
Ibn Hajar Al-‘Asqalani e outros comentaristas sobre os livros da Sunnah, relataram as palavras de Al-Baydawi que diziam: “Deus amaldiçoou os judeus que se prostraram sobre os túmulos dos seus profetas e oraram em sua direção, tornando-os ídolos . Ele proibiu que os muçulmanos fizessem o mesmo. Não há problema em construir uma mesquita na proximidade de uma pessoa justa ou orar próximo à sua sepultura, buscando auxílio, e por meio dos efeitos de suas boas ações, poder alcançar bênçãos, desde que não reze em cima ou na direção do túmulo. Você não vê que Ismail está enterrado na mesquita de Meca? E essa mesquita é a melhor mesquita na qual se pode escolher orar. E a proibição de rezar nos cemitérios se refere àqueles que estão sem uma proteção (tapete), devido à imundície que nele existente “.
Com base no que foi dito anteriormente, as orações realizadas em mesquitas que contenham túmulos são válidas caso o túmulo esteja em um lugar onde as pessoas não rezem separadas da mesquita, e não há nada inadmissível ou desgostoso em rezar na mesquita adjacente. Se, no entanto, o túmulo estiver dentro da própria mesquita, a oração é inválida e proibida de acordo com a escola de Ahmed Ibn Hanbal, e permitida e válida de acordo com os outros três Imames; de acordo com esse últimos, o túmulo não pode estar na frente da pessoa que reza devido à prostração na direção do túmulo.
E Deus, o Todo-Poderoso, sabe melhor.
Fonte: https://eng.dar-alifta.org/foreign/ViewFatwa.aspx?ID=7894
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